O NSN nasceu com um objetivo muito definido e específico: publicar resenhas de filmes, quadrinhos, livros, séries de TV, música ou qualquer produto cultural que decidíssemos que valia uma resenha. Era essa a idéia primordial minha e do Bruner, os dois principais fundadores deste espaço. Não muitos meses depois, em nome da diversificação, acabamos nos desviando desse plano, escrevendo outros tipos de textos e aos poucos assumindo o formato que temos hoje. Mesmo assim, as resenhas ainda são uma parte importante do nosso blog - a mais importante, pra mim.
Sempre acreditei que um texto é uma das formas mais completas de expressão, provavelmente por ser a que mais me identifico e divirto. Não dou muito valor a dança, a retórica, a artes cênicas, e outras atividades de expressão corporal, mas o Texto, uma atividade essencialmente intelectual e não-física, sempre teve o máximo da minha estima. Procuro realizar todo o tipo de experimentação quando escrevo, nem sempre obtendo os melhores resultados. Às vezes experimento algumas pequenas mudanças estéticas, seja inserindo uma pomposidade gramatical irritante, próxima ao quase sempre maçante texto científico, seja acrescentando ao escrito uma fina ironia que fica no limite do sarcasmo barato.
Não por acaso, várias pessoas que posteriormente souberam que Eu também era o Voz do Além, me questionaram como conseguia diferenciar a linguagem textual dos dois - pergunta a qual nunca tive uma resposta muito satisfatória, até pra mim mesmo. Outras vezes busco alterar a forma como escrevo, fugindo do clássico bunda-na-cadeira-notebook-na-mesa: pode ser escrever sem dormir por um longo período, escrever na rua no meio da madrugada, ou após a ingestão de uma mega quantidade de café. Os resultados nem sempre são dignos de nota, mas ao menos limpam a consciência, invocam algum tipo de mudança quase religiosa, e impedem a mesmice.
Mas se tem um texto que nunca procurei mudar de forma tão dramática ou deliberada, esse texto é a Resenha. Uma resenha é o tipo de escrito mais simples possível: é só assistir um filme, ler um livro, ou coisa similar, e depois iniciar um processo de contá-lo a um amigo, seja exaltando suas qualidades ou detonando coisas irritantes que foram identificadas no meio do caminho. Coloque no meio um pouco de conhecimento sobre linguagem visual, teorias da comunicação, um pouco de experiência com atuação, e um blábláblá bem feito, e tá pronta uma resenha de filme de bom nível. Acrescente aí uma poderosa verborragia recheada de sinônimos e adjetivos que às vezes não falam absolutamente nada - os críticos de críticos conhecem isso muito bem -, presentes principalmente em resenhas musicais - é meio difícil descrever os efeitos da música na sua cuca, então dá um desconto.
Se não entendeu direito, pense num enólogo - um babaca que usa esse nome metido a bonito e se denomina “cientista dos vinhos” - que cumpriu seu ritual básico de beber uma taça de vinho - girou, cheirou, olhou para os lados pomposamente - e depois de uma golada define a bebida com um Ousado! Chamar um vinho de ousado não quer dizer porra nenhuma, mas dá uma boa dimensão do que um enólogo quer dizer ao descreve-lo: ele não esperava um vinho tão bom (Eu acho que é isso, ao menos, odeio vinho e praticamente todas as bebidas alcoólicas, e não poderia resenhar uma… mas resenhei strip teases).
É lógico que alguns Críticos de Raiz dirão que existem muito mais elementos por trás da construção de uma resenha/crítica (chamo meus textos de resenha por considerar os dois termos meros rótulos, se quiser chama-los de crítica, fica a seu critério, considerarei a mesma coisa), mas Eu encaro as coisas por esse lado, principalmente por ter uma idéia de ludismo muito forte por trás da profissão de jornalista cultural e crítico social, a linha que mais me identifico. Apesar de um senso de responsabilidade muito forte, sempre procuro me divertir - e, ainda mais importante, divertir quem lê - enquanto escrevo uma resenha. Isso mesmo que seja ao escrever no NSN, no GamesBrasil, ou se fosse contratado pela Rolling Stone, ou New Yorker. No fim, ia encarar as coisas da mesma forma descabeçada, no melhor estilo P. J. O' Rourke escrevendo sobre hotéis bombardeados no Líbano (procura no Google e seja feliz, rendeu um livraço).
