Ficção Científica pra mim, sempre foi um olhar para o futuro para se entender o presente. É como escancarar ficcionalmente os problemas do presente, e inserir elementos futuristas nele. A trajetória dos filmes sci-fi é diversa e varia de época para época. Nos anos 70 as ficções científicas foram usadas como uma espécie de fábulas modernas para “anuviar” a população enquanto o mundo tinha medo do apocalipse nuclear da Guerra Fria. A idéia era o unicamente o entretenimento, e a inspiração vinha da literatura e das séries dos anos 40. Por volta desses anos surgiram duas séries sci-fi definitivas, que até hoje ainda estão por aí com multidões de fãs - que muitas das vezes brigam entre si: Star Trek e Star Wars.
Vieram os anos 90 e tudo mudou com Matrix, que varreu para baixo do tapete em definitivo e no meio mainstream as ficções com conceitos de fábula. O filme basicamente é uma torrente de filosofia e existencialismo, mesclado com referências a várias obras da Cultura Pop (mas ainda não me afasta a idéia de plágio de Os Invisíveis).
É claro que ainda existem pretensas ficções científicas babacas. Quando produtores usam o conceito de sci-fi para criarem filmes idiotas, como Independence Day (um presidente americano entrando num caça e combatendo ETs? Poderia morrer sem essa…) é sinal que o gênero anda meio mal das pernas. Agora esqueçam todo esse conceito de ETs, porque Distrito 9 chuta tudo para longe sem dó, e aproveita para fazer metáforas políticas, e ao final ainda tem elementos de ficções mais voltadas para a ação, como um Eu, Robô, ou o superlativo Filhos da Esperança da vida.
O conceito principal do filme nasceu no curta metragem Alive In Joburg, de 2005, do diretor Neill Blomkamp. A história é basicamente uma versão em miniatura do que é Distrito 9: uma raça de ETs na África do Sul, confinada! Peter Jackson gostou do curta e chamou Neill para embarcar na adaptação de Halo que ele estava produzindo. O filme de Master Chief melou graças ao olho grande de Bill Gates. Peter então convida Neil para fazer um longa de Alive In Joburg. Surge Distrito 9!
O início do filme não poderia ser melhor: uma série de reportagens de TV contam como é a situação dos ETs, explicando como eles vieram para na Terra, como a nave deles ficou sem combustível, e tudo o mais. Ao invés de destruírem a Casa Branca e o Capitólio eles ficam num lugar igualmente racista em outros tempos: a África do Sul. O ritmo é intenso e te prende logo de cara, como nenhum telejornal consegue.
Os ETs - ou como são apelidados: camarões, por motivos mais que corretos, afinal eles parecem baratas cascudas superdesenvolvidas - estão ali há 20 anos, confinados num gueto, cheio de símbolos de paz, mas que nada mais é do que uma favela. O problema é que após esses 20 anos a situação ficou quase tão insustentável quanto uma explosiva Cidade de Deus, e o medo de sua população obriga as autoridades sul africanas a começarem uma operação de remoção dos ETs para um gueto longe de Johanesburgo.
Entra em cena a galera da MNU - sim, uma ONU metafórica - que tem a missão de fazer com que todos os camarões assinem as ordens de transferência. O chefe do grupo, Wikus Van De Merwe, é um bobão, daqueles paspalhos mesmo, e vê na missão uma forma de mostrar valor. Mas aí tudo vai pro inferno quando ele entra em contato com um certo líquido bizarro e desenvolve casca… e creio que já deu pra sacar onde o filme quer chegar.
É nesse exato momento que muitos disseram estar a falha-mor do filme. O motivo é óbvio para quem está vendo: ele deixa sua estrutura documental e opta por um estilo clássico, com um “herói” e um problema. Toda a metáfora do cara que se vê diante de uma situação que o obriga a colaborar com seus inimigos muito me lembrou um capítulo de White Stupid Man, livro de Michael Moore, em que ele clama a Deus (qualquer um deles) para que os políticos americanos tenham problemas similares aos do povo para que cacem soluções que os favoreçam - e favoreçam ao povo, de troco.
