Por José Renato*
[AVISO: Este review contém spoilers do jogo Bioshock. Caso ainda não tenha jogado o primeiro game, não leia. A não ser que não se importe.]
O Bioshock original era um jogo cheio de idéias ótimas, porém execução… menos que ótima. Apresentava um mundo interessante, uma cidade construída embaixo do oceano e uma forma de governo baseada na idéia de que cada homem tem o direito de lucrar com seu trabalho. Não sei se eu iria querer viver num lugar assim, aposto que ninguém ficaria feliz quando o caminhão de bombeiros passasse reto pela sua casa em chamas porque você não pagou uma taxa X. Mas para um cenário de jogo, uma cidade decadente com inimigos psicóticos querendo te arrancar a pele para conseguir material genético, é um lance que não existia antes. Infelizmente, tal mundo foi apresentado com uma história que já havia toda acontecido, e o resultado é que nada acontecia durante a ação do jogo, e a grande idéia de desafiar convenções de games (seu personagem jogável era praticamente um robô que obedecia cegamente ao comando mental Would You Kindly, dando a entender que o jogador seguia cegamente as direções que os desenvolvedores queriam que fossem seguidas) não fez tanto efeito, já que mesmo depois que seu personagem está livre do comando, você continua a seguir a grande seta que os desenvolvedores colocavam no topo da tela, sem possibilidade de mudança de caminho.
Quanto à jogabilidade, tínhamos também ótimas inovações - no papel. Poderes genéticos chamados de plasmids, múltiplas armas, cada uma delas com 3 tipos diferentes de munição, abriam um enorme leque de possibilidades de táticas de combate. Infelizmente, o jogo oferecia também o Chemical Thrower, que podia matar os mais difíceis inimigos do jogo (os Big Daddies) sem o mínimo esforço; também obrigava o jogador a usar as diferentes táticas no mesmo inimigo durante todas as 8 horas de jogo. De que adianta variação de tática sem variação de inimigos? Tudo isso fazia Bioshock ser um jogo competente, que tinha grande potencial pra ser um shooter 5 estrelas, mas para cada ótima idéia, tínhamos um problema também. Isso sem contar o terrível sistema de upgrade da câmera, ou o terrível mini-game de ligar caninhos.
Agora, você já leu que esse review não é do primeiro Bioshock. A sequência, lançada agora em Fevereiro, é tudo o que deve ser esperado de uma ótima sequência. Alguns problemas técnicos desfavorecem o game e ainda o impedem de ser um shooter 5 estrelas, mas ainda assim, Bioshock 2 é melhor do que o original em quase todos os sentidos.
HISTÓRIA
1958, dois anos antes dos eventos do jogo original. Você esmurra um buraco na parede. Prontamente uma pequena garotinha sai do buraco, com um pequeno bonequinho. Ela diz “Olha, Papai, é você!”. Você é um Big Daddy, ela é sua Little Sister. Ela te puxa pelo braço para brincar, enquanto você olha seu reflexo nos vidros de Rapture. Você acompanha a menininha até um corpo morto, no qual ela enfia uma agulha e drena o sangue, que depois bebe, toda feliz, como se fosse um doce. Ela sai correndo na sua frente, dizendo que há mais “anjos” por perto. Você vai atrás dela, mas perde ela de vista, até ouvi-la gritar. Você corre na direção dos gritos, e olha por sobre uma sacada, vê três homens atacar a pequena garotinha. Você rapidamente pula por sobre a sacada e esmaga o crânio de um dos homens com o pé, e arranca o torso de outro homem com a broca de sua mão. O terceiro homem cai ao chão após um soco, mas desvia de sua broca e joga na sua direção uma pequena bolinha verde. Você fica hipnotizado, enquanto uma mulher aparece e diz que essa menininha não é sua filha. O nome da garotinha é Eleanor, e esta mulher é a mãe dela. A mulher então pede calmamente para que você remova seu capacete, te entrega uma pistola e te diz para apontar para a própria cabeça e atirar. Eleanor grita desesperadamente enquanto você faz o que a mulher te pediu.
Bem vindo à Rapture... de novo
10 anos depois de sua morte, você acorda. Como assim acorda?
