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Encare isso. Esse vai ser o melhor título do Superman em todos os tempos, e os fãs de histórias em quadrinhos em 2005 vão cair de joelhos e agradecer aos deuses porque puderam viver para ver isso... na minha humilde opinião.
Grant Morrison
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Por FiliPêra
"Planeta condenado. Cientistas desesperados. Última esperança. Casal gentil". São essas as palavras que Grant Morrison usou para complementar os lindos desenhos de Frank Quitely, e contar toda a origem do Superman. Ao contrário do que possa parecer, por seu tamanho reduzido, a página é carregada de emoção e substitui com perfeição, e um sucesso muito maior, as inúmeras trajetórias e acrescentos que diversos roteiristas fizeram à cronologia do Homem-de-Aço ao longo dos anos.
Não é à toa que o tiro de ousadia não saiu pela culatra. Morrison é um dos maiores roteiristas de HQ's da história e esperou por muito tempo pela oportunidade de ter em mãos um projeto como esse. A DC sabe que nele pode confiar (o mesmo não pode ser dito de Frank Miller, que está ocupado escrevendo Grandes Astros: Batman e Robin e já está fazendo uma lambança sem medidas) e por isso entregou ao escocês seu projeto mais ambicioso dos últimos anos (só para situa-los no tempo, o projeto, como disse Grant lá na frase lá em cima, é de 2005).
Mas a idéia para esse projeto não surgiu do nada. Foi uma resposta ao universo Ultimate da Marvel, que estava fazendo um sucesso avassalador, principalmente com Os Supremos e Ultimate Spider-Man, unindo liberdade critiva para os roteiristas e respeito à décadas de cronologia. Na verdade a linha Ultimate estava mais para uma reformulação do truncado universo Marvel (o Universo Marvel é truncado, o DC é um labirinto) dando a ele mais fôlego para leitores mais novos acompanharem as histórias dos heróis da editora.
Com a linha DC All Star (traduzida no Brasil, como Grandes Astros), a aposta foi diferente. Eles não estavam querendo criar um novo universo (chega desse lance!). Eram simplesmente grandes histórias, escritas por grandes escritores. As palavras de Dan Didio, vice-presidente executivo da DC, servem muito bem para resumir a proposta de Grandes Astros: "São roteiristas e artistas estelares, trabalhando com personagens estelares para contar histórias em quadrinhos estelares". O objetivo central é criar uma antologia de histórias definitiva para os personagens que ganharem títulos para a linha. Não é uma reformulação, é "simplesmente" um conjunto de grandes histórias do gênero de super-heróis. Secundariamente a proposta de All Star é limpar um pouco as idiotices que alguns personagens ganharam nos últimos anos. Pense no Superman Elétrico e nos Supermen Azul e Vermelho, que ganharam corpo no início dos anos 90, e entendam que às vezes roteiristas fazem besteiras inomináveis.
Paralelamente às motivações da DC na criação do título, a escolha de Grant Morrison para tocar o título do Superman, teve uma história de fundo. O começo foi no fim dos anos 90. Morrison apresentou um projeto à direção da editora DC, para uma série de histórias do Superman. Por burrice dos executivos um motivo qualquer eles não aceitaram a proposta. O resultado não poderia ser mais disastroso. Grant foi para a Marvel e escreveu a mais bem sucedida série de arcos que os X-Men já viram (não por coincidência, o desenhista da série é o mesmo Frank Quitely). Tanto que o título passou a ser chamado de New X-Men. Após um grande inverno na Casa das Idéias, Morrison voltou para seu lar; lugar onde ele havia lançado suas maiores obras-primas: Os Invisíveis, The Filth, Homem-Animal, entre outras. Como prêmio ele passou a ser consultor editorial e passou a ter passe livre para criar projetos autorais. Como prova de sua própria genialidade, Morrison escreveu o monumental projeto Os Sete Soldados da Vitória, que, apesar de não ser uma unanimidade, é visto como uma das séries mais ambiciosas de todos os tempos. E algum tempo depois ele afirma, com toda a sua pompa britânica, que sua vida toda havia sido unicamente para escrever essa série.
Na verdade quem tirou a sorte grande nesse processo foi o Homem-de-Aço. Apesar de ser o personagem mais conhecido do universo de super-heróis e um dos mais lembrados da cultura pop, ele sempre foi massacrado. Mas Morrison joga pela janela seu passado triste e dá à ele uma nova vida, uma série para todos os fãs amarem.
Aproveite Super, não é todo o dia que isso acontecerá!
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Abaixo estão as resenhas das seis primeiras (de um total de 12) edições dessa, que promete ser a melhor série do Superman em toda a história. Um aviso: alguns spoilers podem aparecer nos textos abaixo!
