terça-feira, 31 de maio de 2011

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A Saga de um Cliente de Banda Larga Brasileiro

 

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Sexta-feira, 30 de abril

Depois de meses sem problemas aparentes na minha conexão, se inicia um momento que denomino montanha-russa: uma sucessão de quedas repentinas de tirar qualquer pessoa do sério. De cinco em cinco minutos minha conexão com a internet cai, e como estamos numa sexta-feira a noite, minhas chances de detectar e resolver - que estou certo que são com a minha operadora - são quase nulos por dois motivos: a) tenho certeza que os atendentes que ficam no fim de semana são os mais incompetentes possíveis, b) reiniciei o modem três vezes e não deu em nada.

A saída foi buscar todas as reservas disponíveis da minha paciência e lembrar que o serviço da Oi/Velox é muito bom aqui no Estado, apesar do seu péssimo atendimento, com profissionais que não sabem pisar fora do roteiro que mandam pra eles. Apesar do cai-levanta, tudo transcorreu normalmente. Eu imaginava que não passava de uma manutenção de rotina, que tudo se normalizaria no máximo domingo, no mais tardar, segunda-feira.

Ledo engano…

No dia seguinte o problema se agravou, as quedas ficaram mais frequentes e os momentos de conexão mais raros, o que começou a descartar a possibilidade de uma simples manutenção de rotina. Mais uma vez, a paciência foi o remédio para a parada, porque dependia da internet pra fazer uma série de coisas atrasadas.

**Dias com a internet caindo a cada cinco minutos depois**

 

Quarta-feira, 4 de maio

Talvez vocês não saibam, mas infelizmente tenho mais dependência da internet do que gostaria. Namoro a distância e trabalho em casa, o que significa que passo boa parte do meu dia na frente do meu notebook. E ter que ficar me preparando pra quedas constantes não é divertido. Na segunda-feira meu irmão tinha me informado que havia ligado pra Oi pedindo a presença de um técnico pra descobrir que merda tava rolando, e justamente na quarta descubro que ele não ligou merda nenhuma.

No fim das contas, ligo Eu mesmo e me prometem um técnico “no prazo padrão de 48 horas”. Mas um mal entendido, misturado com uma preguiça extrema do povo da Oi põe tudo a perder. Relato meu problema e caio na besteira de acrescentar que minha linha telefônica tá numa chiadeira infernal…  e o povo da Velox me transfere pra galera da Oi, e afirma que se a linha tá com ruídos, o problema é na linha e não na conexão, e passam a régua no problema. Depois desse pingue-pongue irritante, finalmente desligo. E a coisa piora…

Os dois dias se transformam em quatro, e o cara só aparece domingo. Como não estou em casa, não fiz testes na conexão, mas ao voltar, na segunda, recebo uma boa e uma má notícia. A boa é que o técnico veio e o chiado na linha foi resolvido… a má é que a conexão foi junto com o chiado e agora nem mesmo montanha-russa minha internet é. Caiu de vez. Morreu, tipo tesão de velho!

Olho pro modem que, triste, só tem duas linhas acesas e já penso na maratona de ligações que terei de enfrentar novamente.

 

Sexta-feira, 6 de maio

Meu irmão liga e solicita uma visita técnica. A atendente fala algo que considero absurdo: se constatado o erro no procedimento do outro técnico, seriam acrescentados 70 reais na nossa próxima conta telefônica. Quando me contam a jogada, não tem como não gargalhar. O argumento é que a Oi e a Velox são duas empresas distintas, e… bom, nem procurei saber do resto.

Mesmo assim ele confirma o técnico, que deverá chegar nas “próximas 48 horas”.

 

Quarta-feira, 11 de maio

Nada de técnico, nem em 120 horas. Revejo toda a minha paciência e aproveito as tardes com o clássico The Legend of Zelda: The Wind Waker e trabalho a noite, na casa do honorável sr. Humbertêra. Ligo pra um amigo pra falar do problema, e ele informa que a Oi inventou de mexer nas instalações dela e no processo vários clientes Velox entraram pelo cano. É o caso dele, que tá até com o telefone mudo.

 

Quinta-feira, 12 de maio

Ligo realmente nervoso e falo que se um técnico não aparecer nas próximas 24 horas, vou ao Procon. Eles insistem que tentam o máximo possível cumprir os prazos e pedem desculpas pela demora. No dia seguinte acabo por arrumar algo pra fazer e termino por não saber de técnico, que não foi fazer a visita. No sábado (14) me ligam e informam que tiveram problemas com os técnicos e realizariam o reparo no domingo (15).

 

Terça-feira, 17 de maio

No meio da jogatina, o telefone toca. São confirmados meus dados e perguntam sobre a situação da internet. O técnico pergunta se a minha conexão foi retomada. Eu digo um sonoro “NÃO”, e ele insiste e pergunta se tinha conferido o status dela HOJE. Vou até a escada, olho o modem… só as mesmas duas luzes solitárias dos últimos dias. Falo a situação e ele pede pra aguardar.

Cinco minutos depois diz pra olhar novamente e… PLIN, a porra da conexão foi restabelecida e o verme do técnico nem chegou a fazer uma visita, no sentido mais correto da palavra. A saga se encerra com meus pais que dizem que “a vida é assim mesmo” e não pensam em mudar de de operadora.

 

Enquanto isso, os clientes que sustentam as operadoras são tratados com escárnio…

segunda-feira, 30 de maio de 2011

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Resenha do primeiro livro do WikiLeaks

 

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Há uns meses, a amiga Ana Death, do blog iCult Generation, me convidou para escrever para resenhar um dos livros mais procurados do momento:  Wikileaks – A Guerra de Julian Assange contra os Segredos de Estado, que creio ser o primeiro sobre o assunto escrito efetivamente porque participou dos desdobramentos do site. O volume é assinado por dois jornalistas do Guardian, o principal jornal que ajudou na divulgação dos documentos secretos do portal, e tem o fôlego de uma grande reportagem com o nível de detalhamento esperado de algo assim.

O livro passeia pela história de Julian Assange, Bradley Manning e de certos componentes técnicos por trás do Leaks. Até mesmo faz uma ampla análise das acusações de “conduta sexual imprópria” contra Assange.

Os dois primeiros parágrafos são os seguintes:

Apesar da cobertura espetacularizada da mídia sobre o WikiLeaks e Julian Assange, o site e seu criador permanecem uma grande incógnita. Uns dizem que ele é o novo panteão simbólico da liberdade, num mundo cada vez mais dominado por uma elite que continuamente cerceia a liberdade das massas. Outros traçam teorias conspiratórias elaboradas, e afirmam veementemente que ele é um agente da CIA divulgando documentos inúteis somente para dar margem a um endurecimento mundial de leis de liberdade de expressão e privacidade na internet. Outros o colocam no manto de presa a ser caçada mundialmente, que volta e meia o Ocidente veste em alguém, a exemplo de Wilhelm Reich e Timothy Leary, pesquisadores renomados tido como os “homens mais perigosos do seu tempo”. E como era de se esperar, muita gente quer vê-lo morto, pelos mais amplos motivos.

“Eu acho que Assange deve ser assassinado, na verdade. Eu penso que Obama deve colocar um drone [avião de combate não-tripulado] para assassina-lo ou algo assim”, disse Evan Solomon, ex-assessor do primeiro-ministro canadense Stephen Harper. Jeffrey Kuhner, colunista do Washington Times, fez coro: “Devemos tratar o Sr. Assange da mesma forma que outros valiosos alvos terroristas: matá-lo“. Sarah Palin, a musa dos ultra-direitistas republicanos dos EUA, falou ainda mais: “Ele [Julian Assange] é um agente anti-americano com sangue nas mãos.  Sua divulgação de documentos classificados revelou a identidade de mais de 100 fontes afegãs para o Taliban. Por que ele não foi perseguido com a mesma urgência que perseguimos a Al Qaeda e os líderes talibãs?”. Em 30 de novembro do ano passado, Bill Kristol, editor do site da revista Weekly Standard, se perguntou “por que ainda não destruímos Assange e seu WikiLeaks, tanto no ciberespaço quanto no meio físico?”.

 

Clique AQUI ou na imagem e leia o restante do texto. Grandes agradecimentos a Ana pelo convite, me amarrei!

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Goran Tomasevic e suas chocantes fotos do conflito líbio

Goran Tomasevic, de nacionalidade sérvia, é fotógrafo da Agência Reuters e já produziu algumas das mais brilhantes fotografias da guerra civil da Líbia, ao unir proximidade e veracidade. É do tipo raro de imagens que realmente faz jus ao ditado de “Uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Algumas delas ganharam prêmios internacionais, tanto pela coragem de Tomasevic, quanto pela realidade quase inescrutável que revela pelas lentes.

 

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Tem mais no link abaixo.

[Via Veja] Link do Átila

domingo, 29 de maio de 2011

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A Maconha do ponto de vista científico

[Notado Editor: Como prometido, aí estão os dois artigos publicados na imprensa brasileira sobre a questão da maconha do ponto de vista científico. Os dois estão em ordem cronológica, e como fica claro, o segundo é uma resposta direta ao primeiro. Os links são do coletivo Desentorpecendo a Razão - DAR, organizador da Marcha da Maconha de São Paulo]

 

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Em artigo publicado hoje (22/07/2010) na Folha de SP, o Professor, Doutor, titular de psiquiatria da UNIFESP, coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas, e militante proibicionista em tempo integral, Ronaldo Laranjeiras escreve para que “nem pesquisadores nem nossa população se iludam de que exista hoje uma indicação terapêutica para utilizar maconha aprovada pela ciência”.

