segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Apocalipse Zumbi – Colabore com o lançamento do livro de Alexandre Callari, o primeiro do gênero no Brasil!

 

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Olá Galera,

Tudo bom com vocês. Pois é, este é um post diferente. Ao mesmo tempo que vou fazer um grande anúncio, irei fazer uma proposta a todos vocês. Mas antes, ao anúncio: no final de abril irei lançar meu primeiro livro de ficção e logo de cara, abordei um dos temas que mais gosto. O nome do livro? (rufem os tambores) APOCALIPSE ZUMBI: OS PRIMEIROS ANOS!!!!!

É isso aí, eu dediquei muito da minha energia para criar uma história digna das grandes obras e estou louco para compartilhá-la com você.

Mas o projeto vai além disso; eu quero trabalhar a experiência completa da obra! Portanto bolei uma série de outros elementos que irão enriquecer a leitura e fazem parte de um conjunto de ações que NUNCA FOI FEITO NO BRASIL ANTES.

Duvida? Pois olha só, além do livro, nós teremos um super-site com muito, mas muito, mas muuuuuuito conteúdo adicional. Desde vídeos, entrevistas, fotos e imagens, até contos inéditos ampliando o universo da obra. É pouco?

Ok, teremos um trailer para o lançamento do livro. O que? Um trailer? É, você leu direito. Nada daquelas coisas toscas, é um trailer pra valer com qualidade de cinema!!! Dá só uma olhada no making of dele prá você sentir o drama (mas o trailer de verdade você vi ter que esperar um pouquinho):

Fora isso, um CD que vai trazer uma trilha sonora. São oito músicas escritas e compostas por mim que vão estar encartadas junto com a obra.

Mais interativo possível, você lê o livro, navega no site, assiste o trailer e escuta o CD!!! É zumbi pra ninguém colocar defeito.

 

E agora, após o anúncio, vem a parte onde quero propor uma parceria com você. Inscrevi o projeto Apocalipse Zumbi no site Catarse (www.catarse.me) que é um site de financiamento colaborativo – uma super-mania nos EUA que só agora começa a chegar para nós. Basicamente, você checa os projetos que estão lá e, se gostar de algum, entre com uma verba que VOCÊ ESCOLHE. Mas calma lá, a verba não é de graça. Você recebe recompensas (ou benefícios) em troca. É como se fosse uma pré-venda do livro.

Por que eu preciso disso? Basicamente para conseguir fazer as prensagens do CD que irá acompanhar o livro, então sua colaboração é importantíssima. Quer saber o que você irá apoiar? Dá uma escutada em uma música no link abaixo. É a demo da faixa título só prá você sentir o clima do negócio.

Apocalipse Zumbi será lançado pela Editora Évora e estará disponível nas principais livrarias de todo o país (e também em diversos sites) no final de abril. Para ir direto a este projeto no Catarse, clique NESTE LINK, leia os termos do site e vamos nessa. Conto com sua colaboração.

Um abraço,

Alexandre Callari

 

Então é isso, galera, colaborem pra incentivar excelentes projetos nacionais como esse, e vindos de um dos nossos maiores parceiros. Uma coisa posso garantir (e nem sei se tenho permissão pra falar): o livro é foda! Opinião minha e do BruNêra, que já lemos o livro, e você sabe que ao menos na gente pode confiar!

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O fulminante e inevitável fim de Khadafi

 

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“Fui eu quem criou a Líbia, e sou eu que vou exterminá-la”

Frase atribuída a Muamar al-Khadafi

 

Enquanto no Egito as coisas foram aos poucos tomando proporções apocalípticas e terminando com um ditador renunciando ao poder… e sendo substituído por outro; na Líbia a velocidade foi um pouco mais insana. Logicamente, deve-se sempre levar em conta que estamos falando de um país que vive uma ditadura, com controle sobre meios de comunicação e essas coisas características. Mas a Líbia me parece um símbolo de toda essa revolta Efeito-Dominó no Oriente Médio. O interessante é que foram contínuas as tentativas americanas de tirar Muamar al-Khadafi do poder, seja com embargos, seja com bombardeios contínuos na Era Clinton, sempre o acusando de ligações com os à época ainda pouco influentes grupos terroristas muçulmanos. E no fim das contas o regime do Líder Fraternal e Guia da Revolução da  Líbia está literalmente implodindo, sem aparentes grandes intervenções externas. Até pilotos de caças do país - coronéis - estão desertando ao receber ordens de conter manifestações à base de tiros.

Alguns informes independentes, vindo de repórteres com coragem de meterem a cara no meio da zona de conflito, dizem que alguns líbios de zonas externas de Trípoli - capital da Líbia - conseguiram comunicação clandestina e transmitem notícias anonimamente ao mundo, como é o caso do Lybia Dude - que até onde se sabe, pode até ser leal ao governo Khadafi. Além de fotos de (supostos) soldados carbonizados e de pessoas metralhadas por tropas do governo, o Lybia Dude divulga táticas de guerrilha, como o ensino de fabricação de coquetéis Molotov e a interceptação de aviões militares com laser.

Abaixo alguns tuits e fotos desse perfil anônimo:

 

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Nas lajes da Prefeitura e escolas estão franco-atiradores alvejando pessoas a esmo. Carros passam ostentando buzinando, ostentando bandeiras verdes e mostrando fotos de Gaddafi, entoando seu nome. Se você não está com eles, vão atirar em você. Aconteceu isso com um amigo. Agora eu consigo imaginar como deve ser viver em Gaza.

As redes de televisão líbias estão negando TUDO. Dizem que os barulhos que as pessoas escutam nas ruas são fogos de artifício! Desculpa aí, mas QUE PORRA É ESSA?! Acho que os estúdios de televisão devem ter sistemas de isolamento de som bem eficazes!

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Redes sociais e a internet estão bloqueadas, celulares são inúteis, mercenários vasculham as vias para aterrorizar pessoas e desmembrar qualquer agrupamento com artilharia pesada. As pessoas estão tão desesperadas por suas vidas que mesmo que sejam anti-regime colocam fotos de Gaddafi em seus carros com medo de serem atacadas.

 

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Terror, é o que sinto agora. Ainda bem que meu filho de dois anos não entende nada disso. Torço para que ele possa viver num país livre. Não nego estar com medo que algum dos agentes do regime possa me procurar, o que poderia me levar para cantos sombrios, mas… Vou usar minha experiência em TI e lutar virtualmente com meus irmãos e espalhar a mensagem até onde for minha existência.

 

[Via Vice]

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Hollywood e sua situação criativa calamitosa (lá vamos nós de novo)

 

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No início do ano passado, escrevi esse texto meio polêmico demonstrando minha opinião sobre a extrema mercantilização de Hollywood, o que resultou numa contínua quebra de qualidade. Ano passado, apesar desses 10 filmões que consegui selecionar - sendo que seis eram dos EUA, três bancados por um grande estúdio -, creio que a qualidade cada vez mais está deixando o mainstream do cinema americano e se fixando no estrangeiro e no cinema independente. E isso está cada vez mais definitivo e irreversível.

O jornalista Mark Harris, na revista GQ desse mês, fez uma crítica à maquina de fazer salsicha sem criatividade de Hollywood, só com remakes e adaptações de quadrinhos, o que pode ser irreversível para o cinema como entretenimento, e alavancar a Pirataria ainda mais.

 

Quatro adaptações de quadrinhos. Uma história de origem de uma adaptação de quadrinhos. Uma continuação de uma continuação de um filme baseado em brinquedos. Uma continuação de uma continuação de uma continuação de um filme baseado numa atração de parque de diversões. Uma história de origem de um remake. Duas continuações de desenhos animados. Uma continuação de uma comédia. Uma adaptação de um livro infantil. Uma adaptação de um desenho animado de sábado de manhã. Uma continuação com 4 no título. Duas continuações com 5 no título. Uma continuação que, se quisesse usar números, teria que ter 7 1/2 no título.

Fique atento a crítica do jornalista, que se baseia mais na criatividade e não na qualidade dos filmes. Há muito mais da mensagem de Mark no link abaixo, mas creio ser o excerto acima vigoroso e urgente o bastante pra ser devidamente levado em consideração. E você, o que acha sobre a criatividade de Hollywood no momento?

