Foto: Adrian Gaut
Um dos elos mais fracos da espionagem é justamente sua comunicação. Por melhores que sejam os espiões, os contatos infiltrados em gabinetes de primeiros-ministros e em fábricas de alta-tecnologia, e os equipamentos militares roubados por um serviço secreto, seja políticos ou militar, o modo como ele se comunica é sempre a forma mais fácil de desbaratar suas operações. Mesmo com toneladas de encriptação, rádios que se comunicam com frequências ultra-baixas e ultra-compactadas, várias operações lendárias já foram postas a baixo com escutas e equipamentos de contra-espionagem (a Operação Daria, por exemplo, que trouxe os planos mais secretos dos alemães durante a II Guerra para o colo de Stalin, foi diluída por causa de falhas na comunicação).
Pois bem, o principal modo de evitar isso é a criação de complexos códigos de transmissão, que envolvem técnicas de encriptação avançada. E para quebrar códigos, tão importante quanto cria-los, é saber decifrar, e entender padrões de criações dos mesmos. E os melhores do ramo estão nas sedes de cinco dos principais serviços de espionagem do planeta: a CIA, a NSA, o Mossad, a GRU e a SVR.
E em Langley, na Virgínia, no pátio da CIA, a Agência Central de Inteligência dos EUA, está um enigma criptográfico que resiste por quase 20 anos, mesmo sendo submetido aos mais importantes especialistas ocidentais, que em vão quebram cabeça para achar uma solução.
James Sanborn recebeu a encomenda de uma escultura em código em 1988 e terminou-a no fim de 1990. Na época a CIA estava construindo o atual edifício onde está instalada, e queria uma obra de arte que não fosse vista pelo público, e que pudesse entreter seus funcionários ao mesmo tempo, tanto que a escultura fica em uma área reservada do prédio, longe da vista do público. Por isso a obra consiste basicamente num tomo recheado de caracteres, que devidamente codificados mostram mensagens; coisas que os agentes vêem diariamente.
Sanborn recebeu a ajudar de especialistas em código para incluir na escultura uma criptografia indecifrável, quase um desafio aos habilidosos decodificadores da CIA (estou falando de computadores Pentium). Ao terminar de inserir os 865 caracteres no tomo de cobre, ninguém sabia o que nele estava escrito, nem mesmo William Webster, diretor da CIA da época, que recebeu um envelope com uma resolução parcial, mas não foi a frente nas respostas.
Durante a construção do objeto, Sanborn conta que houveram diversas intrigas; facções da CIA querendo matar seu projeto, dizendo que se tratava de uma obra satânica (e eu aqui achando que esses caras eram mais instruídos que um Macedo da vida). De vez em quando apareciam agentes tentando fotografar os rascunhos dos seus códigos criptográficos, até mesmo um caminhão de pedra surgiu em seu quintal pela noite, para de manhã desaparecer.
E os agentes da Companhia estão pirando. Muitos deles largaram seus empregos para se dedicar exclusivamente a resolução do código de Kryptos, o nome da obra e também palavra-chave que resolve a primeira parte do enigma. O código da obra se divide em quatro partes, e três delas já foram desvendadas, e sua mensagem levada a público em 99, James Gillogly, um criptologista da CIA, que assim como seu colega David Stein que fez o mesmo três anos antes, gastou cerca de 400 horas de trabalho na conclusão da solução das três partes.
Mas a quarta parte se mostrou dificílima, levando agentes de decodificação a arrancar os cabelos, que ficaram ainda mais intrigados ainda, ao saber que Sanborn usou técnicas de encriptação antigas – datadas do século XIX – para compor sua criptografia indecifrável. Veja abaixo uma solução parcial para o código, extraída diretamente do site da Wired.
Clique na imagem para ver maior.
- A primeira seção, K1, usa uma cifra modificada Vigenère. É codificada através da substituição, cada letra corresponde a uma outra e o código pode ser resolvido apenas com o alfabeto de letras enfileiradas à direita. As palavras-chave, que ajudam a determinar as substituições, são KRYPTOS e palimpsesto. Um erro ortográfico, neste caso IQLUSION, pode ser uma pista para crackear K4 (a quarta parte do enigma).
- K2, assim como a primeira seção, também foi codificado utilizando o alfabeto do lado direito. Um novo truque que Sanborn utilizou, foi a de inserir um X entre algumas frases, tornando mais difícil a quebra do código por tabulação de carta frequência. As palavras-chave aqui são KRYPTOS e abcissa.
- Uma outra técnica criptográfica foi utilizado para K3: transposição. Todas as letras são embaralhadas e só pode ser decifradas após desvendar o complexo de matrizes matemáticas que determinaram sua encriptação. Evidentemente, há um erro ortográfico (DESPARATLY) e, a última frase (Pode ver alguma coisa?) Está entre colchetes estranhamente por um X e um Q.
- Sanborn fez, deliberadamente, K4 muito mais difícil de crackear. Levando em conta que ele não utilizou inglês para confeccionar essa parte do enigma, pode-se chegar a conclusão que solucionar K4 exigiria um segundo nível de conhecimento em técnicas criptográficas. Erros de ortografia e outras anomalias nos capítulos anteriores podem ajudar. Alguns suspeitam que pistas estão presentes em outras partes da instalação: o código Morse, a bússola rosa, ou talvez a fonte adjacentes, elementos presentes em outras partes da obra.
Sete anos para se resolver as três primeiras partes levou os agente da CIA a acharem que a quarta seria coisa de meses, assim como previu Sanborn ao terminar sua obra. Porém, assim como o último chefe de um jogo de videogame, que se mostra muito mais difícil que o jogo inteiro, a quarta parte, com seus 97 caracteres, aumentou a frustação dos envolvidos na solução.
Foi aí que o Inconsciente Coletivo da Internet entrou em ação e resolveu que colocaria um fim no mistério. Mesmo sem sucesso, grupos para resolver o Kryptos se proliferaram. Um grupo do Yahoo!, um empresário do Michigan, ou um físico de 43 anos chamado Randy Thompson, todos eles ligados pela obsessão do mistério, foram alguns deles. Um coletivo reuniu tudo em um site, com explicações detalhadas sobre como foram construídas as partes que compõem o enigma. Até mesmo o famigerado Dan Brown, autor de O Código Da Vinci e Anjos e Demônios entrou na jogada e disse que usará a escultura como parte da última parte da trilogia com Robert Langdon (quero ver ele fazer algo à la Edgar Alan Poe e resolver o mistério). Ele só não espera receber a resposta dos códigos, já que seu criador já deixou bem claro que jamais revelará a solução completa, e deixará para alguém, caso ele morra sem ninguém ter encontrado-a.
Ele ainda vai mais longe, e disse que prefere morrer sem ver sua obra ser decodificada! Pelo jeito, vai conseguir…
[Via Wired]
2 Comentaram...
Mais um candidato a mistério insolúvel, como a cifra de Beale?
Olá amigo... Com certeza essa parte de lógica e códigos misteriosos... =( não é comigo... rsrsrs Mas fica aí a minha dúvida, O autor do código tá ousado hein, "prefere morrer sem ver sua obra ser decodificada!" hdsausdahuasdh... Acho que ele nem lembra mais como se traduz também!
Aceita parceria? =)
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