 

Maconha, o dom de iludir

Semanas atrás, a Folha noticiou a proposta de criar-se uma agência especial para pesquisar os supostos efeitos medicinais da maconha, patrocinada pela Secretaria Nacional Antidrogas do governo federal.  Esse debate nos dias atuais, tal qual ocorreu com o tabaco na década de 60, ilude sobretudo os adolescentes e aqueles que não seguem as evidências científicas sobre danos causados pela maconha no indivíduo e na sociedade.

Na revisão científica feita por Robim Room e colaboradores (“Cannabis Policy”, Oxford University, 2010), fica claro que a maconha produz dependência, bronquite crônica, insuficiência respiratória, aumento do risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade e depressão, episódios psicóticos e, por fim, um comprometimento do rendimento acadêmico ou profissional. Apesar disso, o senso comum é o de que a maconha é “droga leve, natural, que não faz mal”. Pesquisas de opinião no Brasil mostram que a maioria não quer legalizar a droga, mas grupos defensores da legalização fazem do eventual e ainda sem comprovação uso terapêutico de alguns dos componentes da maconha prova de que ela é uma droga segura e abusam de um discurso popular, mas ambivalente e perigoso. O interesse recente da ciência sobre o uso da maconha para fins terapêuticos deveu-se à descoberta de que no cérebro há um sistema biológico chamado endocanabinoide, onde parte das substâncias presentes na maconha atua.

Um dos medicamentos fruto dessa linha de pesquisa, o Rimonabant, já foi retirado do mercado, devido aos efeitos colaterais. Até hoje há poucos estudos controlados, com amostras pequenas, e resultados que não superam o efeito das substâncias tradicionais, que não causam dependência. Estados americanos aprovaram leis descriminalizando o uso pessoal de maconha, que é distribuída sem controle de dose e qualidade.
Contradição enorme, pois os médicos são os “controladores do acesso” para uma substância ainda sem comprovação científica.

De outro lado, orientam os pacientes sobre os riscos do uso de tabaco. Deve-se relembrar que os estudos versam sobre possíveis efeitos terapêuticos de uma ou outra substância encontrada na maconha, não sobre a maconha fumada. Os pesquisadores brasileiros interessados no tema devem realizar mais estudos por meio das agências já existentes, principalmente diante do último relatório sobre o consumo de drogas ilícitas feito pelo Escritório para Drogas e Crime das Nações Unidas, que aponta o Brasil como o único país das Américas em que houve aumento de apreensões e consumo da maconha. E se, no futuro, surgir alguma indicação para o uso medicinal da maconha, o processo de aprovação, que ainda não atingiu os padrões de excelência, deve contextualizar esse cenário, assim como o potencial da maconha de causar dependência. Espera-se que a política nacional sobre drogas seja redirecionada em caráter de urgência, pois enfrenta-se também aqui o aumento das apreensões e consumo de cocaína e crack, que exige muitos esforços e recursos para sua solução.

Que nem pesquisadores nem nossa população se iludam de que exista hoje uma indicação terapêutica para utilizar maconha aprovada pela ciência.


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RONALDO RAMOS LARANJEIRA é professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas (Inpad/CNPQ).
ANA CECILIA PETTA ROSELLI MARQUES, doutora pela Unifesp, é pesquisadora do Inpad/CNPQ.

 

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Ciência e fraude no debate da maconha

O artigo contra o uso medicinal da maconha de Ronaldo Laranjeira e Ana C. P. Marques (Maconha, o dom de iludir, “Tendências/Debates”, 22/7) contém inverdades que exigem um esclarecimento.

A fim de desqualificar a proposta de criação de uma agência brasileira para pesquisar e regulamentar os usos medicinais da maconha, os autores citam de modo capcioso o livro Cannabis Policy: Beyond the Stalemate.  Exatamente ao contrário do que o artigo afirma, o livro provém de um relatório com recomendações claramente favoráveis à legalização regulamentada da maconha.

Conclui o livro: “A dimensão dos danos entre os usuários de maconha é modesta comparada com os danos causados por outras substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, a saber, álcool, tabaco, anfetaminas, cocaína e heroína (…) O padrão generalizado de consumo da maconha indica que muitas pessoas obtêm prazer e benefícios terapêuticos de seu uso (…)

O que é proibido não pode ser regulamentado. Há vantagens para governos que se deslocam em direção a um regime de disponibilidade sob controle rigoroso, utilizando mecanismos para regular um mercado legal, como a tributação, controles de disponibilidade, idade mínima legal para o uso e compra, rotulagem e limites de potência. Outra alternativa (…) é permitir apenas a produção em pequena escala para uso próprio” (LINK).

Qualquer substância pode ser usada ou abusada, dependendo da dose e do modo como é utilizada. A política do Ministério da Saúde para usuários de drogas tem como estratégia a redução de danos, que não exige a abstinência como condição ou meta para o tratamento, e em alguns casos preconiza o uso de drogas mais leves para substituir as mais pesadas.

O uso da maconha é extremamente eficiente nessas situações. A maconha foi selecionada ao longo de milênios por suas propriedades terapêuticas, e seu uso medicinal avança nos EUA, Canadá e em outros países. Dezenas de artigos científicos atestam a eficácia da maconha no tratamento de glaucoma, asma, dor crônica, ansiedade e dificuldades resultantes de quimioterapia, como náusea e perda de peso.

Em respeito aos grupos de excelência no Brasil que pesquisam aspectos terapêuticos da maconha, é preciso esclarecer que seu uso médico não está associado à queima da erva. Diretores da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) afirmam frequentemente que maconha causa câncer. Entretanto, ao contrário do que diz a Abead, a maconha medicinal, nos países onde este uso é reconhecido, é inalada por meio de vaporizadores, e não fumada. Isso elimina por completo os danos advindos da queima, sem reduzir o poder medicinal dos componentes da maconha, alguns comprovadamente anticarcinogênicos.

Causa, portanto, estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo e sem patente em poder de companhias farmacêuticas.

Num momento em que o fracasso doloroso da guerra às drogas é denunciado por ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, em que a ciência compreende com profundidade os efeitos da maconha e em que se buscam alternativas inteligentes para tirá-la da esfera policial rumo à saúde pública, é inaceitável a falsificação de ideias praticada por Laranjeira e Marques.

O antídoto contra o obscurantismo pseudocientífico é mais informação, mais sabedoria e menos conflitos de interesses.

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SIDARTA RIBEIRO é professor titular de neurociências da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
JOÃO R. L. MENEZES é professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do simpósio sobre drogas da Reunião SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) 2010.
JULIANA PIMENTA é psiquiatra da Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.
STEVENS K. REHEN é professor adjunto da UFRJ.

 

Uma boa matéria relacionada ao assunto: Política sobre maconha: avançando além do Impasse.

sábado, 28 de maio de 2011

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Editoriais sobre a Marcha da Maconha paulista

[Nota do Editor: Para continuar a discussão sobre a questão da Marcha da Maconha, coloco abaixo dois editoriais de importantes jornais de São Paulo. Não achei um editorial apoiando a ação policial, por isso os dois que selecionei estão a favor do direito de liberdade de expressão. Amanhã encerro a discussão - por enquanto - com dois artigos sobre a maconha em si. Um a favor e um contra]

 

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Foto por Tiago Santana

Debater, em vez de bater (Diário de São Paulo)

Três questões básicas da vida civilizada afloram, quando se analisa o que aconteceu durante a tentativa de promover uma Marcha da Maconha, sábado, na cidade de São Paulo. Uma é a marcha em si, proibida pela Justiça e transformada por seus organizadores em ato em defesa da liberdade de expressão. Outra é a truculência dos policiais mobilizados para reprimir a manifestação. A terceira é o exercício do jornalismo e os riscos que correm os jornalistas em sua missão de ir em busca da informação que a sociedade espera e deseja.

Droga proibida, a maconha está no centro de um debate internacional acerca da existência ou não de algum sentido em se manter o combate ao tráfico nos moldes que se utiliza há décadas. Estadistas de prestígio sustentam a necessidade de mudar de atitude em relação aos narcotraficantes, porque as drogas têm sido as vencedoras, até o momento. Os países mais bem-sucedidos na luta contra o narcotráfico são justamente aqueles que menos reprimem. Nos demais, o que se vê é a corrupção dos meios policiais, o crescente contingente de jovens dependentes que vivem à beira da marginalidade, as clínicas de recuperação cada vez mais solicitadas.

Há argumentos sólidos e consistentes contra e a favor da descriminação da maconha. Nos dois lados há médicos, policiais, legisladores, pensadores, intelectuais sérios, respeitados. Existe, portanto, o ambiente apropriado para um debate, no qual cabe uma manifestação como a frustrada Marcha da Maconha, desde que os participantes respeitem a lei e não fumem em público. No caso, a única transgressão ocorrida se deu quando o grupo avançou pelo meio da rua, complicando o trânsito.

Foi uma transgressão, sem dúvida, mas os policiais exageraram em sua reação. É sabido e reconhecido que a Polícia Militar paulista dá treinamento competente aos seus homens, prepara-os para agir da maneira conveniente nas mais diferentes situações. Ou seja: aqueles brutamontes que saíram espancando a torto e direito sabiam que estavam desrespeitando a orientação recebida. Exorbitaram conscientemente, deram demonstração pública de que não têm equilíbrio para missões mais delicadas - como, por exemplo, a de dar proteção aos estudantes e professores que sofrem com assaltos e furtos no campus da USP.