 

PS: de acordo com um comentarista do Gizmodo, os filmes são os seguintes:

1. Captain America, Cowboys & Aliens, Green Lantern, and Thor; X-Men: First Class; Transformers 3; Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides; Rise of the Apes; Cars 2 and Kung Fu Panda 2; The Hangover Part II; Winnie the Pooh; The Smurfs in 3D; Spy Kids 4; Fast Five and Final Destination 5; Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2

[GQ via Gizmodo]

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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[Pipoca e Nanquim] Underground

Por Pipoca e Nanquim 

 

59- Underground - Pipoca e Nanquim - Cinema e HQs por pipocaenanquim no Videolog.tv.

O tema de nosso videocast hoje passeia pelos “guetos” dos quadrinhos – ou para usar o nome técnico: o quadrinho underground. Cansado de ver heróis vestindo cuecas por cima das calças? Então este é o seu programa. Por que sentimos necessidade (e prazer) de ler HQs como as de Robert Crumb e Harvey Pekar que em grande parte são suas biografias e que, teoricamente, deveriam ser completamente desinteressantes?

Afinal qual o mistério que há por trás de sentirmos desejo de acompanhar Pekar fazendo compras no supermercado e reclamando do quando sua vida é inútil que nem louco? – e o pior, admitimos que essas são obras primas, sem nem saber explicar por quê! Mas elas são, indiscutivelmente. E se na literatura temos nomes como Bukowski, nos quadrinhos também temos esses e outros grandes mestres citados ao longo do programa.

Há, e fique esperto, protelamos mais uma semana a nossa promoção junto a Devir. O que? Ainda não se inscreveu? Então comente aqui no post: “Quero ganhar o box do Caruso do @PIPOCAENANQUIM e da @DEVIR_LIVRARIA” para concorrer. Para saber mais sobre as action figures mostradas no programa, clique AQUI para ver nosso post especial ou AQUI para ir direto pra loja.

Um abraço e até semana que vem.

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Detroit: Cidade Fantasma Moderna

 

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Quando você vê caras como Michael Moore reclamando da ação corrosiva das políticas empregatícias das grandes corporações americanas, imediatamente deve pensar: “Puta que pariu, que mala… tá querendo cortar o lucro das empresas!”. Bom, creio que o pensamento de qualquer um muda quando vê as imagens da decadência de Detroit.

Detroit é a maior cidade do estado americano do Michigan, com 4,5 milhões de habitantes. Mas uma parada bem comum no mundo globalizado rolou lá pela década de 70, quando a principal fonte de renda da cidade - a indústria automobilística americana, principalmente a GM e a Ford - começou a apanhar miseravelmente dos japoneses. As empresas demitiram meio mundo, mudaram suas fábricas de país e o resto você já consegue imaginar. Recessão, casas abandonadas, desvalorização imobiliária, aumento da criminalidade.

Hoje a prefeitura da cidade tem um programa de habitação… que paga para você morar na cidade, dando casa e tudo. Mas ninguém quer. Famílias ricas que saíram da cidade voltaram pra ela anos depois… pra exumar corpos de parentes e não precisarem visitar a cidade nunca mais - nos últimos sete anos foram mais de mil corpos transferidos.

Se nem os mortos querem a cidade, imagine o estado dela, que é o que o que essa sessão de fotos feitas na cidade revela.

 

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[Mais imagens no Buteco da Net]

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Pinturas com luz como você nunca viu

Invocação para uma Era do Gelo é o nome dessa beleza de sessão de fotos feitas pelo incrível artista  Janne Parviainen e sua Sony A200. Antes que perguntem, não tem Photoshop, é tudo capturado diretamente pela câmera dele.

“Direto da câmera. Quando estiver em pé duas horas com neve até os joelhos, congelando a menos de 20º e tirar fotos, brincar com o fogo começa a soar como uma grande idéia, haha! Eu só queimei meu casaco um pouco, opa!”, disse Janne sobre a experiência.

 

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[Via Neatorama]

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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“Fragmentos da História da Repressão” versão acadêmica

 

No fim do ano passado postei aqui no blog, em três partes, um ensaio intitulado Fragmentos da Repressão Político-Estatal, uma breve análise política da influência do Estado na consolidação de várias mazelas do mundo. Com o incentivo de um contato por email da Danielle Montenegro, fiz uma versão acadêmica do texto, com referências e todas essas exigências, visando a publicação dele em periódicos de caráter científico, e ajudar quem quiser referencia-lo em algum trabalho.

Para ter acesso ao PDF do ensaio (com 74 páginas), é só clicar na imagem, ou AQUI. A versão publicada no blog pode ser acessada pelos links: Parte 1, 2 & 3.

 

Essa versão, apesar de intitulada “final”, ainda pode ser revisada. Então, se alguém ler e quiser fazer algum comentário, pode usar o espaço abaixo ou mandar um email.

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Dead Space e o Apanhador de Estrelas

 

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Fim do mês você já sabe: é hora de ler as edições das nossas e-magazines favoritas, a Arkade e o Farrazine. Sem mais delongas, vamos às edições! No Farrazine tem uma matéria minha sobre o fim do Comic Code, aproveitem!

 

Arkade Edição 20 – Fevereiro/2011

Reviews: Dead Space 2 (PS3, X360, PC), LittleBigPlanet 2 (PS3), DC Universe Online (PC, PS3), Mario Sports Mix (Wii), Two Worlds 2 (PS3, PC, X360), MindJack (PS3, X360)

Bitbox: Os 10 melhores seriados nerds

Clássicos: Relembre as bizarras guerras de Metal Slug!

E ainda: Magicka, Hoard, Fluidity, Master Chief e muito mais!

Edição digital - Download em PDF

FARRAZINE Nº 20

► Conheça as aventuras de Adriel Paz - O Apanhador de Estrelas - nas HQs "Esperança (quase) Perdida” e "O Negociador".
Personagem criado por Nasci e trazido até os leitores do FARRAZINE através dos roteiros de Eloyr Pacheco e arte de Carlos Nascimento, com cores de Snuckbinks.

► Confira também: a matéria de Paloma Diniz sobre a  passagem de Killofer por João Pessoa;

► Entrevistas com Von DEWS!, do site VertigemHQ e com Nívia Alves e Ana Karla Albuquerque, do Rascunho Studio.

► Os contos escritos por de Rita Maria Félix da Silva, Rafael Costa, Brenno Dias, Cinthia Molina, Carlos Panhoca entre outros...

► E mais: Bando de Dois, Comic Code Authority, Steampunk, Hipster Hitler, ABAS, contos, resenhas, tiras, dicas de HQ's nacionais e o retorno de nosso ex-ombudsman.

50 páginas - Baixem clicando nas opções à seguir

VERSÃO .RAR - 4SHARED - 43,6 Mb | VERSÃO .RAR – MEGAUPLOAD - 43,6 Mb |

VERSÃO .PDF - 4SHARED - 25,9 Mb | VERSÃO .PDF – MEGAUPLOAD - 25,9 Mb 

FARRAZINE NO ORKUT | FARRAZINE NO ISSUU

 

Aproveitem, ainda mais nesse momento em que o NSN anda pouco produtivo (mudaremos isso muito em breve)!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

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Artista cria uma das game arts mais lindas de todos os tempos

 

Como vocês leram no post acima, The Legend of Zelda, minha série preferida, completou 25 anos de existência anteontem. Um artista japa intitulado Ag+ resolveu derrubar queixos por aí ao mesmo tempo em que comemorava a data, e publicou uma das artes mais lindas já feitas pela mão do homem.

Bom, vou calar meus dedos e partir para o que interessa: veja a imagem acima - clique nela para ver numa mega resolução de chorar -, abaixo está um vídeo com a produção da arte, e clique AQUI para acessar o perfil do artista no Pixiv.

 

[Via GamesBrasil]

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The Legend of Zelda: 25 anos da maior lenda do mundo dos games

 

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Há 25 anos - e dois dias - a Nintendo lançou no Japão The Legend of Zelda. Shigeru Miyamoto, o maior game designer de todos os tempos, diria mais tarde que a idéia para o jogo partiu de lembranças das explorações que ele fazia em cavernas e florestas, tudo junto com mitologia nórdica, japonesa e a inspiração do filme A Lenda. Em tempos de games cheios de CryEngines da vida, o clássico com a primeira aventura de Link parece um mero rabisco, mas creio que todos sabem que é ali que está a gênese de uma das melhores séries de videogame da história, que além de manter sua estratosférica qualidade nos dias de hoje, ainda é um poço de inventividade aliada a sua longa tradição.

