Por Carla Cavalcante
A moda da atualidade é exposição de propagandas e programas de doutrinação na mídia, principalmente na televisão. Eles são basicamente de duas vertentes religiosas: a protestante e a católica, com o primeiro grupo representado pelas igrejas evangélicas neopentecostais.
Ao invés dos meios de comunicação serem ocupados com informações que agregam conhecimento a sociedade, eles são ocupados com doutrinação religiosa. A meu ver a mídia não deveria abrir espaço para religião em sua programação diária, que não sofre nenhum tipo de fiscalização, para saber se ferem os direitos humanos ou outras religiões.
Infelizmente, a desculpa dos manipuladores de fiéis é, na maioria das vezes, a mesma: o mundo atual esta perdido, nossos jovens estão sem rumo, vazios de Deus e fé. Todos têm o livre arbítrio e caso alguém sinta vontade de buscar “Deus” opções de igrejas não vão faltar e o local ideal para a exibição de idéias religiosas é em qualquer lugar, menos nos veículos de comunicação.
Pessoas a favor da religião na TV e nos outros veículos destinados a informação e entretenimento vão dizer que todos têm algo no cérebro chamado filtro, apto para passar todo conteúdo divulgado em uma peneira e ficar só com o que é bom. Mas não podemos esquecer as crianças, que ainda não desenvolveram esse filtro e não tem uma mentalidade formada capaz de saber o que é bom ou ruim.
Que a igreja católica e a maioria das religiões são contra o sexo antes do casamento a grande maioria já sabe, até aí tudo bem. Mas desse ponto em diante abrir seu jornal pela manhã, ou ligar a TV e ver declarações vindas diretamente do Vaticano que o Papa é contra o uso da camisinha, seja para evitar filhos ou doenças sexualmente transmissíveis, dentre elas o vírus HIV, já é inadmissível. Vivemos em uma sociedade onde adolescentes na idade de 15 anos engravidam, para um líder religioso dar esse tipo de declaração.
Em uma noticia publicada no jornal Folha de S. Paulo saiu a declaração do Papa sobre o uso da camisinha e a forma que ele acha mais adequada para evitar o vírus da AIDS. Segundo o papa, a AIDS se vence com “uma humanização da sexualidade, uma renovação espiritual humana que comporta uma nova forma de conduta de uns com outros e por meio da amizade, disponibilidade e amor pelos doentes”.
Seria muito interessante se a cura ou a luta para não adquirir o vírus da AIDS funcionassem apenas com humanização e a amizade, isso seria lindo se não estivéssemos na realidade do século XXI. Onde existem aproximadamente no mundo todo 33,4 milhões de pessoas infectadas pelo vírus do HIV, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), matéria publicada em 2010 na revista Exame, da editora Abril.
Pois é, eu sou contra esse tipo declaração em todos os lugares, principalmente na mídia, exposta pelos padres que seguem fielmente as leis do Vaticano vindas diretamente da cabeça do Papa, e isso é só a ponta do iceberg da evangelização nos meios de comunicação. Não podemos esquecer as diversas cenas de preconceito, principalmente contra as religiões afro-brasileiras, vindas tanto de católicos, quanto de protestantes.
A mais conhecida delas foi o episódios conhecido como “Chute na Santa”, em 12 de outubro de 1995, quando o bispo Sérgio Von Helder, no programa “O Despertar da Fé, da Rede Record, chutou e xingou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida. O episódio vergonhoso teve repercussão internacional e acabou por influenciar em diversos conflitos entre igrejas neopentecostais e integrantes de cultos afro-brasileiras e a Igreja Católica.
São casos como esse que mostram como a doutrinação e evangelização são nocivas aos princípios que regem as concessões a rádio e TV. Mesmo em programas que não têm foco nas religiões ocorrem esse tipo de discriminação, como em episódios em que o apresentador Datena disse que “os ateus são criminosos”, o que denota uma lamentável incitação ao preconceito e ao ódio.