Para muitos pareceu uma piada de 1º de Abril, para outros a rendição ao capitalismo de uma ideologia aparentemente inquebrantável, para terceiros, apenas negócios. O fato é que o Pirate Bay, um dos maiores e mais importantes sites de compartilhamentos de arquivos via BitTorrent do planeta (além de ser dono de um dos maiores trackers do mundo) foi vendido, e por um preço irrisório, afinal estamos falando de um dos 100 sites mais visitados do mundo.
A Global Gaming Factory X, dona da maior rede de salões de jogos e cibercafés do mundo, desembolsou 60 milhões de coroas suecas (ou 5,5 milhões de euros ou ainda 7,7 milhões de doletas, que serão revertidos para uma fundação de liberdade na internet) e arrematou a Baia dos Piratas, o que já foi confirmado pelo próprio Peter Sunde, no blog oficial do site (tem um comunicado da GGF também). A compra deve ter estar completamente encerrada em agosto…
Inserido nesse comunicado está o motivo da revolta dos mais radicais: a GGF afirma que o site [o Pirate Bay] precisa de um novo modelo de negócio para evoluir e sobreviver, o que inclui pagar direitos autorais para os detentores deles. Eles continuam, dizendo que os criadores de conteúdo precisam receber por ele.
Para alguns analistas (tá bom, para a minha pessoa), a venda só pode ter dois objetivos: 1) dar uma cara de legalidade ao site, ou 2) pegar a grana da venda para pagar a indenização de 2,7 milhões a que foram condenados.
Facilmente tal atitude vai contra tudo o que Peter Sunde, Fredrik Neij e Gottfrid Svartholm pregaram durante toda a existência do site. Até mesmo na semana passada, durante a Feira Internacional de Software Livre, eles reiteraram sua posição de ir contra tudo referente a direitos autorais. Até mesmo as Licenças Creative Commons. Pagar pelo conteúdo é fortalecer os que lutam arduamente pelo fechamento de sites como o TPB, como é o caso da MPAA, RIAA e outras similares que vivem às custas dos processos contra quem faz downloads.
A declaração de Peter Sunde, porta-voz do Pirate, sobre ao caso foi certeira:
Muita gente está preocupada. Nós não estamos e vocês também não deveriam estar! O mais interessante é que são as pessoas certas com a atitude correcta e boas chances de manterem o site em funcionamento. Como todos vocês sabem, o site não tem sofrido grandes melhorias nos últimos dois a três anos (…) Nas Internets, as coisas morrem se não evoluem. Não queremos que isto aconteça.
Logo depois, em entrevista ao entrevista ao Torrent Freak, Peter foi ainda mais longe e falou um pouco sobre os novos (e aparentemente estranhos) rumos que o site irá tomar daqui por diante. Primeiramente, a Baía vai deixar de alojar ficheiros de Torrents, e vai encerrar as atividades de seu tracker – que é responsável por aproximadamente 50% do tráfego mundial do protocolo Torrent (uma tracker basicamente é um servidor que auxilia na comunicação de dois computadores que estejam funcionando como peers e seeds).
A idéia deles é descentralizar tudo. A primeira medida é criar um serviço de alojamento externo – a GGF comprou também a Peerialism, que é especializada em streaming e P2P – que possuiria uma API pública, permitindo a outros sites utiliza-lo; e aumentar o número de trackers, que seriam menores e mais eficientes, deixando as transferências mais rápidas e seguras. Esses três serviços (alojamento, busca e tracker) seriam divididos em três empresas diferentes, o que dificultaria – e muito – as acusações sobre os responsáveis pelo site.
A notícia pegou o mundo de surpresa, afinal estamos falando de um dos site-leme da cultura de compartilhamento tão em voga – e combatida – no momento. O Pirate Bay foi (talvez continue sendo, não se pode prever o futuro) o mais próximo que se pode chegar de uma TAZ na internet, com estrutura própria, ausência de liderança hierárquica e um modelo de vida diferenciado.
O futuro capitalizado do Pirate ainda parece obscuro, mas a GGF só precisa ter uma coisa em mente: se ele deixar de oferecer seu habitual serviço, ou mesmo oferece-lo de forma ruim, os downladers têm várias opções para servi-los, o que esvaziaria o site rapidamente…
[Via Threat Level, Remixtures e Mashable!]