Falar de Zelda é complicado, e não só pra mim, um fã confesso de tudo relacionado a série. Fã de Zelda geralmente é uma raça ruim. Fala aos quatro ventos que deseja inovações, mudanças de fórmulas desgastadas, mas deixa uma lágrima rolar ao ouvir o tema musical do jogo que toca em milhões de casas mundo afora por duas décadas e meia. Reclama da perpetuação de certos itens, mas solta um sorriso de orelha a orelha ao mirar na cabeça de  cinco inimigos e lançar o bumerangue de forma perfeita.

Eu imagino que tipo de impacto The Legend of Zelda teve na cabeça dos primeiros que o experimentaram. A linearidade absoluta foi colocada de lado, permitindo que os jogadores acessassem as fases em ordens diferentes, além de existir todo um processo de achar e conseguir jogar cada dungueon. Não existia o processo de terminou-uma-fase-pulou-pra-outra, o que deve ter deixado muita gente com várias noites sem dormir. Foi Zelda que instituiu as clássicas baterias de save, o que mandou já marcou uma morte precoce dos intermináveis passwords.

 

Pouco mais de 12 anos depois de ter sua primeira aventura lançada, a série alcança a perfeição, com o capítulo Ocarina of Time, provavelmente uma das melhores experiências que os videogames já proporcionaram a um jogador. Tudo foi superlativo ali, desde o hype absurdamente mamutesco que só crescia à medida que a Nintendo fazia das suas e adiava continuamente a data de lançamento - só quem respirava videogame na época sabe como foi - até o produto final, que conseguiu atender e superar todas as altíssimas expectativas criadas ao redor dele. Com Ocarina of Time, a Nintendo mostrou que definitivamente o 3D foi muito bem recebido por suas séries - dois anos antes, Mario havia feito sua estréia em três dimensões - e que a empresa faria seu papel de chacoalhar tudo mais uma vez.

Só quem mirou com o botão Z pela primeira vez, viu a árvore Deku morrer, tirou a Master Sword do Temple of Time e viu que Hyrule se transformou num reino destruído, reencontrou Saria no meio da floresta - ouvindo uma das melhores músicas de toda a série -, cavalgou com Epona livremente pelos campos e viu o pôr-do-sol, lutou contra inimigos invisíveis, atirou flechas em fantasmas enquanto andava a cavalo… entre uma série infinita de experiências únicas, sabe o que é a experiência inesquecível de Ocarina of Time que tento descrever aqui.

 

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Após Ocarina of Time veio o subestimado Majora’s Mask. Esse é um bom exemplo que demonstra a natureza dos fãs que querem-mas-não-querem qualquer tipo de inovação. Majora’s trouxe uma das maiores reviravoltas nas mecânicas de jogo da série, ao colocar Link - o herói da série, pra quem não conhece. Se bem que na verdade o nome é mais pelo fato dele representar um elo com o jogador, pois quem joga é que escolhe o nome do personagem - num mundo alternativo com uma rotina de três dias até a destruição da tudo pela queda da lua do lugar. Tudo deve ser feito nesse prazo de três dias, sendo possível aplicar magias musicais de estender ou acelerar o tempo, bem como voltar nele. Provavelmente por ser uma aventura menos épica - o jogo é consideravelmente menor, porém com um nível de dificuldade bem elevado, um clima bastante sombio, e com bastante tarefas extras -, fora de Hyrule e sem Zelda, o jogo não foi recebido como deveria, mas pra mim é quase tão bom quanto Ocarina. Nos créditos, outra mudança importante na série: foi nesse capítulo que Miyamoto deixou a cadeira de diretor da série e passou a responsabilidade pra Eiji Aonuma, posto que ele ocupa até hoje.

No final de 1999, durante a Space World - uma feira exclusiva da Nintendo que rolava sem qualquer periodicidade no Japão - a Big N mostrou Link matando alguns monstros no sistema do seu novo console. Lágrimas e saliva foram vistos na platéia quase toda composta por jornalistas profissionais. Parecia uma nova revolução se aproximando. Mas eis que na E3 de 2001 a opinião sobre o sucessor de Majora’s - chamado Wind Waker - se dividiu: a Nintendo adotou para o jogo um visual cel shading, essencialmente cartunesco e parecido com um mangá. “É um Zelda pra menininhas”, diziam alguns mais fanáticos.

O mundo praticamente se dividiu em quem odiou a proposta da Nintendo de fazer um jogo bastante calcado na beleza da linguagem visual, escancarando emoções e expressões únicas com o estilo; e os que o abraçaram com gosto, experimentando mais uma superlativa aventura em Hyrule, e podendo entender melhor como se comporta a cronologia e a(s) linha(s) do tempo da série - mesmo que cada um entenda de uma forma diferente, pois os produtores do jogo jamais se pronunciaram oficialmente sobre o mistério. Mas uma coisa é certa, a mídia especializada o elegeu um dos melhores Zeldas de todos os tempos e o cel shading se espalhou pelo mundo. Outra inovação foi com relação ao mundo de Hyrule, agora um grande conjunto de ilhas que devem ser exploradas através da navegação e do controle do vento. E o barco de Link - King of Red Lions - é cheio de personalidade, substituindo Navi e Epona ao mesmo tempo.

Depois, mais polêmica com a chegada de Twilight Princess, em 2006. O bola da vez é outra mecânica: Link se transformava em um lobo, e se transportava entre um mundo normal e um outro tomado pelas sompas, sempre auxiliada pela amada e odiada Midna - falarei mais sobre isso numa resenha que farei do jogo em breve. É inegável que Twilight Princess é bem mais do que isso. É com certeza o maior jogo da série em tamanho, com umas 60 horas de jogo por baixo, uma história elaborada com diversos momentos emocionantes, uma série de itens inéditos, uso primoroso do Wii Remote, além de skills que tornaram o combate uma coisa única, recompensadora e até estratégica, evoluindo e muito as já bem vindas inovações que Wind Waker trouxe. Isso tudo, mesmo com uma leve queda no nível de dificuldade geral nos calabouços do jogo.

 

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E 2011 promete ser mais um ano excelente para os fãs das aventuras de Link. Provavelmente o ano verá o novo capítulo da série, Skyward Sword, além do remake 3D de Ocarina of Time. Por uma Sincronicidade incrível, emprestei meu Wii para um amigo e ele me devolveu com todos os Zeldas que me faltavam jogar, e em troca dei meu cabo de vídeo componente pra ele. E isso significa que terei muito trabalho nos próximos meses (queria dizer semanas, mas último ano de faculdade + emprego sugam muito do meu tempo) para lançar uma série de textos completos sobre a evolução da série, sua cronologia e a magia presente nela, que assim como Mario, misteriosamente consegue transcender qualquer possibilidade de expressão racional e linguística e entra num campo de subjetividade e emoção. Por isso é tão difícil falar da Lenda de Zelda, seja pra mim como qualquer um, porque mais que um jogo, a série é uma experiência profunda.

Pense em quantas séries clássicas perdem sua essência, público e qualidade, aos poucos morrendo criativamente - como Final Fantasy e Sonic - e isso é apenas um dos motivos para você entender a importância do que Zelda ainda é (e pelo visto sempre será): um evento mundial capaz de comover gamers a cada lançamento, uma peça de arte única.

Não só por ser uma série de 25 anos, algo como ser avô nos games, mas pelo que The Legend of Zelda representa hoje como obra de arte, cultura e experiência aprofundada, é que não consigo imaginar o mundo dos videogames sem Link, Zelda, Ganondorf, Gorons, Dekus, Zoras e todos os habitantes do mundo da série. Sem o hylian de gorro verde desbravando Hyrule 25 anos atrás, provavelmente não haveria Final Fantasy, Shadow of Colossus, Oblivion, Dragon Age, isso só pra citar os que foram influenciados mais obviamente pela temática e pelas mecânicas da série.

