A notícia é velha (dia 22 passado) - devido a minha nova rotina de fazer os posts no blog nos fins de semana, rotina de universitário em processo de se formar - mas vale a pena ser passada pra frente. Um caça F-15 dos EUA beijou a terra na Líbia, oficialmente por mal-funcionamento, relatou um repórter britânico do Daily Telegrpah. E o que parece ser um informe simples toma contornos mais complicados, com indícios claros de ocultamento de informações.
Os informes sobre o assunto foram rápidos ao afirmar que a recuperação dos dois membros da tripulação "continua a ser uma operação em andamento, mas eles são seguros", palavras de Ken Fidler, porta-voz do US Africa Command, em pronunciamento ao próprio Telegraph. Fidler complementou sua declaração, ao enfatizar que os mísseis ar-terra das forças de Kadhafi não foram os responsáveis pelo “mau funcionamento do avião”, que sobrevoava o nordeste da Líbia numa missão de ataque e destruição de baterias de mísseis.
Em resumo, os jornais reverberaram a versão oficial: pilotos salvos, avião sendo resgatado por forças da OTAN. Aí bastou o Christian Science Monitor duvidar da versão apresentada pra mais detalhes da situação aparecerem. Dessa vez o comandante das forças navais dos EUA na Europa e África, almrirante Samuel J. Locklear III, acrescentou que os pilotos foram “resgatados pelo povo líbio”, e foram “tratados com dignidade e respeito, e agora estão sob os cuidados dos Estados Unidos". O jornal ainda questionou Locklear sobre acusações que os militares que foram resgatar os pilotos abriram fogo contra civis, mas ele se eximiu de respostas. "Eu não estou preparado para falar sobre o inquérito ou o que ele pode revelar", afirmou ele.
A informação parece trivial, mas escondê-la deu a impressão que as forças da OTAN, especialmente as americanas, querem mostrar que a situação está mais fácil do que realmente aparenta.
A Al-Jazeera mandou uma versão um pouco diferente, ao afirmar que os pilotos ainda não tinham sido resgatados, e o avião havia sido resgatado pelos rebeldes. Praticamente nenhum grande jornal americano comentou o fato.
Essa é uma mostra de como a guerra se estende fortemente também pelos meios de comunicação. A própria Al-Jazeera, por exemplo, é censurada e sofre embargo em quase todos os canais a cabo dos EUA - e logo depois sofreu a mesma situação no Egito. Diversos jornalistas americanos reconheceram que a melhor cobertura sobre as revoltas no Oriente Médio está sendo feita pela rede do Catar.
Jeff Jarvis, do BuzzMachine escreveu o seguinte sobre a situação:
Notícias vitais, que mudam o mundo, estão ocorrendo no Oriente Médio e ninguém _não a mídia americana xenofóbica e obcecada por celebridades_ consegue dar a perspectiva, o insight e o retrato local que a Al Jazeera dá. Mas nos EUA quase ninguém pode assistir. Operadoras de cabo: acrescentam a Al Jazeera em inglês JÁ!
Ryan Grim, do Huffington Post ecoou o pedido:
Fora alguns bolsões nos EUA - Ohio, Vermont, Washington D.C. - as operadoras de cabo não permitem aos espectadores a escolha de assistir à Al Jazeera. Essa censura corporativa acontece ao mesmo tempo em que o Egito tenta bloquer as transmissões da Al Jazeera.
Até a ativista Naomi Klein reverberou o assunto:
Quando o Egito corta a Al Jazeera, é censura. Quando as operadoras de cabo se recusam a transmitir, é “just business”, só negócio.
A complicação da comunicação é similar ao cada vez mais embaralhado mapa geopolítico mundial. É difícil estabelecer conexões entre grandes forças geopolíticas - como os EUA - por trás das revoltas, assim como as notícias dadas pelos dois lados são ainda mais conflitantes. Apesar de ser fácil de concluir e aceitar com grandes probabilidades estatísticas e livre de teorias conspiratórias que essas revoltas são de iniciativa popular, não é de se ignorar o vasto histórico de operações do tipo feitas pela CIA por toda a Guerra Fria - a exemplo da bilionária operação no Afeganistão para atrair os soviéticos para o país, que acabou dando origem a Bin Laden.
De qualquer forma, é sempre uma grande notícia quando ditadores caem pelo mundo… só os aviões da OTAN sobrevoando um país é que incomodam.
[Via Danger Room e Telegraph]
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