Edição 1
Admito que nunca gostei de Superman. Apesar de todos os seus super poderes, o herói é por demais bobo, e todos os seus problemas derivam da sempre irritante kryptonita. E fora isso, o herói, salvo algumas grandes excessões, nunca ganhou nada realmente memorável. Por esse motivo não é um colosso de vendas há muito tempo.
Grant Morrison sabia disso tudo, mas não teve medo (muito pelo contrário) de tocar o projeto mais importante do kryptoniano em inúmeros anos. O resultado é belíssimo. Não só uma história moderna acerca do Super, mas uma grande homenagem ao seu passado glorioso, quando se tornou o super-herói mais conhecido do mundo, e praticamente um símbolo da sua "classe".
A trama é épica, e relembra , além de jogar uma nova visão, sobre todos os momentos importantes da cronologia de Superman, elementos deixados de lado em suas histórias recentes. Esqueça a reformulação feita por John Byrne na época da Crise nas Infinitas Terras, aqui o Superman voltou ao que era antes. Esqueça também os heróis sujos, violentos e quase irreconhecíveis de Crise de identidade (melhor minissérie da DC, no ano de 2004); a série é um revival da Era de Prata, mas com toques modernosos a lá Morrison.
Tudo começa quando Superman vai até o Sol para resgatar uma nave que estava em missão na estrela. Mas tudo não passava de um plano de Lex Luthor para mata-lo, sobrecarregando suas células com mais energia solar do que elas podem processar (ouviu como é que se faz um bom plano, não é Bryan Singer?). Mas, ao mesmo tempo em que condena Superman, ele o torna um deus (que pode empurrar 200 quintilhões de toneladas), várias vezes mais poderoso do que o normal. E é nessa jornada monumental que Morrison inclui na psicologia do herói a morte.
As doze edições que compõe a série Grandes Astros: Superman são uma grande apoteose de toda a jornada do herói até o momento, e relata seu caminho rumo a morte. Serve também para uma revisita contemporânea a vários elementos da mitologia do herói. Além de tudo isso é uma referência aos doze trabalhos de Hércules, não por coincidência, outro titã de força e um semideus da mitologia grega. E nessa primeira edição, Superman (e Clark Kent) quer acertar seu relacionamento com Lois Lane, logo após recebe a triste notícia do sobrecarregamento de suas células. A última página página dessa revista é linda (nunca pensei que falaria isso de uma HQ de Superman) e vai fazer (na verdade já fez) todo o fã do herói ter arrepios.
Para tornar tudo ainda melhor, o artista escolhido é Frank Quitely, que de tão inspirado parece que esse será seu último trabalho. Com sua arte, todo o ar meio inocente da Era de Prata parece que retornou. Também pudera, o artista não é qualquer um. Contribuiu com Morrison em alguns de seus melhores trabalhos, como New X-Men e We3. Sua narrativa está entre as melhores da atualidade (junte com ele Eduardo Risso de 100 Balas), conseguindo milagrosamente passar em 24 páginas o que muito desenhista não consegue com 50. As expressões faciais e "movimentos" de seus personagens são o máximo que se pode alcançar com os quadrinhos. Ele também é o principal responsável por finalmente entendermos como Superman usa Clark Kent como símbolo do que ele pensa da humanidade, e também como ele consegue não ser descoberto, mesmo apenas colocando um óculos como disfarce.
Se apenas essa revista da série fosse lançada ela entraria para a história, mas é apenas o início da mais importante jornada, do mais conhecido herói do planeta!
Edição 2
Superman revela a Lois Lane sua identidade secreta. A reação não poderia ser mais inesperada: ela simplesmente não acredita! Também pudera, ela é uma grande jornalista, ganhadora de Prêmio Pulitzer, e simplesmente não pode descobrir que o maior herói da Terra está ao seu lado. O surto que ela tem é altamente explicável, pelo menos para ela mesma.
Superman então a leva para a Fortaleza da Solidão. Ao contrário de outras representações do lugar, aqui ela serve como uma "cápsula do tempo", um lugar onde o herói deposita todas as maravilhas que ele conquistou. As mudanças são logo percebidas na chave que abre o local. A gigantesca chave dourada de Crise nas Infinitas Terras, aqui dá lugar a um modelo em tamanho real, mas peso de meio milhão de toneladas; feita com material de uma estrela-anã super densa. Já dentro da Fortaleza, Lois contempla um comunicador que ajuda o Superman a falar com suas versões do futuro, um pequeno devorador de sóis - alimentado por estrelas feitas pelo próprio herói - e o Titanic. Mas há uma sala que está fechada para ela, o que leva a uma pequena desconfiança por parte dela.