Então, mesmo talvez não gostando e virando a cara pra série, ao menos saiba que sem ela, boa parte de vários dos jogos “épicos” que existem por aí, simplesmente seriam menos lendários. Ou nem existiriam.

Parabéns Link e Zelda - e Miyamoto -, vocês merecem!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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[Listas] Os 10 Melhores Álbuns Musicais de 2010

As mesmas regras da Lista de Melhores Filmes tão valendo aqui: todos os álbuns estão ordenados por preferência, mas dessa vez não rolou o lance de trabalhar com diferentes sistemas de datas para tornar a lista melhor. Não coloquei links para download nem vídeos incorporados com músicas porque não eram resenhas individuais, mas é tudo facilmente achável no YouTube e no Pirate Bay.

 

 

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1 - The Suburbs (Arcade Fire)

Depois de um debút falando essencialmente de tragédias próximas - e que conseguiu ir contra a iminente volta do rock de garagem estilo Strokes, em 2004 -, e de um segundo álbum descendo ao lado mais negro das ideologias e das emoções humanas, sempre mantendo uma sonoridade única, cheia de camadas e vagueando entre diferentes estilos… o Arcade Fire encontrou a perfeição e o equilíbrio. Em primeiro lugar a banda mostrou que os tempos do mundo alternativo ficaram pra trás, e conseguiu acessar o mainstream causando um hype ainda maior que o lançamento de Neon Bible. E em segundo lugar conseguiu uma coesão temática intrigante, com um álbum longo que se aproxima do rótulo conceitual.

As músicas do álbum são basicamente inspiradas na infância de Win e William Butler - dois integrantes da banda - nos subúrbios de Houston, Texas. E mesmo se fixando em temas mais “pé-no-chão” e palpáveis - a vida e as crises dos que moram nos subúrbios -, a angústia e sofrimento característicos da sonoridade dos outros trabalhos do Arcade Fire ainda é bastante presente, bem como uma certa continuidade depressiva ascendente ao longo das músicas. O segredo para alcançar de vez a unanimidade foi unir o melhor dos dois mundos da obra que o Arcade já havia construído: uma construção sonora excitante e eclética de Funeral, misturado com o obscurantismo temático de Neon Bible. Daí saiu o equilíbrio!

Como ganhar o mundo mainstream tem o seu preço, alguns fãs logo reclamaram da fórmula mais pop que o grupo impôs a The Suburbs, e da diminuição de canções potencialmente mais instrumentais, caso das explosivas (e lindas) Wake Up e Intervention. Mas a simplicidade - um caminho inverso ao que bandas como o Radiohead e o Muse trilharam em seu terceiro trabalho - do trabalho figura triunfante como uma pérola. É só ouvir musicões como a movimentada Empty Room, a semi-roqueira Month of May e a melhor do álbum, We Used to Wait, que é a melhor mostra da “nova” sonoridade do grupo; e um exemplo perfeito pra sacar que essa masturbação linguística de o “experimentalismo se foi com a chegada do pop” vai embora quando a arte do Arcade Fire entra em cena.

 

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2 - Maximum Balloon

David Sitek pra mim é um dos três produtores mais importantes dos EUA, junto com Josh Homme e Danger Mouse. Enquanto integra o TV On The Radio e produz gente do naipe do Yeah Yeah Yeahs, Sitek decidiu produzir um álbum só dele… bem, mais ou menos. Como alguém que deu idéias pra alguns dos melhores e mais importantes trabalhos musicais da atualidade, Sitek - um produtor, tecladista, guitarrista, fotógrafo - resolveu que não faria uma festa solo e convidou uma trupe de coadjuvantes de primeira. O resultado é uma mistura de rock, blues, eletrônicos… ou seja: um TV On The Radio com ainda mais diversidade e influências sonoras.

O álbum é um passeio movimentado e às vezes excêntrico, provavelmente porque nunca precisará ser executado ao vivo, deixando Sitek livre para encher tudo com experimentações acachapantes com camadas de sintetizadores e bastante força instrumental. Começa suingado com Grooove Me, que apesar de não ser espetacular, é uma excelente abertura; mais pra frente aparece a ótima Abscence of Light, embalada pelos falsetes de Tunde Adebimpe, do TVOTR - o outro vocalista do TVOTR, Kyp Malone, solta a voz na faixa Shakedown. O álbum mostra que realmente não é mais do mesmo na linda e dançante If You Return, cantada com paixão pela japinha Yukimi Nagano, vocalista do excelente Little Dragon. O restante vai seguindo esse ritmo hipnotizante com David Byrne cantando Apartment Wrestling - repare em como Sitek é habilidoso ao emular um som característico do Talking Heads, banda de Byrme -, Karen O. berrando contidamente em Communion e Aku Orraca-Tetteh ajudando a tornar Tiger uma porrada sonora.

O poder instrumental ganha ares de beleza na homenagem de Sitek a lindeza e solidão do trip hop na também ótima Lesson, com vocais de Holly Miranda, e na doce Pink Bricks, embalada pela voz de Ambrosia Parsley, que encerra com chave de ouro a viagem musical mais divertida e consistente de 2010… ideal para esperar um sucessor do excelente Dear Science, último álbum do TV On The Radio.

 

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3 - Happiness (Hurts)

O Hurts é um duo de brit pop com forte pegada eletrônica. É daqueles sons que começam no alternativo, mas quando a grande mídia descobre, cai no gosto de qualquer um, sem exceção. Aqui no caso eles estouraram com a balada retrô-romântica Wonderful Life e logo entraram pra lista de trends musicais da BBC ano passado. A estrutura básica vocal-sobre-sintetizadores aliado a diretores cult a frente de videoclipes artisticamente rebuscados só serviu para espalhar o som do Hurts como o Evangelho em Roma.

Wonderful Life é a mais perfeita mostra do que é Happiness: pode-se dizer que todo o álbum é romântico, bem como levado por uma sonoridade do eletropop oitentista, que ecoa até no visual cuidadosamente trabalhado da dupla. Como disse o vocalista Theo Hutchcraft, a música do Hurts é como um Yin Yang, com camadas pesadas e obscuras aliadas a uma sonoridade cristalina. É tudo bem simples aqui, mas com letras profundas e existencialistas, aliado a um som cheio de influências de primeira.

O álbum é apaixonante do início ao fim. Ouça a épica e semi-sensual Better Than Love e veja como é impossível ficar parado ante ao que o Hurts arranca de camadas de instrumentos escolhidos a dedo. Devotion, por sua vez, traz um duo com Kylie Minogue e o resultado é lindo. Silver Lining conta com vocais quase celestiais de tão bonitos, enquanto Water, levada por um piano inspirado, é perfeita para ouvir a dois. O conjunto de músicas continua com essa pegada melancólica e romântica, e o Hurts se mostra forte até mesmo quando chega perto de um deslize, como por exemplo em Verona, que fecha o álbum de forma parecida com a que um padre termina uma missa.

 

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4 - Treats (Sleigh Bells)

Treats é o álbum mais violento, barulhento e ritmado dessa lista. É daqueles de tirar a concentração de qualquer um, de ferver os ouvidos e chacoalhar o cérebro. Se fosse pra rotular, diria que é um electro-punk, tanto devido a crueza com que a sonzeira sai das caixas, como pela pequena - mas marcante - preocupação estética de cada música, faixas com nada mais do que quatro minutos.

O grupo nasceu da união de Derek Miller - que era integrante do pancadão Poison The Well - e da gatinha Alexis Krauss - que emprestava sua linda voz ao RubyBlue, um grupeco teen praticamente desconhecido. O Sleigh Bells é justamente isso: a doçura da voz de Alexis com uma sonzera de torrar os fones de ouvido tecida por Derek, e é justamente sua curta duração e suas (poucas) variações sonoras que permitem que o álbum escape de ser enjoativo, ou mesmo seja esquecido depois de uma semana nos iPods alheios.

Motivos pra comprovar isso são fáceis. Pra começar, coloque pra tocar a demolidora Crown On The Ground no último volume e tente manter a sanidade. Depois experimente a sensualidade pop estilo-Peaches de Rachel, e depois retorne até Kids, que ecoa influências do som da M.I.A., que produziu o grupo. O restante das músicas vai margeando por diferentes estilos. Enquanto Run the Heart, por exemplo, se aproxima do synthpop, o encerramento do álbum, Treats, é pra lembrar mais uma vez do poder do Sleigh Bells e te fazer pular até a alma pedir perdão.