Em sua fúria desmedida  - mas consciente -, os policiais atingiram também jornalistas que estavam ali trabalhando, fazendo a cobertura de um assunto que é de interesse da sociedade, inclusive um repórter do DIÁRIO. Nas guerras e nos conflitos em geral, profissionais de imprensa se expõem a esses valentões armados que preferem bater em vez de debater. Os policiais truculentos de sábado têm conhecimento disso, mas nunca é demais lembrá-los de que agredir um jornalista em missão significa agredir o próprio jornalismo.

 

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Foto por Tiago Santana

Direitos Espancados (Folha de São Paulo)

As cenas de agressão policial a manifestantes da Marcha da Maconha e a jornalistas que cobriam o evento, na avenida Paulista, são resultado da visão embotada de alguns juízes, incapazes de distinguir entre a liberdade de expressão e a apologia ao crime. A decisão de um desembargador de proibir a marcha não é a primeira. Desde 2008, a Justiça vem barrando manifestações semelhantes. O teor das decisões ao longo dos últimos anos é quase idêntico - alegam não se tratar de um debate de ideias, mas sim de uma iniciativa para o consumo público coletivo da maconha.

O argumento é falacioso. Os juízes não têm como saber, de antemão, se os participantes estarão lá para consumir substâncias ilícitas. Se isso vier a ocorrer, devem ser tratados de acordo com a lei vigente no país, mas a mera possibilidade não pode servir de base para a proibição de manifestação legítima a favor de uma ideia, por controversa que seja (legalização de droga considerada “leve”).

Tais determinações judiciais parecem ignorar, também, que existe um debate muito mais amplo na sociedade, não restrito apenas a usuários e especialistas, em torno do que fazer em relação à complexa questão das drogas.  Relatório de 2009, de um grupo liderado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e por colegas da Colômbia e do México, defendia que a guerra às drogas fracassou e cobrava um debate público sobre alternativas, inclusive a descriminalização. No final do ano passado, foi o governador do Rio, Sérgio Cabral, quem se posicionou pela discussão acerca da legalização das drogas leves.

Proibições a manifestações pacíficas e sem objetivo declarado de ferir a lei não vão frear o debate. Servem apenas, como foi o caso em São Paulo, para favorecer a exibição de despreparo das forças de segurança, que agiram com inaceitável truculência, sob o pretexto de cumprir ordem judicial.  Duas ações no Supremo Tribunal Federal, em andamento desde 2009, contestam pontos da atual legislação empregados nas decisões dos juízes para proibir as manifestações por suposta apologia ao consumo de drogas.

O STF deve manifestar-se o quanto antes e cumprir sua função de garantidor da Constituição, que ampara de modo inequívoco o direito à liberdade de expressão.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Avatar Colaborador Nerd

[Pipoca e Nanquim] Sonhos

Por Pipoca e Nanquim 

 

70- Sonhos - Pipoca e Nanquim - Cinema e HQs por pipocaenanquim no Videolog.tv.

Olá pessoal…

Pois é, Videocast 70. Quem diria que chegaria a tanto – e o mais incrível é que continuamos a crescer, graças, obviamente, ao seu suporte. Portanto, nossos sinceros agradecimentos e, para tentar compensar um pouquinho a força que você tem nos dado, vamos sempre que possível fazer sorteios como este que está rolando agora: Combo Scott Pilgrim - uma cortesia da Quadrinhos na CIA e da Universal Pictures. Você ainda tem mais uma semana para concorrer a este prêmio espetacular. Boa sorte a todos.
O tema desta semana é Sonhos – em referência ao sonho que está sendo lançar o livro Quadrinhos no Cinema!!! (adquira o seu AQUI). Mas antes que a galera caia de pau em cima da gente, adiantamos que neste programa não falamos de Sandman e David Lynch. Por que? Pelos motivos de sempre, se falássemos, esses dois temas comeriam o programa inteiro, portanto guardamos ambos para futuros especiais.

Nos quadrinhos voltamos ao começo do século passado com Little Nemo (que permanece inédito nas terras brasileiras, apesar de ser referência mundial para o gênero), mas também citamos coisas recentes e diferentes, como a HQ argentina Noturno e a antiga Moonshadow. No terceiro bloco, ao invés do checklist, optamos por falar dos ”quadrinhos que estamos lendo” – esperamos que gostem, é uma chance de obter mais dicas de leitura, só que fora do tema.

Nos filmes tem muuuuuita coisa boa. A presença de dois dos maiores gênios da sétima arte, Kurosawa e Hitchcock, o bom thriller Morte nos Sonhos e o visualmente espetacular A Cela. Não podia faltar, claro, o monstro deformado mais legal do mundo dos pesadelos (sabe de quem estamos falando?).

É isso aí galera, na semana que vem teremos muitas surpresas para vocês – e não se esqueçam de escrever para nós dizendo o que acham do programa.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Avatar FiliPêra

Tiros e Gás na Marcha da Maconha de São Paulo

 

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Fotos do F/16 Studio's

A Marcha da Maconha é um movimento mundial, que ocorre em mais de 480 cidades pelo mundo - com nomes tão distintos como Dia Mundial da Maconha, Dia da Liberação da Maconha, Ganja Day, J Day, Marcha da Maconha - caracterizado pelo incentivo ao debate da legalização e das propriedades medicinais e industriais da cannabis. Repito, o evento acontece em 480 cidades do mundo, e se você fizer uma pesquisa rápida não encontrará maiores incidentes relacionados a violência que envolvem o evento em diversas cidades pelo mundo. O clima é obviamente bem diferente de protestos como os que cercam reuniões como o Fórum Econômico Mundial, como pude atestar na Marcha de Vitória que fui em 2010, onde ainda fiz uma cobertura pro site de jornalismo da minha faculdade.

Os países, nominalmente democráticos (como EUA, Espanha, Canadá e Reino Unido), não vêem conflitos entre a manifestação e suas leis que, em muitos dos casos, proíbem o uso da erva, e até do cânhamo industrial, por razões históricas que creio que muitos conhecem - quando terminar de ler os textos de Timothy Leary, possivelmente escreverei sobre isso.

 

Bom, mas o Brasil é um país diferente. Sua liberdade de expressão parece vinculada a interesses muito mais obscuros do que o simples exercício da cidadania. Esse ano se repetiu a proibição que correu o Brasil ano passado e a Marcha foi impedida de ocorrer em diversos lugares, como atesta a decisão abaixo, do ano passado:

“Enquanto não houver provas científicas de que o ‘uso da maconha’ não constitui malefícios à saúde pública e que a referida substância deva sair do rol das drogas ilícitas, toda tentativa de se fazer uma manifestação no sentido de legalização da ‘maconha’ não poderá ser tida como mero exercício do direito de expressão ou da livre expressão do pensamento, mas sim, como sugestão ao uso estupefaciente denominado vulgarmente ‘maconha’, incitando ao crime, como previsto no artigo 286, do Código Penal, ou ainda, como previsto na lei especial, artigo 33, 2º, da Lei 11.343/2006.” (Desembargador Sérgio Ribas)

Tribunal de Justiça de São Paulo, 2010. Retirado do Consultor Jurídico

Pelo que entendi - não sou jurista, me ajudem - o principal argumento do juiz é a “falta de provas científicas que o uso da maconha não constitui malefício a saúde pública” (creio que o fato dela ser proibida deriva dessa “falta de provas”, então o argumento para a proibição é o mesmo), o que me leva a velha pergunta de por que propagandas de cerveja são liberadas. Não falo de alguém se manifestar na rua publicamente a favor do consumo de cerveja ou outra bebida alcoólica, falo da existência de uma indústria que gera lucros bilionários para as maiores redes de comunicação do Brasil. Por que isso não é impedido?

Então, se você busca um debate equilibrado e minimamente sóbrio, não vai se fixar doentiamente na questão é proibida, não pode, o que pra mim constitui um culto cego às leis só presente em fascistas e religiosos radicais.

 

Um ano antes do Desembargador Ribas bater o martelo proibindo a marcha, a desembargadora Maria Tereza fez algo parecido, argumentando que “não se desconhece o direito constitucional à liberdade de expressão e reunião, que, à evidência, não está se afrontando neste caso, porquanto, não se trata de um debate de idéias, mas de uma manifestação de uso público coletivo da maconha” (retirado da mesma página do Consultor Jurídico, que é a favor da proibição). Interessante como ela afirma que a Marcha é “uma manifestação de uso público coletivo da maconha” sem nem mesmo ela ter ocorrido. Em resumo, temos um histórico de proibições da Marcha no Brasil, principalmente no estado de São Paulo, sempre o foco devido a óbvia grande proporção e importância da cidade.

Esse ano, como é normal com a Justiça, houve uma forte fragmentação de decisões judiciais: em alguns lugares houve proibições, em outros não. O problema ocorre porque o Supremo Tribunal Federal ainda não julgou a questão em definitivo, o que é esperado para breve, e que a decisão seja favorável aos manifestantes e a garantia dos direitos de Liberdade de Expressão.

Aqui em Vitória, a Justiça liberou o evento, apesar de “denúncias” do Ministério Público Estadual, que garantiram que “a marcha da maconha é uma apologia a um crime, e era influenciado pelo crime organizado”, sem no entanto apresentar provas consistentes que atestassem as afirmações. O único senão da Justiça capixaba foi exigir a presença da Polícia Militar, tanto “para garantir a integridade dos que participam do evento, quanto para impedir que haja incentivo e uso de drogas durante o protesto”. Se rolou de forma similar a 2010, foi sem problemas, os próprios participantes da Marcha pediam para quem acendesse um baseado que o apagasse e fosse fumar em casa.