Pretendo ser bem sincero com esse texto, pra início de conversa e não esconderei que um dos principais propósitos da resenha é uma sutil manipulação. Não tem como ser diferente, uma resenha é um amontoado de palavras puramente opinativas, e quando alguém dispara uma opinião, ele quer basicamente impactar os que têm a coragem de lê-la ou ouvi-la. Nem sempre se espera esse impacto na forma de admiração, pode ser também na forma de pedradas de comentaristas que odiaram o texto, depende do filme/HQ/whatever em questão. E quanto mais inflamada e polarizada a reação melhor. Quando algum jornalista/crítico sério resenha Crepúsculo, ele não espera que seus leitores comuns o fiquem elogiando, mas que os fãs da série vampiresca gay odeiem sua resenha e o condenem a passar uma temporada mergulhado na purpurina. É isso, nem sempre os elogios são os melhores alimentos pro Ego, um pouco de conflito pode ter o mesmo efeito - ou melhor, quando o crítico tem uma síndrome de Messias mal alimentada.
Obviamente que toda a argumentação do autor para sustentar a opinião dele deve ter algum tipo de embasamento, mesmo que seja furado. É uma regra inclusive da escrita científica: você pode ser o cara mais revolucionário e criativo do mundo, mas suas teorias não podem ser anti-paradigmas o suficiente para que você não tenha autores reconhecidos do seu lado. É a vida, se vai mudar o mundo, não o faça sozinho! Se fizer, reúna as melhores provas empíricas que conseguir. Ou faça como Eu e escolha cuidadosamente as metáforas e capriche no bom humor, um leitor rindo geralmente vai ficar do seu lado. É por essa falta de senso crítico que os universitários medrosos enchem seus trabalhos científicos de citações, às vezes não conseguindo passar de um mero resumo.
É nesse fio de navalha extremamente incômodo e excitante que vive um crítico. Ele deve ser bom o suficiente para tentar colocar alguma inovação particular em seus textos, ao mesmo tempo que busca referências no passado pra mostrar que não está sozinho. É dicotômico, e por isso mesmo, divertido à beça!
Claro que existe uma espécie de hierarquia nessa construção aí. A Opinião do crítico (vou usar o termo crítico pra rotular o cara que escreve resenhas/críticas. Me parece mais egocêntrico que o insosso termo resenhista) é mais importante que sua porção Informativa. Explico. Como afirmou o psicólogo, filósofo, romancista, anarquista (e mais um monte de coisas) Robert Anton Wilson, citando o Dr. Leonard Orr, a porção racional do nosso cérebro se divide em duas partes: o Pensador e o Demonstrador. O Pensador elabora idéias, opiniões, visões, e tudo que junto, forma a chamada Visão de Mundo. Já o Demonstrador se encarrega de caçar embasamento pra tudo isso, com teorias, técnicas, até mesmo com pesquisas científicas sérias. Claro que o Demonstrador pode influenciar o Pensador, mas quando o segundo bate o pé sobre algum conceito, não existe demonstração contrária que mude isso.
**Nesse momento, reserve um minuto de silêncio para refletir como deve ser o Pensador dos líderes católicos, dos principais políticos do mundo e dos maiores executivos de Wall Street**
Então, a partir do momento que você não gosta de Lady Gaga, dos filmes de Steven Spielberg, ou mesmo dos quadrinhos de Geoff Johns, provavelmente não vai importar o nível de qualidade que porventura esses artistas possam alcançar, seu Pensador irá enviar um sinal impedindo você de gostar do mais novo trabalho desses seres, e o Demonstrador vai embasar cuidadosamente a visão preconceituosa do Pensador.