 

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5 - High Violet (The National)

O The National é um Coldplay que deu certo. Ou seria o inverso: o Coldplay é um The National excessivamente enjoado e com um Chris Martin e sua voz anasalada de cansar qualquer cidadão nos vocais. O som é sombrio, de certa forma classudo, cuidadosamente trabalhado, e acima de tudo romântico. É raro um grupo de torturados pelo amor - e que abrem um álbum com uma música chamada Terrible Love - conseguir fazer algo sonoramente tão rebuscado e de qualidade tão alta, e esse deve ser o principal ponto a favor do grupo comandado por Matt Berninger.

Após Terrible Love vem Sorrow, que já disputa o título de melhor do álbum. A certeza é a de álbum pesado, catártico, mas paradoxalmente melancólico, pra se ouvir sozinho e num estado de espírito adequado - perto da fossa. A próxima música superlativa é Little Faith, mais uma vez lenta e melancólica, com um instrumental arrastado e um baixo mais vivo do que na maioria das outras bandas. As músicas trabalham em conjunto também. Anyone’s Ghost mostra alguém na fossa completa e em crise existencial (Didn't want to be your ghost / Didn't want to be anyone's ghost) enquanto Little Faith mostra a chance de uma volta por cima (I set a fire in a blackberry field / Make us laugh, or nothing will).

Apesar de ser um disco quase solitário, ainda há espaço para a presença brilhante do excelente  Surfjan Stevens, que aparece cantando magistralmente em Afraid Of Everyone. Bloodbuzz Ohio mostra uma bateria contagiante e um clima “pra cima”, ao passo que Conversation 16 é outra que disputa o título de melhor do disco. Tudo se encerra com um otimismo temerário em Vanderlyle Crybaby Geeks, mas High Violet continua sendo um disco triste, parido por um coração magoado e com pouca fé na humanidade. E por isso tão belo.

 

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6 - Hidden (These New Puritans)

Os artistas classificados como pós-punk sempre foram bastante ojerizados, principalmente pelos bons e velhos punks, que aparentemente nunca viram com bons olhos essa explosão de um certo intelectualismo subjetivo nas músicas deles, bem como a negação de um leque de limitadas variações musicais. Mas, assim como seus parentes de jaqueta de couro e calça rasgada, os pós se atêm a uma pegada faça-você-mesmo aliado a um experimentalismo que quase sempre beira o vanguardismo.

O These New Puritans - ou simplesmente TNP - talvez seja o mais próximo que um grupo classificado como pós-punk pode chegar a perfeição na atualidade. Eles e o povo do Snowman, que é menos profícuo do que deveria. Se o álbum anterior do grupo, Beat Pyramid, foi subestimado, justamente por ter caído no pecado de querer atirar para todo o lado, Hidden apara as arestas e o excesso de criatividade e acrescenta uma bem vinda polidez a jogada, tornando o trabalho final coeso e épico, quase apocalíptico. É pra fazer qualquer fã do Animal Collective virar a cara de inveja.

O álbum já começa com a épica We Want War, com batidas poderosas e um clima épico que resume todo o restante do disco. Vocais assustadores, sons indecifráveis e um certo progressismo também se juntam aos mais de sete minutos da música. Three Thousand, a música seguinte, é sombria, além de desaguar na chatinha e quase gospel Hologram. Mas ela compensa pela sucessora: Attack Music, o mais próximo de um hit que um álbum tem, com assustadores vocais infantis e uma pegada próxima do acid das pistas de dança. Fire Power volta com ainda mais energia incendiária e Orion entrega mais uma musicão épico com uma óbvia influência “espacial” e mais back vocais quase gospel. O Radiohead ainda serve como influência na penúltima White Chords.

Som denso, mesclando passado, presente e futuro com uma sonoridade única e eclética, cheia de camadas, excelente pra ouvidos atentos e exigentes. Deve ser o mais próximo que as futuristas batidas eletrônicas vão chegar da música clássica. Coisa de inglês.

 

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7 - Brothers (Black Keys)

Sempre que lança algum álbum, o duo Black Keys é tratado como iniciante, o que é um erro tremendo. A dupla de blueseiros foi formada em 2001 e já lançou cinco álbuns, um melhor do que o outro. Logo que despontaram foram comparados ao White Stripes, o que não de todo errado, principalmente pela estrutura minimalista vocal-guitarra-bateria. Não à toa gente do naipe de Josh Homme (Queens of the Stone Age), Thom Yorke e Johnny Greenwood (Radiohead), e Kirk Hammet (Metallica) são fãs confessos da dupla.

Em Brothers, provavelmente o melhor trabalho da dupla, eles contaram com a colaboração de Danger Mouse, o que só elevou a qualidade de tudo. A sonzera, à primeira audição, parece coisa de uma banda inteira, o que sempre leva à surpresa quando se descobre tratar de dois músicos. Esse poder é logo mostrado na pesadona e arrastada Everlasting Light, a faixa de abertura. São três minutos de um baixo forte, bateria só marcando compasso e um vocal que parece ter saído diretamente dos anos 50.

Next Girl mantém e forma uma dupla perfeita com Tighten Up. Apesar de energéticas, as músicas ainda mantém uma pegada arrastada, quase melancólica, o que as colocam em praias diferentes do White Stripes… tá mais pra um Motown com elementos do T-Rex. Duas faixas depois chegamos a possível melhor do álbum: The Only One. A música é pura sensualidade, com um vocal quase andrógeno e um predomínio de guitarras e um baixo mais apagado. A música é tão linda que merecia uma resenha só dela, misturando rock clássico - especialmente Led Zeppelin - com fortes injeções de black music. O único ponto fraco vai pro tamanho do álbum, que lá pela segunda metade soa um pouco cansativo com suas 15 faixas.

Mas o resultado é por demais coeso, divertido e climático pra ser relegado pelo defeito de excesso de preciosismo. Mas fica para a próxima o Black Keys lançar sua obra-prima inesquecível.

 

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8 - The Monitor (Titus Andronicus)

Em um ano com discões de electro, synthpop, indie e uma variedade de outros estilos, esse The Monitor é o mais true rock de todos os álbuns dessa lista. Coisas de tempos em que o rock absorve cada vez mais influências externas e ganha elementos cada vez mais híbridos e indistinguíveis, uma herança do pioneirismo de OK Computer.

O Titus é o mais próximo que um grupo de rock americano vai chegar do folk rock dos irlandeses que integram bandas como o Flogging Molly. Muito disso pode ser visto de cara na pretensiosa e divertida faixa de abertura: A More Perfect Union. São sete minutos de guitarras matadoras, gravações de rádio e um vocal acelerado narrando batalhas da Guerra de Secessão.

Num primeiro momento, o virtuosismos às avessas do Titus pode incomodar. Desafinadas constantes, microfonias, guitarras fora do ritmo e todo o tipo de estranheza que parece sair de bêbados veteranos tocando numa festa de uma comunidade pobre. Mas os ouvidos logo se acostumam e a vontade é sair batendo cabeça lá pelo quarto minuto da primeira música. O nome do álbum de cara é uma referência ao navio USS Monitor, um dos navios de guerra pioneiros da terra da banda, Nova Jersey.  O disco parece a narração de guerra feita por adolescentes desencantados com a vida e com a decadência da vida nos EUA. Parece uma metáfora para o espírito aventureiro e independente do Andronicus, que usou sua liberdade para tecer canções gigantescas, um álbum longo e com intensas variações de ritmo, além de cimentado por uma temática intensa.

O resultado é um dos maiores petardos do ano, uma espécie de Trail of Dead de raiz. Perfeito para lembrar como o rock ainda mantém-se intacto em sua qualidade.

 

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9 - Crystal Castles

Outro duo na lista. Se o Titus Andronicus é o mais true rock de todos, esse segundo álbum homônimo do Crystal Castles é o mais true electro. O nome é uma referência a um clássico jogo de Ataria de 1983, e a sonoridade parece saída diretamente da mistura do Klaxons com trilhas sonoras de games 8 bits. O resultado é divertido e descompromissado, e às vezes um bate-estaca de tremer os tímpanos.