Sim, de alguma maneira, você abre os olhos e se levanta do meio de uma poça de água. A cidade não é mais a mesma. Todos os eventos do jogo original já aconteceram, o que significa que Andrew Ryan e Frank Fontaine estão mortos, e agora quem manda em Rapture é a mulher que fez você se matar: Sofia Lamb. Ela é uma vilã completamente diferente de Ryan: enquanto Ryan acreditava que o indivíduo tem que se manter sozinho e tem direito sobre tudo o que faz, Lamb acredita que a Utopia só pode ser alcançada quando todos se unirem numa grande coletividade, e façam tudo para o bem de tal “família”. Desta maneira, ela controla todos os habitantes dementes de Rapture (os Splicers, aqueles que já conhecemos do jogo original). Enquanto possui controle de Rapture, Lamb começou a sequestrar menininhas da superfície para criar novas Little Sisters e conseguir mais ADAM (as Little Sisters que já existiam todas cresceram ou foram resgatadas por Jack no jogo original) para algum propósito desconhecido, e Lamb também criou Big Sisters, que são as Little Sisters que cresceram em Rapture e foram adaptadas para serem como Big Daddies, com o mesmo tipo de armadura, porém muito mais ágeis e perigosas, para serem “guardiãs do ADAM” da cidade. Elas vão atrás de qualquer um que interaja com as Little Sisters que existem agora para roubar ADAM, inclusive você.
Mas isso não é o que importa para você. Você é Delta, o primeiro Big Daddy que deu certo. O problema é que você não é um daqueles Big Daddies que a gente conhece, mas sim um “série Alfa”, um protótipo que foi criado com especificações diferentes, sendo a mais importante delas: se você ficar longe de sua Little Sister, você entra em coma até morrer… de novo. Seu objetivo é simples: atravessar a cidade inteira enfrentando os Splicers de Lamb para encontrar Eleanor Lamb, filha de Sofia e sua antiga Little Sister, que agora já não é mais tão Little. Moral da história: Bioshock 2 é sobre uma disputa entre pai e mãe para conseguir a guarda da filha. Na minha opinião, muito mais interessante que a história do original.
Salvá-las ou matá-las? A escolha é sua
O que também beneficia a história de Bioshock 2 é o novo sistema moral, que ainda não é lá um sistema moral da Bioware, mas para um FPS, é mais detalhado que o de Bioshock. Agora o seu final não depende somente se você resgata ou não as pequeninas (mais sobre isso na seção Jogabilidade). Durante o jogo, certos lugares de Rapture têm um “chefe” (não chefe no senso tradicional de videogame, mas sim um chefe que controla aquele setor da cidade) e no final das missões, você sempre tem a opção de matar ou não aquele personagem. Durante a fase você vai conseguindo diários em fita cassete (exatamente como no primeiro game) detalhando as ações que cada uma dessas pessoas fez para chegar na situação em que você está, e fica a seu critério perdoar aquela pessoa ou não. Isso tem um impacto interessante no final do game, quando você encontra Eleanor, mas manterei a resenha sem spoilers.
Além do efeito interessante das suas ações no final, as coisas em Bioshock 2 não ficam presas somente a coisas que aconteceram no passado. Muitas coisas já aconteceram, fora do jogo, que são reveladas apenas em diários que você encontra pelas fases, mas seu personagem também influencia a história com as ações do jogo, culminando num final muito melhor que o do Bioshock original. Pelo menos o jogo não tenta me dizer que sou um escravo, rendido à linearidade que os desenvolvedores colocaram, pra depois da revelação me manter nas correntes seguindo a grande seta-mestra-que-sabe-tudo no topo da tela. Bioshock 2 não se mostra pretensioso e se importa mais em contar uma história, e isso faz perfeitamente.
GRÁFICOS
Ah sim, os gráficos, a única parte de Bioshock 2 que impede o jogo de ser um dos melhores shooters do ano. Não é que o jogo seja feio… é que, considerando os três anos de desenvolvimento e os quatro estúdios responsáveis por isso, eles poderiam pelo menos ter pego uma atualização da Unreal Engine 3, né?
