Por Homem Risonho
"Se fizermos uma comparação com os índios, poderemos dizer que os civilizados são uma sociedade sofrida. (...)
O índio em sua tribo tem um lugar estável e tranqüilo. É totalmente livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. Toda estabilidade tribal, toda coesão está assentada num mundo mítico. Que diferença enorme entre as duas humanidades: uma, tranqüila, onde o homem é dono de todos os seus atos; outra, uma sociedade em explosão, onde é preciso um aparato, um sistema repressivo para poder manter a ordem e a paz dentro da sociedade. Se um indivíduo der um grito no centro de São Paulo, uma rádio-patrulha poderá levá-lo preso. Se um índio der um tremendo berro no meio de uma aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar porque ele gritou."
Or lando Villas Boas – Exôdo Urbano
Um dos maiores medo de George Orwell seria a censura da verdade e do livre pensamento, enquanto o temor de Aldous Huxley era o de que a verdade seria inundada por um mar de bobagens mediante ao condicionamento e aceitaríamos o fútil e conseqüentemente ridicularizando o que é de fato, real. Acredito que os medos de ambos se fundiram e tornou-se algo muito pior, nesta análise vou tentar dar uma breve definição deste tipo de nova ditadura que sofremos, mas não costumamos pensar nisso.
Para aqueles que ainda acham que a ditadura não mais existe ou é papo de pessoas idosas, está muito enganado. Costumamos pensar somente nas torturas físicas, nos exílios e nos desaparecimentos, mas nunca consideramos a idéia da censura e da repressão e opressão, tanto para opinar ou mesmo pensar, que perdura até os dias de hoje.
O ponto de acreditarmos que não existe tal elemento em nossa sociedade é o fato da gama de imbecilidades no qual somos expostos diariamente pela TV e entre outros mecanismos que anestesiam a nossa mente com propagandas ideológicas que gradativamente nos tornam coniventes com regras que reforçam valores básicos sociais como passividade e submissão às autoridades. Somados ao efeito da preguiça mental que muitos sofrem e pelo medo inconsciente, ou não, de ir contra o consenso geral.
Tudo está voltado ao consumo e os verdadeiros valores foram todos invertidos, com o propósito de deseducar as pessoas e torna-las mais manipuláveis, ao mesmo tempo em que se retira o valor pedagógico à educação, acrescenta o componente psicológico com o intuito de “socializar” as pessoas e preparando-as para regras mais opressoras.
Podemos aqui chamar este novo fenômeno de Ditadura da Conformidade e da Etiqueta, onde desde crianças somos doutrinados pelo ensino obrigatório a não desenvolver a nossa capacidade de enxergar o mundo e as pessoas de forma ampla e complexa. E pior, julgar eventos mostrados nos noticiários apenas de acordo com a opinião publica e publicada, sem ao menos entender as motivações, história ou o que está por trás dos bastidores. Isso com certeza faz com que as verdades objetivas sejam tratadas como resíduos supersticiosos de épocas bárbaras.
Não se faz mais necessário os milicos fardados para dar fim a nossa existência em caso de alguma manifestação ou debate sobre algum tema relevante, porque a própria sociedade já está dependente, doutrinada e uniformizada ideologicamente por este sistema de regras agindo como oficiais a paisana. E dificilmente é necessário o uso da força, devido ao uso da reprovação das demais pessoas ao sermos condenados por olhos vigilantes e conformistas quando nos “expomos ao ridículo” ao enfrentarmos este mundo de sorrisos falsos e amarelados, elaborado por um pequeno grupo composto de pseudo-salvadores com chapeis elegantes que deveriam nos temer por sermos a maioria e não ganharem autoridade com falácias e mentiras de que sem eles, nossa sociedade desapareceria.
Quantas coisas as pessoas deixam de fazer em prol da boa educação e bons costumes? Coisas que de fato vemos que estão erradas, mas preferimos nos calar por medo de ser repreendido ou ser taxado de louco pelas pessoas à nossa volta e para assim sustentarmos a nossa aparência de bons cidadãos?!
Acredito que essa é uma herança que infelizmente herdamos em virtude da nossa cultura colonialista, um tipo de hábito, onde nos deixamos ser colonizados e para compensar essa nossa deficiência, exploramos quem está abaixo de nós, gerando um efeito cascata, cuja prática é de que o “fim justifica os meios” e se dá o que chamamos de corrupção, onde a mesma se aplica em todos os núcleos da sociedade, desde a elite com seus jogos e disputas por poder e dinheiro até as massas devidamente domesticadas que se digladiam por migalhas e centavos.