O peso e a densidade dos samplers deixa pra trás muita bandinha que lambe o título de new rave com vontade. Ouça Doe Deer e Baptism e comprove. Year of Silence, a próxima e uma das melhores do disco, ganha toques sombrios com vocais que mais parecem saídos da boca de um comandante da SS. O conjunto é muito mais maduro que o álbum anterior da dupla. Empathy parece saída diretamente de um jogo de Super Nintendo, com a vocalista Alice Glass distorcendo sua voz até o limite, além de duplica-la com back vocais. Vietnam tem umas batidas tribais e menos aceleradas no melhor estilo M.I.A. e não faria feio num dos primeiros álbuns da cingalesa, e as últimas três pedradas do disco assumem tons mais oníricos e menos marcados.

O intrigante é que pelas aparências algo assim poderia não funcionar ao vivo… mas a verdade se mostra exatamente inversa. Alice parece eletrificada a 220V enquanto pula, e Ethan comanda a picape com vigor - além de um baterista que eles chamam só pra apresentações ao vivo. Ao final, a imagem que se tem é que o Crystal Castles evoluiu com relação ao seu álbum anterior, apesar de na essência continuar com a explosão electro dos tempos do 8 bits.

 

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10 - The Fool (Warpaint)

Quem ouviu o EP Exquisite Corpse do Warpaint provavelmente não levou o quarteto tão a sério como deveria. Apesar das boas intenções e das músicas ótimas, o EP soou por demais cru aos audiófilos de plantão, mas conseguiu chamar a atenção para a banda das meninas de Los Angeles, além de arrancar vários elogios dos blogs mais antenados. Esse The Fool apara as arestas do som de Exquisite, acrescenta uma camada mais pop e abandona a crueza anterior. Parte da evolução se deve a Andrew Weatherall, que trabalhou na mixagem do clássico da psicodelia: Screamadelica, do Primal Scream - se bem que Exquisite foi mixado por John Frusciante, outro excelente músico. Um trabalho mais profissional simplesmente gerou uma melhora sonora e isso foi o bastante pro Warpaint e terminou num resultado logo classificado como art rock.

O som é leve, climático, delicado até, e carregado de uma instrumentação orgânica, algo como uma mistura de Cat Power com Flaming Lips. Os vocais são doces, sobrepostos e os efeitos de pós-produção não transmitem a sensação de superficialidade comum nos dias de hoje. A beleza das canções do grupo começa logo na primeira faixa do disco: Set Your Arms Down. Apesar dos elementos vívidos do rock presentes nos cinco minutos da música, o clima quase chega ao jazz. É daquelas músicas que se ouve num bar mais intimista e se levanta pra perguntar quem tá tocando.

O conjunto é dark e sensual, mas alguns reclamaram de previsibilidade em comparação ao experimentalismo de Exquisite Corpse, o que me parece injusto. Talvez The Fool só sofra da ausência de um hit, aquela música que não desgruda da cabeça - o que é sempre uma faca de dois gumes, no fim das contas. Mas essas especulações se dissipam ao ouvir pérolas lindas como Undertown e Shadows, com seus vocais duplos e guitarras arrastadas.

O Warpaint é a prova definitiva que o coração pode ser colocado acima de virtuosismos técnicos às vezes no rock.

 

Menções honrosas:

Crazy for You (Best Coast)

Broken Bells

Leave Your Sleep (Natalie Merchant)

Sea of Cowards (The Dead Weather)

The Essential (ERA)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Avatar Colaborador Nerd

[Pipoca e Nanquim] Bichinhos

Por Pipoca e Nanquim 

 

58- Bichinhos "Fofinhos" - por pipocaenanquim no Videolog.tv.

Olá moçada!

O videocast dessa semana é sobre um tema bem inusitado, que provavelmente vai fazer você se indagar “Mas que tema é esse? Bichinhos? Não é possível!”. Se isso passou pela sua cabeça, não perca tempo e assista o programa imediatamente, pois apesar da estranheza, as indicações são excelente, falamos de HQs como Três Dedos: Um Escândalo Animado; O Gato do Rabino; Tartarugas Ninjas; As Cobras; Bone, entre outras…

Se você gostou das fantásticas estatuetas que compuseram nosso cenário, leia mais sobre elas AQUI e não deixe de visitar o site Total Collection. Sabe o que é melhor? se você falar que descobriu a loja através do Pipoca e Nanquim vai ganhar um ótimo desconto! Uma mamata, o que já era barato vai ficar ainda mais!

Participe também da nossa mais nova promoção e concorra a um box fantástico do Chico Caruso e suas tiras sobre política.

Tchau, até semana que vem!

Avatar FiliPêra

Dead Island e o trailer mais bonito do ano no mundo dos games

 

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Como alguns de vocês talvez saibam através do Twitter, desde o fim da Campus Party sou redator da GamesBrasil/Arena Turbo. Então, às vezes leio e escrevo as coisas pra lá e acabo esquecendo de postar aqui - e como consequência escrevo menos aqui também, mas vocês entendem.

Esse trailer de Dead Island é um deles - assim como o NGP, novo portátil da Sony, mas falo sobre ele mais pra frente. É uma das coisas mais fodas que você vai ver a indústria de games produzir em muito tempo, acredite (junto com o link que postei lá embaixo). E envolve sangue, vísceras e todos esses elementos do terror classificado como gore. E o resultado consegue ser bonito, além de tudo, não só pela beleza gráfica mas pela capacidade narrativa dos que o construíram.

O jogo se passa num resort em Papua Nova Guiné, em alguma parte do arquipélago com morte na jogada. É uma mistura de tiro em primeira pessoa com RPG, uma corrida pela vida que envolve fuga de monstros, tiros, facãozadas ou qualquer arma que o jogador encontrar no caminho. A data de lançamento ainda é um vazio “2011”, mas já é o bastante para animar qualquer um. Vai sair para PC, Xbox 360 e PlayStation 3.

Agora chega de lenga-lenga e acompanhe a arte em forma de trailer - só basta saber se o game vai fazer jus a isso:

 

Falando em trailer foda, experimente ver o de Deus Ex: Human Revolution.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Avatar Colaborador Nerd

Uma Pequena História dos Quadrinhos Autobiográficos

Por Mauro Tavares, do emQuadrinho*

[*Essa matéria sairia originalmente na Mob Ground #1, mas o Mauro pediu para que Eu a publicasse aqui, já que estamos em processo de reformular a revista. Aproveitem também e leiam o excelente blog dele sobre quadrinhos, especialmente o post que fez sobre a polêmica de uma tradução equivocada da equipe da Panini numa revista do Batman]

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Quando uma criança rabisca seus primeiros desenhos ela tenta representar o mundo ao redor, os pais, os irmãos, a casa, o cachorro, os colegas de escola, enfim, o universo que a cerca e que ela pode alcançar com as mãos, mas que ainda não compreende. Os desenhos infantis sempre tentam contar histórias da vida da criança, são uma tentativa sincera de comunicação primitiva. Nos primórdios da História das Artes temos as pinturas feitas nas cavernas, onde os primeiros humanos que habitaram o planeta fizeram um esforço sincero para representar o seu cotidiano de caçadas e rituais mágicos, a relação com a natureza e os Deuses. Estes relatos, muitas vezes em imagens claramente sequenciais, podem nos levar a compreender mais acerca do nosso passado.

As Histórias em Quadrinhos, na forma em que se encontram hoje, são a manifestação mais primitiva de uma arte sofisticada, a expressão mais simples e pueril dos grandes sentimentos poéticos antes atingidos pela literatura, a pintura e a poesia em suas formas clássicas. A confirmação desse status, não por acaso, veio dos relatos de histórias reais do cotidiano feitos em forma de quadrinhos, as chamadas HQs Autobiográficas, que hoje fazem grande sucesso e que nos últimos anos se firmaram como um novo gênero da literatura em imagens, também conhecida como Graphic Novel, ou Romance Gráfico.

