quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Avatar FiliPêra

O Curioso Caso de Benjamin Button

 

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Não adianta quantos amigos fazemos, quanta coisas adquirimos ou o tamanho da nossa família; nós vivemos nossa vida sozinhos. Benjamin Button é a consolidação dessa verdade nos cinemas, levada às últimas consequências. O personagem do título é tão deslocado quanto o possível, principalmente pela sua característica curiosa (que todo o planeta já conhece): ele nasceu com a idade ao contrário; nasceu velho, com uns oitenta e tantos, e vai rejuvenescendo com o tempo. E é nessa particularidade estranha que se apóia e desenvolve todo o novo filmaço do sempre genial David Fincher.

Vou repetir aqui com todas as letras o que disse no meu preview cinematográfico do ano: se o filme tivesse caído nas mãos de outro diretor menos habilidoso a coisa desandaria, principalmente se fosse em mãos como a do superestimado Ron Howard, que pretendia fazer esse filme com um dos seus atores preferidos, Russel Crowe. Ao contrário das saídas fáceis que Roward provavelmente usaria, Fincher optou  por colocar todo o seu estilo detalhista para compor um filme único (não, não é um novo Forrest Gump, embora pareça, já explico porque), uma nova obra-prima na sua carreira.

Logo de cara você será fisgado pela história, que caminha sempre com um ritmo lento, mas nunca enfadonho. Vemos um pai desesperado, com a mulher morta no parto, abandonando o filho todo enrugado na escadaria de um asilo. Os médicos constatam que o menino tem catarata, artrite aguda e uma série de doenças de pessoas da terceira idade e dá logo o diagnóstico óbvio: ele não tem muito tempo de vida. Mas sua mãe adotiva, Queenie, não deixa de trata-lo como se fosse um filho dela. E ele cresce feio, velho, pequeno e só andando com o auxílio de muletas. E nem no aprendizado de sua infância e adolescência Benjamin deixa de viver ao contrário. Crescendo entre os velhinhos do asilo, ele aprende logo cedo como é ser realmente velho, só tendo experiências diferentes com Daisy, uma menininha que, logo de cara, percebe que ele não é tão velho como parece. E, como você já sabe ou adivinhou, vai ser no relacionamento com Daisy que se molda o fio condutor do filme.

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Mas não pense que o filme foca unicamente no relacionamento dos dois. Na verdade o roteiro, tecido por Eric Roth (O Bom Pastor… e Forrest Gump), é  um diário das andanças e aventuras de Benjamin pelo mundo. E é aí que ele recebe comparações com o semi-clássico estrelado por Tom Hanks. Ele viaja de barco, participa (não muito ativamente, mas participa) de uma guerra e tem um grande amor. As estruturas narrativas dos dois filmes são bem parecidas, mas, ao contrário de Forrest, Benjamin não está nos gloriosos momentos da América. Ele é um rejeitado, e vive com os rejeitados sem jamais ser popular ou engraçado, mesmo se tornando rico (mais Forrest…) em certo momento do filme. Os dois são quase o contrário um do outro.

E, mesmo com essa aparente semelhança entre os dois filmes, Fincher se sobressai, mostrando que um bom diretor faz sim, toda a diferença. Não que Forrest não seja bom, muito pelo contrário, é excelente, mas por motivos completamente opostos aos de Button. Enquanto Forrest é jovial, alegre e abobalhado, praticamente uma criança crescida, Benjamin, obviamente, é um velho; só é aceito entre as classes mais baixas da sociedade,  e cresceu num asilo de idosos.

