Para os que direcionam a política econômica do governo brasileiro o mais importante é conter a inflação, que simplificando, é o aumento generalizado de preços (isso é importante: subir o arroz, ou subir o feijão não é sinal de inflação, o generalizado tem de estar presente). Erros no tocante ao controle da inflação são os mais aparentes e gritantes para a população, e eles custam votos, e é com isso que políticos se importam em uma democracia. Então, a guerra dos Ministros da Economia e do Planejamento, do presidente do Banco Central e do Comitê de Política Monetária, é basicamente para manter os preços num aumento saudável (economia sem inflação é igual economia parada, como é o caso do Japão no momento). Atualmente a meta de inflação anual está na casa dos 4,5%, com possibilidades de variação de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Não importa se o crescimento da economia do país está praticamente nulo, se os juros estão estourando, a inflação deve ficar nesse índice de crescimento, coisa que o Governo Lula conseguiu, e que basicamente é o motivo principal para sua política econômica ser tão elogiada no Brasil e no mundo.
Os efeitos negativos da inflação são aparentes: ela diminui o chamado poder de compra, tanto da família, quanto do governo, passando pelas empresas. É como um mofo que dá no dinheiro. Se você o deixou R$ 1.000 debaixo do colchão por um ano, ele está valendo cerca de 4,5% menos quando você tira-lo, ou R$ 955. Resumindo: ninguém sai ganhando com a inflação, embora os consumidores finais percam mais, visto que as empresas repassam os aumentos para frente, e quem está no fim da linha somo nós, que não podemos repassar perdas pra ninguém.
O maior problema dos economistas vem justamente do fato da inflação estar associada ao crescimento. Imagine se você ganhasse na loteria. Qual seria a primeira coisa que você faria? Sairia comprando tudo que sempre teve vontade, provavelmente... e aplicaria parte da sua grana em algum fundo que você achasse melhor. Comprar; essa palavra tem um sentido muito dúbio numa economia: ao mesmo tempo que a faz crescer, causa o que é chamado de Inflação de Consumo, pois o aumento de compras generalizado causa aumento de preços. Os motivos são óbvios: os fabricantes não têm tempo hábil para suprir a demanda (por vários fatores como, a necessidade de certos produtos importados, mão-de-obra insuficiente, estoques baixos) e o produto começa a faltar no mercado - pode ser camisinha em época de Carnaval, borracha para chupetas em épocas com muitos nascimentos, qualquer coisa.
Existem momentos em que isto previsivelmente acontece, como no Natal e no Dia das Mães... ou ainda num dos momentos mais importantes do ano: o aumento do salário mínimo. O consumo é o maior impulsionador da inflação pelo simples fato de que 60% do PIB (falamos especificamente sobre ele em outro texto) do Brasil está atrelado ao consumo das famílias (nos EUA é mais, 70%, e já chegou a 80% em épocas passadas). É na inflação e nesse sanha de controla-la que essencialmente está a raiz de muitos problemas econômicos da concentração de renda.
No entanto, existem outras formas da inflação surgir. Olhemos cada um abaixo:
Inflação de choque de oferta: esse tipo de inflação vem da falta de produtos por um motivo qualquer. Um deles pode ser entressafra, que ocorre anualmente na agricultura com praticamente todos os produtos que vêm do campo. As frutas tropicais, por exemplo, tem um aumento de preço no inverno, visto que sua produção diminui bastante nesse período. Elevações desse tipo são previstas pelo governo, que tem uma pá de analistas somente para fazer estudos de flutuações de ofertas do gênero.
Outra forma de haver inflação por choque de oferta tem a ver com a ganância, e isso ocorre principalmente com riquezas minerais: produtos como diamantes e petróleo têm fortes cartéis que planejam para que uma quantidade pequena desses produtos seja vendida no mercado, mantendo assim o preço nas alturas. Catástrofes climáticas também podem levar os preços para cima, assim como uma alta nas exportações, já que quase sempre o mercado externo paga melhor que o interno. Em muitos desses casos, o governo pode intervir para diminuir os preços novamente, utilizando reservas que possui desses produtos, que servem justamente para momentos de crise.