Em 2007, quando Bioshock foi lançado, era um dos jogos mais bonitos já lançados para PC ou consoles. Tinha um ótimo trabalho de texturas, a iluminação era incrível, e a água então, era praticamente o que vendia o jogo, com seus reflexos perfeitos e distorção de primeira. Mas agora, passaram-se três anos, e Bioshock 2 é muito parecido com o original em termos de gráficos. As texturas já não são tão impressionantes assim, agora que vimos jogos como Batman: Arkham Asylum e Mass Effect 2 na mesma engine e com texturas muito mais detalhadas. Na verdade, os gráficos tiveram uma melhoria, mas não foi uma melhoria significativa, e apenas aqueles com os olhos treinados (ou muito nerds, como eu) irão notar a diferença. Algumas texturas são melhores, mas em contrapartida, várias outras também são borradas e de baixa resolução. A iluminação foi melhorada de forma sutil, as luzes não são mais tão neon berrante como eram no original, e agora seu capacete possui uma lanterna, proporcionando vários momentos de suspense, andando no escuro. A água é exatamente a mesma, com alguns reflexos mais detalhados e só, o que não é ruim, mas não foi uma melhoria considerável.
O maior problema técnico do jogo é que, por mais que tenha uma melhoria muito sutil, nada justifica o framerate errático que aparece num computador que rodava o Bioshock original sem nenhum problema. Bioshock 2 roda normalmente a 60 frames… até que de repente você entra numa sala diferente e cai pra 40 frames, entra numa próxima e cai pra 30, e nem tem tanta diferença visual entre uma sala e outra. Uma seção na fase Fontaine Futuristics dava umas travadinhas irritantes que não aconteciam em nenhuma parte do jogo. E me deparei durante o jogo com vários bugs, como meus plasmids não funcionarem corretamente depois de uma animação, ou o jogo travar quando eu tentei abrir o mapa. São pequenos problemas que não quebram o jogo em geral, mas com um título com o hype e o marketing de “shooter do ano” que Bioshock 2 tem, é surpreendente tal falta de atenção aos detalhes técnicos. Sem mencionar o fato de - repetindo - quatro diferentes estúdios estarem trabalhando no jogo, o que torna a falta de melhorias gráficas e falta de otimização ainda mais graves.
Mesmo assim, o design artístico que existia no Bioshock original se manteve intacto, e até melhor, com as novas seções de Rapture mais escuras e com mais cara de cidade que passou 10 anos cheia de loucos dementes que destruíram tudo. A dinâmica de cidade sci-fi misturada com anos 50 também se manteve presente e ainda é interessante como era no original. Vemos nas últimas missões uma parte do jogo no qual você verá a cidade pela perspectiva de uma Little Sister. Essa parte é muito legal e certamente a parte mais graficamente impressionante do jogo, além de oferecer um grau a mais de aprofundamento na história e na mitologia de Rapture.
SOM
Quanto à sonoridade, Bioshock 2 é tão bom quanto seu predecessor. A trilha sonora mistura músicas épicas, músicas para aumentar a adrenalina e tensão durante algumas partes, e também velhas músicas dos anos 50 tocando em rádios velhos ou na tela de loading. Os efeitos sonoros também são ótimos, cada plasmid sendo usado faz um som correspondente legal, as armas tem efeitos sonoros relativamente autênticos, e os inimigos, incluindo Splicers, Big Daddies e Big Sisters, tem efeitos sonoros muito bons, e o senso de atmosfera de suspense também foi mantido. Mas facilmente, a melhor parte do som de Bioshock 2 é a atuação. Tanto Sofia Lamb quanto Eleanor e os muitos outros personagens que você encontra pelo caminho, e também os que só aparecem em diários, tem atuação ótima que se encaixa perfeitamente na atmosfera do jogo.
Infelizmente, não é apenas a qualidade que foi passada do primeiro Bioshock. A sequência também possui os infelizes problemas técnicos, principalmente o de um som fazer o outro sumir durante sequências de ação, o que é particularmente irritante durante lutas de Big Daddy ou Big Sister. Por outro lado, o game não precisa de macetes no Painel de Controle para que o som funcione, então não é tão chato de fazer funcionar quanto o original.
JOGABILIDADE
Aqui é onde Bioshock 2 fica mil vezes melhor que o primeiro. Em essência, o jogo é igual: você deve enfrentar uma penca de inimigos com uma variedade enorme de armas, tipos diferentes de munições e poderes genéticos chamados Plasmids. Para conseguir novos plasmids, você precisa conseguir ADAM, que é um material que possibilita modificação genética, e para conseguir ADAM, você precisa matar ou salvar uma Little Sister, que são as menininhas que extraem ADAM do sangue dos mortos de Rapture. Para chegar em uma dessas garotinhas, você precisa passar por cima do protetor delas, o Big Daddy, um cara grande e forte e armado até os dentes com uma super armadura que resiste até mesmo à força do oceano. Mas agora você é um Big Daddy também, e isso faz um mundo de diferença.