Acredite, isso é normal, e o trabalho do crítico deve ser o parcial o bastante pra passar por cima disso com elegância, às vezes até explicitando como "odeia os trabalhos da Marvel, mas apesar disso se amarrou em Os Supremos I e II" (situação hipotética me envolvendo, antes que perguntem quem disse isso). E hoje, com campanhas de marketing massivas, superexposição diária de atores e cantores, entre outras coisas extremamente desagradáveis, os Pensadores dos críticos (inclua o meu aí também, Eu gosto de vê-lo viciado nessas ideologias burras da cultura pop) estão cada vez mais impregnados de fatores extra-obra, suficientemente fortes pra influenciarem na avaliação final do produto. É a vida, somos todos humanos, e quem quer condenar os críticos à fogueira por isso, provavelmente coloca a opinião deles num pedestal dourado acima do Bem e do Mal.
Deve-se analisar uma espécie de establishment crítico que existe em tudo quanto é camada jornalística. Esse establishment silencioso estabelece perigosos consensos massificadores que colocam em risco o trabalho crítico. Por exemplo, é consenso entre os críticos de cinema que os melhores filmes da história são O Cidadão Kane, O Encouraçado Potemkin e Casablanca. É difícil ver alguém fugir disso, mesmo os críticos dessa geração, que não presenciaram o impacto que foi o lançamento dessas obras. Eu não me faço de rogado ao dizer que os três melhores filmes da história (ou da minha geração, como quiser) pra mim são O Senhor dos Anéis (a trilogia), Clube da Luta e Coração Valente. Sei que tem uma multidão de filmes igualmente bons ao longo desse mais de um século da existência do Cinema, mas foram esses que me impactaram com força suficiente para serem classificados como "os melhores". Da mesma forma, existem filmes para ser odiados (estou usando os filmes mais como exemplo, pelos críticos cinematográficos serem mais conhecidos, apesar dos críticos musicais serem socialmente mais importantes, por motivos que Eu talvez aborde até o fim do texto).
Do outro lado do problema, apesar de divertidos, todos os filmes da série A Múmia são unanimemente odiados por boa parte da crítica. Parece uma rixa com seu diretor, o clichezento Stephen Sommers, mas não pesquisei o caso o bastante pra descobrir. Talvez seja uma coincidência, no fim das contas, ou os filmes sejam piores do que me parecem, por motivos tão obscuros que só críticos de verdade os tenham encontrado.
É aí que entra o que chamo de Calos Críticos, que são obras que o establishment gosta e o crítico odeia. E vice-versa. É quase um pecado reconhecer um Calo Crítico, principalmente pra alguém que gosta de se divertir levando esse lance a sério e criando rixas por causa de gostos alheios, como é meu caso. Creio que muitos conhecem vários dos meus gostos, como minha preferência pela Nintendo, pela DC Comics, meu fanatismo pelas obras de gente como Grant Morrison e Alan Moore. Mas, da mesma forma, possuo meus Calos Críticos e realmente não tenho medo de escondê-los. Muitos sabem que ouço (e gosto) de Avril Lavigne, um calo crítico dos piores, ou minha predileção por filmes de zumbi de comédia, ao invés dos clássicos de George Romero colocados num altar - o que gerou uma pequena polêmica na minha resenha de Zombieland. Também me amarrei na adaptação de Watchmen para os cinemas, indo contra toda uma série de fãs que condenaram o filme ao inferno - um dia faremos um podcast só com Calos Críticos (isso no dia que fizermos um podcast de novo). Odeio os filmes de Pedro Almodóvar e os livros de Sidney Sheldon, ambos aclamados pela crítica.
Outra coisa que se deve levar em conta quando se lê uma resenha é o veículo em que ela foi publicado. Um crítico não é um totem, não deve imaginar que o texto dele é imutável e independe de qualquer fator externo. Ele deve entender que a escrita deve variar com o público. Se você, um crítico que alcançou a fama recentemente, tá escrevendo uma crítica de um filme de Woody Allen para o Jornal dos Aposentados Ricos do ABC Paulista (algum físico diria que esse veículo existe num dos cerca de 10¹²²²²²²²²²²²² Universos Paralelos supostamente coexistindo num hipotético Multiverso), creio que ela será diferente de um texto similar escrito pra revista Adolescentes Geração Y (outro veículo, outro Universo). Você deve tentar entender que tipo de influências que esse público possui, que tipo de filme gosta, e outras coisas similares. A mesma coisa se um dia resenhar um filme de Almodóvar numa revista feminina: deve-se ressaltar coisas que o público da revista olhará, e não somente o que você está vendo.
