quarta-feira, 4 de agosto de 2010

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Pink Floyd - Dark Side of the Moon

Por Felipe Camargo*

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Tempo. Dinheiro. Nós e eles. Podiam ser títulos de qualquer música composta nos dias atuais, mas são faixas do álbum conceitual Dark Side of the Moon, da banda inglesa Pink Floyd. Por conceitual entende-se um tema único para todas as músicas, além de não haver uma pausa entre as mesmas, como se o disco todo fosse composto de apenas uma faixa. No atual CD, é possível ouvi-lo em uma tacada só. Na época que foi lançado, 1973, o disco de vinil obrigava uma divisão da obra em duas partes, ainda que ligadas entre si.

Dark Side antecipou muitas tendências do mundo da música: foi o primeiro a incorporar elementos eletrônicos em canções de blues e rock - o que hoje é praxe, vide o crescimento da importância de um DJ nas produções musicais de diversos estilos, desde a MPB até o britpop. Os efeitos sonoros eram produzidos de forma mecânica, e muitas vezes não tinham relação com o som que produziam (como no caso da introdução de Money, em que foram usados diversos objetos, menos caixas registradoras). Também foi pioneiro na capa do disco, um dos primeiros de uma banda de rock sem a presença de seus integrantes – hoje, é mais comum este tipo de arte nos álbuns. Na época, membros da gravadora consideraram a capa um fracasso.

A sonoridade também é destoante da produção musical da época: solos de saxofone, como os presentes em Money e Us and Then, dão um clima mais ameno ao álbum. Falando em solo, o de guitarra em Time é um dos mais memoráveis da história do rock: uma melodia simples, triste e bonita, que contrastava com os virtuoses da época e faz oposição às microfonias dos grupos atuais. As vozes parecidas de David Gilmour e Richard Wright, guitarrista e tecladista, respectivamente, muitas vezes cantadas junto, dão a impressão de serem a mesma, nas primeiras faixas. Já nas últimas, somente Roger Waters, o baixista que escreveu todas as letras do disco, solta a voz, criando uma evolução sonora que dificilmente será ouvida em qualquer outro disco.

Outro ponto especial dos aspectos sonoros é a alternância entre músicas cantadas e instrumentais. Os espaços “em branco” também são valorizados no disco. O Pink Floyd não cedeu à ansiedade de preencher todas as lacunas, dando ao ouvinte um momento de descanso e reflexão sobre o que ouviu e o que há por vir.

Em entrevistas sobre o álbum, Waters revelou que preza por estes espaços nas suas produções. Um exemplo no álbum é a faixa The Great Gig in the Sky, instrumental e com uma improvisação vocal feminina que ficou marcada pela melodia e sentimento contidos na música.

As pressões da vida moderna são o tema principal das letras. Logo pelos títulos de algumas músicas, citadas no início desta crítica, já é possível ter uma noção disso. Falar sobre dinheiro, tempo (ou a falta dele), individualismo, danos cerebrais (que podem ser desde crises depressivas até alienação) é ser atual tanto nos anos 70 quanto nos atuais. E o famoso humor inglês, ácido e sem papas está presente tanto em Time (Hanging on in quiet desperation/Is the English way, ou Insistindo num desespero quieto/ É a maneira inglesa de ser - em uma tradução literal), Brain Damage (The lunatics are in my hall/The paper holds their folded faces to the floor ou Os lunáticos estão no meu corredor/ O jornal prende seus rostos dobrados no chão) e Money (Money, get away/Get a good job/With more pay and you're O. K. ou Dinheiro, vá embora/Arrume um bom emprego/Com um salário melhor você fica bem).

Todos esses elementos remetem a Syd Barret, um dos membros fundadores da banda, que teve um surto psicológico e teve que sair do grupo, dando lugar a David Gilmour. O acontecimento teve um impacto muito grande nos músicos, e é possível perceber citações a esta crise em todos os álbuns.

Dark Side of the Moon é um dos álbuns mais vendidos da história. A qualidade das músicas, teorias em torno da produção (há uma que diz que o disco foi feito em sincronia com o filme O Mágico de Oz) e as conseqüências dele para o mundo da música (dizem que o movimento punk ganhou força em contraponto à excessiva técnica do disco) corroboram isto. I 'll see you on the dark side of the moon.

Faixas:

1. "Speak to Me/Breathe" (Nick Mason, David Gilmour, Roger Waters, Rick Wright) - 3:59

2. "On the Run" (Gilmour, Waters) - 3:35

3. "Time/Breathe (Reprise)" (Gilmour, Waters, Wright, Mason) - 7:04

4. "The Great Gig in the Sky" (Wright, Torry) - 4:48 (originalmente somente por Wright. Cedida parte da autoria a Clare Torry depois da mesma ter exigido parte dos direitos de autor por ter improvisado por cima do famoso instrumental)

5. "Money" (Waters) - 6:24

6. "Us and Them" (Wright, Waters) - 7:49

7. "Any Colour You Like" (Gilmour, Wright, Mason) - 3:26

8. "Brain Damage" (Waters) - 3:50

9. "Eclipse" (Waters) - 2:04

 

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*O Felipe Camargo escreveu sobre Gundam 00 pra gente, há quatro meses.

12 Comentaram...

@Man_riques disse...

Considero esse um dos discos de minha vida, herdei do meu pai e tenho o bolachão até hoje, rsrs.

Não fez nenhum comentário sobre a sincronização do disco com o filme The Wizard of Oz, sendo planejada ou não, é fantástico assistir o filme ao som deste disco.

Philipe disse...

Melhor disco de todos os tempos, melhor banda de todos os tempos.

Abs

@edenfall disse...

Concordo com o @Philipe: melhor álbum e banda de todos os tempos.

