Experimentar é um ingrediente para evoluir. Mesmo que o resultado não seja um primor, ao menos deu experiência para se fazer correto da próxima vez. Na arte a coisa funciona sob os mesmos parâmetros; se os mesmos maneirismos – ainda que tragam sucesso garantido – forem usados à exaustão, a arte nunca evolui. E em um país como o Brasil não é comum vermos cineastas experimentando, deixando 80% dos nossos filmes (ao menos os que chegam a uma locadora) com cara de capítulos de novelas estendidos.
Mas Kiko Goifman experimentou, assim como Chuck Palahniuk sempre faz experimentações, e leva seu modo de fazer filmes a outro patamar. Com o novíssimo Filmefobia, grande vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o cineasta leva o cinema a situações-limite, mais ou menos como foi a investigação crua do pior do ser humano feita por Gaspar Noé em Irreversível. A diferença é que Kiko usou uma mistura narrativa de ficção com documentário e juntou com elementos reais.
A história é simplista: um documentarista (Jean-Claude Bernardet, o famoso crítico de cinema) quer provar que a única imagem realmente verdadeira é a de um fóbico diante de seu medo – que vão dos clássicos medo de altura, escuro e sangue, a coisas inimagináveis como medo de anões, estátuas, sonhos, desordem, trabalho, vento e ralos de banheiro. E para isso se põe a reunir vários deles em uma casa para leva-los ao extremo no seu medo. Ele faz um acordo com essas pessoas e avisa-as que elas serão exposta a suas fobias de forma que não conseguirão se desviar. Filmefobia seria mais ou menos o making of dessa produção documental. Ou seja, até metalinguagem o cara se pôs a usar. E as experimentações e realidade adentrando a ficção não param por aí.
Muitos dos personagens que circulam na tela são fóbicos de verdade do lado de cá da tela. Alguns nem atuar sabem; outros são atores… e fóbicos também! O resultado é que você não sabe quem está encarando seu pesadelo de verdade, ou está simplesmente atuando. Outro ponto a favor do filme é o inesperado. Cerca de 90% das cenas não foram ensaiadas e a primeira gravação é que foi para a montagem final. Em outros momentos, grande parte da equipe não recebia cronogramas e não sabia qual cena seria a gravada. E essa mistura de Jogos Mortais com pérolas de Marquês de Sade, não estaria completa se o próprio Goifman não entrasse na jogada, e encarando sua real fobia de sangue. Ele garante que desmaiou três vezes enquanto o líquido vermelho passava ao seu lado de sua imóvel cabeça.
Em sua passagem por vários festivais, Filmofobia divide opiniões, e leva algumas pessoas a o aplaudirem, enquanto outros o vaiam fervorosamente. E um terceiro grupo covarde abandona a sala pela metade, ou menos. Eles podem até dizer que Kiko é sádico, mau diretor e grosseiro, mas não de que ele não experimentou (clique para ver as imagens maiores)!
[Via Rolling Stone]
4 Comentaram...
Wow man!!!!
Mto bom hein... a proposta é boa demais!
Tomara que seja de qualidade, o cinema nacional merece!
Fazer medo é fácil, quem tem cu tem medo.
Adoro o Kiko, fui uma das poucas a cutir o 33. Acho que ele tem muito a dar ao cinema ainda, sem medo de ser feliz.
Pena que o trabalho dele só é acessível aos iniciados.
to louco pra ver esse filme, não vi ainda...
esse diretor parece ter estilo...
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