sexta-feira, 7 de maio de 2010

Avatar Beatriz Paz

Vitamin – O Outro Lado do Bullying

 

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Nossa sociedade é caótica, nossa rotina é caótica, as escolas exigem cada vez mais dos alunos, os pais exigem mais dos filhos, o mercado de trabalho exige cada vez mais dos futuros trabalhadores, o ser humano exige cada vez mais de si mesmo. É impossível não entrar em parafuso, ter uma crise de stress, uma síncope nervosa ou um breakdown com tanta pressão. Mas e se, além de ter tudo isso, você sofresse com humilhações diárias vindas daqueles que antes seriam os seus “amigos para todo o sempre não importando o quê?”

Bem vindo a Vitamin, o lado do bullying que todo mundo mostra, mas de um jeito diferente.

Sawako Yarimizu é uma colegial normal de 15 anos de idade, como toda a estudante ela tem que aturar a pressão dos exames de graduação, a pressão da mãe para que ela entre num colégio de prestígio, assim como a sua outra filha fez, sai com as amigas, estuda bastante, é bem humorada e tem um namorado maravilhoso. Maravilhoso? Mesmo?

Enquanto limpavam a sala, após a aula – isso é um costume nas escolas japonesas, não estranhe – Kouta, o namorado “maravilhoso”, força Sawako a fazer sexo com ele, um outro estudante os pega em flagrante e foge. Desesperada a garota volta para casa, e é no dia seguinte que seus pesadelos e dias de horror começam. E é aí que nós vemos o quão “evoluídos” os seres humanos são.

Ao chegar na escola, Sawako é saudada com palavras chulas, xingamentos e ofensas. A garota perde a linha e isso só serve como combustível para os estudantes, que passam a humilhá-la mais e mais. Até mesmo suas melhores amigas se voltam contra ela e começam a hostilizá-la, a ponto de segurarem-na a força, despirem sua camisa, desenharem um panda em seus seios, com a desculpa que mulheres vadias tinham mamilos pretos; e tiram uma foto.

A coisa não para por aí: as meninas fazem de tudo, desde obrigar a garota a comprar 300 camisinhas e jogarem o conteúdo todo na carteira dela – a obrigando a limpar depois -, até afundar a cabeça de Yarimizu no vaso sanitário sujo, pois jogaram o celular dela dentro do mesmo. Ah sim, pra finalizar ainda jogam baldes de água na garota. Eu fiquei puta da vida lendo esse mangá, e você com certeza também ficará.

Sawako vai tirar satisfação com seu namorado, já que o mesmo mentiu quando perguntaram se ele estava com ela na sala depois da aula. Ele pede perdão de joelhos e isso só serve para alimentar a mente maligna das garotas do colégio que alegam a maldade de Sawako.

 

“Ela o fez ficar de joelhos! Que vadia malvada!”

Kouta termina com Sawako por medo do que iriam fazer a ele, e agora a garota está completamente sozinha. A mãe só quer saber da filha entrar numa universidade e não desperdiçar o futuro, só quer que ela estude mais e mais e seja tão boa aluna quanto sua primeira filha. E é aí, senhoras e senhores, que entra a figura do pai. Ele é o único que pára e presta atenção na filha quando a mesma se recusa a ir para a escola, é o único que a apóia e diz uma das frases mais marcantes do mangá todo:

 

“Você tem que pensar em si mesma em primeiro lugar”

As condições psicológicas de Sawako só pioram, ela começa a fundar em depressão, mal sai do quarto e o relacionamento com a mãe deteriora mais e mais. Os estudante mandam mensagens de celular ofensivas a garota, que descobre nunca ter tido amigos antes. Ela era apenas mais uma e não uma pessoa querida entre eles. Ela decide então parar de ir a escola, a mãe se desespera, o pai tenta acalmar e tudo isso em meio as crises de Yarimizu que começa a tomar vitaminas para o estômago.

Um dos pontos altos do mangá, e um dos que me deixou mais revoltada com a vida, é quando a estudante recebe uma carta de seus colegas de escola se desculpando e pedindo para que ela voltasse a estudar com eles. Cheia de esperanças e cansada de ficar sofrendo, Sawako decide retornar crente que seus dias de horror passaram, mas tudo era mais uma brincadeira e a garota é recebida com gritos de incredulidade, risos maldosos e a visão de sua antiga carteira cheia de lixo e material de limpeza.