Isso que é arma de macho!
A primeira grande diferença notável é que agora você pode usar plasmids e armas ao mesmo tempo. O Bioshock original praticamente me forçava a esquecer dos plasmids eventualmente, e focar apenas nas armas, porque trocar entre elas era terrível para as táticas. Agora você pode controlar as armas com o botão esquerdo do mouse, e os plasmids com o botão direito, podendo trocar rapidamente os plasmids e armas durante o combate. Isso facilita MUITO a usar diferentes táticas para acabar com os inimigos mais dinamicamente. É muito mais fácil agora, por exemplo, usar Incinerate para fazer um inimigo explodir em chamas enquanto você lança granadas. Ou usar Hypnotize para fazer dois Splicers baterem entre si enquanto você enfia a broca por entre o peito deles. Usar plasmids e armas ao mesmo tempo possibilita que você utilize mais de seu arsenal de poderes e armas muito mais facilmente e com maior estratégia.
Os plasmids foram mudados bastante. Agora, ao invés dos inimigos simplesmente resistirem aos seus poderes sem nenhum motivo aparente conforme o jogo passa, obrigando você a comprar o mesmo plasmid de novo pra afetar esses inimigos resistentes, agora cada um dos novos upgrades de um plasmid te dá uma habilidade diferente. Peguemos Electrobolt, por exemplo. O primeiro nível deixa você atirar um raio de sua mão, como era no outro Bioshock. O segundo nível permite que você segure o botão para carregar um raio mais poderoso que funciona como Chain Lightning, ou seja, pega em múltiplos inimigos. O terceiro nível faz com que o efeito de Chain Lightning seja feito sem ser necessário carregar, e quando carregado você lança uma tempestade de raios que afeta múltiplos inimigos e causa dano elétrico. Winter Blast agora deixa caixinhas para poder ganhar os itens daquele inimigo, o que não acontecia no game original. Os diferentes efeitos que cada um dos upgrades de um determinado plasmid têm dá ao jogador um motivo pra gastar todo aquele ADAM, ao invés de fazer o jogador parar de usar os plasmids quando eles não funcionam mais, ou forçar o jogador a comprar exatamente o mesmo plasmid novamente, sem nenhuma melhoria aparente.
Vai um churrasquinho?
Outros plasmids foram juntados. Por exemplo, Enrage e Hypnotize Big Daddy foram transformados em um único plasmid chamado Hypnotize, que agora, no primeiro nível, causa o mesmo efeito de Enrage (faz um inimigo se enfurecer e atacar o alvo mais próximo, mesmo que seja outro inimigo), o segundo nível permite que você carregue o plasmid e cause o efeito de fazer o inimigo atingido virar seu aliado por um tempo, e o terceiro nível permite que você faça Big Daddies se aliarem a você, como Hypnotize Big Daddy no primeiro game. Security Bullseye também virou Security Command, e agora você pode carregar esse plasmid para criar um robô de segurança, fazendo assim com que você possa ter robôs de segurança te ajudando no combate o tempo todo. Um novo plasmid também foi criado, o Scout, que faz você criar um fantasma de você mesmo que sai do seu corpo e permite que você explore os caminhos à frente sem ser detectado.
As armas de Bioshock 2 são essencialmente as mesmas. A chave inglesa e a pistola foram substituídas pela broca e pela arma de pregos, características dos Big Daddies, e as outras armas tiveram seus modelos refeitos e são sutilmente diferentes, mas basicamente iguais. O que mudou foram alguns dos tipos de munição. Por exemplo, a espingarda calibre 12 não tem mais munição elétrica, mas agora possui um tipo de munição que gruda no inimigo e explode em chamas depois de um tempinho. Algumas das armas agora têm mais tipos de munição do que simplesmente as munições normal, anti-pessoal e anti-armadura, como a arma de pregos, que pode criar armadilhas de proximidade para atirar pregos em Splicers que passarem por elas. E agora também não temos mais aquela diferenciação entre munições comuns, incomuns e raras, agora são simplesmente três tipos de munição diferentes. Também não existem mais as estações U-Invent, para “inventar” munições que já existiam, como no primeiro game, fazendo a necessidade de um sistema de inventário desaparecer. E nada de armas super poderosas capazes de matar Big Daddies sem nenhum esforço (adeus Chemical Thrower), agora todas elas tem um balanço muito bem distribuído, e todo inimigo requer boa estratégia.