Inflação de custo: Se, por um motivo qualquer, os preços de custos dos produtos subiram para a indústria, eles sem demora passarão esse aumento para o consumidor (você), tenha certeza. Esse aumento de custo pode ser derivado de aumento de salários de uma classe de trabalhadores, aumento de impostos (o que está ocorrendo bastante ultimamente), aumento do dólar, o que causa aumento nos preços de produtos importados, aumento do custo de matéria-prima, etc. São realmente muitas as formas possíveis dos custos de um produto aumentarem, inclusive por culpa do próprio governo, que luta contra a inflação. Um desses casos é o aumento de energia, que tem seus preços taxados por comitês públicos, e repassados ao consumidor por monopólios do setor, geralmente livres de fiscalização, e prontos para elevarem lucros, que já são absurdamente altos. No fim das contas, você e eu pagamos a conta, mas existem setores, como o de eletroeletrônicos, que muitas vezes diminui a margem de lucro para não perderem para a concorrência (geralmente chinesa).
Inflação de lucro: quanto menos concorrência, mais livre uma empresa, ou um pequeno grupo de empresas, está de praticar os preços que bem desejarem. Nesse quadro surgem os cartéis, presentes em setores como o de postos de gasolina e planos de saúde. Essa ganância também gera inflação, e de uma forma bem direta. Nesse cenário surgem os chamados monopólios também. São empresas sem concorrentes, que na maior parte dos casos, ganharam suas funções via licitações públicas. Os exemplos clássicos são a energia, telefone e água. Simplesmente são produtos/serviços a qual não se pode ficar sem, e um aumento em seus preços é simplesmente engolido. Cerca de 30% dos gastos de um consumidor médio deriva de pagamentos a monopólios, que em sua maioria têm os preços administrados, ou seja, dependem de aprovação do governo para aumento.
Com a subida ao poder de Fernando Henrique, e sua sandice de privatizar tudo, o governo tratou de criar mecanismos para conter altas nos preços praticados por monopólios, e reforçou suas leis contra setores com altas chances de terem cartéis. Surgiu então as agências reguladoras, para fiscalizarem as atividades dos setores econômicos. São várias: Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ANP (Petróleo), Anvisa (Vigilância Sanitária), ANA (Águas), ANS (Saúde), etc. A idéia é que essas agências pudessem normatizar o funcionamento das empresas que compõe os setores correspondentes a elas... e isso não ocorre, na grande maioria dos casos. Luz e água sobem como se não houvesse amanhã (geralmente com aumentos em torno de 20% por vez), assim como os preços de planos de saúde são tabelados em vários estados por cartéis com estruturas que lembram máfias.
Agora a bancarrota econômica... a Inflação Inercial: a inflação reduz o poder de compra do dinheiro. Não adianta nada ganhar aumento de 20%, se a inflação está descontrolada e fica na casa dos 18%. Nesse caso, o aumento real do seu salário foi de míseros 2%. Houve época em que isso ocorria, antes do saudoso Plano Real, que trouxe fama e louros para Fernando Henrique e sua camarrilha.
Olhemos a situação da economia nessa época. A inflação estava descontrolada, com aumentos de preços diários. Nessa situação, a forma tradicional de controle de inflação - morrer no bolso do consumidor - não poderia continuar, ou o poder de compra dele ia chegar a zero em pouco tempo. Coisas desse tipo geraram greves e paralisações, e com isso os trabalhadores ganharam o direito de terem seus salários reajustados automaticamente de acordo com o valor da inflação. Isso se chama indexação, e transformou a economia numa bola de neve indestrutível. Quase todos os empregadores passaram a cobrar mais pelo preço, mais isso gerava inflação, que fazia aumentar os salários dos trabalhadores, que fazia com que os patrões aumentassem os preços, que geravam inflação...
...o resultado desse lance foi inflação de 80% ao mês (não se assute, a do Zimbábue já alcançou 11.200.000%, e o país tem até mesmo uma nota de 100 bilhões), além de descontrole total de preços, o que tirou todos os parâmetros de comparação deles. Os trabalhadores com sindicatos fracos também saíram perdendo, pois não conseguiram a indexação, e viram seu dinheiro se tornar papel quase sem valor. Diversos planos econômicos fracassaram na tentativa de controlar esse quadro, e somente o Real conseguiu, atacando diretamente o problema da indexação. É claro, mágica não existe, e o preço foi alto, mas veremos isso mais pra frente!
Mas, como é medida a inflação? Fácil! Você já deve ter ouvido falar de índices de inflação, quando a feiosa da Mirian Leitão dá os resultados da medição da inflação, geralmente dos últimos 30 dias. O modo de medição é exatamente aquele que você está imaginando: lista de preços, e comparação deles entre diferentes períodos de tempo. Onde eles serão medidos (no atacado, no varejo...) depende do índice de inflação em questão. A estrutura básica dos preços é a mesma daquela que você estudou no primário: primeiro vêm o setor primário, composto aqui pelos fornecedores de matéria-prima, indústrias, e atacadistas; depois o secundário, basicamente o comércio varejista; e depois os sofredores, os consumidores, ou as famílias. O aumento de preços lá no setor atacadista é repassado para os varejistas, que os repassam pra gente, às vezes com alguma amortização, visto possuírem concorrência.