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E Fincher captura isso com perfeição, ajudado pela técnica soberba do filme. Cada momento no longa é único. A fotografia, conduzida por Claudio Miranda, é soberba, realçando cada detalhe e dando uma atmosfera toda especial – mesmo que, ás vezes fria – ao filme. A direção de arte e os figurinos também seguem essa linha, principalmente pela constante mudança significativa de épocas – e lugares, como a Rússia. Mas a grande estrela do filme (além de Fincher) são realmente seus dois protagonistas. Suas constantes mudanças corporais (principalmente Pitt) são naturais, e após certo tempo já te acostuma a elas, tornando os espectadores parte da história de encontros e desencontros dos dois. As atuações do elenco coadjuvante também são fora do comum. Entre os envolvidos,  nomes como Tilda Swinton (o Gabriel andrógino de Constantine), Jason Flemyng (Jogos e Trapaças e Dois Canos Fumegantes e A Liga Extraordinária) e Jared Harris (12 Homens e Outro Segredo).

Entre toda essa história, Fincher ainda encontra espaço para refletir sobre a morte, a vida (de forma que lembra muito Paul Thomas Anderson, em Magnolia), o amor e o tempo. Não sentindo-se satisfeito ele ainda homenageia Nova Orleans, ao ligar seu começo e meio a tragédia que se abateu a cidade com o furacão Katrina (o final é emocionante, e me lembrou os últimos capitúlos carregados de emoção de Sandman. Quem já leu vai entender o porquê). Alguns podem não gostar, principalmente por causa do seu tamanho e ritmo, que muito lembram a obra anterior do diretor, Zodíaco, mas é fato que O Curioso Caso de Benjamin Button é (mais) uma obra-prima da sétima arte, nunca cansado, e ainda por cima faz pensar. Ponto para Fincher (Brad Pitt, e cia)!

 

The Curious Case of Benjamin Button (2008)

Diretor: David Fincher

Duração: 166 min

Nota: 9,0

8 Comentaram...

Anônimo disse...

Realmente, assino em baixo !
Recomendo altamente o filme, filmes assim é presença obrigatória na sala de cinema.

Anônimo disse...

O filme como todo eu achei exelente,só ñ entendi a inserção da narrrativa no presente, desnecessaria, e q dexou parte do fim, estranho.Furaoão Katrina!? fala sério..( E quem percebeu na lógica do própio filme um erro: ele sempre é inverso por fora e natural por dentro mas no final, no entanto, ele é uma criaça por completo.Erro.

FiliPêra disse...

Ele não é natural por dentro. Quando nasce, nasce com artrite, ossos fracos, catarata e tudo o mais. Talvez o único erro que você possa apontar (e que não é um erro, na minha opinião) foi ele ter diminuído de tamanho de novo.
Quanto ao Katrina, achei uma bela homenagem. Só não gostei da filha de Daisy, ela sim desnecessária. O resto ficou muito bom...

Princess by Dawn disse...

Ainda não assisti, estou esperando um pouco a 'onda' passar e o cinema ficar mais tranquilo mas ouvi muita coisa legal sobre o filme....Brad Pitt quando é bem dirigido e não é explorado pela sua beleza se transoforma num excelente ator..vide Snatch e O Assassinato de Jesse James.
Seu post tá fantástico, bem interessante de ler :)

Anônimo disse...

Realmente ele ter diminuido dnovo foi estranho! E "natural" era pra expressar à respeito da idade.
Vamo mesmo é aguardar a adptação da graphic novel Torso q David Fincher tb vai dirigir!!

Anônimo disse...

Na realidade no final do filme ele começa a apresentar sintomas de demência. O que pode parecer estranho porque esta é uma doença de pessoas idosas e não de jovens. Mas se você parar pra pensar a mente dele era idosa só o corpo era jovem.
Concordo que foi meio estranho o fato dele ter ficado pequeno de novo mas não acho que tenha sido um grande erro no final das contas.
Filme muito bom na minha opinião!

Anônimo disse...

Ótimo filme. Para mim, merece nota dez....O filme a longo, mas não é cansativo. Ah!!! bela maquiagem tb

Anônimo disse...

Acredito eu, e é óbvio pensar que mesmo velho ele tinha que sair do ventre da mãe com o tamanho proporcional à de um recém-nascido...isso justifica parte do que eu li aqui nos comentários... e sendo assim não tem erro nenhum no filme... se deve ser contado ao contrário então o final tinha que ser mesmo ele morrendo jovem, um bebê assim como acontece no final.

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