terça-feira, 31 de agosto de 2010

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As Maiores Produções do Cinema que Jamais Veremos

Por Moziel T. Monk, do Blodega

 

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Muito cinéfilo certamente já deve ter feito o exercício mental de compor um “filme dos sonhos”. Seja este cinéfilo um amante do cinema clássico ou alguém mais afeito a blockbusters e cultura pop, e este sonho pode ser o elenco ideal para se adaptar alguma obra de sucesso em outra mídia, um livro “best-seller”, um personagem de quadrinhos de sucesso, ou apenas especulação sobre como uma obra clássica da literatura universal ou contemporânea seria abordada por algum diretor considerado nada menos que “gênio”.

Há muito espaço para fantasiar. Imaginem um filme dirigido por Igmar Bergamn e Frederico Fellini, uma continuação para Sem Destino se passando cem anos depois da história original, um filme de Hitchcock tendo a Disneylândia como cenário, uma versão de Duna dirigida por Alejandro Jodorowsky e com o apoio luxuoso de HR Gigger e Moebius. Mas muito do que às vezes fica no terreno da conjectura de muito cinéfilo chegou perto de ser realizado, ou ao menos esboçou uma reação de sair do papel para a celulóide. Mas cinema é brincadeira de gente grande, e com muita grana. E às vezes nem mesmo a vontade de algum diretor renomado é suficiente para convencer algum produtor executivo de coração a gelado abrir a mão e produzir seu projeto. Aliás, raramente algum produtor abre a mão facilmente, mesmo que o diretor com a idéia na cabeça, a câmera em uma mão e o pires na outra seja daqueles cujo nome costuma estar associado a ótimos filmes. E a quantidade de projetos que morreram no nascedouro ou que até chegaram a cumprir as etapas de pré-produção daria pra encher alguns livros. Tanto que enchem.  Títulos como The 50 Greatest Movies Never Made  ou The Greatest Sci-Fi Movies Never Made são feitos do mesmo material que os sonhos, sonhos que nunca conseguiram financiamento para se tornarem concretos. Vamos saber agora um pouco do que estamos perdendo e que nunca veremos.

- O campeão de projetos não realizados entre os diretores renomados é Orson Welles. Apesar de sua fama de garoto-prodígio e de estrear na direção criando o clássico, Cidadão Kane, entre os donos de estúdio ele ganhou fama de difícil e de nunca concluir um projeto antes de partir para outro. Isso dificultou sua vida e dezenas de projetos que tinha em mente nunca saíram do papel, ao menos não por suas mãos. Pense em algum clássico da literatura universal, e há grande chance de que Welles quis adaptá-lo ao cinema e que tenha esboçado um roteiro para tanto. Imagine Dom Quixote, A ilha do Tesouro, Ardill 22, Lord Jim, Carmen, toda a obra de Shakespeare e até passagens da Bíblia… e teremos uma coleção de grandes filmes que nunca foram feitos, ao menos não por um gênio como Welles. Alguns desses livros se tornaram filmes, nem sempre com um resultado acima do burocrático. Ironicamente o filme de estréia de Welles seria uma adaptação de No Coração das Trevas, a obra-prima de Joseph Conrad. Mas a II Guerra Mundial restringiu o mercado consumidor e obrigou os estúdios a apertarem os cintos. Nesse meio tempo, Welles cometeu apenas Cidadão Kane, e seu projeto acabou nas mãos de outro diretor, décadas depois, um tal de Francis Ford Copolla, que levou a história da África para o meio da Guerra do Vietnã ( e um monte de gente à beira da loucura) e fez Apocalypse Now.

- E falando em Copolla, ele é um exemplo claro da geração dos diretores dos anos 70 com liberdade criativa para emplacar projetos pessoais, mas que no fim das contas preferiu produzir e dirigir grandes produções de retorno garantido, mas não necessariamente geniais.  Mas o seu grande projeto nunca concluído seria uma adaptação do livro Pinóquio, do italiano Carlo Collodi, que já teve inúmeras versões em live action e em desenho animado, sendo a mais famosa a de Walt Disney, de 1940. Mas o projeto de Copolla era ambicioso. E caro pra dedéu, para o espanto da Warner, que arquivou o projeto. Furioso, o cineasta tentou levar seus planos para outro estúdio, mas a coisa acabou em um grande quiproquó jurídico entre o estúdio e o diretor. Frederico Fellini também planejou filmar a história, mas morreu sem realizar este projeto, que hoje está nas mãos de Roberto Benigni e previsto para ser lançado no fim desse ano.

- Para os fãs dos grandes musicais da MGM, Vincent Minelli planejou sua aposentadoria triunfal no fim dos anos 60 na forma do filme Say it With Music, que reuniria um time dos sonhos do gênero: produção de Arthur Freed, canções de Irving Berlin, coreografia de Bob Fosse, elenco composto por Fred Astaire, Sophia Loren, Brigitte Bardot, Ann-Margret e Julie Andrews. Mas a Metro já não era a Metro dos grandes musicais em 1968, e o projeto foi pro saco, para tristeza dos amantes dos musicais.