O que é o maior diferencial sobre as armas de Bioshock 2 é o sistema de upgrades. Pelo jogo estão espalhadas 14 estações Power to the People (as mesmas do original) que permitem que você faça um upgrade em uma de suas armas. Cada uma das armas tem 3 upgrades, ao invés de 2 upgrades do primeiro jogo, mas para acessar o terceiro upgrade de cada uma delas, você precisa fazer os dois primeiros upgrades, e você precisa escolher sabiamente, porque no final do jogo existem mais de 14 upgrades (no final do Bioshock original, você possuía todos os upgrades do jogo), o que faz o jogador pensar um pouco mais no que se encaixa em seu estilo de jogo.
Agora, você se lembra das piores partes do Bioshock original? Sim, o mini-game de hackear máquinas e o sistema de upgrade da câmera. Os dois ainda estão por aqui, mas foram infinitamente melhorados. O mini-game de hackear agora é mais simples e não interrompe o jogo enquanto você o faz. No game original, o jogo mudava pra uma tela na qual você precisava ligar dois pontos num tipo de labirinto de canos, sem fazer os canos passarem por nenhum quadrado que interrompia o jogo ou soava um alarme. Era cansativo e entediante, e interrompia a ação do jogo. Agora, você simplesmente tem uma barra embaixo da tela com uma seta que vai passando por seções verdes, brancas, vermelhas e azuis. Para completar o hack, basta fazer a seta parar nas seções verdes. Se cair na branca, você é removido do hack e toma dano, e se cair numa vermelha, soa um alarme e robôs de segurança vem te enfrentar. Se cair num azul, você ganha um bônus, como itens de graça, medkits, munição e até sistemas de segurança mais fortes, o que te dá um motivo para hackear tudo que vê, e não é um mini-game terrível como era no original.
Já a câmera foi refeita. No
Bioshock anterior, você tinha que entrar na linha de fogo dos inimigos e tirar fotos deles, ganhando bônus de “pesquisa genética” se pegasse o inimigo enquanto ele te atacava ou múltiplos inimigos na mesma foto. A cada foto, o jogo parava e você via uma barrinha de experiência se encher, o que também interrompia o jogo, além de ser chato pra caramba pra trocar pra outra arma depois de tirar as fotos. Em
Bioshock 2, a câmera não tira mais fotos, e sim é uma filmadora. Você equipa a câmera como se fosse uma arma, focaliza ela num inimigo que deseja pesquisar, e assim que você clica o botão do mouse, você imediatamente troca para a última arma que estava equipada enquanto a câmera vai fazendo o trabalho. E para ganhar bônus de experiência, você precisa utilizar armas,
plasmids e coisas diferentes para matar o inimigo. A câmera te penaliza se você usar sempre a mesma tática, mas cada tática diferente que você utiliza no mesmo inimigo te dá mais experiência. Então não só a câmera não interrompe o fluxo da ação, mas também encoraja o jogador a utilizar-se de diferentes táticas de combate no mesmo inimigo. Os diferentes tipos de Big Daddy e a diferenciação da pesquisa entre câmeras e metralhadoras fixas também foi removida, então pesquisar qualquer tipo de Big Daddy vai te dar os mesmos bônus e aumentar o dano contra todos os tipos, e as câmeras/metralhadoras foram juntas na mesma pesquisa “Security” para facilitar a vida do jogador.
Os tônicos também mudaram do Bioshock. Antes você podia equipar 18 tônicos que tinham efeitos variados, desde facilitar o hackeamento das máquinas até aumentar sua resistência física, mas eles eram separados em três tipos diferentes, limitando algumas de suas escolhas, pois você podia equipar somente 6 tônicos de cada tipo. Agora, você ainda pode equipar 18 tônicos, mas não são mais divididos em tipos, deixando o jogador escolher os tônicos conforme quiser.