O procurador-geral aqui do Espírito Santo, Fernando Zardini Antonio, não se amarrou na decisão judicial, e fez uma declaração:

"É necessário que sejam tomadas medidas para a preservação da unidade e dos valores familiares, amplamente corrompidos quando da instalação das drogas, e do bem-estar da população capixaba, vítima das conseqüências nefastas provindas do uso dessas substâncias ilícitas" (Gazeta Online).

 

No Rio de Janeiro, o juiz Alberto Fraga, do 4º Juizado Especial Criminal, expediu um habeas corpus preventivo que garantiu que os manifestantes não seriam presos. Ao fim, três foram presos por “desacato”, um deles por colar um adesivo numa moto de policial. Em Belo Horizonte, onde a marcha não foi liberada, cinco pessoas foram presas por “portar faixas defendendo a legalização da maconha”.

 

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Todos esses são problemas que podem ser considerados comuns. Pessoas são coletivamente baderneiras por natureza e até na celebrada “festa da democracia”, um séquito de pessoas é preso por não se atentar as regras eleitorais. Nessas marchas descritas acima, ocorridas no último dia 7, os problemas foram pequenos se comparado ao que estava por vir na realização do evento em São Paulo, que rolou no último sábado dia 21.

Se excluirmos um grupo de 17 pessoas que conseguiu uma liminar da Justiça que permitiu a participação deles na marcha, os paulistas não poderiam participar do evento. No salvo-conduto, o juiz Davi Capelatto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, encontrou espaço para defender o livre exercício de idéias e afirmou que  "trata-se de uma postura de política pública a criminalização ou não do uso das drogas. Não se pode impedir nenhuma pessoa de manifestar sua opinião, sob pena de censura por parte do Judiciário".

A decisão da proibição geral ocorreu depois que o Ministério Público temeu que o salvo conduto expedido pudesse acabar originando outras liminares, e entrou com um pedido de obstrução do evento na Justiça de São Paulo. Pedido imediatamente aceito pela 2ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo.

"O evento que se quer coibir não trata de um debate de ideias, apenas, mas de uma manifestação de uso público coletivo de maconha, presentes indícios de práticas delitivas no ato questionado, especialmente porque, por fim, favorecem a fomentação do tráfico ilícito de drogas", afirma o relator do processo, o desembargador Teodomiro Mendez (Folha de São Paulo).

 

Como existiam exemplos de marchas proibidas que deram certo, os manifestantes foram em frente e mantiveram datas. Como não conseguiram derrubar a liminar, entraram num acordo com a polícia “e taparam todos os símbolos e a palavra maconha”, sendo obrigados a descaracterizar o objetivo inicial da marcha e fazer um protesto pela Liberdade de Expressão. Um acordo similar havia sido feito pela organização da Marcha em Porto Alegre, e no fim, tudo transcorreu sem nenhum incidente. O evento teve espaço, inclusive, pra apresentações artísticas.

 

Mas em São Paulo as coisas não rolaram assim, o que houve foram cenas de crueldade explícita, abuso policial e violência extrema. Uma mostra de que a violência parece partir da repressão, e não das drogas. Como imagens (às vezes) falam mais do que mil palavras, vejam abaixo um vídeo do iG que mostra o acordo de não fazer apologia sendo revisto entre um dos chefes do grupamento da PM no local, o capitão Del Vecchio, e os líderes da marcha.

Por esse vídeo é possível ver que um grupo contrário a manifestação se concentrou no mesmo local - no Museu de Arte de São Paulo -, o que pode ter originado as confusões. Me pergunto por quê o grupo - classificado de skinheads, pela própria polícia - não foi impedido de ficar no mesmo lugar que os manifestantes da Marcha da Maconha.

Mais a frente, o repórter Ricardo Galhardo, do iG, descreve os skinheads como:

(…) um grupo de 25 manifestantes pertencentes às organizações conservadoras União Conservadora Cristã, Resistência Nacionalista e Ultra Defesa esperavam do outro lado da avenida, na frente do Parque Trianon.

Eles foram revistados pela PM, que também checou os documentos para saber se algum deles tinha passagem pela polícia. Embora rejeitem os rótulos de skinheads ou neonazistas, quase todos tinham os cabelos raspados. Alguns exibiam tatuagens com suásticas, a cruz pátea (ou cruz de ferro) e outros símbolos nazistas, como a caveira com ossos cruzados usada pela SS, a tropa de elite de Adolf Hitler.

“Não somos skinheads nem neonazistas. Somos conservadores. Alguns tiveram experiências na juventude e por isso têm tatuagens, mas começaram a estudar a teoria conservadora e evoluíram. Alguns são carecas porque praticam jiu-jitsu”, explicou Antonio Silva, da Resistência Nacionalista.

Quando os policiais desceram os cassetetes em cima dos manifestantes pró-maconha, os “conservadores” comemoraram com gritos de “fora maconheiro, fora maconheiro”.

As agressões e os gritos de “sou maconheiro” parecem o motivo da truculenta chegada da tropa de choque, que alegou que “ia desobstruir a rua”, enquanto lançou diversas bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, muitas vezes em manifestantes de costas. Sobrou inclusive pra jornalistas, que foram agredidos e tiveram seus equipamentos danificados, num aparente retorno aos tempos da Ditadura Militar, que não queria deixar registros das criminosas repressões que empreendiam. O repórter Felix Lima, da TV Folha, por exemplo, recebeu pancadas em seu equipamento e um jato de spray de pimenta na cara.

 

LINK PARA O VÍDEO DO IG (que não quis embedar aqui)

Abaixo é possível ver um vídeo da Folha, com mostras muito mais gritantes do modo especialmente criminoso com que agiram os policiais, em conjunto com a Guarda Civil Municipal, que não tem o poder de fazer o que está estampado no vídeo. Reparem no modo como foi atacado o jovem com uma máquina fotográfica, com um bando de policiais que o agridem gratuitamente, e ainda cuidam de quebrar o equipamento que ele tentou em vão salvar.

 

Foram mais de 3 Km de perseguição a manifestantes sob ataques policiais, e no total a corporação fez quatro apreensões (segundo o Último Segundo, dois, segundo o Estadão). Lucas Gordon e Julio Delmanto, integrantes do coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR), organizadores da marcha, estão entre eles, e foram acusados de apologia, acusação logo depois trocada para a dúbia “desobediência”. Arthur Tobias foi outro preso - segundo o Estadão, porque um policial tropeçou nele - e um homem simplesmente identificado como Cunha.

Os motivos para o início das operações, segundo o iG é a “determinação de desobstrução da Avenida Paulista” feita por Vecchio. Segundo o texto não houve descumprimento expresso do acordo até a chegada da tropa de choque:

Os manifestantes cumpriram o acordo e colaram fitas adesivas em todas as faixas e cartazes que continham a palavra maconha. Por volta das 15h, o capitão confirmou ao iG que os manifestantes até aquele momento cumpriam o combinado. "Até agora, está tudo certo. Eles estão se adequando".

A partir daí o relato - escrito por pessoas que estiveram lá desde o início da mobilização - indica que a PM “começou a agir sem avisar”, e atirou bombas que “causaram pânico entre motoristas, alguns deles com crianças nos carros”. Os ataques da Polícia se intensificaram e os manifestantes responderam, e lançaram três garrafas contra eles, não ferindo nenhum policial.

As bombas policiais acertaram, inclusive, quem não participava da Marcha e estava na calçada. “O repórter Fabio Pagotto, do Diário de S. Paulo, foi atropelado pela moto do tenente Feitosa”, sendo logo depois espancado por policiais, quando tentou reclamar. O repórter fotográfico argentino, Osmar Busto, 53 anos, foi atingido por dois tiros de borracha.

"A tropa de choque chegou por trás atirando balas de borracha. Que democracia é esta neste país? É até uma vergonha fazer isso com essa gente jovem. Em uma democracia isso não pode acontecer", questiona ele (Diário de São Paulo).

 

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Autoridades admitiram que houve “excessos” dos policiais e da Guarda Civil, e que as denúncias de agressões gratuitas serão investigadas. O secretário municipal de Segurança Pública de São Paulo, Edson Ortega, se pronunciou sobre a ação da Guarda:

"Temos uma cultura de paz, não apoiamos a agressão a pessoas e claro, vamos avaliar quais foram as circunstâncias que tenham levado um integrante da guarda a agir daquela maneira. A menos que seja em situações extremas, o que, para mim, não foi o caso [da passeata em São Paulo], apenas damos apoio à PM em atuação complementar, além de fazer a segurança dos prédios públicos" (UOL).

Já o governador Geral Alckmin respondeu pela Polícia Militar:

“Agora, um erro não justifica o outro. A polícia tem competência, a polícia tem experiência pra lidar com essas questões, preservar o direito de ir e vir das pessoas sem cometer violência. Então nós não compactuamos com isso. Por isso vai ser averiguado, se houve abuso, se houve excesso. A polícia é treinada, a polícia é competente, tem expertise pra trabalhar com esse tipo de questão” (Rádio Estadão - Áudio).

Em resumo, quem apoiou a ação policial vai contra os próprios comandantes dela - a não ser que esses pronunciamentos sejam covardes, com autoridades amedrontadas de mostrar sua verdadeira opinião.

 

Creio que as imagens falam por si só e dispensam maiores comentários além de uma veemente condenação; tanto da proibição dessas manifestações, quanto dessas reações exaltadas, violentas e criminosas por parte de um corpo policial que deveria justamente impedir que esse tipo de coisa acontecesse. É bastante lamentável que um país que vive berrando pros quatro ventos que possui aspirações primeiro mundistas, dar mostras de tamanho retrocesso justamente numa questão tão indispensável para o funcionamento de uma nação: a liberdade de se expressar.