O crítico deve ser os olhos desse público sobre o filme. Com os jornais não-especializados e revistas semanais de notícias esse tipo de diferenciação desaparece, já que esses veículos jornalísticos são essencialmente de generalidades. Se um jornalista de games escreve uma resenha (ou review) de Resident Evil 4 para a revista VIP, ela será diferente de uma escrita para a EDGE, por exemplo. Um leitor da VIP talvez não tenha jogado os games anteriores da série, e isso elimina a necessidade de ressaltar como RE4 ofereceu mudanças profundas na jogabilidade da série.
É esse tipo de desafio de estilo que fica no caminho de um crítico consciente que seu trabalho não se limita a falar mal ou bem de alguma coisa, é preciso conhecimento e um pouco de desprendimento. Basicamente um crítico deve saber responder a uma pergunta básica: por que você gostou/odiou desse filme? É no embasamento dessa resposta que está o principal trabalho dessa classe tão amada e odiada.
Outro ponto a ser abordado é sobre o sistema de notas. Alguns o odeiam com todas as forças, dizem ser um rótulo excessivamente raso para abranger todas as qualidades/defeitos de um filme. Eu concordo, mas somente se a nota vier sozinha, sem um texto descrevendo como o crítico chegou àquela avaliação, e essa é a forma como fazemos por aqui. A nota não é uma avaliação acadêmica e nem deve ser utilizada como parâmetro comparativo - da mesma forma que tirar menos que um amigo na faculdade não quer dizer que você sabe menos - de uma forma absoluta. É lógico que um filme 5 sempre vai ser inferior a um 8 ou 9, mas nem sempre um 9,5 é melhor (por mais subjetivo que seja o melhor aqui) que um 8,5 por exemplo, existe muito mais coisa aí na jogada.
Como escreveu Niels Bohr na sua chamada Interpretação de Copenhague da Física Quântica: Tudo influencia tudo. Um experimento científico não deve ser encarado como uma Verdade Absoluta, mas sim como um rótulo que provavelmente se adequou bem a um fenômeno, da mesma forma que um cardápio representa adequadamente os pratos vendidos por um restaurante, ou um mapa representa cartograficamente um território. A própria temperatura de um termômetro influencia na medição, como observou ele. Logicamente que isso não coloca por terra os avanços científicos, mas epistemologicamente nos avisa que o Absolutismo deve ser dispensado como algo irrisório e desnecessário, podemos adequar nossas teorias a mudanças de conhecimentos e paradigmas temporários.
Isso tudo na Ciência, o campo de conhecimento humano considerado mais objetivo e livre de influências externas. E como a Crítica é um reino inteiramente, e permissivamente subjetivo, essas influências são ainda mais aterradoras. A expectativa de um crítico com relação a um filme com toda a certeza influencia na avaliação final, assim como um maldito do lado dele que se revelou um fanboy do diretor do filme, babando o ovo do cara em voz alta... e isso leva o cara a detonar o filme numa vingança silenciosa (Eu já fiz isso).
Essas Variáveis Críticas são muitas, e podem até mesmo ser a chamada "honestidade do diretor", coisa do povo do Omelete ao justificar uma avaliação ruim de A Origem, de Chris Nolan, e uma boa de Transformers 2. Um crítico também pode relacionar o personagem principal com a Teoria dos Arquétipos de Jung, como fez Mauro Saldanha ao dizer que "todos os homens queriam ser Edward Cullen", o vampiro gay e indeciso. Eu gosto de pensar em todas essas influências, e até as alimento com mais textos, geralmente sendo cuidadoso o bastante pra embasar e me livrar de um possível fogo cruzado. Acho que essa é minha maior especialidade: arrumar argumentos ao menos minimamente sólidos pra todas as minhas idéias (talvez Eu só possua idéias solidamente argumentáveis, mas não creio), por isso me ponho sempre como um fã e aprendiz dos odiados Sofistas.
