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Depois de reviews bem pouco acalorados de Dragon Age II por parte dos usuários, a Eletronic Arts teve uma idéia nada gloriosa: colocou um desenvolvedor do jogo para fazer uma resenha mega-positiva na seção de usuários do Metacritics - que, pra quem não sabe, é um site que reúne críticas de games, filmes e músicas vindas uma série de veículos jornalísticos. E pior: ao ser questionada sobre o fato, a empresa respondeu com um cara-de-pau “é assim que as coisas são”.
Tudo começou quando o usuário GatoFiasco do fórum Reddit, desconfiou de uma resenha positiva demais que veio acompanhada de um belo 10, postada por um tal de Avanost.
"A imersão e o combate deste jogo são incomparáveis! Um épico verdadeiramente comovente e divertido. Uma avaliação negativa deste jogo é um exagero de opinião pessoal. (...) ele é executado com perfeição e infinitamente divertido."
Realmente parece uma peça publicitária, é até possível ouvir a voz de um narrador berrando as frases acima. GatoFiasco ficou ainda mais desconfiado quando descobriu que aquele era o único review dele, e resolveu fazer umas buscas pela internet. Rapidamente descobriu que Avanost é um engenheiro da BioWare, o estúdio por trás de Dragon Age II, possuindo até perfil no Linkedin - nada como deixar rastros no melhor estilo lesma velha. Nosso amigo Fiasco foi então ao Reddit e postou o seguinte, entre outras coisas:
Esta é uma questão de ética e integridade. O consumidor exige informações objetivas a fim de tomar uma decisão informada sobre a compra de um produto. Se a linha entre o artigo editorial e análise de um produto se desfaz, então o consumidor está sendo enganado com os custos da sua eventual confiança e lealdade à empresa responsável. É por isso que a divulgação dos laços da indústria é necessária para evitar sequer uma aparência de impropriedade.
Logicamente rolou uma indignação por parte dos usuários do site e da comunidade gamer em geral, ao ver tamanha interferência e jogo sujo, nas palavras deles. O Kotaku americano foi atrás da Eletronic Arts para pegar uma declaração sobre esse caso, e o resultado foi uma pérola:
“É claro que os desenvolvedores dão notas positivas para seus próprios jogo. É assim que funciona no Oscar, é assim que funciona no Grammy. E eu aposto que Barack Obama votou em si mesmo na última eleição.”
Eu não vou aqui entrar no mérito da grande diferença entre uma eleição presidencial - ou do Oscar, reconhecidamente com cartas marcadas - e um site com reviews de usuários e críticos, mas acho de extremo mal gosto essa mistura cínica entre publicidade e avaliações, com empresas incentivando isso. O marketing visa despertar o interesse das pessoas em adquirir um produto/serviço, e quando ele invade o espaço jornalístico de forma camuflada, o resultado costuma ser promíscuo. Na minha opinião, uma pessoa que virou noites, recebeu salários e investiu seu tempo desenvolvendo um jogo, não está em posição de opinar sobre a qualidade dele em um fórum público, ainda mais de forma anônima, quase enganosa.
E pior: ele desqualificou a opinião de quem não gostou, ao dizer que “Uma avaliação negativa deste jogo é um exagero de opinião pessoal”. Não sei se essa foi uma iniciativa pessoal de Chris Hoban (nome verdadeiro de Avanost), ou foi a mando da EA - creio que foi a segunda opção, pelo que a empresa disse acerca do review viciado - mas sei que foi uma atitude de extremo mal gosto.
O Kotaku brasileiro fez um adendo interessante ao assunto, ao dizer que o erro dele foi ter feito o que fez de forma anônima, o que discordo. Um desenvolvedor vai, sem sombra de dúvidas, dar uma opinião positiva sobre o game. Ele opinar num fórum de jogadores sobre as impressões dele sobre um jogo que ajudou a fazer, me parece uma armadilha lógica: a) se ele falar mal, será falta de ética dele para com a empresa, por meter o pau publicamente num trabalho que participou, b) se falar bem, será falta de ética com o público, porque sua opinião está naturalmente viciada, fora que seria de uma obviedade extrema, como demonstrou aquela porcaria de texto que o Avanost postou.