A finalidade das regras seria para expor os principais requisitos quanto à atitude do indivíduo em uma sociedade. Mas percebermos que estamos sujeitos a uma infinidade de sub-regras de bom senso, com o fim de inibir o nosso raciocínio crítico, afinal, não é cool pensar. E assim, aos poucos, somos modelados ao bel prazer daqueles que as impõem através da mídia em geral e converge um padrão único e maciço de opinião que cada vez menos admite divergências e questionamentos, e alardeia a população com notícias tendenciosas e convenientes aos propósitos de empresários, políticos de aventais (Brasília está cheio deles) e militares que costumam usar os meios de comunicação para dar descrédito às pessoas que pensam contrariamente a eles, e nos expõem a informações consensuais e entretenimentos vazios para emburrecer cada vez mais a sociedade com o famoso pão e circo.
O resultado disso são as guerras de torcidas organizadas que depredam patrimônios e deixam muitos feridos, por uma simples e banal partida de futebol; ou tirar a vida por causa de um tênis e entre outras causas que não preciso listar, mas que deixam bem claro o patamar social e intelectual no qual nos encontramos. Se gastássemos pelo menos 10% dessa energia em causas importantes como aprender a refletir e em conseqüência se livrar desses grilhões, nossa sociedade teria um grande salto evolutivo na escala e conseguiríamos sair finalmente do buraco ou das arvores.
Enfim, este show business da propaganda das notícias travestida de “jornalismo” que apenas fabrica e modelam intelectuais, jornalistas, especialistas e escritores que apóiem cada vez mais causas repetitivas, como o direito da mulher sobre seu corpo e a legalização do aborto, união civil entre homossexuais, proteger prostitutas para evitar que sejam objetos de exploração, sexo cada vez mais precoce, infanticidas e consumistas. Isso faz com que a população ande em círculos, porque, aqui pelo nosso país esses são sempre os “assuntos do momento”, mas não necessariamente somos conduzidos a algum lugar. Mesmo aquele que não tenha grande entusiasmo pessoal por essas causas fica desprovido de um critério pelo qual possa julgá-las, devido à carência de dados que reforcem uma opinião contrária, e no fim acaba colaborando com elas, no mínimo, por omissão.
Muitas vezes, pessoas corajosas e cidadãos de bem, enfrentam esses sistemas com protestos independente - pacíficos ou não - para mostrar o descontentamento em causas que de fato são importantes, como a privatização de serviços sociais, mas a mídia acaba usando essas manifestações para fazer com que os direitos humanos se tornem um produto comercial.
Porém, tais movimentos são recepcionados com a força bruta da guarda pretoriana “bem remunerada” do governo (para os leigos, a polícia militar), que precisa manter a ordem, mesmo que essa ordem vá contra a justiça e cabe a mídia apenas fazer o trabalho de abafar os principais motivos de tais reivindicações e marginaliza-los, tornando questionável a existência de uma democracia e liberdade de expressão, e deixando mais evidente a existência de um regime ditatorial discreto.
As vozes que se recusam a vender seu caráter e consciências a fim de se tornarem meras ovelhas deste organismo caótico, massacrante e criminoso estão ficando cada vez mais escassas, pois os poucos que ainda existem acabam por cair no descrédito pelo simples hábito de pensar demais e não se afogar no mar de futilidades que muitos estão chafurdados.
Devemos entender em sua essência o que significou a censura, o golpe militar, a repressão política (acho que o ministro da defesa não vai gostar muito dessa expressão) para podermos entender o que está acontecendo nos dias de hoje e impedir que a história se repita e nos faça cair no mesmo erro.
Não sejamos mais coniventes com a existência do maior monstro criado pela ditadura que perdura até os dias de hoje… a Rede Globo e alguns jornalecos, que cada vez mais distrai e forma a opinião das massas, para que se aceite velhos regimes que nos mantém cativos em uma prisão psicológica que inconscientemente nos tortura, rouba, molesta e nos manipula através do medo de um inimigo real ou imaginário, para assim manter o bom e velho, ordem para o povo e progresso para as elites.
[Nota do Editor: Recebemos esse texto anonimamente por email. Pelo que me consta, essa é uma prática do Homem Risonho, identidade do autor, pois uma rápida checada revelou textos dele em blogs como A Nova Ordem Mundial. Como o texto se mostrou muito bom, o publicamos na íntegra, mesmo que alguns trechos possam não necessariamente representar a opinião dos integrantes do NSN]