O que o Vaticano e a Comunidade Hacker têm em comum? Eu achava que nada, mas o padre Antonio Spadaro achou muita coisa. Em um artigo escrito pra revista Civiltà Cattolica, uma espécie de publicação semi-oficial do Vaticano editada por jesuítas, Spadaro afirmou que “os que se dedicam a estudar e modificar hardwares e softwares (…) estão em uma missão divina”. GeoHot está felizes, vai pro céu sem indulgências!
Após a explosão da Cultura Hacker nos anos 1970, sob a direção de Richard Stallman, uma lenta campanha focada em distorcer os valores gerados por um séquito de ativistas a frente da iniciativa do Software Livre tratou de ser iniciada. Aos poucos, hacker passou a ser uma espécie de invasor, destruidor de um sistema de computação, rótulo dado a um cracker. Interessante é que justamente um padre - talvez não a pessoa em posição habitualmente mais indicada para dissertar sobre o assunto - cuidou de fazer uma diferenciação sobre o assunto, e ainda acrescentou que “a filosofia hacker é descontraída mas comprometida, estimula a criatividade e ao compartilhamento, opondo-se aos modelos de controle, concorrência e propriedade privada”.
O hacker seria um agente de Deus ao tratar de “contribuir criativamente com a criação de um Mundo”, uma tarefa que auxilia no trabalho do Todo Poderoso. Hackers têm uma visão universal sobre o processo criativo, enquanto o cracker só pensa em ganhos próprios. O padre ainda é inteligente ao ponto de reconhecer que são incompatíveis as diferenças entre a rígida hierarquização católica e a anarquia organizacional dos hackers.
Embora não explicitamente, o artigo ainda fala de certas divisões presentes na própria organização católica. Se camadas da Igreja estão fortemente empenhadas na estratificação da da estrutura da eclesiástica, acumulando riquezas e acobertando crimes, outros setores estiveram profundamente ligados a transformações sociais importantes, principalmente em países do Terceiro Mundo, com destaque pra América Latina, onde padres lutaram (e lutam) contra sangrentas ditaduras, como a de Honduras e El Salvador.
Coisas típicas de uma organização gigantesca, com milhares de anos de idade e um passado que mistura matanças, influências políticas insuperáveis e até ativismo social.
[Civiltà Cattolica via Catatau]
comente primeiro!