sexta-feira, 6 de novembro de 2009

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[Capetalismo #3] Um país é o que ele tem

 

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Quando falei de inflação (e como falarei, daqui pra frente), sempre a coloquei como uma vilã que freia a economia de um país. Mas o que é exatamente essa economia, o que são as riquezas de um país e como elas são medidas? Tudo o que se divulga é um número de dinheiro (geralmente astronômico) chamado PIB (Produto Interno Bruto), que é um símbolo do poder econômico do país, e pode resumir a situação econômica de uma nação. Vamos aprender agora o que é efetivamente o PIB.

O PIB de forma simplória, é o conjunto de riquezas produzidas por um país em um trimestre ou um ano. Imagine a soma de tudo que é feito por um sem-fim de indústrias do Brasil: todos os carros, aviões, aço, TVs, e tudo o mais. É lógico que o método utilizado pelo IBGE para medir tudo e chegar ao número exato - que no momento é de R$ 2,9 trilhões - é bem mais complexo que isso, mas detalhar tudo é desnecessário aos objetivos dessa coluna. Ao invés disso, vamos discorrer sobre fatores mais interessantes.

Primeiro é preciso entender que a fórmula para cálculo do PIB é a seguinte:

 

PIB = C + I + G + (Exp – Imp)

C é consumo, I é investimentos, G é de gastos públicos, Exp é de exportações, e Imp (que é a única subtração da jogada) é de importações. Então, pela fórmula, creio que está mais ou menos claro que não é necessariamente o que é produzido que faz parte do PIB, mas o que é comprado. Mais abaixo explicarei melhor.

Os dois últimos itens são o que se chama de balança comercial, podendo haver superávit quando as exportações superam as importações, ou déficit, quando as importações são maiores. É tudo mais ou menos simples, e vai ser objeto da nossa análise quando o tema da coluna for Política Cambial. Mas de cara entenda bem: nem sempre ser maior importador do que exportador é necessariamente ruim. Importar é necessário, só tem que se tomar cuidado com o que se importa e o que se exporta, assim como manter os outros fatores da equação aquecidos para que se compense esse déficit e se mantenha o PIB em alta.

Vejamos agora esses trilhões com dados um pouco mais esmiuçados, como na imagem abaixo: 

 

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Clique para ver maior

É agora que vem o detalhe que confunde o povo pelo mundo afora: o PIB é medido pela ótica dos Produtos, e pela das Despesas. A diferença é a seguinte: no PIB de produtos se mede somente o que foi produzido, se levando em conta a oferta, já no PIB das despesas, se mede o quanto de grana se movimentou no país, o dinheiro que mudou de mãos, em um mesmo período.

Os dados do gráfico são esses: Agropecuária – R$ 163,5 bilhões, correspondendo a 5,66% do PIB; Indústria – R$ 682,5 bilhões, 23,62% do PIB; Serviços – R$ 1,56 trilhão, 55,23% do PIB. O somatório desses três componentes do PIB é chamado de Valor Adicionado a Preços Básicos e que totaliza R$ 2,44 trilhões. Se forem incluídos os impostos sobre produtos, no valor de R$ 448, 67 bilhões, tem-se o valor total do PIB no ano de 2009.

Já na ótica das despesas, a coisa fica assim: Consumo das famílias – R$ 1,75 trilhão (60,68% do PIB); consumo da administração pública – R$ 584,4 bilhões (20,22% do PIB); investimento – R$ 548,76 bilhões (18,99% do PIB); exportações menos importações de bens e serviços – R$ 4,8 bilhões (0,17% do PIB) e Variação de estoques – menos R$ 1,7 bilhões (-0,06% do PIB). (Dados do Blog de Francisco Castro e do IBGE)

Geralmente quando se noticia PIB em jornais, não se atém a esses dados, o que é o correto na verdade, pois seriam desnecessários para o espectador comum. Deve-se ater ao principal, o crescimento do PIB - que é achado comparando-se com o valor dele no mesmo período do ano passado - e ao valor absoluto dele, para impressionar a todos, que é o motivo principal para o qual se divulgam isso em jornais não-econômicos.

