Encarnação do Demônio

 

“Você, você e todos vocês. A praga do dia. Se você não ler esse post até o final, seus olhos irão cair e ser devorados por ratos de esgoto”.

Pois é, senhoras e senhores, essa semana eu assisti o mais recente filme de José Mojica Marins, mais conhecido como o personagem Zé do Caixão. Apesar de nunca ter assistido a um filme do cineasta, ele é um dos responsáveis por eu adorar filmes de terror, por causa da época em que ele apresentava o Cine Trash, na Band. E agora, após assistir Encarnação do Demônio, é com prazer que eu digo que o filme de Mojica é melhor do que muita coisa de Hollywood feita hoje em dia.

Encarnação do Demônio finalmente encerra a trilogia que se iniciou em 1963 com À Meia-Noite Levarei sua Alma. Na saga, Zé do Caixão busca a mulher que ideal, que poderá gerar seu filho perfeito, para que assim ele possa se tornar imortal através da proliferação da sua linhagem de sangue. O mais interessante da produção de Mojica é que, apesar do nome, a história não tem nada de sobrenatural. Muito pelo contrário, desde o começo, Zé do Caixão deixa bem claro que não acredita em nenhuma crendice e nem em Deus. Até existem algumas cenas com fantasmas, mas todas são alucinações induzidas pelo cachimbo do coveiro.

O personagem Zé do Caixão não se limita apenas a zombar das crenças no misticismo, mas também caçoa da crença nas leis e na sociedade brasileira. Logo no começo ele está na cadeia, mas a mesma lei que o prendeu, agora o coloca de volta nas ruas e ele sai zombando do sistema carcerário.

Mas o grande diferencial do filme é que, ao contrário da maioria das produções hollywoodianas, as cenas não são recheadas de computação gráfica. Quando você vê uma mulher tendo a cabeça afundada em um tonel cheio de baratas, são baratas de verdade que estão ali. Em determinada cena eu tive a impressão até de que uma pessoa teve a boca costurada de verdade. Para os fãs do gênero torture porn, Encarnação do Demônio é um prato cheio, pois Zé do Caixão é sádico ao extremo. Enquanto Jigsaw faz com que suas vítimas se torturem, Zé do Caixão faz questão de torturar a todos que captura. Tem uma cena envolvendo um escalpelamento que é sensacional. E José Mojica Marins faz terror à moda antiga, com mulheres nuas aparecendo pra todo lado, coisa que está voltando à moda agora, com o novo Sexta-Feira 13.

Infelizmente, como quase todo o orçamento foi gasto com os efeitos, os atores são quase todos desconhecidos e a maioria é bem fraco. As atuações, com uma ou outra exceção, são muito forçadas, não passam credibilidade. Além disso, os diálogos não são falados com naturalidade, são todos declamados, o que faz com que não acreditemos que os personagens realmente existem. O ponto forte do filme está mesmo na produção e no fato de Mojica finalmente conseguir terminar sua trilogia, mesmo com todo o preconceito que existe em torno de filmes de terror.

 

Fico agora na torcida para que Encarnação do Demônio tenha ido bem nas bilheterias e no mercado de home vídeo. Quem sabe assim possamos ver mais filmes de José Mojica Marins, dessa vez com um elenco melhor. Porque talento para o terror o cara tem.

 

Encarnação do Demônio (Brasil, 2008)

Diretor: José Mojica Marins

Duração: 98 min

Nota: 8,5