Discografias é fechada. E APCM ri à toa

 

Quem gosta de música e tem perfil no Orkut (creio que 90% dos que lerão esse texto) provavelmente era membro da comunidade Discografias. Com certeza o fórum da comunidade é um dos maiores depositários de links de música que conheço, tendo não só músicas internacionais super famosas, mas EP’s de bandas independentes brasileiras, por exemplo. É de lá que baixei os discos do Supercordas (uma espécie de Flaming Lips brasileiro), com seu som viajandão-rural, os CD’s do Montage e do CSS. Isso é crime? Para mim, que nasceu com downloads de filmes inteiros na palma da mão… NÃO! E não ligo que me chamem de pirateiro, criminoso, devorador de criancinhas e todos esses adjetivos inglórios.

Muitos desses álbuns nem nas lojas estão, e quando aparecem, possuem preços altíssimos, com taxas de impostos exorbitantes. A ironia é que agora, em tempos de crise enforcatória para a indústria fonográfica, consigo encontrar lançamentos internacionais, como Franz Ferdinand: Tonight, por 25 mangos, preço esse que em épocas de fartura, seria dobrado. Some a isso o declínio de uma indústria que chegou a ser toda poderosa, artistas que importam (Radiohead, Nine Inch Nails, Portishead) lançando álbuns sem precisar do velho esquema gravadora-distribuidora, e se tem um quadro altamente inquietante e de mudanças drásticas nas regras do jogo, com quem mandava antes, adotando medidas desesperadas.

E hoje, os anti-pirateiros conseguiram o que era seu estandarte de batalha há tempos em solo brasileiro: fechar a comunidade Discografias (e todas as suas filhas: “Trilhas Sonoras de Filmes”, “Trilhas Sonoras de Novelas” e “Índice Geral”). Hoje, quem visitou a comunidade, foi recebido pela melancólica mensagem abaixo:

 

Informamos a todos os membros da comunidade "Discografias" e relacionadas (Trilhas Sonoras de Filmes, Trilhas Sonoras de Novelas, Coletâneas (V.A.), Pedidos, Dicas/Dúvidas e Índice Geral), que encerramos as atividades devido às ameaças que estamos sofrendo da APCM e outros orgãos de defesa dos direitos autorais.

Nosso trabalho foi árduo para manter as comunidades organizadas, sem auferir nenhum tipo de vantagem financeira com elas, somente com o intuito de contribuir de alguma forma para a cultura e entretenimento.

Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros. Muitos artistas perderão seus meios de divulgação. Milhares de membros terão que procurar outras atividades no Orkut que não seja o download de músicas e afins. O número de sites e blogs de conteúdo similar, mais programas como eMule, limewire, de torrents e outros P2P, cresce em progressão geométrica.

Perdem eles, perdemos todos, mas enfim, tudo em nome do dinheiro das grandes corporações. Nada em nome da cultura.

Tais entidades de defesa dos direitos autorais, como a R.I.A.A. nos Estados Unidos e APCM no Brasil, que é a representante legal de: 
UNIVERSAL MUSIC DO BRASIL LTDA.;
WARNER MUSIC BRASIL LTDA.;
SONY - BMG BRASIL LTDA.;
SIGLA - SISTEMA GLOBO DE GRAVAÇÕES AUDIO VISUAIS LTDA;
EMI MUSIC LTDA.;
COLUMBIA PICTURES INDUSTRIES INC.;
DISNEY ENTERPRISES INC.;
METRO-GOLDWYN-MAYER STUDIOS INC.;
PARAMOUNT PICTURES CORPORATION;
TWENTIETH CENTURY FOX FILM CORPORATION;
UNIVERSAL CITY STUDIOS INC.;
WARNER BROS.;
UNITED ARTISTS PICTURES INC.;
UNITED ARTISTS CORPORATION;
UBV - UNIÃO BRASILEIRA DE VÍDEO E ASSOCIADAS

Sendo ainda representante de IFPI - International Federation of the Phonographic Industry e MPA - Motion Picture Association no Brasil, se dizem "sem fins lucrativos", vamos acreditar nisso, né gente? Como todos acreditam nas histórias da carochinha.

Portanto, deixamos aqui os dados de contato do orgão responsável pelo fechamento das comunidades e de um de seus representantes:

(...)

Observação

A APCM só perseguia nossas comunidades, e assim, os links postados pelos nossos membros estavam sendo rapidamente denunciados e excluídos, pois eles querem aparecer e só deletam de onde está mais fácil e tem maior visibilidade na mídia.

O pessoal que baixava de nossas comunidades vai poder continuar a procurar os links no lugar de maior acervo: O Google.

Não demorou para os que ameaçaram a comunidade continuamente abrirem o bico e dizerem que o fechamento do fórum da comunidade é positivo, que os que lá estavam e compartilhavam música estavam violando direitos autorais e blá blá blá.

A comunidade Discografias era uma pedra no sapato de quem quer manter seus bolsos cheios e não vê que as coisas estão mudando, assim como o Pirate Bay e o MiniNova são, em um nível internacional, chegando a assustar os bilionários da RIAA. Esses mesmos retrógrados foram ferrenhamente contra a chegada do videocassete, mesmo sem perceber que ele fortaleceria a indústria de cinema, como podemos comprovar hoje, gerações depois.

Mas, com gente míope, que não vê que quem baixa música comparece a shows, é mais ativo em discussões de música, e efetivamente acompanha seus cantores e bandas favoritos, o futuro realmente só nos reserva mais fechamentos e quedas-de-braço. No Brasil os representantes do lado negro dessa guerra são simbolizados por uma sigla enojante: APCM. Associação Anti-Pirataria de Cinema e Música, que com campanhas ridículas com pais comprando filmes piratas e filhos colando em provas, acham que vão conseguir convencer alguém de que pirataria é crime. Lamento, desse jeito vocês vão continuar atraindo antipatia de quem realmente vocês precisam: os compradores de música.

Um desses casos sou eu próprio. Sempre comprei CD’s. Era daqueles que realmente comprava aqueles que gostava, só reservando os downloads para raridades que não encontrava e bobagens divertidas, como o citado CSS. Mas, quando assumi a cadeira de Editor de maluquices nerds desse blog, acabei por ver o que seria a face verdadeira dos “guardiões” da propriedade intelectual (quer ficar tão informado quanto eu no assunto? Leia o blog Remixtures).

É como você conhecer um fã chato de uma coisa que gosta pouco. Em breve aquele fã vai te impregnar tanto com a “fanboyzice” dele que você vai desgostar do que ele admira. E sim, tem um caso (engraçado, é verdade) desse aqui no blog. Se eu não gostasse da Nintendo mais que um pouco, hoje a odiaria (ou ao menos falaria mal na frente dele) graças ao evangelista do FiliPêra. Mas, é claro que não falo simplesmente de empresas e games, é de dinheiro e de vampiros. É esse gente que quer acabar com seus direitos na internet, o acusando de criminoso.

Eu não sei quanto à vocês, mas não preciso deles. À partir de amanhã vou começar a publicar no Anarquia uma série de posts ensinando como você pode substituir a Discografias. Quem quiser pode ler, quem não quiser, releve. Mas, definitivamente, eu virei o que se convencionou chamar de pirateiro. Para sempre!