A continuidade da "releitura" de Superman feita pelo autor, aqui alcança ares belos, mesmo com Lois Lane surtando no meio da revista (ao menos Superman descobriu que está imune a kryptonita verde). Até para os não-fãs do herói (como Eu) a série faz um sentido absurdo. As denominações "complicadas" de Morrison só ajudam. É como assistir House sem saber uma linha de Medicina; são os personagens ali apresentados que fazem toda a série ser o sucesso que é.
Perfeito!
Edição 3
Como forma de compensar o choque da revelação de identidade, Superman prepara para Lois um presente para o aniversário dela. Uma fórmula que reproduz seus poderes, por um dia, para quem a tomar. Além disso confecciona para ela um uniforme similar ao seu. A dupla de heróis parte para Metrópolis, que está sendo atacada por imensos répteis provenientes do centro da Terra. Mas antes que Superman e Lois (a Supermulher por um dia) enfrentem os monstros surgem Atlas e Sansão, dois símbolos de força e acaba com eles. Começa então um pequeno flerte e uma disputa pela mulher, empreendida por três seres superfortes, representantes de mitologias próprias.
A coisa mais interessante nessa história é o seu mote central. Não vemos Superman salvando o mundo. Aqui ele usa seus vastos poderes para, unicamente mostrar sua masculinadade para Lois. Mais uma vez não é o normal nas histórias do Escoteiro Azul; quando o grande clímax é ele livrar todo o planeta de uma ameaça gigantesca, e não dar um beijo em Lois Lane na Lua, como acontece por aqui. É em momento assim que vemos humanidade no herói. E é em conceitos e detalhes, pequenos como este, que reside a força e a superioridade da trama de Morrison, frente ao passado do herói.
Edição 4
Essa edição é calcada em Jimmy Olsen, o jornalista do Planeta Diário. Sua coluna semanal vende como água. E é justamente para escrever uma de suas colunas, que tem como tema "Jimmy Olsen Por um Dia", que ele fica no lugar do excêntrico diretor do P.R.O.J.E.T.O, que parte em uma viagem por 24 horas. Após um incidente Superman é chamado e termina por ser impregnado com kryptonita preta, que altera seu estado mental.
Morrison começa a mostrar aonde ele realmente quer chegar com essa série. É claro que ele ainda não dá mostras de como será seu final, mas já dá um passeio por todos os aspectos da cronologia do Superman. Primeiro o transforma em um deus (que passa a saber que vai morrer); depois foca em seu relacionamento com Lois Lane, enquanto ele enfrenta outras divindades. Agora chegou a vez de Jimmy Olsen. E o conflito aqui é psicológico, com o Super completamente alterado pela kryptonita preta. E tudo se resolve ao final. É ou não é uma ode aos bons tempos do Homem-de-Aço?
Edição 5
Chegou a vez de colocar Lex Luthor na berlinda, ao mesmo tempo em que Clark Kent entra na trama. O repórter (ele realmente não parece com o Superman) vai até a cadeia onde está o vilão, logo após ele receber a condenação à morte por cadeira elétrica. Mas o que parecia ser apenas uma entrevista exclusiva se transforma num complexo e bem armado jogo psicológico.
Luthor expõe o plano que condenou, e pede para que Kent o publique; isso tudo sem saber que está diante de seu arqui-inimigo. É como um jogo de gato e rato às avessas. É onde, pela primeira vez, pude perceber como funciona a mente invejosa de Luthor, vendo em Superman a única barreira para a conquista do planeta por ele.
Grande destaque para a arte impecável de Frank Quitely. À primeira vista seus personagens podem parecer infantis, mas a impressão logo passa. A narrativa do artista é primorosa, e aqui ele é forçado ao seu limite, com o jogo psicológico entre os dois personagens principais e todos os acontecimentos na prisão. Morrison e Quitely são uma dupla e tanto e fazem aqui um de seus melhores trabalhos!
Edição 6
Outro aspecto da vida de Superman/Clark Kent é revelado por Morrison. Nessa edição é seu passado fazendeiro dele que é mostrado. Para isso Morrison volta no tempo e mostra sua vida pré-mudança para Metropólis. Esqueça (mais uma vez) as mudanças pós-Crise nas Infinitas Terras. Aqui vemos Krypto, e Clark já usa uniforme, além de ter poderes mais fracos. Também vemos as inserções de três Supermen do futuro, mais preparados para enfrentar a ameaça que chegou até a fazendo Kent.
Mas num momento de descuido, Clark deixa seu pai morrer. A morte, definitivamente parece ser o clima da série. Vemos que nem tudo está em seu devido lugar, e a morte de Jonathan só acentua isso.
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Autor: Grant Morrison
Artista: Frank Quitely
Nota: 9,5
E prepare-se, as emoções de Grandes Astros: Superman só estão começando. Já, já sai a resenha das edições 7, 8 e 9.
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