Uma coisa importante que deve perceber é a proporção de aproximadamente 60% do consumo familiar sobre o PIB. Por esse exato motivo o foco das medidas anti-inflação são sobre as famílias (ou nós, pra esclarecer melhor), e são exatamente elas as personagens que mais sofrem na política econômica (e além de tudo são indefesas), afinal, é necessário que haja um equilíbrio no consumo das famílias. Se o consumo estiver alto e a indústria não estiver preparada, o resultado é inflação de consumo. Se por medo de pobreza, ou qualquer outro motivo, as pessoas não comprarem (e é estritamente necessário que se compre futilidades, como carro novo todo ano, ou TV nova depois de 10 meses que se comprou uma outra), o resultado é uma possível desaceleração do PIB (desaceleração é quando o crescimento é menor que a tendência dos anos anteriores ou do quadro econômico do momento) ou recessão, que acaba por gerar queda no PIB e resulta muma economia estagnada, em último caso.

A essa altura você deve estar se perguntando qual o real motivo de existirem as tais óticas do PIB. É bem simples, e é para evitar que a inflação acabe por inchar um crescimento que não existiu. Existe o PIB nominal e o PIB real (você já deve ter ouvido a Fátima Bernardes usar esses termos). A diferença entre eles é simples: o PIB nominal mede os preços de venda dos produtos, que aumentam normalmente devido a inflação, e inflam o PIB artificialmente; enquanto o PIB real se fixa na quantidade de coisas produzidas e vendidas, obtendo um valor real de crescimento, e desvinculado a aumentos inflacionários.

Outro ponto importante divulgado pelas metades em jornais, é quase como uma pegadinha, aparentemente feito para confundir quem o está assistindo. Existe uma diferença brutal e gritante entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico. O crescimento é medido da forma como mostrada nesse texto, e é pelo PIB, e indica a variação entre um período e outro, geralmente um ano ou um trimestre.

Já o desenvolvimento diz respeito a como essa renda é distribuída. É o famoso IDH, medido por um órgão da ONU, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Os fatores que influenciam no número do IDH - que varia de 0 a 1, sendo 1 o máximo - são expectativa de vida, escolaridade, e renda per capita (que é o PIB divido pelo número de habitantes do país).

Em outras palavras: para garantir um bom IDH, ou desenvolvimento, não é necessário apenas crescer economicamente, mas saber distribuir e gastar aquele dinheiro em benefício da população. Se o governo não gastar em educação, saúde, e saneamento básico, não obterá um bom IDH. Então, esteja atento também a esse índice para saber melhor as condições do país. Mais detalhes de IDH AQUI.

 

IDH mundo

Quer ver um exemplo? Vamos ao nosso próprio. O Brasil é a décima maior economia do mundo se levarmos em conta o PIB… mas possui um vergonhoso 75º lugar no ranking do IDH mundial. Ah, ele perde pra Rússia, México, Venezuela, Cuba, Argentina, e Uruguai. Lindo, não?

 

Surgindo dúvidas é só perguntar aí nos comentários, que faço o possível para responder na próxima edição da coluna. Esse post foi meio chato por fugir um pouco da nossa linha de raciocínio sobre a inflação e os meios de combate a ela, mas foi importante para entendermos porque é tão importante se manter o crescimento econômico do país. Na próxima edição conheceremos o grande vilão do Capitalismo! Spoiler: os bancos são parte dele!

Até lá…

 

[Com informações do Blog Kantega]

2 Comentaram...

Sandir Costa disse...

Excelente post!

Consegue ser claro, sem entrar nos pormenores, e consiso!

Parabéns!

Anônimo disse...

Incrivel, que mesmo diante do obvio, muitas pessoas ainda reproduzem o discurso das elites brasileiras que antagonizam cuba e venezuela. Tem seus problemas com a democracia (cuba), tem seus problemas com a imprensa (venezuela), mas que pelo menos tem seu desenvolvimento muito melhor que o nosso. O Brasil é desigual, é um fato! A justiça não é pra todos, uma educação de qualidade não é pra todos, moradia digna é um sonho... Mas as informações estão circulando, contextualização está sendo feita, as pessoas vão cada vez mais ficar cientes de seus deveres e direitos. Viva a internet e viva aos blogs .

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