Planeta Laranja disse...

Eu tenho o disco e gosto de ouvi-lo na integra, não faixa por faixa. Ouvir as faixas deste maravilhoso disco isoladamente não tem graça.

Esse aspecto de unidade dado ao disco é herança da música clássica, estilo que muito influenciou o rock progressivo, gênero em que o Pink Floyd é um dos maiores e mais famosos expoentes.

AndréRocks disse...

Já ouviram a versão do Flaming Lips?

http://blogarorock.blogspot.com/2010/08/flaming-lips-dark-side-of-moon.html

Anônimo disse...

Não é querer ser aquele velho chato que sempre diz "no meu tempo é que era bom". Mas esse disco, comparado a muita coisa "nova" de hoje, é uma verdadeira obra de arte.

Pink Floyd é uma das melhores bandas de todos os tempos.

Unknown disse...

Faltou a nota! Se der 10 os outros dezes serão todos 9,5.

Unknown disse...

Fiquei realmente feliz por ler sobre minha banda e album preferido no meu blog preferido!
Muito bom comentário. Falar de TDSOTM é um tanto fácil já que é um álbum quase perfeito, mas mesmo assim poucos se arriscam, está de parabéns!

Quanto ao fato do disco ser conceitual e ter uma música ligada a outra, eu mesmo considero o Dark Side como uma faixa só, quando o ouço, reservo 43 minutos só pra ele, nada de ouvir uma música só.

A excelencia desse album é tao grande que vc ainda pode ouvi-lo em várias versões, algumas eu passo o link pra vcs:
Versão Capella - http://www.darksidevoices.com/
Dub Side of the moon - http://www.lastfm.com.br/music/Easy+Star+All-Stars/Dub+Side+of+the+Moon
e a versão nerd - 8bits - http://www.youtube.com/watch?v=euLdKW_Db1k
entre outras

abrass
Tucu

Harley Coqueiro disse...

Obra prima. E como tal, não foi digerível na primeira garfada.

TDSOTM parece um diagnóstico sonoro sobre o surto do genial Syd Barret.

Antes dele: "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band"; depois dele: talvez "Ok Computer"...

Unknown disse...

falar o que , floyd é a melhor banda que já se teve, simplesmente a melhor,
ótimo post!

Brasil Verde disse...

Só pra ser um pouco chato:

A resenha é meio que chover no molhado, claro, o DSOTM é sensacional, assim como toda discografia do Pink Floyd, já tem quase 40 anos nas costas, e é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, ou seja, QUASE tudo o que poderia ser dito sobre ele já foi dito. Assim, o que justificaria mais uma entre, sem exageros, milhões de resenhas dele?

Bem, na minha opinião, basicamente, justificaria uma nova resenha dele três coisas:

- Uma resenha apaixonadíssima, algo que o autor não conseguisse guardar consigo e sentisse profunda angústia se não o exprimisse com urgência;

- Uma analise aprofundadíssima do álbum, de preferência faixa a faixa, com inúmeras curiosidades, explicações, interpretações, etc, algo que nesse disco não falta, a exemplo do Dark Side of the Rainbow, já citado acima, ou outro exemplo as falas ditas em algumas faixas como "There in no dark side of the moon really, in fact, it's all dark!", última frase do disco, dita por um porteiro do Abbey Road;

- Ou, por fim, e mais complicado algo, algo novo sobre ele...

Ainda alguns equivocos, com certeza DSOTM é uma marca na história do rock, e justamente por isso não precisa receber créditos que não tem, como: "Também foi pioneiro na capa do disco, um dos primeiros de uma banda de rock sem a presença de seus integrantes", o próprio Pink Floyd tem discos anteriores sem a presença dos integrantes na capa, como o Atom Heart Mother, com a famosa Lullubelle III, ou simplesmente "a vaca daquele CD de rock", de 1970, ou Master Of Reality de 1971, do Black Sabbath, e ainda The Book of Taliesyn de 1968 do Deep Purple e Let It Bleed de 1969 dos Rolling Stones, além de inúmeros outros. É verdade que era muito comum os integrantes em capas, mais pioneiro foi, no mínimo, exagero. Ainda dizer que o solo de Time não é virtuoso é meio que uma grande ignorância (no sentido real da palavra, desconhecimento, sem conotação agressiva, ofensiva, etc), a virtuosidade em se tocar guitarra não é medida apenas em notas por segundo, mas também em composição, harmonia, melodia, feeling, sem contar que o solo em si é sim extremamente técnico primando pelo feeling e melodias. E chamar músicas instrumentais de "espaço em branco" é uma grande violência, não somente, mas sobretudo neste momento, ao próprio Pink Floyd, que tem músicas com mais de 20 minutos de longas sessões instrumentais.

A resenha é meio boba (no sentido de inocência, e digo A resenha, de forma alguma o autor) por alguns deslizes, pelo não aprofundamento e pela falta de originalidade, e em se tratando de nerdsomosnozes e Pink Floyd os parâmetros de qualidade puxam qualquer critério de avaliação para cima, ou seja, para muitas outras bandas a resenha seria O.K., mas para um Pink Floyd ficou devendo.

De qualquer formar, falar bem do Pink Floyd nunca é perda de tempo, e de alguma forma apresenta algum aspecto da banda a quem por ventura não conheça nada além do nome.

Por fim, a quem considera música instrumental "espaço em branco", recomendo que reavalie sua opinião, e talvez Kind of Blue do Miles Davis possa ajudar, que pode-se dizer um disco sem nada, mas ainda assim excepcional, além de infinitos outros exemplos em praticamente todos os gêneros musicais.

Abraços.

sacolé disse...

Ótimo álbum, assim como o textol.

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