- O perfeccionista Stanley Kubrick, antes de dirigir Laranja Mecânica, quis filmar a história de Napoleão, que poderia ter sido o grande projeto de sua vida. Durante a fase de pré-produção, Kubrick tendo reunido material sobre Napoleão suficiente para encher mais de 80 caixas. Para o elenco ele escalou atores do quilate de Peter O'Toole, Alec Guinness, Jean-Paul Belmondo, Audrey Hepburn e Jack Nicholson. Ele chegou a percorrer boa parte da Europa em busca de um cenário perfeito para sua história, que envolvia nada menos do que dezenas de milhares de extras para as cenas de batalha. Imaginem uma panorâmica mostrando um campo de batalha  com uns 70 mil soldados e uns outros milhares de cavalos. Imaginou? Os produtores também, e imaginaram logo em seguida o pesadelo logístico e a fortuna necessários para realizar o sonho de Kubrick. E mesmo o doido do ditador romeno de então, Nicolai Ceaucescu, prometendo mobilizar o exército para viabilizar a cena só para que o filme fosse feito em seu país  convenceu alguém a assinar os cheques. Muito pelo contrário, só outro doido pra topar esta idéia. Como sabemos, o filme jamais foi feito, mas quem quiser ter uma idéia de como poderia ter sido basta desembolsar uns 500 euros e adquirir uma edição da Taschen que reúne o material que Kubrick pesquisou e juntou para escrever e dirigir o filme. E hoje, assistindo a produções como O Senhor dos Anéis, constatamos que a tecnologia atual prescinde de tantos extras para compor a cena imaginada por Kubrick. Infelizmente ele cometeu a indelicadeza de morrer antes da cibernética acompanhar sua imaginação, e fomos privados de mais um filme grandioso.

- Mas senso de oportunidade é algo que faltou a muitos projetos, sendo talvez o mais inadequado, digamos assim, a idéia de se adaptar para as telas o livro de Adolph Hitler, Mein Kampf. Em 1941! Alfred Hitchcok seria o diretor, isso se não fosse o detalhe de que o próprio Departamento de Estado Americano não ter se agradado muito do projeto, mesmo com  o argumento que o mentor desta (David Selznick) era judeu e que o filme seria anti-nazista.

- Claro que tinha coisa que ninguém poderia levar a sério. Billy Wilder, um dos grandes diretores da “velha Hollywood”, vez por outra esboçava algum argumento maluco para o roteirista que estivesse trabalhando com ele no momento, mas este normalmente tinha o bom-senso (ou não, vai saber) de ignorar a idéia. Um argumento folclórico de Wilder envolvia a criação de uma fórmula para a arma definitiva, e seu inventor a tatuava no próprio pênis. Como a fórmula só podia ser lida com o pênis ereto, a CIA treinava um agente para se fingir de bicha e conseguir a fórmula. Até que seria um filme interessante, principalmente se soubermos que Wilder tinha em mente para os papéis do cientista e agente os atores Wood Allen e Charles Bronson. Mas Wilder teve planos mais viáveis que deram com os burros n'água, infelizmente. Seu projeto de Um Dia na ONU traria do limbo os irmãos Marx que ainda estivessem por perto: Grouxo, Harpo e Chico. Mas em 1960 manter um comediante veterano vivo não era fácil, e aí o projeto degringolou quando Chico bateu as botas, logo após um enfarte de Harpo.

- Nos anos 90 a Warner quis ressuscitar a franquia do Super-Homem no cinema, e contrataram Kevin Smith, um assumido fanboy e nerd, para escrever um roteiro. A história que Smith escreveu era o sonho de todo fã de quadrinhos, pois procurava ser fiel à história e ao personagem. Ele escolheu especificamente os arcos envolvendo a morte e o retorno do personagem, um episódio bem comentado pela mídia na época. Se o roteiro de Kevin Smith fosse seguido, certamente teríamos o melhor filme sobre o personagem, com forte potencial para superar o filme de Richard Donner, de 1977. O filme dos sonhos dos nerds, em uma época árida de boas adaptações de personagens de quadrinhos. Mas o sonho virou pesadelo e o caldo desandou quando Tim Burton entrou no projeto e quis impor sua visão particular, como mudar os poderes do personagem (que não voaria e teria poderes elétricos) e a história como um todo. O produtor John Peters também interferiu na história, principalmente para tentar incluir elementos de merchandising no meio. Graças a Deus, desta vez a Warner teve o bom senso de arquivar essa mixórdia.

- Pra não dizerem que não falei do Brasil, o mais notório caso de filme não concluído por aqui, é a adaptação da biografia do jornalista paraibano Assis Chateaubriant, escrita por Fernando Morais, iniciada em 1995. Só que aqui o problema não foi falta de grana, e sim excesso, ao menos na visão do Ministério da Cultura. À frente do projeto, o estreante na direção Guilherme Fontes captou cerca de 36 milhões em recursos públicos, mas não concluiu o filme dentro de um período razoável, e nos últimos anos se viu envolvido em processos que o obrigavam a devolver os recursos; e até o condenaram em um processo por sonegação fiscal. Mas nesse caso ainda há uma chance de um dia esse filme dar às caras. Se vai prestar, aí já são outros quinhentos. Quinhentos mil reais, diga-se de passagem.

1 comentário

Chaves Papel disse...

E esse filme do Billy Wilder?! hahahaha

Será que um dia veremos uma adaptação da música "Faroeste Caboclo"?

Faz tempo que eu ouço essa história, mas nunca sai!

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