Não usarei esse espaço para falar da proibição da maconha em si - também criminosa e com fortes interesses políticos e comerciais, a meu ver. Vocês devem conhecer minha opinião: sou a favor da liberação, e incentivo a todos que queiram, experimentar uma vez - mas sim da obstrução de um direito ainda mais básico de qualquer ser humano que se propõe a viver em sociedade.

 

[Último Segundo e Folha Mais fotos no UOL]

Avatar FiliPêra

Super Mario versão Hellboy

 

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Não se sabe o autor dessa emulação do estilo de Mike Mignola que transformou Mario num encanador com cara de psicopata, mas a fonte original foi o Tumblr do Christian Thomas. Quem sabe o bigodudo não faça uma participação especial na próxima história do demoniozão vermelho?

 

[Via Kotaku]

Avatar FiliPêra

Top textos do NSN, pelo Pipoca e Nanquim

 

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Os nossos comparsas do Pipoca e Nanquim aproveitaram o Dia da Toalha e fizeram uma espécie de metapost, que indicou diversos dos nossos melhores textos lá no excelente site deles. Como não poderia deixar de ser, o foco é nossa especialidade: Cultura Pop/Nerd. Confira um trecho:

Em minha opinião, o NSN é um dos melhores blogs de conteúdo em texto de toda a internet, por isso entramos em contato com eles há quase dois anos atrás para tentar a parceria com nosso videocast (felizmente deu certo). Eles até já tentaram produzir alguns videocasts próprios. Me lembro de um em que eles abrem um pacote de presentes enviado por uma fã do site e mostravam os itens para o público – morri de inveja de um deles, que ganhou dois mangás de terror (agora não me recordo qual deles foi o felizardo, mas sei que o FiliPêra ganhou o encadernados de Os Invisíveis, da editora Pixel). Não sei porque essas ideias não foram pra frente, uma pena.

Entre os textos escolhidos, alguns clássicos, como o recente Como Nasce uma Resenha, Fanboys, Black Hole e Livros Nerds Obrigatórios. É só clicar AQUI ou na imagem e ser feliz ao ler o texto completo, mas antes, só acrescentaria outros dois clássicos aqui dos nossos arquivos: Os Verdadeiros Contos de Fadas e Lendas Urbanas Brasileiras, ambos do sumido Bruner.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Avatar Felipe

Dia Mundial do Orgulho Nerd...E daí?

 

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Como a maioria das pessoas que lê esse blog sabe, hoje é o chamado Dia Mundial do Orgulho Nerd (ou Dia da Toalha como preferem alguns que querem dizer que são mais nerds que outros), mas sinceramente o que tem pra se comemorar nesse dia? Sério, até hoje não entendi porque tanta empolgação com essa data. Afinal, existia alguma lei que impedia as pessoas de lerem quadrinhos e foi abolida? Na minha humilde opinião, acho que essas comemorações estão é criando pessoas cada vez mais chatas no mundo.

Hoje em dia, qualquer pessoa que assistiu pelo menos uma série de TV e um filme de super-herói já sai por aí gritando que é nerd, além de se achar mais inteligente que as outras por estar fazendo “coisas de nerd”. Conheço pessoas que nunca leram um mísero gibi na vida, mas se acham os maiores conhecedores do Homem-Aranha, por exemplo, só porque assistiram a todos os filmes.

O mais engraçado é ver aqueles nerds xiitas comemorando o dia 25 de maio e ao mesmo tempo xingando a imprensa por divulgar a data, afirmando que isso faz com que não-nerds (como se fosse uma seita secreta) invadam seu clubinho restrito. Sinto muito em dizer, caro amigo revoltado, mas o Dia do Orgulho Nerd não passa de uma data consumista, da mesma forma que o dia das mães ou o dia dos namorados. Como eu disse anteriormente, todos querem ser nerds hoje em dia, então nada melhor do que uma data como essa para as lojas se acabarem de vender quadrinhos, séries, filmes e até mesmo óculos, afinal, isso faz parte do uniforme. E acredite, chamar de Dia da Toalha ao invés de orgulho nerd não vai mudar nada, você apenas vai parecer mais arrogante.

E por falar em arrogância, essa provavelmente é a pior coisa de toda essa celebração da nerdice que existe hoje em dia. Para ser considerado um “verdadeiro nerd”, é preciso que a pessoa siga uma série de regras e não goste de nada que não pertença à chamada cultura nerd. Por exemplo, você deve rir sempre que alguém disser Bazinga!, mesmo que isso não tenha graça nenhuma e que Big Bang Theory seja uma porcaria. Gosta de sair na night pra beber com os amigos? Não é nerd, você deveria ficar em casa assistindo algum seriado obscuro. Gosta de jogar futebol? Que coisa feia, nerds só praticam atividades intelectuais. Pode parecer mentira, mas já me disseram que não sou nerd de verdade por causa dessas duas situações que mencionei.

Muitos que levantam a bandeira da nerdice gostam de dizer que está tudo uma maravilha e que o preconceito contra os nerds acabou. Mas a verdade é que esse Dia do Orgulho Nerd fez apenas com que o preconceito mudasse de lado. Agora, quem não é nerd o suficiente (como sair de toalha na rua, por exemplo) é que virou o alvo das gozações. Porém, eu acho que sair por aí de toalha não faz de você mais nerd que os outros, te faz apenas mais esquisito.

Avatar FiliPêra

Livros digitais já superam as vendas dos de papel nos EUA

 

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Eu sou meio nostálgico por natureza, mas não tem como resistir muito tempo a mudanças tão possantes como livros e HQs digitais. Livros só li dois em um PC: Freakonomics e Clube da Luta, mas o número aumenta se incluir ensaios, artigos e trabalhos acadêmicos. Quadrinhos li um pouco mais, e inclua na conta Sandman, Do Inferno, Os Invisíveis, Preacher, e MUITO mais. Uns 60% das revistas que já li foram numa tela de LCD.

Mas, apesar disso, ler num computador é extremamente contraprodutivo, em parte pelas capacidades multitarefas de um PC. E também por uma questão de hábito. Uso o computador para leituras rápidas e escrita. É complicado ler textos longos pois sempre chega emails, mensagens no MSN e atualizações no Twitter, dispersando a atenção e impedindo que a leitura flua. Mas como a oferta de ebooks é extremamente farta - e tenho MUITA coisa aqui - além de um catálogo de scans realmente interessante, pretendo comprar um iPad justamente pra servir como leitor digital com capacidades multitarefas (não queria iPad, mas como nenhuma empresa lança nada a altura com bom preço, vai o filhote da Apple).

Mas ainda assim, o mercado editorial ia bem, firme… ao menos era o que Eu achava. O mercado americano revelou um dado importante: pela primeira vez, os livros digitais para o Kindle venderam mais que os livros em papel, o que é um feito e tanto da Amazon - que comanda os dois mercados. A cada 100 cópias de livros de papel vendidos, 105 arquivos digitais são comercializados… e a expansão só está começando.

Obviamente que o papel não morre aqui, como sempre digo, ele foi a invenção física mais importante da humanidade, mas com certeza, pela primeira vez, ele arranjou um inimigo a altura.

 

[Via Gizmodo]

Avatar FiliPêra

Uma palavra pro mapa completo de Half-Life 2: animalesco

 

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Se você jogou o maior épico da história dos shooters, provavelmente já entendeu o título acima. Half-Life 2 é simplesmente uma das maiores obras-primas da história dos games, com áreas gigantescas, inovações na física, um herói nerd carismático, tiroteio com armas bem construídas, extraterrestres que valem a pena combater - aprenderam aí, Halo e Gears of Wars?! -, e uma coesão única entre as áreas que devem ser percorridas, nem sempre a pé. Bom, é de uma perfeição única, se não jogou, instale no seu PC ontem, ou arrume um Xbox.

E uma das coisas mais impressionantes é justamente a amplitude dos mapas, que chegam a superar os de Halo. O povo do unleashthedog resolveu conectar todas as áreas - e você percorre TODA ela, não existem truques como cutscenes ou coisas similares. A imagem tem impressionantes 10MB, então só tente abri-lo com seu navegador com essa aba aberta, ou simplesmente clique com o botão direito, e depois em Salvar Link como e ser feliz.

 

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[Via Kotaku]

terça-feira, 24 de maio de 2011

Avatar FiliPêra

China começa a frear fornecimento de metais importantes. Motivo: mostrar que pode

 

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Os Estados Unidos podem ser a maior potência do mundo, mas enfrentam sérios problemas pra manter o posto. Primeiro que o país tem dependência de petróleo - porque quer… os sauditas tão aí pra isso -, por não produzir o suficiente, e depois que necessita da China para o fornecimento de uma série de metais raros fundamentais na fabricação de eletrônicos, armas guiadas a laser e baterias de carro híbridos. São metais como neodímio, utilizado em ímãs, e érbio, necessário para se fabricar lasers.

Antigamente, os EUA produziam eles mesmos esses materiais, mas por facilidades ambientais e menores custos trabalhistas, o país transferiu toda a sua produção para o território chinês. Graças a isso, hoje os chinas exportam mais de 90% desses metais. Num mundo globalizado, as vendas desses componentes funciona que é uma beleza.

Mas… lembremos que a China ainda é uma ditadura comunista com aspirações geopolíticas bastante ambiciosas: chutar os EUA do topo das potências. Uma medida tomada essa semana pelo Conselho de Estado da República Popular da China prevê a diminuição da venda desses metais para o mercado internacional. Motivo: juntar estoque, para ter uma espécie de moeda de troca quando sentar numa mesa de negociações.

Especialistas minimizam a iniciativa dos chineses, e afirmam que computadores possuem somente 80 centavos de componentes raros em seu interior. Mas o medo sempre fica aí.