 

Agora, antes que você desista de ler Vitamin, vem à luz no meio de tanta treva. Não sei se isso é uma válvula de escape comum a todos os casos de bullying, mas geralmente as vítimas recorrem a meios de fugir dessa realidade bruta e frequente e usufruem da arte para isso. Seja escrevendo, cantando, compondo músicas ou mesmo desenhando, na arte eles encontram a voz necessária para desabafar a respeito do inferno que estão passando e tem o conforto que não encontram em nenhum outro lugar. Sawako adere a isso.

A garota desde pequena queria ser uma mangaká, mas por culpa do favoritismo que a mãe dava para a filha mais velha, Sawako muda e esquece do seu sonho. Durante uma limpeza no quarto, a jovem encontra seus antigos desenhos e redescobre a vontade de viver que havia perdido depois de tantas humilhações, decide que retomará a decisão que fez quando pequena e se tornaria uma mangaká.

Sawako tem um contratempo com sua mãe quando resolve contar a mesma o que escolhera para seu futuro, mas acabam se acertando depois. Uma parte tragicamente irônica é quando a garota ganha um concurso de mangá promovido por uma revista, no qual usa as próprias experiências como vítima de bullying como enredo, e os editores lhes escrevem a seguinte recomendação:

 

“Essa história é muito forte, tente escrever e desenhar algo que corresponde a sua idade”

E é ai que Vitamin toca em outro ponto importantíssimo: a negligência. Os pais pensam que é uma fase, os filhos dizem que está tudo bem, e os demais adultos não acreditam que isso possa acontecer a adolescentes de 15 anos ou mais, tanto que o professor de Sawako, ao notar o comportamento da mesma - ela quase saiu no braço com um de seus agressores quando o mesmo, com a ajuda de um colega, demostrava para a sala toda como Sawako estava fazendo sexo com seu namorado – diz que é tudo uma fase e que a culpa é da pressão dos exames de fim de ano.

Diz que tudo vai passar. Mas não passa. Não se ela não quiser que passe.

Eu realmente não quero dar um mega spoiler da trama, mas eu assumo que fiquei muito contente quando li o final do mangá, fiquei contente e reconfortada. Yarimizu segue com o seu sonho até o final e corre atrás da própria felicidade, segue as palavras do pai a risca e enfrenta seus próprios demônios da melhor maneira que sabe.

Vitamin fala do quão fundo uma pessoa pode ficar afetada, fisica e mentalmente, expõe o que é o bullying e mostra o quão selvagem o ser humano pode ser. Ler a obra de Suenobu e não ficar, no mínimo, revoltado é impossível, ainda mais para uma pessoa como eu, que também viu na arte, um jeito de escapar do pandemônio que é o mundo em que vivemos hoje.

A única parte ruim é que o mangá não teve uma publicação brasileira.

 

Autora: Keiko Suenobu

Páginas: 209

Nota: 10

6 Comentaram...

Murilo Andrade disse...

Só um adendo: A história muito provavelmente é auto-biográfica. Pelo mangá dá pra sacar isso.

Aline Cavalcante disse...

Achei digno. Quero muiiiito ler. Vou indicar pra um blog sobre bullying de uma amiga minha.

Mibshiny disse...

eh um mangah bem chocante, p kem começou a ler axandu q era um shoujo agua com açucar (eu, no caso -.-")
eh um grande mangah, com uma historia bem interessante e q faz c refletir...muuuuuuuuito.

Panthro disse...

Ô, fiquei interessado. Anarquia, alguém?

Unknown disse...

ja li esse mangá a algum tempo, gostei muito, fiquei muito chocado tbm, percebi q eu tinha comportamento "pai" ( o q naum sou ^^) axando q esse tipo de coisa naum acontecia com adolecentes.
Muito legal ve vcs dando uma luz a esse manga, soh naum gostei muito q vcs contaram praticamente o manga inteiro se eu naum conhecesse essa obra nem me empolgaria pra le jah q vcs jah contaram td !!!!

Anônimo disse...

Realmente a quantidade de spoilers foi grande, mas eu ainda estou animado a ler.

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