sábado, 10 de maio de 2008

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HyperEspaço nº 13 - Violins

 

                         violins

 

Por FiliPêra

Após um hiato gigantesco a minha quase esquecida coluna (que deveria ser semanal, e foi nos primeiros meses) está de volta!

Vocês já devem ter reparado como abundam por aqui artistas internacionais. Na verdade não só na música, mas em quase tudo (e não só aqui, mas na maioria dos veículos de mídia e Blogs), desde cinema até HQ's, é bastante difícil encontrar produtos nacionais. Não que no nosso país não exista coisa boa, muito pelo contrário, mas o que existe não recebe divulgação e tem pouco apoio por parte tanto do governo, tanto dos próprios veículos de comunicação. Então fica realmente difícil de chegar aos fãs o CD/HQ/Filme. A internet ajuda a diminuir isso, vide a divulgação do novo CD da banda Leela, com bons virais e ARG's, mas no geral conhecer o cenário cultural brasileiro é uma tarefa complicada.

Na verdade tudo isso foi pra começar a falar da melhor banda brasileira na minha opinião: o Violins.

A começar por suas melodias, possuidoras de complexidade e ambição poucas vezes vista na música nacional. Seus acordes e até o vocal de Beto Cupertino levaram a comparações com o Los Hermanos, que a pouco tempo se separou "por tempo inderteminado". Parte é verdade, parteviolins_musicasocial não. As bandas são parecidas, mas utilizam musicalidades diferentes. Enquantos os Hermanos mais e mais se esforcavam para explorar os limites de sua sonoridade, incluindo elementos de bossa nova e samba de raiz, o Violins cada vez mais se aprimora em mostrar como seria o Radiohead se tivesse ouvido menos música eletrônica e diminuído suas influências de jazz. Mas não pense que eles ficam presos a essa característica. Seus álbuns cada vez mais estão numa ascendente, tanto musical, como em suas tocantes letras e a cada novo da banda vemos uma busca por evoluções sonoras, o que causa afastamento de fãs de ocasião.

Outra de suas poderosas características são a sobriedade e a superioridade de suas letras, com temas que vão desde traições até a violência. E o melhor: fazem isso de uma forma completamente diferente do rock "mainstream" brasileiro, com seus "skatistas machões" e "marginais alados".

A trajetória musical do grupo goiano é diversa. A sonoridade dos seus álbuns mudaram bastante com o tempo, e somente no último, A Redenção dos Corpos, de 2008 é que eles voltaram ao som que bananada_violins imprimiam no início de suas carreiras, mesmo sem esquecer sua vitoriosa trajetória até aqui. Isso poderia soar muito bom (ou muito ruim) para uma banda comum (principalmente para os fãs chatos). Mas isso não é verdade para o Violins. Tanto seu álbum de estréia, Aurora Prisma, com seus belíssimos e sensíveis arranjos, quanto o penúltimo (e melhor), Tribunal Surdo, com suas guitarras sujas e seus riffs pesadíssimos soam praticamente perfeitos, sem elementos fora do lugar; além de terem uma coisa que falta à maioria das bandas brasucas: ambição. Toda a musicalidade do Violins soa livre de amarras mercadológicas, com letras que surgem para fazer sentido e não simplesmente para fazer frente a uma guitarra e uma bateria.

Quer um exemplo? Pegue a (pesada) letra da música Grupo de Extermínio de Aberrações:

Atenção, atenção!
Prestem atenção ao que vamos dizer
Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações
de toda sorte que você possa conceber
vindo até vocês pra pedir
qualquer quantia que se possa fornecer
e eu garanto que seus filhos agradecem
por crescer sem ter que conviver
com bichas e michês
e pretos na tv

 

Já deu para perceber que não é das mais fáceis. A dita música foi eleita a melhor música nacional de 2007 por diversos veículos especializados, como o Scream & Yell. E à toa não foi; afinal não é todo o dia que vemos uma letra com tamanho peso, mas que reflete, metafóricamente, a realidade que nos rodeia!

 

Discografia

 

 cover-auroraprisma-big

 Aurora Prisma

Primeiro álbum dos goianos, que como já foi dito tem os acordes mais sóbrios e mais sensíveis de todos os álbuns. As melodias muito lembram uma das bandas-ídolos deles: o Los Hermanos, e melhor ainda, com pitadas de Radiohead. Ouça O Vendedor de Sol e comprove!

Mas nem só de sensibilidade é feito Aurora Prisma como comprova Feche seu Corpo. E o ritmo vai subindo com Auro-Paparazzi, que faz qualquer fã amargurado com o fim do grupo de Marcelo Camelo sentir arrepios.

Quanto à temática do álbum (fator sempre importante na discografia da banda)... parece até que eles queriam mostrar que estavam no início de sua trajetória e estavam nos preparando para isso. As canções falam de amores perdidos, mas igualmente de perdões e reaproximações. Tudo isso sem medo de parecerem piegas (e não são!) ou sentimentalóides.

Antes de ouvir um aviso (que você já ouviu diversas vezes por aqui e vai continuar ouvindo): ouça mais de uma vez antes de chegar a uma conclusão!