Sentado em sua cadeira, enquanto escreve e imagina construir uma Nova Era, o crítico e sua soberba geralmente não gostam de pensar nessas coisas, se portando unicamente como estandartes da verdade e da evolução do gosto de seu público. Claro, se ele for um bom crítico, que pensa continuamente em evoluir, com toda a certeza faz isso: cuida de aumentar a exigência de seu público com relação a qualidade, e fazê-lo querer experimentar filmes que cada vez mais primem por experimentações vanguardistas. Eu gosto de pensar que evolui, principalmente quando leio os primeiros textos desse blog e solto algumas risadas, ao mesmo tempo em que cada vez mais gosto das resenhas que escrevo atualmente, mesmo que seja em menor quantidade do que antes. Creio também ser necessário que esse mesmo agente cultural seja capaz de fazer auto-avaliações periódicas pra entender a natureza de seu trabalho. O que nos leva ao que considero fundamental: a formação de um crítico.
O trabalho de um crítico, assim como de um jornalista, é essencialmente prático. Não adianta ter bagagem teórica da melhor qualidade, ele sempre será reconhecido pelo que já escreveu, e não pelo que estudou. Dessa forma, escrever bem (com clareza e bom humor, o que não quer dizer que se deva inserir uma piada a cada linha) é muito mais fundamental do que saber quem foi o assistente de produção de A Noviça Rebelde. Ainda assim, um crítico deve ter conhecimento do que fala, conhecer teorias cinematográficas, como é o processo de construção de um filme, possibilidades de edição e movimentos de câmeras, entre outras coisas que tornam o cinema possível. Posso dizer que ser um técnico de Produção de Vídeo formado me ajudou bastante a entender como se faz um filme, ao mesmo tempo que minha formação jornalística me colocou em contato com aspectos mais teóricos da Comunicação, e por isso mesmo me sinto mais a vontade ao escrever uma resenha de filme. Por outro lado, não me sentiria muito a vontade se fosse escrever uma resenha literária fora do NSN, mas creio que o Murilo Andrade se sai bem, assim como penso que a Beatriz se sai muito bem ao escrever sobre animes/mangás. Cada um deve reconhecer seus próprios pontos fortes e fracos, nada mais natural. Tal conhecimento se difere do já citado conhecimento enciclopédico, que gente como José Wilker faz questão de berrar que possui. Da mesma forma, ser cineasta não transforma um cara em um crítico - como disse Martin Scorsese: Eu gosto demais de cinema para criticá-lo - e vice-versa.
De uma forma romântica e próxima a silenciosamente descrita por Adorno e Horkheimer em sua seminal análise da Indústria Cultural, o crítico seria uma espécie de cruzado contra todos os clichês e maneirismos baratos comercialmente usados pela indústria de cinema/música/literária/quadrinística/outra. E uma resenha é sua principal arma, onde ele se sente livre - às vezes de forma quase infantil - para combater esse tipo de ameaça ao seu território e a seu público. Um crítico deveria ser um agente quântico-evolucionário responsável por saltos de qualidade contínuos nas coisas que resenha, antecipar tendências, apontar arbitrariamente o que ele gosta de forma quase canibalesca, entre outras atividades bem gloriosas e ruidosamente divertidas. Mas não é difícil ver hoje que a Classe Crítica foi vencida por uma ordem panfletária destinada simplesmente a criar hype e seguir a ordem publicitária que assolou a indústria.
E esse estado letárgico conduz ao quadro que vemos hoje: uma multidão de filmes adaptados de quadrinhos ou livros, poucas idéias novas, a lenta morte do cinema independente, diminuição do público nos cinemas - os recordes dos últimos anos devem ser encarados de forma diferenciada, já que mostra uma pesada concentração de público em pouquíssimos filmes - e um cada vez mais iminente colapso criativo. A receita para combater isso é óbvia: críticos vorazes e comprometidos com a qualidade cinematográfica, que não se deixem comprar por presentes de editoras (nem que seja as ultra-desejadas Edições Definitivas de Sandman), que não tenham medo de metralharem o que for ruim, ou tornar digno de culto as obras que merecem... é por aí, acredite: mesmo sendo odiados, os críticos ainda são necessários!