Quanto aos inimigos, ainda temos aqueles cinco tipos de Splicers que vão aparecer durante o jogo inteiro, como no Bioshock original, mas a sequência também melhora isso com mais tipos novos de inimigos. Existem também agora os Brute Splicers, que são Splicers monstruosos enormes que usaram umas misturas de tônicos para ficar daquele jeito; um novo tipo de Big Daddy chamado de Rumbler, que usa as novas “mini-turrets” (metralhadoras fixas portáteis que ele pode jogar onde quiser) e lança foguetes na sua direção (ouch!). Além, é claro, das Big Sisters, que são facilmente o inimigo mais difícil de se enfrentar dos dois games. Uma Big Sister sempre vem te enfrentar depois que você lidou com todas as Little Sisters de uma determinada fase, seja matando-as ou salvando-as, pois elas querem o ADAM que você “roubou”.
Falando nelas, você ainda vai querer pegar as Little Sisters sim, porque elas ainda têm todo o ADAM que você precisa para fazer os upgrades de seu personagem, e você ainda precisa matar o Big Daddy delas para conseguir pegá-las. Mas é aí que entra o novo sistema das Little Sisters: você agora é um Big Daddy. Então você pode adotar uma das pequeninas para que ela extraia ADAM dos corpos para você. Você precisa encontrar um corpo cheio de ADAM, que as pequenas conseguem encontrar com uma conveniente fumacinha branca que vai de onde você está até o corpo, e então você precisa deixar a garotinha no corpo enquanto ela extrai. O problema é que ondas e ondas de Splicers irão atacar você e a menina durante o processo. Essas sequências de defender a Little Sister são ótimas para aumentar o nível de adrenalina. As meninas são imortais, mas se elas forem atacadas, elas param o processo de extração, e você continua sendo atacado por mais e mais Splicers. Você não é imortal! Falando nisso, a opção de ligar ou desligar as Vita-Chambers (funcionam como checkpoints nos quais você volta imediatamente caso morra durante o jogo) já está lá desde o início sem precisar de patch.
É difícil defendê-las, mas é divertido
Além de tudo isso, temos algumas seções jogáveis fora de Rapture, sob o frio abraço do oceano. São sequências curtas, normalmente entre uma fase e outra, e nenhuma ação ocorre durante elas, você nem pode usar suas armas enquanto está debaixo da água. Elas passam a impressão de que a desenvolvedora queria colocar umas “partes legais” mas não sabia bem o que fazer com elas, parecem feitas para colocar mais um ponto atrás da caixa do game dizendo “Partes jogáveis debaixo da água!” para fazer vender o jogo melhor. Ainda assim têm trilhas sonoras épicas, especialmente a parte em Siren Alley, e são legais de se ver.
Enfim, tudo na jogabilidade de Bioshock 2 foi muito melhorada em comparação com o original. Isso sim é que é uma sequência bem feita.
FATOR REPLAY
O maior motivo para se jogar Bioshock 2, mais de uma vez é o mesmo que era no original: enfrentar os inimigos usando novas táticas, usando mais do seu arsenal enorme de munições e armamentos, comprar diferentes tônicos e plasmids, tentar fazer desafios para si mesmo como jogar apenas com a broca, enfim, aproveitar da imensa variedade de tiroteios que o jogo te oferece. Bioshock 2 também conta com um modo multiplayer, que não existia no game original, mas não comentarei sobre ele aqui.
PRÓS E CONTRAS
+ História interessante
+ Rapture ainda é uma cidade fascinante
+ Eventos acontecendo durante o jogo, ao invés de apenas no passado
+ Você é um Big Daddy!
- Gráficos podiam ser muito melhores
+ Arte gráfica ainda é única
- Problemas técnicos, framerate errático, bugs
- Problemas no som já existentes no original que não foram consertados
+ Trilha sonora ótima
+ Atuação de voz impressionante
+ Jogabilidade similar ao original, porém com inúmeras modificações sábias
+ Alta fator replay devido ao número de opções
CONCLUSÃO
Bioshock era um jogo que tinha muito potencial, mas para cada idéia ótima que o jogo exibia, também exibia um problema que diminuía tal idéia. Bioshock 2 pega cada um dos aspectos da história e da jogabilidade que eram bons no original e removem as partes ruins, criando uma experiência muito melhor, digna de ser um grande shooter para competir com os melhores. É uma pena que os gráficos e o som não receberam o mesmo tratamento. Esperemos que as últimas melhorias venham com Bioshock 3, e aí sim, teremos um clássico em mãos.
Nota: 8
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*José Renato é estudante de jornalismo, escreve no blog Beta Tester e é o nosso novo redator de games, substituindo o Shadow, que teve que sair da Redação após cair na real e começar a estudar novamente. Seja bem vindo ao Clã NSN.