Top 3 do álbum: O Vendedor de Sol, Auro-Paparazzi e Sim Sentido

Nota: 7,5

 

 grandes infiéis

Grandes Infiéis

Aqui nesse álbum o Violins começa uma jornada rumo à obscuridade da alma humana. A temática romântica do álbum pode lembrar um pouco o anterior, mas basta uma audição mais demorada para se perceber que ele soa como um lado negro de Aurora Prisma. As letras, mais pessimistas, apontam para paixões perdidas, traições e mentiras, apesar da voz de Beto Cupertino ser calma e límpida, passando longe da modernidade, que aponta para Julian Casablanca se esgoelando à frente do Strokes.

O som, mais pesado, mas ainda com o romantismo (agora amargurado) que marcou a banda, busca o perfeito contraponto conseguido por poucas (mas buscado por muitas) bandas após o Radiohead fase The Bends. Destaque para a capa, sem os egos inchados do rock nacional, com apenas um desenho de uma gaiola aberta. Sem nomes ou títulos.

Top 3 do Álbum: Hans, Il Maledito e Atriz

Nota: 8,0

 

tribunal surdo

Tribunal Surdo

A jornada temática dos trabalhos do Violins é quase como a jornada de Anakin Skywalker. Começou colorida e tranquila, com A Ameaça Fantasma, teve como capítulo central A Guerra dos Clones e teve seu lado negro totalmente mostrado em A Vingança dos Sith. Com os goianos não foi diferente: tudo começou romântico com Aurora Prisma, deu uma guinada para o lado negro com Grandes Infiéis e decidiu seu lado definitivamente (não lançar álbuns fáceis, o que é extremamente praticado na cena musical brasileira) com Tribunal Surdo, o mais pesado dos três álbuns, mas que fala somente a verdade, mesmo que de uma forma assustadora.

              

"Cada um é um assassino sem coração / esperando pra rir dentro de um camburão / com sangue nas mãos / nós somos delinqüentes belos em mundos possíveis";

diz a letra de Delinquentes Belos, sem medo de errar. É apenas o começo de uma jornada rumo à violenta realidade que nos rodeia, mas que às vezes evitamos encarar.

Se Grupo de Extermínio de Aberrações, que pela letra corajosa e impactante foi considerada a melhor música nacional do ano, Tribunal Surdo nos reserva outras pérolas, como Missão de Paz na África e Anti-Herói (parte I e II). As duas conseguem versar sobre traições tão bem quanto o álbum anterior. Se quer uma música das mais sarcásticas, ouça Saltos Ornamentais Árabes para Atiradores Americanos.

              

Denso, barulhento e triste ao extremo, não ouça se tiver estômago fraco, se gostar de Jota Quest, ou finais felizes, pode ser impressionante demais para você. Mas se tem um disco que deveria representar o rock nacional com certeza ele é Tribunal Surdo.

Top 3 do Álbum: Grupo de Extermínio de Aberrações, Delinquentes Belos e O Interrogatório.

Nota: 10,0

 

a redenção dos corpos

A Redenção dos Corpos

O que fazer após lançar uma obra-prima do quilate de Tribunal Surdo? Muitas bandas quebraram a cabeça, e não conseguiram continuar uma jornada ascendente (ou pelo menos manter o lugar em que estava) após lançar o CD de suas vidas. Mas outras conseguem. É o caso das principais referências e inspirações do Violins. O Radiohead lançou Kid A após OK Computer (um dos melhores CD's da história) e o Muse lançou Black Holes and Revelations após ganhar as paradas com o clássico Absolution. Com o Violins não foi diferente. Eles não tentaram superar sua obra-prima, mas partiram para novos mares, mesmo sem esquecer seu passado.

É o que exala esse a Redenção dos Corpos, com mais experimentalismo e uma instrumentação ainda mais apurada do que Aurora Prisma. Saem as guitarras e entram orgãos, percursões e ruídos eletrônicos, lembrando um pouco Amnesiac, do Radiohead. O único elemento que lembra que ainda estamos diante do Violins de momentos é a bela voz de Beto Cupertino.

                                       Violins - A busca
                      

Mas não pense que eles ficariam contentes em apenas lançar um álbum desse quilate (o que já estaria de bom tamanho). A Redenção dos Corpos foi dividido em duas partes (da música 1 a 7 e da 8 a 14), cada uma com suas particularidades, principalmente sonoras. Se a primeira parte, marca uma evolução dos primeiros momentos do Violins, a segunda parte traz uma volta (mesmo que menor em intensidade) aos dois álbuns anteriores, com guitarras a frente do tom. Mas espere até um pouco de experimentalismo, como na música Entre o Céu e o Inferno, que em alguns momentos lembra trechos de The Mars Volta.

                           violins - entre o ceu e o inferno
                     

 

Claramente esse é um álbum de consolidação, com toda a fórmula que tornou o Violins a melhor banda do rock nacional (mesmo que boa parte de sua população não saiba disso), mas não pense que ser um fã da banda é fácil. Quem sabe quando chegará a próxima revolução e uma mudança sonora drástica?

Top 3 do Álbum: A Busca, Padre Pedófilo e Festa Universal da Queda

Nota: 9,0

 

Site oficial da banda 

 

Obs: Eu propositadamente deixei de fora o primeiro álbum real da banda, Wake Up a Dream, que era um EP e era cantado em inglês.

 

E espere mais bandas nacionais daqui para a frente aqui no NSN!!!

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