 

[Wall Street Journal e ExameExpresso]

Avatar Voz do Além

Diques são nova solução para proteger casas de enchentes

O rio Mississipi anda bem revoltado ultimamente com a quantidade de chuvas que recebeu, o que ocasiona enchentes como as que ocorrem por esses meses nas redondezas do rio, principalmente no sul da Louisiana. Centenas de casas já foram cobertas pelas águas do rio, juntamente com três milhões de hectares de terra, inclusive no Tennessee e no Arkansas. Mas alguns moradores criaram soluções que realmente impediram a força das águas e serviram como um belo atrativo visual  em meio a tantas tragédias.

 

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Claro que às vezes a estratégia falha:

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Mais imagens no link abaixo.

[Via The Atlantic]

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Avatar Felipe

God of War III

 

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Grandioso. Essa provavelmente é a palavra que melhor define o terceiro jogo da saga do Fantasma de Esparta. O game começa exatamente onde o segundo terminou: com Kratos e os titãs invadindo o Monte Olimpo, em uma cena sensacional que mostra o espartano enfrentando vários inimigos nas costas da titã Gaia. Graças à capacidade gráfica do PlayStation 3, logo de cara o jogador já é colocado pra enfrentar dezenas de inimigos de uma só vez, sem que aconteça nenhuma queda na velocidade durantes os combates. A quantidade de inimigos que aparecem na tela de uma vez é tanta que eu consegui realizar um combo de mais de 100 hits bem no começo do jogo.
 
Graficamente, o jogo é espetacular, com cenários que conseguem transmitir toda a magnitude da morada dos deuses, além de ampliar consideravelmente a brutalidade dos combates. Os cenários estão belíssimos e tudo neles parece cheio de vida, principalmente aqueles que ficam em cima dos titãs, que estão em constante mudança já que os monstrengos estão se movimentando.
 
O modelo poligonal de Kratos está perfeito, é como controlar a versão em computação gráfica dos jogos anteriores. Na verdade, ele possui até mais detalhes do que a versão em CG, é possível ver até os poros na pele do personagem. Pena que nem todos os personagens foram tratados com o mesmo carinho. Zeus, por exemplo, o principal antagonista de Kratos, ficou com uma aparência esquisita, parecendo ser feito de massinha. Felizmente, personagens assim são a exceção e não a regra.
 
Mas onde God of War 3 brilha de verdade é nos combates, sempre com Kratos utilizando de extrema violência e sadismo. Enfrentar um inimigo maior do que o Guerreiro de Esparta é sempre garantia de diversão, pois provavelmente o inimigo será finalizado de maneira brutal. Os mais sortudos simplesmente têm a cabeça arrancada, enquanto outros são estripados antes de morrerem. Os combates receberam ainda uma adição bem maneira nessa continuação: Kratos agora pode subir em certos inimigos e controlá-los durante algum tempo para bater em monstros menores. E como ele faz pra controlar? Enfiando as lâminas na nuca dos infelizes capturados.
 
Pra completar o pacote de violência, em GoW 3, Kratos se banha no sangue dos inimigos literalmente. Quando se enfrenta vários inimigos ao mesmo tempo ou finaliza certos tipos de oponentes com movimentos especiais, o vingativo espartano vai ficando totalmente vermelho de sangue. Claro que esse efeito vai sumindo, mas é bem divertido ver o personagem coberto de sangue, isso faz com que o sentimento de vingança e satisfação alcance outro nível.
 

 

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A apresentação do jogo está ainda mais cinematográfica nesta continuação. Nestes tempos em que a maioria dos jogos permite o controle da câmera, um dos trunfos de God of War 3 é justamente mantê-la fixa, permitindo ângulos sensacionais e dignos de grandes produções do cinema. Em certos momentos é até difícil decidir se continua jogando ou se fica apenas admirando o trabalho de direção, afinal, grande parte das mudanças de câmera ocorrem no meio da ação desenfreada. Outra novidade na série é que algumas cenas são mostradas em primeira pessoa, às vezes na visão de Kratos e em outras na visão de oponentes que estão sendo surrados sem dó.
 
Essa preocupação em fazer um game cinematográfico é tanta, que eu acredito que seja complicado jogar God of War 3 em uma TV menor do que 29 polegadas. Na batalha contra o titã Cronos, por exemplo, a câmera chega a abrir tanto que levei uns dois segundos pra localizar em que parte da tela o Kratos estava. Esse tipo de coisa deixa o jogo ainda mais épico e passa para o jogador a sensação de que ele realmente enfrentou algo que seria impossível para um humano comum. O único problema dessas batalhas contra seres gigantescos é que alguns chefes de tamanho normal acabam se tornando um pouco decepcionantes, incluindo aí o próprio Zeus, que eu achei bem fácil.
 
A jogabilidade continua a mesma dos jogos anteriores, com um botão para golpe fraco, um para golpe forte, um para agarrão e um de pulo. A novidade agora é que dá pra fazer vários combos malucos utilizando armas diferentes. Basta começar o golpe com uma arma e rapidamente trocar pra outra enquanto continua surrando os inimigos que surgem na tela. Continuam também os já consagrados quick time events, aquela parada de apertar os botões no momento certo para finalizar um oponente, algo que é a base para derrotar a maioria dos chefes.
 
Após terminar o game, o jogador ainda é agraciado com uma série de extras, como um making of do jogo e vários desafios, entre eles enfrentar determinado número de inimigos sem usar arma alguma, ou ainda conseguir manter menos de 50 oponentes na tela.

 

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Com gráficos que mostram do que o PS3 é capaz e uma história que fecha com maestria a trilogia do Fantasma de Esparta, God of War 3 prova que é possível ter uma experiência cinematográfica nos games sem precisar interromper a jogatina com cutscenes a todo momento. Isso tudo com uma brutalidade que deve fazer o povo do politicamente correto se rasgar de raiva.

 

(God of War III, 2010) PlayStation 3
 
Produção/Desenvolvimento: Sony Computer Entertainment
 
Nota: 10

Avatar Voz do Além

Os resultados do flashmob dos Corações Apaixonados do 4Chan

 

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Lembra dessa ação social misturada com flashmob nada voluntário que o 4Chan criou para zuar homens os solteirões da web? Pois bem, uma inversão de valores das mais dramáticas ocorreu. Os caras do 4Chan ficaram sem a conexão da câmera - congestionada, obviamente - onde eles assistiriam tudo de camarote, enquanto os caras que compareceram ao evento se socializaram e, em parte, se divertiram. Resumindo: os trolls que iriam se alegrar ao juntar um monte de solitários da internet, acabaram por tornar-se os que não tiveram como se divertir. Essa é a vida de quem depende exclusivamente da internet.

O povo da revista Vice compareceu ao local e fez a festa, nos brindando com um monte de fotos. É só ver abaixo:

 

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[Via Vice]

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Avatar Colaborador Nerd

[Pipoca e Nanquim] Scott Pilgrim

Por Pipoca e Nanquim 

 

69- Scott Pilgrim - Pipoca e Nanquim - Cinema e HQs por pipocaenanquim no Videolog.tv.

We Are Sex Bob-omb!! One, two, three, four

Auferindo o resultado da nossa enquete, uma das HQs mais votadas para ganhar seu solo, foi Scott Pilgrim. Então, já que vocês pediram, toma!

Certamente, quando concebeu a idéia para essa HQ, o canadense Brian Lee O´ Malley não pensou na febre que ela viria a se tornar no mundo todo. Scott Pilgrim caiu nas graças de centenas de milhares de pessoas, principalmente integrantes da “Geração Y”, pois expressa como poucas os prazeres e angustias de se amadurecer nos tempos atuais.

Em 2010 ganhou sua adaptação cinematográfica, que foi louvada por centenas de canais de comunicação como o filme mais divertido daquele ano, inclusive por nós (leia AQUI nosso post do filme).

Enfim, uma obra que merece um programa inteiro! Ainda mais se feito em parceria com a editora que publicou o título por aqui, a Quadrinhos na Cia., que nos cedeu gentilmente seis volumes, isso mesmo SEIS VOLUMES para serem sorteados pra todos que assistirem, ou seja, duas coleções completas . Então clique no play e descubra como participar.

Claro, nesse programa ainda tem o resultado do sorteio da camiseta Crânio!! Será que você ganhou??

Avatar FiliPêra

[HyperEspaço #22] Como nasce uma resenha

 

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O NSN nasceu com um objetivo muito definido e específico: publicar resenhas de filmes, quadrinhos, livros, séries de TV, música ou qualquer produto cultural que decidíssemos que valia uma resenha. Era essa a idéia primordial minha e do Bruner, os dois principais fundadores deste espaço. Não muitos meses depois, em nome da diversificação, acabamos nos desviando desse plano, escrevendo outros tipos de textos e aos poucos assumindo o formato que temos hoje. Mesmo assim, as resenhas ainda são uma parte importante do nosso blog - a mais importante, pra mim.

Sempre acreditei que um texto é uma das formas mais completas de expressão, provavelmente por ser a que mais me identifico e divirto. Não dou muito valor a dança, a retórica, a artes cênicas, e outras atividades de expressão corporal, mas o Texto, uma atividade essencialmente intelectual e não-física, sempre teve o máximo da minha estima. Procuro realizar todo o tipo de experimentação quando escrevo, nem sempre obtendo os melhores resultados. Às vezes experimento algumas pequenas mudanças estéticas, seja inserindo uma pomposidade gramatical irritante, próxima ao quase sempre maçante texto científico, seja acrescentando ao escrito uma fina ironia que fica no limite do sarcasmo barato.