Podemos rastrear o surgimento da Graphic Novel Autobiográfica até o final dos anos 1960, quando o artista italiano Hugo Pratt narrava as aventuras de Corto Maltese. Suas histórias traduziam para as HQs experiências de viagens pelo mundo realizadas na vida real pelo autor, no entanto, fantasiando-as na saga de um pirata que teria vivido no início do século XX. Pela primeira vez uma História em Quadrinho trazia as experiências do autor como tema, mesmo que ainda não de forma confessional. Além disso, na obra de Pratt também se encontra o germe do que hoje chamamos Graphic Novel. Qualquer um que vier a ler A Balada do Mar Salgado, de 1967, vai reconhecer todos os componentes da moderna História em Quadrinho adulta, ainda impregnada de elementos de folhetim aventuresco comuns nas tiras e séries, porém já plena de dramas, profundidade e sofisticação narrativa que hoje caracteriza o gênero. Pratt cunhou o termo “literatura desenhada” para defini-la.

 

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Foi nos Estados Unidos, exatamente na mesma época, que o primeiro artista de quadrinhos colocou a si próprio como personagem de uma narrativa, e este pioneiro foi Robert Crumb. A idéia surgiu de um defeito pessoal do artista: a sua timidez e incapacidade de lidar com outras pessoas, principalmente o sexo oposto. Antes de se tornar famoso, Crumb era rejeitado pelas mulheres e não conseguia se entrosar com os amigos. Para poder ficar imerso em seu mundo pessoal sem se preocupar com o que os outros diziam, desenvolveu o hábito de desenhar em cadernos, daí surgiu a maioria de suas histórias, observando e desenhando tudo ao redor. Seu espírito satírico e provocador concebeu o que chamamos de Confissões de Robert Crumb, nada mais do que diários desenhados onde o artista, representado por si mesmo de forma pouco lisonjeira, realizava suas taras mais perversas, tirava sarro e ridicularizava os personagens estereotipados e esquisitos dos anos 60: os hippies, as feministas, os místicos e toda aquela fauna de gente doida com quem ele convivia. Mais tarde ele se voltou para sua história pessoal, suas experiências com drogas e a sua infância conturbada, sempre com desenhos selvagens, primitivos e agressivos. O que Crumb fazia não era sério nem tinha a sofisticação da busca por uma “literatura desenhada”, mas o estrago já estava feito, ele se tornou um sucesso e nunca mais as Histórias em Quadrinhos seriam as mesmas.

Os artistas do chamado movimento underground americano seguiram o exemplo de Crumb, usavam temas escatológicos e provocativos, abusavam de nonsense e crítica ao sistema, construindo um misto explosivo de Dadaísmo com os gibis da antiga EC Comics. Eles fizeram uso de narrativas biográficas, não buscavam fazer histórias em quadrinhos para a indústria mainstream, mas também não almejavam um novo tipo de literatura, para eles os quadrinhos não poderiam ser uma forma oficial de arte, mas uma antiarte sem compromissos e muitas vezes panfletária, mesmo que seus gibis tivessem sucesso.

A experiência do underground sessentista com os quadrinhos autobiográficos poderia ter morrido na década seguinte, pois não eram mais novidade e não se afirmaram como um gênero literário, tendo se destacado apenas como realizações isoladas ou idiossincrasias artísticas. Isso se não fosse pela entrada em cena de um amigo anônimo de Crumb que decidiu contar suas aventuras pessoais. Ele era um arquivista de hospital por profissão, crítico de jazz antigo por vocação e decidiu se tornar quadrinhista por teimosia.

Harvey Pekar foi quem realmente transformou os gibis autobiográficos em um gênero. Suas histórias não eram sátiras ácidas e críticas ao sistema ao estilo dos artistas underground, mas sim confissões puras e secas de um cotidiano vivido por uma pessoa comum, sem referência nenhuma a estilos anteriores de fazer quadrinho. Ele foi o primeiro a criar um link entre os quadrinhos e a moderna literatura americana. Com suas crônicas do cotidiano, Pekar conseguiu levar as HQs a condição primitiva que ela necessitava para ser realmente autobiográfica, ele quebrou os limites que os outros não ousaram.

 

harvey pekar, autor de American Splendor

Harvey Pekar

Seus primeiros roteiros foram para o amigo Crumb, que só topou desenhá-los depois de uma certa insistência. O fanzine American Splendor, publicado a partir de 1976, foi o estopim de um novo tipo de quadrinho. Com enredos sem aventura no sentido real do termo, parece tudo muito vazio e entediante, é um universo onde as pessoas e as coisas não oferecem grandes possibilidades nem trazem grandes poderes. Seus personagens não são super heróis pouco humanos nem humanos com superpoderes, são simplesmente pessoas comuns envolvidas com as banalidades do cotidiano. Apesar disso, estas pequenas crônicas miseráveis nos oferecem certo humor e exalam o espírito pessimista que é a característica mais forte da grade prosa moderna de autores como John Fante, Charles Bukowski e Jack Kerouac. Ele fala sobre suas tentativas de vender discos velhos para os colegas de trabalho ou sobre a impaciência nas filas de supermercado, problemas conjugais e rotina, rotina pura e massacrante. De fato, Harvey Pekar, falecido recentemente, pode ser considerado o anti-Stan Lee dos quadrinhos.

Nos anos que se seguiram, outro artista americano, um veterano egresso das tiras de jornais chamado Will Eisner, criador do herói Spirit, buscou inspiração nas realizações dos quadrinhistas do underground, mas sem a agressividade e subversão característica deles. Eisner tinha grande visão comercial e simplesmente juntou a idéia de Crumb de um quadrinho que desprezava os esquemas mainstream de super-heróis e temas prontos voltados para o público infantil, com a sofisticação narrativa dos europeus, então desconhecidos na América, “criando” o que já existia há alguns anos na Europa: a “literatura desenhada”, uma História em Quadrinhos voltada para o público consumidor adulto, que ele, mais esperto do que os demais, chamou simplesmente de Graphic Novel. Eisner seguiu pelos anos oitenta com uma série dessas Graphic Novels, a maior parte delas contando experiências de sua vida real, mas sem se colocar como personagem, ou seja, romanceando os fatos. Até fazer sua biografia propriamente dita - No Coração da Tempestade - em 1991, uma obra pungente e apropriada a sua história de vida. Porém, Eisner nunca ultrapassou certos limites comuns aos quadrinhos mainstream.

Aparentemente sem relação alguma com Eisner, Pekar, Crumb e os artistas ocidentais, um mangaká de nome Keiji Nakazawa apresentou no Japão, a partir de 1972, a obra Gen - Pés Descalços, publicada originalmente em capítulos na revista Shonen Jump. Este mangá conta suas experiências como sobrevivente do extermínio atômico de Hiroshima, em um relato longo, detalhado, dramático e visceral que hoje é considerado um clássico em todo o mundo. Este é um exemplo de que, apesar de ter manifestação mais documentada nas obras do ocidente, os quadrinhos autobiográficos tem seu início acontecendo paralelamente em todo mundo, inclusive no Oriente.

 

Art Spiegelman

Art Spiegelman

Este espírito contagiou novo artistas que admiravam os velhos quadrinhos hippie underground, mas que ao mesmo tempo já sabiam que aquele clima de sátira e combate não diz mais nada aos novos leitores e que também não queriam se dedicar a “renovação dos super-heróis” ocorrida na década de 1980. Foi ao redor de Art Spiegelman, e de sua revista RAW, que uma nova cena underground se formou, agora chamada de “alternativa”. Estes artistas encontrariam sua expressão máxima em quadrinhos que exploravam o cotidiano puro, sem mediações e sem a pretensão de criar aventuras fantásticas. Nesse meio a biografia ou autobiografia se tornou um tema constante. O próprio Spiegelman abriu caminho com a Graphic Novel MAUS, um gibi sombrio e perturbador que narra a história de seu pai, um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Com este trabalho ele atingiu uma marca nunca antes conquistada por uma História em Quadrinhos: recebeu um prêmio Pulitzer. No entanto, a abordagem de Spiegelman é considerada erroneamente como jornalística, o que não se pode confirmar pelo fato de ele narrar a biografia do pai sem ter sequer fatos objetivos, mas sim uma história subjetiva, ouvida fora do tempo e espaço dos próprios fatos.