A lista de preços do setor primário é o IPA (Índice de Preços no Atacado, calculado pela FGV, a Fundação Getúlio Vargas), que é onde está a medição da variação do dólar, visto que muitos dos produtos que servem de matéria-prima serem importados. Entre os índices de preços para os consumidores, figuram vários, sendo o mais importante o IPC-A, que é o índice oficial da inflação do governo. O IPC-A (Índice de Preços ao Consumir Amplo) é medido pelo IBGE através de uma vasta lista de produtos, e mede o consumo de famílias com renda entre 1 a 40 salários mínimos. Existe também o INPC (Índice Nacional de Preços para o Consumidor, também medido pelo IBGE), que mede preços de produtos comprados por famílias de menor poder aquisitivo (1 a 6 salários); e o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP), que mede preços de produtos de São Paulo.
Dos outros, três devem receber atenção especial (mas lembre-se: o IPC-A é o mais importante): o IPC-3i (Terceira Idade), que pesa os valores dos preços de forma diferente, de forma a deixa-lo mais adequado aos idosos. Dessa forma, aumento de preços nos remédios, e planos de saúde vão ter mais impacto nesse índice do que nos outros. O INCC (Custos de Construção), mede coisas como mão-de-obra, cimento, areia, material elétrico, etc. Esse índice é calculado por estado pelo Sindicato da Indústria de Construção Civil (Sinduscon). Cabe a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) comparar esses dados e compila-los. Através dele podemos saber que o m² de uma casa construída aqui no Espírito Santo em maio desse ano, saiu em média, mais barata do que uma no Paraná (R$ 896 contra R$ 965). Por fim o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), medido pela FGV. Ele não é uma lista de preços, mas sim uma compilação de vários índices, de acordo com o cálculo a seguir: 60% de peso pro IPA, 30% pro IPC e 10% pro INCC. A sua importância deriva do fato de ser usado como base para o reajuste de uma miríade de contratos, como os de aluguel, energia, entre vários outros. O detalhe é que pelos 60% de importância dado ao IPA, esse índice sofre grandes influências do dólar!
Uma curiosidade que envolve índices e que bem mostra como funciona o Capitalismo em seus detalhes: o IGP-M é o índice oficial para renovações de contratos de aluguel, mas como está atrelado ao dólar, ele pode ser puxado para baixo em momentos de baixa da economia americana. E foi justamente isso que ocorreu em 2002, após Lula ser eleito e em seu governo o dólar baixar dos absurdos quatro reais para tranquilos dois, e menos ainda depois. Os corretores e locadores de imóveis, vendo prejuízos à vista, colocaram nas suas cláusulas de contratos, outro índice: o IPC-A. E com a cara de pau de incluírem a seguinte cláusula: “Utilizaremos o IGP-M para o reajuste do aluguel. Caso este fique negativo valerá o IPC-A”. Ou seja, o IPC-A sempre foi mais desvantajoso que o IGP-M, pois é mais severamente controlado pelo governo, mas quando viram a queda vertiginosa do dólar - e com isso, baixa no preço dos aluguéis - rapidamente salvaram o próprio couro. No fim das contas, quem pagou a conta foi o consumidor...
Entendamos: inflação é bom, desde que controlada. Uma economia com pessoas empregadas, dinheiro no bolso, fatalmente vai comprar bastante e gerar escassez de produtos, e com isso aumento de preços, que é uma medida para que o produto não falte no mercado. O índice do Brasil está estabilizado no nível ideal (o método que ele utiliza para mante-lo assim é que é o problema). Abaixo disso, indicaria uma economia à beira da recessão - sem consumo, como está vivendo o Japão há uns bons 10 anos - com consumidores desmotivados a comprar, empresas reduzindo a margem de lucros, baixando preços e demitindo. Definitivamente não é o que se quer. Em outras palavras: inflação é bom!
Outra questão que se pode levantar é quanto a manipulação da medição dos índices de inflação. Com o IBGE pode-se ficar tranquilo, afinal o governo tem sérios motivos para querer uma medição correta, e como o IBGE é um braço dele, é de se supor que ele não tenha interesse em manipular índices (ou quase...). Talvez a sua dúvida surja com a FGV, uma instituição privada, que cobra caro de seus clientes para fazer todas as suas pesquisas. Bom, nesse caso deve-se levar em conta o Egoísmo: se a FGV fizer uma pesquisa mal-feita, ou manipular resultados em favor de algum cliente, os outros clientes, que têm interesses às vezes conflitantes entre si, vão tomar medidas erradas, o que resulta em prejuízos. Para evitar esse tipo de coisa (e perder clientes e dinheiro), é natural que a Fundação apresente simplesmente o quadro a sua frente, sem distorções.