Não por acaso, várias pessoas que posteriormente souberam que Eu também era o Voz do Além, me questionaram como conseguia diferenciar a linguagem textual dos dois - pergunta a qual nunca tive uma resposta muito satisfatória, até pra mim mesmo. Outras vezes busco alterar a forma como escrevo, fugindo do clássico bunda-na-cadeira-notebook-na-mesa: pode ser escrever sem dormir por um longo período, escrever na rua no meio da madrugada, ou após a ingestão de uma mega quantidade de café. Os resultados nem sempre são dignos de nota, mas ao menos limpam a consciência, invocam algum tipo de mudança quase religiosa, e impedem a mesmice.

 

Mas se tem um texto que nunca procurei mudar de forma tão dramática ou deliberada, esse texto é a Resenha. Uma resenha é o tipo de escrito mais simples possível: é só assistir um filme, ler um livro, ou coisa similar, e depois iniciar um processo de contá-lo a um amigo, seja exaltando suas qualidades ou detonando coisas irritantes que foram identificadas no meio do caminho. Coloque no meio um pouco de conhecimento sobre linguagem visual, teorias da comunicação, um pouco de experiência com atuação, e um blábláblá bem feito, e tá pronta uma resenha de filme de bom nível. Acrescente aí uma poderosa verborragia recheada de sinônimos e adjetivos que às vezes não falam absolutamente nada - os críticos de críticos conhecem isso muito bem -, presentes principalmente em resenhas musicais - é meio difícil descrever os efeitos da música na sua cuca, então dá um desconto.

Se não entendeu direito, pense num enólogo - um babaca que usa esse nome metido a bonito e se denomina “cientista dos vinhos” - que cumpriu seu ritual básico de beber uma taça de vinho - girou, cheirou, olhou para os lados pomposamente - e depois de uma golada define a bebida com um Ousado! Chamar um vinho de ousado não quer dizer porra nenhuma, mas dá uma boa dimensão do que um enólogo quer dizer ao descreve-lo: ele não esperava um vinho tão bom (Eu acho que é isso, ao menos, odeio vinho e praticamente todas as bebidas alcoólicas, e não poderia resenhar uma… mas resenhei strip teases).

É lógico que alguns Críticos de Raiz dirão que existem muito mais elementos por trás da construção de uma resenha/crítica (chamo meus textos de resenha por considerar os dois termos meros rótulos, se quiser chama-los de crítica, fica a seu critério, considerarei a mesma coisa), mas Eu encaro as coisas por esse lado, principalmente por ter uma idéia de ludismo muito forte por trás da profissão de jornalista cultural e crítico social, a linha que mais me identifico. Apesar de um senso de responsabilidade muito forte, sempre procuro me divertir - e, ainda mais importante, divertir quem lê - enquanto escrevo uma resenha. Isso mesmo que seja  ao escrever no NSN, no GamesBrasil, ou se fosse contratado pela Rolling Stone, ou New Yorker. No fim, ia encarar as coisas da mesma forma descabeçada, no melhor estilo P. J. O' Rourke escrevendo sobre hotéis bombardeados no Líbano (procura no Google e seja feliz, rendeu um livraço).

Pretendo ser bem sincero com esse texto, pra início de conversa e não esconderei que um dos principais propósitos da resenha é uma sutil manipulação. Não tem como ser diferente, uma resenha é um amontoado de palavras puramente opinativas, e quando alguém dispara uma opinião, ele quer basicamente impactar os que têm a coragem de lê-la ou ouvi-la. Nem sempre se espera esse impacto na forma de admiração, pode ser também na forma de pedradas de comentaristas que odiaram o texto, depende do filme/HQ/whatever em questão. E quanto mais inflamada e polarizada a reação melhor. Quando algum jornalista/crítico sério resenha Crepúsculo, ele não espera que seus leitores comuns o fiquem elogiando, mas que os fãs da série vampiresca gay odeiem sua resenha e o condenem a passar uma temporada mergulhado na purpurina. É isso, nem sempre os elogios são os melhores alimentos pro Ego, um pouco de conflito pode ter o mesmo efeito - ou melhor, quando o crítico tem uma síndrome de Messias mal alimentada.

Obviamente que toda a argumentação do autor para sustentar a opinião dele deve ter algum tipo de embasamento, mesmo que seja furado. É uma regra inclusive da escrita científica: você pode ser o cara mais revolucionário e criativo do mundo, mas suas teorias não podem ser anti-paradigmas o suficiente para que você não tenha autores reconhecidos do seu lado. É a vida, se vai mudar o mundo, não o faça sozinho! Se fizer, reúna as melhores provas empíricas que conseguir. Ou faça como Eu e escolha cuidadosamente as metáforas e capriche no bom humor, um leitor rindo geralmente vai ficar do seu lado. É por essa falta de senso crítico que os universitários medrosos enchem seus trabalhos científicos de citações, às vezes não conseguindo passar de um mero resumo.

É nesse fio de navalha extremamente incômodo e excitante que vive um crítico. Ele deve ser bom o suficiente para tentar colocar alguma inovação particular em seus textos, ao mesmo tempo que busca referências no passado pra mostrar que não está sozinho. É dicotômico, e por isso mesmo, divertido à beça!

Claro que existe uma espécie de hierarquia nessa construção aí. A Opinião do crítico (vou usar o termo crítico pra rotular o cara que escreve resenhas/críticas. Me parece mais egocêntrico que o insosso termo resenhista) é mais importante que sua porção Informativa. Explico. Como afirmou o psicólogo, filósofo, romancista, anarquista (e mais um monte de coisas) Robert Anton Wilson, citando o Dr. Leonard Orr, a porção racional do nosso cérebro se divide em duas partes: o Pensador e o Demonstrador. O Pensador elabora idéias, opiniões, visões, e tudo que junto, forma a chamada Visão de Mundo. Já o Demonstrador se encarrega de caçar embasamento pra tudo isso, com teorias, técnicas, até mesmo com pesquisas científicas sérias. Claro que o Demonstrador pode influenciar o Pensador, mas quando o segundo bate o pé sobre algum conceito, não existe demonstração contrária que mude isso.

**Nesse momento, reserve um minuto de silêncio para refletir como deve ser o Pensador dos líderes católicos, dos principais políticos do mundo e dos maiores executivos de Wall Street**

Então, a partir do momento que você não gosta de Lady Gaga, dos filmes de Steven Spielberg, ou mesmo dos quadrinhos de Geoff Johns, provavelmente não vai importar o nível de qualidade que porventura esses artistas possam alcançar, seu Pensador irá enviar um sinal impedindo você de gostar do mais novo trabalho desses seres, e o Demonstrador vai embasar cuidadosamente a visão preconceituosa do Pensador.

Acredite, isso é normal, e o trabalho do crítico deve ser o parcial o bastante pra passar por cima disso com elegância, às vezes até explicitando como "odeia os trabalhos da Marvel, mas apesar disso se amarrou em Os Supremos I e II" (situação hipotética me envolvendo, antes que perguntem quem disse isso). E hoje, com campanhas de marketing massivas, superexposição diária de atores e cantores, entre outras coisas extremamente desagradáveis, os Pensadores dos críticos (inclua o meu aí também, Eu gosto de vê-lo viciado nessas ideologias burras da cultura pop) estão cada vez mais impregnados de fatores extra-obra, suficientemente fortes pra influenciarem na avaliação final do produto. É a vida, somos todos humanos, e quem quer condenar os críticos à fogueira por isso, provavelmente coloca a opinião deles num pedestal dourado acima do Bem e do Mal.

 

P. J. O'Rourke

Deve-se analisar uma espécie de establishment crítico que existe em tudo quanto é camada jornalística. Esse establishment silencioso estabelece perigosos consensos massificadores que colocam em risco o trabalho crítico. Por exemplo, é consenso entre os críticos de cinema que os melhores filmes da história são O Cidadão Kane, O Encouraçado Potemkin e Casablanca. É difícil ver alguém fugir disso, mesmo os críticos dessa geração, que não presenciaram o impacto que foi o lançamento dessas obras. Eu não me faço de rogado ao dizer que os três melhores filmes da história (ou da minha geração, como quiser) pra mim são O Senhor dos Anéis (a trilogia), Clube da Luta e Coração Valente. Sei que tem uma multidão de filmes igualmente bons ao longo desse mais de um século da existência do Cinema, mas foram esses que me impactaram com força suficiente para serem classificados como "os melhores". Da mesma forma, existem filmes para ser odiados (estou usando os filmes mais como exemplo, pelos críticos cinematográficos serem mais conhecidos, apesar dos críticos musicais serem socialmente mais importantes, por motivos que Eu talvez aborde até o fim do texto).

Do outro lado do problema, apesar de divertidos, todos os filmes da série A Múmia são unanimemente odiados por boa parte da crítica. Parece uma rixa com seu diretor, o clichezento Stephen Sommers, mas não pesquisei o caso o bastante pra descobrir. Talvez seja uma coincidência, no fim das contas, ou os filmes sejam piores do que me parecem, por motivos tão obscuros que só críticos de verdade os tenham encontrado.