Os anos 1980 e 1990 trazem um rompimento radical desses artistas alternativos com o modo oficial de fazer quadrinhos, inclusive com o velho underground. Nessa época em que cada vez mais a juventude passou a ver o mundo por trás de uma trincheira de individualismo niilista, com o fim dos velhos ideais de preocupação com o social e a completa derrocada da simples crença no efeito político do trabalho artístico, os quadrinhistas passam a se ocupar com suas fantasias pessoais, suas vivências íntimas e conflitos afetivos e familiares. Nós temos os irmãos Hernandez contando as histórias de um povo simples do interior nas Crônicas de Palomar, e misturando ficção científica com romance barato em Love and Rockets. Temos as histórias sobre adolescentes conflituosos de Charles Burns e Adrian Tomine e os arroubos de cinismo e desilusão de Daniel Clowes.

Na obra de todos esses novos artistas o desenho é o que menos se destaca, parece que o texto finalmente começa a ter uma importância maior nas Histórias em Quadrinhos, o humor como gênero não tem mais preponderância, é apenas um elemento ocasional, não há tanta preocupação com aspectos formais e seus gibis passam a ser lançados como livros por editoras novas dedicadas inteiramente a este ramo, como a Fantagraphics e a Drawn and Quarterly. É nessa época que as Graphic Novels chegam às livrarias, puxadas pelo selo Vertigo e os gibis de super heróis voltados para o público adulto.

Há quem relacione este zeitgeist individualista e alienado ao extremo com o rock pós-punk. Este estilo musical típico dos anos 1980 trouxe acima de tudo um desprendimento do que eu chamo de “obrigação de divertir” da cultura pop, e ao mesmo tempo rompeu com a militância idealista dos seus antecessores punks e o formalismo dos velhos dinossauros do rock clássico. Em letras de bandas como Joy Division o que se vê são frases soltas de angústia e desespero, quem os ouvia estava pouco preocupado com o “sistema” e nem sequer estava se divertindo ou interessado na performance musical, mas celebrando seu mundo subjetivo. O novo quadrinho alternativo dos anos 80 e 90, essencialmente autobiográfico, destruiu certos formalismos e a obrigação de saber desenhar bem, assim como no pós-punk ninguém sabia tocar guitarra nem escrever poesia, mas vivia inteiramente imerso em uma espécie de catarse subjetiva, e fazia isso com uma beleza arrebatadora. Então, a partir de agora, se você faz um gibi, além de não se sujeitar à velha linha de montagem que é a indústria dos super-heróis e de não precisar mais dizer o que pensa do sistema em sátiras ácidas, muitas vezes pueris, você também não precisa mais de um desenho impactante e virtuoso, mas de uma forma intuitiva e intimista você vai desvelando ao mundo o seu universo pessoal, e isso como um homem das cavernas rabiscando na parede, sozinho e sem nenhum consolo.

 

Alison Bechdel, autora de Fun Home

Alison Bechdel, autora de Fun Home

Marjane_Satrapi, autora de Persepolis

Marjani Satrapi, que escreveu Persépolis

Os anos 1990 e a década que chega ao fim confirmaram essa tendência universal. Algumas obras recuperaram certo formalismo em graus variados, mas sempre privilegiando uma certa espontaneidade. No trabalho do brasileiro Lourenço Mutarelli, por exemplo, o mundo se deformou em angústia e desespero, até os antidepressivos viraram poesia, contradizendo a máxima de que o povo do nosso país é extrovertido e alegre, Lourenço registrou uma visão de mundo torturante, parodiando os velhos expressionistas. O japonês Kazuichi Hanawa detalhou de forma repetitiva seu encarceramento por um crime banal em A Prisão. Frédéric Boilet contou suas aventuras eróticas com meninas japonesas em O Espinafre de Yukiko e Garotas de Tóquio. O espanhol Jaime Martin narrou sua juventude perdida sem romantismos em Vida Louca. A americana Debbie Drechsler declarou ter sido estuprada pelo pai. Em Persépolis, a iraniana Marjani Satrapi mostra como era uma garotinha rica e americanizada que sofreu muito com a ascensão do regime dos Aiatolás. O canadense Guy Delisle viajou a Coréia do Norte e trouxe a prova de que o comunismo é o mal eterno.

Ao mesmo tempo, vemos o ítalo-americano Joe Sacco, um jovem discípulo dos velhos autores underground que começou contando histórias autobiográficas de sua vida de estudante, mas que após formar-se jornalista e por gostar de pesquisar os fatos in loco, investiu em narrativas de experiências em zonas de guerra, criando Gorazde e Palestina. Os críticos prontamente chamaram sua obra de jornalismo em quadrinhos, porém elas não passam na verdade de Quadrinhos Autobiográficos contextualizados por fatos verificáveis, às vezes documentados, mas apresentados sob um ponto de vista subjetivo, um tipo de jornalismo visceral e primitivo. O maior exemplo disso talvez seja O Fotógrafo, dos franceses Lefèvre, Guibert e Lemercier, onde um trabalho coletivo esplêndido, mesclando fotografias e desenhos, serve unicamente de escape para uma visão intimista sobre o oprimido povo do Afeganistão.

E hoje temos as maiores premiações dos quadrinhos sendo conferidas à obras de cunho autobiográfico ou biografias romanceadas. Retalhos, de Craig Thompson, é a narrativa juvenil exagerada de uma vivência de amor adolescente, sem atingir grandes alturas poéticas, mas tendo força na sua constrangedora sinceridade - o autor gasta 600 páginas contando sua adolescência nos míseros detalhes - para ganhar inúmeros prêmios. Porém nesse gênero também surgem obras primas, não apenas obras premiadas, o maior exemplo talvez seja Fun Home, de Alison Bechdel, em que a autora narra a descoberta da sua homossexualidade, fazendo um paralelo com a possível homossexualidade de seu pai, tendo como referência grandes obras da literatura. Epiléptico, do francês David B., relata a crise gerada em sua família pela doença do irmão, em um trabalho gráfico magnífico. Umbigo Sem Fundo é uma HQ tosca e desajeitada, com um péssimo desenho, mas com falas e personagens muito bem construídos, contando uma experiência de separação familiar.

E por fim temos obras que não são propriamente biografias, são ficções que trazem elementos da vida comum, sem nada de fantástico em sua composição, ou com apenas algumas referências a vida do autor. Jimmy Corrigan - O menino mais esperto do mundo é uma obra formal, difícil de se ler e que traz uma densa e complexa reflexão sobre relações entre pai e filho. O autor, Chris Ware, sacrificou todo o prazer que pode advir da leitura de uma HQ para criar uma obra única, desagradável e feia, mas poderosa e comovente. Asterios Polyp, de David Mazzucchelli, vencedora do prêmio Eisner deste ano e com certeza uma das maiores HQs já realizadas, conta a vida de um velho arquiteto reaprendendo a conviver com as pessoas, entre considerações filosóficas profundas e uma trama repleta de significados ocultos. Não é uma autobiografia, mas sem dúvida tem elementos da vida do autor.

 

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Os limites foram quebrados, muita coisa boa já foi feita e ainda vai ser feita, e mesmo que eu seja uma pessoa que odeia o cotidiano e que urge por se voltar aos universos da fantasia pura, eu aprecio enormemente os Quadrinhos Autobiográficos. Isto por que, quando reconheço que não há fantasia que nos console sobre todo este absurdo da existência e o aluguel está vencendo e tudo em que eu penso é em arrumar uma companhia, ter um novo emprego, beber um pouco mais e compreender as pessoas que me cercam; quando a busca por ideais distantes parece ser a última opção para dar uma continuidade sã a minha vida, o fato de poder saber que outras pessoas, muitas vezes completamente diferentes de mim, que vivem ou viveram em lugares ou épocas distantes, em culturas diversas, têm os mesmos e banais pensamentos e preocupações... eu me sinto menos sozinho, um pouco mais humano e mais integrado.

Na experiência dessas pessoas eu posso buscar uma resposta, ou não, posso achar uma confirmação do meu desespero. E com certeza posso saber que eu não sou o único que está perdido nisso tudo, e a partir dai ter um pouco mais de calma, e um pouco daquela paz que só a arte, esculpindo humanas mágoas, pode nos proporcionar.


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