Um último fator a se levar em conta: com exceção dos índices oficiais, pesquisas não são feitas para a população. Seus preços são muito elevados para que instituições como a FGV queiram arcar com os custos. São pesquisas compradas, que logo após serem apreciadas por gigantes como Petrobrás, o Senado, Eletrobrás, Furnas, Bradesco, Votorantim... são tornadas públicas.
Nesse momento uma dúvida deve estar pairando no ar: o que é feito para se combater a inflação? Basicamente o governo atua em três frentes, a Política Fiscal, Política Monetária e a Política Cambial; e inclui aumento de impostos, diminuição de investimentos... como veremos no nosso próximo capítulo: São Jorge pode ser pior que o Dragão.
Até lá...
[Com informações do Blog Kantega]
16 Comentaram...
Realmente você tem um conhecimento muito bom pra sintetizar as complexas relações do mercado. Foi bem escrito, já o texto é do nível de pessoas que já tem algum conhecimento no assunto e até mesmo para os entendidos ajuda a expandir os horizontes.
Fico pensando como seria uma linguagem mais simples e didática que se poderia se usada para explicar este mesmo assunto as pessoas leigas.
De todo modo, parabéns!!
Bom saber que o NSN não se limita s´ao universo nerd.
Parabéns FiliPêra!
Não sou de comentar em blogs, mas esse seu post realmente merece o elogio. Muito bem explicado, sem ser sacal ou metido a "sabe-tudo". Infelizmente o capitalismo é o pior sistema economico, exceto todos os outros...rss
O NSN tá cada vez melhor!
É nozes!
Foi show! E nerd (pelo menos um segmento dele) gosta de aprender. "Nerd"=Caxias! É nozes!
É por isso que a gente baixa tanta "pirataria" na internet. "Recessão"... Hmm... Agora entendi. ;)
Excelente!
ta filipeta, meu filhinho, agora vai jogar videogame até amanhacer, vai !
@Mauro Tavares...
... e você vai chorar pra mamãe sobre como o mundo é cruel com a sua pessoa e linkar seus textos nos comentários de outros blogs!
PS: pelo visto você tá querendo um videogame, porque parece que você sabe falar...
muito bom, eu curto economia um pouco, mas tenho uma séria preguiça de ler textos sobre o assunto. mas esses posts estao muito bons e principalmente nao estao massantes como a maioria q falam sobre isso!! parabéns.
Nunca havia visto tanta besteira junta ao se falar de Economia... Inflação é bom? Não se cresce sem ela? Pelo amor de Deus... nunca mais escreva sobre Economia...
Meu Deus!!! Sempre gostei de acompanhar os posts aqui no NSN mas esse foi simplesmente ridiculo. Peço que nunca mais tente abordar um assunto como esse aqui. Suas informaçoes sao completamente distorcidas e equivocadas. Como pode definir inflaçao como uma coisa boa??? Nao existe nada como inflacao boa quando eh baixa. Isso eh keynesianismo puro. E eh exatamente esse Keynesianismo que nos levou a essa crise. O governo tem o monopolio da emissao de moeda e o faz de modo irreponsavel, como seria esperado. Inflaçao eh soh mais um imposto. TODA E QUALQUER inflaçao eh ruim. Eh o seu dinheiro perdendo valor a cada dia! Va ler um pouco de von Mises, Hayek, Rothbard e jogue no lixo essas livros que voce andou lendo para passar nos exames da faculdade.
@Último Anônimo
Bom, ou estou errado, ou economias em recessão, como a do Japão, que tem ZERO de inflação há uns bons anos, é que estão! Na teoria é bonitinho mesmo um país sem inflação, mas olhando os casos, não se acha um país sequer sem ela, e que cresça a contento.
E ler não é tudo, observar também é importante. Mas cada um com sua opinião, e respeito a sua...
Ae Filipêra parabens pelo texto, foi exatamente o que eu estava esperando desta coluna desde que li o ultimo texto.
Lendo o texto mudei alguns conceitos e sanei algumas duvidas basicas que eu tinha quanto a economia, Valeu ae cara.
é isso ai filipeta, não escreva sobre o que não conhece.
vai twittar garoto !
cara... muto legal a série de posts.
E eu amo o/a May Cry. Não sei como esse Mauro mal-amado não se calou por aqui ainda.
Muito bom mesmo o texto!
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