É aí que entra o que chamo de Calos Críticos, que são obras que o establishment gosta e o crítico odeia. E vice-versa. É quase um pecado reconhecer um Calo Crítico, principalmente pra alguém que gosta de se divertir levando esse lance a sério e criando rixas por causa de gostos alheios, como é meu caso. Creio que muitos conhecem vários dos meus gostos, como minha preferência pela Nintendo, pela DC Comics, meu fanatismo pelas obras de gente como Grant Morrison e Alan Moore. Mas, da mesma forma, possuo meus Calos Críticos e realmente não tenho medo de escondê-los. Muitos sabem que ouço (e gosto) de Avril Lavigne, um calo crítico dos piores, ou minha predileção por filmes de zumbi de comédia, ao invés dos clássicos de George Romero colocados num altar - o que gerou uma pequena polêmica na minha resenha de Zombieland. Também me amarrei na adaptação de Watchmen para os cinemas, indo contra toda uma série de fãs que condenaram o filme ao inferno - um dia faremos um podcast só com Calos Críticos (isso no dia que fizermos um podcast de novo). Odeio os filmes de Pedro Almodóvar e os livros de Sidney Sheldon, ambos aclamados pela crítica.

 

Outra coisa que se deve levar em conta quando se lê uma resenha é o veículo em que ela foi publicado. Um crítico não é um totem, não deve imaginar que o texto dele é imutável e independe de qualquer fator externo. Ele deve entender que a escrita deve variar com o público. Se você, um crítico que alcançou a fama recentemente, tá escrevendo uma crítica de um filme de Woody Allen para o Jornal dos Aposentados Ricos do ABC Paulista (algum físico diria que esse veículo existe num dos cerca de 10¹²²²²²²²²²²²² Universos Paralelos supostamente coexistindo num hipotético Multiverso), creio que ela será diferente de um texto similar escrito pra revista Adolescentes Geração Y (outro veículo, outro Universo). Você deve tentar entender que tipo de influências que esse público possui, que tipo de filme gosta, e outras coisas similares. A mesma coisa se um dia resenhar um filme de Almodóvar numa revista feminina: deve-se ressaltar coisas que o público da revista olhará, e não somente o que você está vendo.

O crítico deve ser os olhos desse público sobre o filme. Com os jornais não-especializados e revistas semanais de notícias esse tipo de diferenciação desaparece, já que esses veículos jornalísticos são essencialmente de generalidades. Se um jornalista de games escreve uma resenha (ou review) de Resident Evil 4 para a revista VIP, ela será diferente de uma escrita para a EDGE, por exemplo. Um leitor da VIP talvez não tenha jogado os games anteriores da série, e isso elimina a necessidade de ressaltar como RE4 ofereceu mudanças profundas na jogabilidade da série.

É esse tipo de desafio de estilo que fica no caminho de um crítico consciente que seu trabalho não se limita a falar mal ou bem de alguma coisa, é preciso conhecimento e um pouco de desprendimento. Basicamente um crítico deve saber responder a uma pergunta básica: por que você gostou/odiou desse filme? É no embasamento dessa resposta que está o principal trabalho dessa classe tão amada e odiada.

 

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Outro ponto a ser abordado é sobre o sistema de notas. Alguns o odeiam com todas as forças, dizem ser um rótulo excessivamente raso para abranger todas as qualidades/defeitos de um filme. Eu concordo, mas somente se a nota vier sozinha, sem um texto descrevendo como o crítico chegou àquela avaliação, e essa é a forma como fazemos por aqui. A nota não é uma avaliação acadêmica e nem deve ser utilizada como parâmetro comparativo - da mesma forma que tirar menos que um amigo na faculdade não quer dizer que você sabe menos - de uma forma absoluta. É lógico que um filme 5 sempre vai ser inferior a um 8 ou 9, mas nem sempre um 9,5 é melhor (por mais subjetivo que seja o melhor aqui) que um 8,5 por exemplo, existe muito mais coisa aí na jogada.

Como escreveu Niels Bohr na sua chamada Interpretação de Copenhague da Física Quântica: Tudo influencia tudo. Um experimento científico não deve ser encarado como uma Verdade Absoluta, mas sim como um rótulo que provavelmente se adequou bem a um fenômeno, da mesma forma que um cardápio representa adequadamente os pratos vendidos por um restaurante, ou um mapa representa cartograficamente um território. A própria temperatura de um termômetro influencia na medição, como observou ele. Logicamente que isso não coloca por terra os avanços científicos, mas epistemologicamente nos avisa que o Absolutismo deve ser dispensado como algo irrisório e desnecessário, podemos adequar nossas teorias a mudanças de conhecimentos e paradigmas temporários.

Isso tudo na Ciência, o campo de conhecimento humano considerado mais objetivo e livre de influências externas. E como a Crítica é um reino inteiramente, e permissivamente subjetivo, essas influências são ainda mais aterradoras. A expectativa de um crítico com relação a um filme com toda a certeza influencia na avaliação final, assim como um maldito do lado dele que se revelou um fanboy do diretor do filme, babando o ovo do cara em voz alta... e isso leva o cara a detonar o filme numa vingança silenciosa (Eu já fiz isso).

Essas Variáveis Críticas são muitas, e podem até mesmo ser a chamada "honestidade do diretor", coisa do povo do Omelete ao justificar uma avaliação ruim de A Origem, de Chris Nolan, e uma boa de Transformers 2. Um crítico também pode relacionar o personagem principal com a Teoria dos Arquétipos de Jung, como fez Mauro Saldanha ao dizer que "todos os homens queriam ser Edward Cullen", o vampiro gay e indeciso. Eu gosto de pensar em todas essas influências, e até as alimento com mais textos, geralmente sendo cuidadoso o bastante pra embasar e me livrar de um possível fogo cruzado. Acho que essa é minha maior especialidade: arrumar argumentos ao menos minimamente sólidos pra todas as minhas idéias (talvez Eu só possua idéias solidamente argumentáveis, mas não creio), por isso me ponho sempre como um fã e aprendiz dos odiados Sofistas.

 

Sentado em sua cadeira, enquanto escreve e imagina construir uma Nova Era, o crítico e sua soberba geralmente não gostam de pensar nessas coisas, se portando unicamente como estandartes da verdade e da evolução do gosto de seu público. Claro, se ele for um bom crítico, que pensa continuamente em evoluir, com toda a certeza faz isso: cuida de aumentar a exigência de seu público com relação a qualidade, e fazê-lo querer experimentar filmes que cada vez mais primem por experimentações vanguardistas. Eu gosto de pensar que evolui, principalmente quando leio os primeiros textos desse blog e solto algumas risadas, ao mesmo tempo em que cada vez mais gosto das resenhas que escrevo atualmente, mesmo que seja em menor quantidade do que antes. Creio também ser necessário que esse mesmo agente cultural seja capaz de fazer auto-avaliações periódicas pra entender a natureza de seu trabalho. O que nos leva ao que considero fundamental: a formação de um crítico.

O trabalho de um crítico, assim como de um jornalista, é essencialmente prático. Não adianta ter bagagem teórica da melhor qualidade, ele sempre será reconhecido pelo que já escreveu, e não pelo que estudou. Dessa forma, escrever bem (com clareza e bom humor, o que não quer dizer que se deva inserir uma piada a cada linha) é muito mais fundamental do que saber quem foi o assistente de produção de A Noviça Rebelde. Ainda assim, um crítico deve ter conhecimento do que fala, conhecer teorias cinematográficas, como é o processo de construção de um filme, possibilidades de edição e movimentos de câmeras, entre outras coisas que tornam o cinema possível. Posso dizer que ser um técnico de Produção de Vídeo formado me ajudou bastante a entender como se faz um filme, ao mesmo tempo que minha formação jornalística me colocou em contato com aspectos mais teóricos da Comunicação, e por isso mesmo me sinto mais a vontade ao escrever uma resenha de filme. Por outro lado, não me sentiria muito a vontade se fosse escrever uma resenha literária fora do NSN, mas creio que o Murilo Andrade se sai bem, assim como penso que a Beatriz se sai muito bem ao escrever sobre animes/mangás. Cada um deve reconhecer seus próprios pontos fortes e fracos, nada mais natural. Tal conhecimento se difere do já citado conhecimento enciclopédico, que gente como José Wilker faz questão de berrar que possui. Da mesma forma, ser cineasta não transforma um cara em um crítico - como disse Martin Scorsese: Eu gosto demais de cinema para criticá-lo - e vice-versa.

De uma forma romântica e próxima a silenciosamente descrita por Adorno e Horkheimer em sua seminal análise da Indústria Cultural, o crítico seria uma espécie de cruzado contra todos os clichês e maneirismos baratos comercialmente usados pela indústria de cinema/música/literária/quadrinística/outra. E uma resenha é sua principal arma, onde ele se sente livre - às vezes de forma quase infantil - para combater esse tipo de ameaça ao seu território e a seu público. Um crítico deveria ser um agente quântico-evolucionário responsável por saltos de qualidade contínuos nas coisas que resenha, antecipar tendências, apontar arbitrariamente o que ele gosta de forma quase canibalesca, entre outras atividades bem gloriosas e ruidosamente divertidas. Mas não é difícil ver hoje que a Classe Crítica foi vencida por uma ordem panfletária destinada simplesmente a criar hype e seguir a ordem publicitária que assolou a indústria.

E esse estado letárgico conduz ao quadro que vemos hoje: uma multidão de filmes adaptados de quadrinhos ou livros, poucas idéias novas, a lenta morte do cinema independente, diminuição do público nos cinemas - os recordes dos últimos anos devem ser encarados de forma diferenciada, já que mostra uma pesada concentração de público em pouquíssimos filmes - e um cada vez mais iminente colapso criativo. A receita para combater isso é óbvia: críticos vorazes e comprometidos com a qualidade cinematográfica, que não se deixem comprar por presentes de editoras (nem que seja as ultra-desejadas Edições Definitivas de Sandman), que não tenham medo de metralharem o que for ruim, ou tornar digno de culto as obras que merecem... é por aí, acredite: mesmo sendo odiados, os críticos ainda são necessários!


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