Falar mais, estragaria parte da experiência. Mas pode-se dizer que ela é fantástica, o melhor sci-fi que vi desde o já comentado Filhos da Esperança (que é melhor que esse Distrito 9, que fique claro). O diretor consegue a façanha de nos fazer torcer pelos alienígenas cascudos a certa altura, e sem usar nada mirabolante, mas apenas mostrando como humanos podem ser malditos quando querem algo a qualquer custo.
Além de um roteiro inteligente - tá bom, certas falas dos repórteres soam meio abobadas, mas os repórteres no filme servem para isso mesmo, na minha visão - e o interessante ritmo de documentário no início, aliado a uma narrativa completamente diferente dos tradicionais filmes anêmicos de ficção científica mainstream, o filme ainda possui uma técnica perfeita. Provavelmente é tudo graças a Weta, mas os 30 milhões de doletas do orçamento parecem que foram suficientes para a direção de arte ser ótima (OK, não são só favelas que habitam o mundo do filme) e o design dos alienígenas ser interessante.
O resultado, além do conteúdo politizado e de um punhado de cenas de ação bem orquestradas, é um perfeito exemplar de sci-fi bem feito, do tipo que agrada gregos e troianos. Master Chief e sua trupe de super-soldados-espartanos-futuristas deixaram escorrer uma lágrima.
District 9 (EUA, Nova Zelândia 2009)
Direção: Neill Blomkamp
Duração: 112 min
Nota: 9
8 Comentaram...
"MNU - sim, uma ONU metafórica"
oi vc viu o filme nos cinemas? eu baixei da net e parecia uma empresa encarregada e n uma entidade internacionl tomando conta da situação - se bem q no final tanto faz é só um filme mesmo!
ps: kd a continuação dos textos "capetalistas"??? logo quando estava ficando bom e super interessante começa esse suspense pra continuar!!!
t+!
Vou pedir dinheiro pra minha mãe e ir ver no cinema =D
Eu acho que Distrito 9 é um filme nota 7. Longe de ser ruim, mas na segunda metade, o filme vira uns transformers sem propósito, enfia trocentos plot holes guela a baixo, e vamos que vamos.
Ainda assim, é um bom filme. Eu já morei na África do Sul, já conheci Johannesburg, e o retrato é bem fiel (até onde você pode dizer que Cidade de Deus é o Rio de Janeiro).
Curiosidade: os bichos são chamados de Prawns, no original, por causa de uns grilos gigantes bem comuns na África do Sul, chamados de Parktown Prawns, não tendo nada a ver com camarões, mas ia ser difícil traduzir isso! :D
Enfim, vale a pena assistir, mas está bem longe de ser um grande marco da Sci-Fi, como Blade Runner, Alien ou 2001.
Achei estranho o Wikus Van De Merwe (apesar de ser paspalho)mexer com coisas de aliens sem uma devida proteção
Você bem que poderia fazer resenhas de filmes
sem praticamente contar o filme todo, né cara?!
Pô, que saco.
Gostaria de saber como mataram a ficção cientifica no Brasil...é uma pena , pois eu lembro que li coisas boas na deca de 70 a 90...principalmente nos quadrinhos
Gostei muito do filme. Bastante divertido e com boa história, apesar de algumas falhas. Existem filmes melhores, como os citados na resenha, mas D-9 entrou p minha lista dos preferidos. Não sei pq, mas gosto de filmes que fazem a gente torcer contra os humanos
"Curiosidade: os bichos são chamados de Prawns, no original, por causa de uns grilos gigantes bem comuns na África do Sul, chamados de Parktown Prawns, não tendo nada a ver com camarões, mas ia ser difícil traduzir isso! :D"
Realmente achei estranho, pq sabia q camarão em inglês é outro nome =]
"Achei estranho o Wikus Van De Merwe (apesar de ser paspalho)mexer com coisas de aliens sem uma devida proteção"
Quando ele entrou no "robô" ele pareceu sentir um pouco de dor, mas fiquei na dúvida se era por causa dos ferimentos ou da diferença anatômica
Provavelmente era porque o robô estava usando as famosas agulhas pra se ligar na espinha dorsal dele. Por isso quando ele sentou ele disse "Uh, é confortável..." e começou a scream like a bitch.
Gostei da resenha, e do filme. =D
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