terça-feira, 5 de agosto de 2008

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Arquipélago Gulag

 

arquipelago

Por FiliPêra

 

Sabe aquelas notícias sinistras que você lê/vê/ouve sobre outros países que fazem você gostar de viver no Brasil? É essa a primeira impressão que se tem ao ler Arquipélago Gulag. Você se aperta na sua cadeira, agradecendo, por não morar em uma residência da antiga União Soviética do período stalinista. Por um momento você esquece a corrupção policial, os juízes que vendem sentenças, escândalos legislativos e grupos de exterminío. Teve gente que passou por muito pior. Esse livro tem ainda  o poder de te fazer esquecer, por alguns instantes, de quão ruins são os traficantes cariocas. Você acha a nossa polícia autoritária? O MVD, o Rabkrin, e o KGB são piores. Nossos juízes são corruptos? Gente como o Comissário Eziépov (que matou um oficial da Força Aérea para transar com sua mulher POR UMA ÚNICA NOITE) , e o Coronel Eliazov (que se tornou conhecido por que quebrava a coluna de seus interrogados) conseguem ser mais. 

O livro, escrito por Aleksandr Solzhenitsyn, mostrou pela primeira vez como era longo e potente o braço armado de Stalin dentro do país que ele controlava; e como eram as temíveis cadeias soviéticas. Uma pessoa literalmente não sabia se acordaria em liberdade, após uma noite de sono. Ele ainda expõe os métodos nefastos que as autoridades policiais usavam para coagir as pessoas a confessarem. Em uma das partes mais brutais do livro Alexsandr lista os métodos de tortura preferidos pelas autoridades policiais.

Toda a narrativa é arrastada (fato que afastou o BruNêra da leitura do livro), como a jornada de um prisioneiro que viajava o país por diversas cadeias e centros de detenção aguardando a condenação, praticamente certa. E os diversos capítulos são construídos com base em depoimentos de 227 prisioneiros e conversas ouvidas pelo autor em suas andanças pelo sistema carcerário. O trabalho de edição, para tornar tudo coeso foi gigantesco.

 

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Não tenha dúvida de que está perante um verdadeiro livro de terror. Não aquele terror distante, que abusa de seus medos do desconhecido. O autor aqui nos mostra um universo horrendo e verdadeiro, em que a corrupção humana é levada aos seus limites, orientada simplesmente pelo instinto mais perverso do ser humano: o desejo de ter poder sobre os outros. E as autoridades policiais do período stalinista (não pense que foi unicamente Stalin que fez uso desses métodos, mas ele não deixa de ser um símbolo) mostram quão longe um homem pode chegar para se manter no poder, ou unicamente para satisfazer sua paranóia. O período do Grande Terror, perpretado por Stalin, entre 1935 e 1937 só tem paralelos com Idade Média e a Inquisição, principalmente a esponhola, na figura de Torquemada.

E logo após mostrar como é a detenção, e todo o seu cuidadoso processo para encontrar o acusado da forma mais amistosa posível, o livro parte para a história das "canalizações"; como ele chama as torrentes incontáveis de pessoas que saíam de suas vidas para se tornarem prisioneiras. Mas não pense que, uma vez lá, eles obteriam um  julgamento justo e talvez retornariam às suas casas. Não! Uma vez estando o infeliz num trem de prisioneiros, a probabilidade de você retornar à sua vida é ínfima, praticamente nula.

Arquipélago Gulag é uma leitura pesada, sofrida, e definitivamente não é para todo o mundo. Prepare-se para sofrer juntamente com as vidas destruídas por anos de paranóia e sanguinolência. Mas, ao final, pode ter certeza que você será uma pessoa que, antes de tudo, vai dar muito mais valor a sua liberdade!

 

Ano de Publicação: 1973

Autor: Aleksandr Solzhenitsyn

Páginas: 608

Nota: 9,5

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O Autor

FILES-FRANCE-RUSSIA-BIO-SOLZHENITSYN

Solzhenitsyn sabe muito bem sobre o que escreveu. Foi prisioneiro durante a II Guerra (na época ele era oficial de artilharia e foi preso por criticar o regime em carta a um amigo), e rodou durante diversos anos pelos campos administrados pelo Gulag (acrônimo que significa Administração Geral dos Campos, a entidade que administrava todos campos de trabalhos forçados da URSS). Com a desestalinização empreendida por Nikita Kruschev ele foi libertado, mas com a subida de Leonid Brejnev ao poder, em 1964, o regime pareceu apontar novamente para uma direção mais dura. Em 1974, o autor foi expulso da URSS e só retornou em 1994, sob a proteção da perestroika e de Gorbachev.

Pelo seu trabalho, ele ganhou o Prêmio Nobel em 1970. Suas obras mais importantes são: O Primeiro Círculo, que relata a primeira etapa de suas andanças (o título é uma referência ao inferno descrito por Dante, em A Divina Comédia); Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, que mostrou pela primeira vez como é a rotina nos campos de trabalhos forçados; e, é claro, Arquipélago Gulag.

Ele morreu no último dia 3, de insuficiência cardíaca, em Moscou, onde residia, aos 89 anos.

 

3 Comentaram...

Anônimo disse...

Pelo pouco que li já me deu uma grande vontade de ler os três livros, vou comprá-los urgentemente. Creio que seja uma trilogia e que daria um excelênte filma

P disse...

Mto legal esse livro... quer dizer, não sei, pq nunca terminei. Já comecei três vezes e chega num ponto que eu fico tão deprê que páro... Agora comecei pela quarta vez e quero ver se consigo terminar de vez.

Anônimo disse...

A propósito, existem edições novas e atuais do Arquipélago Gulag? Creio que não. Provavelmente todas as grandes editoras do Brasil já receberam um "recado" do governo petista-comunista para nunca mais publicarem este livro, que mostra a verdadeira essência do marxismo-comunismo-socialismo. estes são os Donos da Verdade, e se você não concorda com eles, cuidado para não enviado para um gulag...não demora e estaremos lá...

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