segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Avatar Murilo

Who Fighter & O Coração das Trevas

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Existem mangás famosos pela estranheza, confusão e perplexidade que causam em seus leitores. As histórias presentes em Who Fighter podem não ser tão insanas quanto as de outros mangás, mas tem seus méritos. O gibi é uma antologia de três histórias de guerra de Seiho Takizawa, mangaká pouco conhecido no Brasil. E não havia melhor maneira de apresentá-lo do que com contos isolados, sem a obrigação de ter que comprar vários volumes. A edição da HQM Editora impressiona à primeira vista. A capa linda, a impressão muito superior às de outras editoras de mangás brasileiras e um papel de alta qualidade. Mas lendo o material com mais cuidado se percebe alguns erros graves. Balões de personagens diferentes algumas vezes aparecem ligados como se fossem uma fala só. Não chega a atrapalhar a leitura, mas é um problema. A edição também traz o posfácio do autor. É interessante ver como esses artistas tiram idéias para novos quadrinhos.

 

Who Fighter

Houve anos em que choveram relatos de aparições de objetos voadores não identificados. Particularmente, durante a Segunda Guerra Mundial, vários pilotos afirmaram terem visto bolas de fogo sobrevoando os céus. Na época, forma apelidados como Foo Fighters e nunca se soube o que eram exatamente. Takizawa resolveu mostrar o acontecimento em Who Fighter, servindo-se dele como pano de fundo para mostrar toda paranóia e medo que acometem os soldados durante uma guerra.

Kitayama é um piloto japonês que se depara com uma bola de fogo enquanto testa um interceptador noturno. Ele ataca a bola, que cai formando uma cratera em uma extensão de 400 metros. Logo, é procurado por Ozaki, do centro de pesquisas do nono exército japonês, que quer saber tudo sobre o que ele viu. Então, começam as suposições. Será uma bomba sendo testada pelos americanos? Uma arma de ondas de rádio? Ou terá sido tudo uma alucinação causada pelo stress da guerra? Os Estados Unidos estariam capturando soldados japoneses para conseguir informações e depois fazendo lavagem cerebral neles para que não se lembrassem mais de terem vazado informações? Sim, os Estados Unidos devem estar envolvidos. Afinal, os japoneses estavam perdendo a guerra para eles e ninguém sabia do que mais eles seriam capazes de fazer.

Kitayama começa a ter alucinações e a questionar sua sanidade. Será ele um espião infiltrado no exército japonês sem saber? O leitor é jogado no clima da guerra e só sabe que há algo errado, muito errado acontecendo. Mas o quê? E por quê? Não espere resposta fáceis aqui, cada um pode ter uma interpretação diferente.

Takizawa tem um traço detalhado e realista, diferente do que se convencionou como mangá. Os personagens não têm olhos grandes, são anatômicos, como japoneses e americanos. Merece também atenção a riqueza de detalhes nos cenários, nas armas, aviões, carros e tanques de guerra. Um dos poucos defeitos são as constantes pausas na história para explicações sobre a Segunda Guerra. Não vejo isso como uma boa solução narrativa.

 

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Mas Who Fighter não é para todos os gostos. Nem todo mundo aceita histórias onde as respostas não são mastigadas exaustivamente. Entretanto, para quem não se incomoda com isso e curte suspense, conspirações e guerras, deve encontrar uma boa diversão com esta história.

Nota: 8

 

O Coração das Trevas

Aqui Takizawa se baseia no romance homônimo de Joseph Conrad, livro que inspirou um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, Apocalipse Now. Maruo é um primeiro-tenente incumbido de assassinar o Coronel Kurutsu, um soldado brilhante que já ganhou inúmeras medalhas e condecorações, que ao estar um dia no comando de um regimento de soldados, deserta e leva todo o regimento com ele. Como último registro dele, consta um telegrama onde diz que planejava se ocultar em um lugar distante da civilização, o coração das trevas, e criar uma sociedade utópica com seus homens.

O Coração das Trevas não é sobre uma mera missão de assassinato. É sobre os sacrifícios que os soldados são obrigados a fazes para cumprir suas missões, correndo risco de morrerem sem suprimentos e munições, e sem saber se o objetivo da missão é correto ou não. Isso é claro aqui, os personagens dão suas vidas pela missão, mesmo quando não têm mais obrigação alguma de cumpri-las, sabem que ela é praticamente sinônimo de suicídio ou têm sérias dúvidas sobre o objetivo dela. Aqui também temos uma dose de humor rápida que não caberia em Who Fighter. Nada exagerado ou que quebre o clima da história, mas breve. O bastante para dar um tom mais leve à história e fazer você simpatizar com os personagens.

Tanto nesta história como nas outras duas, o elenco de personagens é composto praticamente só de homens. Pelo menos só me recordo de ter visto uma mulher em cena e como figurante ainda. Me refiro desta forma como se falasse de um filme, porque alguns personagens de O Coração das Trevas são extremamente parecidos com uns de Who Fighter. Talvez isso seja falta de imaginação, talvez não, mas por vezes fica a impressão de que são atores interpretando papeis diferentes em um outro filme do mesmo diretor.

Em O Coração das Trevas nem tudo é explicado, mas isso não atrapalha a mensagem que Seiho Takizawa queria passar com sua história.

Nota: 7

 

Tanques

Eu sou capaz de compreender que o Takizawa queria passar uma mensagem aqui, de que as guerras vão durar enquanto existirem armas no mundo. Embora, eu preferisse que Takizawa criasse uma história mais complexa como as duas anteriores para demonstrar isso e não curtas 8 páginas. Mas como leitura em uma antologia fecha bem o gibi.

Nota: 6

 

Autor: Seiho Takizawa

Páginas: 218 páginas

Editora: HQM

Preço: R$ 14,90

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