Os nerds são os salvadores das comédias românticas. Ou eles, ou os pervertidos de plantão. Só consigo pensar nesses dois grupos de pessoas quando lembro das minhas comédias românticas favoritas. Facilmente pode-se listar os Irmãos Farrely e o seu Quem Vai Ficar Com Mary?, Diablo Cody escrevendo Juno, Owen Wilson e sua turma no engraçadão Penetras Bons de Bico, e por que não toda a carga loser de Steve Carrel em Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada. Tirando os nerds e os pervertidos sobram filmes do naipe de Como Perder um Homem em 10 Dias, chato do início ao fim. Quando uma comédia se salva sem estar nas mãos de um desses grupos, é por pouco, como é o caso de Hitch.
E (500) Days of Summer se tornou uma das três melhores comédias românticas EVER pra mim, junto com Procura-se Amy e O Virgem de 40 Anos, dois supra sumos dos filmes nerds românticos. E o faz por méritos próprios, não precisando chupinhar elementos dos filmes de Judd Apatow e Kevin Smith. De cara a sua estrutura narrativa já o diferencia de 99% das comédias românticas com sua linha dramática absolutamente previsível: um cara conhece uma garota, eles ficam juntos, se desentendem e tudo deságua num final com eles juntos (ou separados, é a única coisa não-tão previsível assim). Com 500 Days rola exatamente isso, mas usando uma narração única, com conteúdo que o aproxima dos livros de Nick Hornby.
Para isso, o diretor Marc Webb usa uma série de recursos que não se vê em um diretor estreante todo o dia - antes de dirigir 500 Days, ele dirigiu inúmeros videoclipes. Primeiramente ele pega todos os acontecimentos da história, e os quebra sem dó, a exemplo de Woody Allen em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Para facilitar a vida de quem tá vendo, existe um contador indicando qual dia dos 500 está sendo narrado na tela, com as cores ao fundo nos mostrando como tá o clima entre os dois. Dessa forma aquela narrativa ascendente contínua, que terá seu momento de queda para depois subir novamente para o clímax, típica dos filmes do gênero, é passada de uma forma inteligente, que permite uma assimilação muito melhor sobre como é o casal, e do propósito do filme.
Os 500 dias do título contam todos os momentos em que Tom (Joseph Gordon-Levitt, ótimo) buscou o amor verdadeiro… após conhecer a assistente do seu chefe, Summer (Zooey Deschanel, que além de excelente atriz é amável até o dedão do pé, passando pelos joelhos nodosos e pela forma como umedece os lábios antes de falar), que não acredita no amor, e nem em relacionamentos. Os dois conversam, e fazem coisas típicas de casal (sim, sexo também). Mesmo felizes, Tom quer mais, e é justamente aí que está o declínio na sua vida a dois!
Com essa história simples em mãos é natural que saísse um filme de Sessão da Tarde, mas Webb consegue utilizar recursos típicos da linguagem de videoclipes - alguns absurdamente geniais - para livrar o filme dos clichês do gênero e apresentar uma obra razoavelmente nova. Um desses recursos é um narrador onipresente que abusa da metalinguagem para criar um clima estranho e divertido. Outro deles é um momento de tela dividida: um lado com as expectativas de Tom em relação a ida numa festa dada por Summer, e o outro a triste realidade. São detalhes assim que tornam o filme tão apaixonante, que deixa até o mais solitário com vontade de ter experimentar uma vida a dois novamente.
O filme também acerta na escolha dos personagens secundários (uma das especialidades das comédias de Judd Apatow). Tom é o típico abobado, que apesar de divertido, tem poucos momentos engraçados. Por outro lado, seus amigos são os desparafusados que só dão conselhos idiotas que matam qualquer um de rir. Os colegas de trabalho dele - ele estudou arquitetura, mas ganha a vida escrevendo frases de cartões de datas comemorativas - são os típicos inúteis, e com exceção de McKenzie são dispensáveis. Também tem a irmã dele, que não passa de uma adolescentes, mas dá conselhos como gente grande.
Incrivelmente o filme consegue ter ainda mais atrativos do que uma narrativa construída de forma inteligente, e toda não-linear. No geral ele está mais para romântico do que para comédia, mesmo sendo recheado de momentos engraçados. As cenas em que os dois estão juntos, as descrições do relacionamento deles feitas por Tom, toda a química do casal… é tudo feito com o intuito de apaixonar qualquer um. Com muita competência, deve-se acrescentar. Quando faz comédia, também se sobressai, como no desfile de Tom pós-primeira transa, que consegue homenagear Curtindo a Vida Adoidado e Star Wars ao mesmo tempo (e conseguir meu definitivo respeito logo depois).
No fim de (500) Days of Summer, a frase escrita no cartaz do filme faz todo o sentido: Essa não é uma história de Amor. É uma história sobre o Amor. É daqueles filmes que podem te deixar pra cima… ou até pra baixo, tudo depende do que você se põe a lembrar. Essa é a diferença entre o amor e a paixão… O fato é que esse ano - ou talvez em muitos anos - você não vai ver uma comédia mais romântica!
(500) Days of Summer (EUA, 2009)
Diretor: Marc Webb
Duração: 95 min
Nota: 9
10 Comentaram...
Não é por nada nada não FiliPêra, mas dizer que Hitch foi bom é foda.
Bom dia,
Além de concordar com o Murilo, eu faço um acréscimo.
Comédia romântica é ruim, pois não é engraçada o suficiente para ser comédia e nem melosa o suficiente para ser romântica.
Att.
João Lucas Scharf, o Aleatório
Assisti pela remecomendação.
É orinal pacas a forma como é contada.
Associei com 'Apenas o Fim'. Que também é ótimo.
Bom, parabéns pela resenha, Filipêra!
nunca gostei de comédias românticas, mas esse post me deu uma vontade de levar minha muié pra ver esse filme
Eu fiquei com vontade de assistir ao filme. Não tenho preconceito de gêneros.
Esse me lembrou dois filmes muito bons: Mais Estranho que a Ficção e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (se bem que este último tem pouca coisa de comédia).
Parabéns pelo post e até a próxima.
Caraca , você escreve muiito bem sobre cinema !!!
Acabei de ver e adorei também.
O desfile e a cena Realidade/Expectativa foram ótimos, assim como as atuações.
Pena que não dá pra traduzir o final...
Vc conseguiu captar o filme como ninguém. É impressionante como o interconectou com outros filmes tão célebres! E, além disso, como fala das possíveis reações ao filme.
Eu, no caso, fiquei meio down com o "500 dias com ela", tanto que procurei uma opinião alheia pra saber se isso era epidêmico hahaha mas vc conseguiu evidenciar que esse filme trata do amor e não de uma história de amor.
Parabéns pelo texto!
Um abraço,
Paulo
Chorei que nem uma criança vendo esse filme. ):
Esse filme é perfeito!
E a crítica muito bem escrita!!
Parabéns!
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