Existem também três questões secundárias sobre o assunto…
Resenhas com número são por si só armadilhas, principalmente quando usadas em conjunto com notas ao final - a forma como fazemos aqui, por uma série de motivos que explico em um texto futuro. Os que ficam presos a números e não lêem o texto, naturalmente estão sujeitos a enganações como essas, o que dificulta e muito a identificação de avaliações publicitárias como a que está sendo tema desse texto.
A segunda questão passa pela própria natureza do Metacritics. É preciso usar com cautela o serviço dele - que é excelente, por sinal -, principalmente o Metascore, que é a nota final atribuída a um produto avaliado. O problema é que veículos diferentes dão ênfase a aspectos diferentes de cada jogo. Enquanto para alguns avaliadores o som pode ser mais importante, para outros os gráficos são mais.
Na hora de criar a média geral, os critérios são matemáticos, o que também é um problema. Alguns avaliadores podem entender um 5 como uma nota para um jogo mediano, enquanto outros podem ser presos a índices um pouco mais acadêmicos e achar um cinco insuficiente (meu caso). Enfim, minha crítica nesse aspecto não vai ao Metacritics em si, que considero uma boa iniciativa, mas a usuários fissurados em números, o tipo de fanboy que pega a nota de uma revista e mostra para outro fanboy (Eu já fui desses). E uma olhada rápida pelos reviews de usuários do Metacritics revela muitos fanboys desse tipo, que dão um redondo ZERO por alguma coisa praticamente insignificante (não vou exemplificar nenhuma aqui porque elas não têm links, mas é só olhar por lá). Até aí tudo bem, mas os números do Metacritics influenciam até mesmo o mercado financeiro, derrubando ações e condenando as vendas de um game ao ostracismo.
O ótimo site BitMob publicou uma coluna excelente mostrando um terceiro ponto que envolve críticos de games e as relações deles com empresas. O autor expõe que é política de algumas produtoras mandar o jogo antes para alguns sites avaliarem, o que certamente pode ser considerado um privilégio, principalmente para os sites menores. Avaliações negativas simplesmente resultam em cortes desse “privilégio”. Empresas como a Eletronic Arts e a Sony têm uma histórico nesse sentido. A Sony chegou a inventar uma crítica e colocou no DVD de Homem-Aranha, certa vez, o que pode ser considerado crime, acho Eu.
Como exemplo bem recente, Dennis Scimeca - que escreveu o texto - listou as avaliações pré-lançamento de Homefront (que também teve problemas recentes graças ao Metascore).
Antes do lançamento
Depois do lançamento
Reparou a queda significativa? Segundo o autor - um freelance que escreve para o Gamasutra, G4TV e Joystiq, de acordo com a bio dele -, esse tipo de curva negativa na nota se deve ao caráter de amizade entre veículos que recebem games antes do lançamento e os que os jogam depois do lançamento.
Bom, esse caso parece mostrar isso com certa clareza, e se entendermos a história por trás de Homefront as provas parecem ainda mais claras. O fato é que a THQ, que produziu Homefront, precisa vender pelo menos 2 milhões de cópias dele, tanto para ter retorno financeiro, quanto por estar em uma situação meio delicada no mercado. E o Metascore efetivamente vende jogos, como uma análise do consultor Michael Pachter mostrou certa vez. Não é preciso ser gênio pra lugar as duas coisas e especular sobre subornos em busca de boas avaliações.
O pior é saber que esse tipo de caso ocorre com grande frequência, misturando cada vez mais opinião com marketing barato. Uma investigação um pouco mais aprofundada revela ainda mais nessa direção, o que é triste.
[Via Kotaku, texto meu no GamesBrasil e BitMob]
4 Comentaram...
Publicidade é coisa do Satanás, digo isso pq estudo Publicidade
A bioware num precisava fazer uma mancada dessas...
ainda num joguei o DA2, mas joguei todos jogos da bioware ate hj, estou ate jogando o baldur's gate novamente (esse jogo é tão foda que da saudades), mas bem... um dia a bioware teria que erar...
espero que o mesmo não aconteça com o mass effect 3.
Naevio, não se engane: BioWare e Electronic Arts são empresas diferentes, apesar de parceiras. Quanto aos jogos Dragon Age (Origins e 2) e os da trilogia Mass Effect, lembre que a BW desenvolveu os jogos e a EA apenas distribuiu e cuidou da maquiagem (marketing), daí se tira o cacife da EA. Aliás faz tempo que a EA deixou de queimar a mufa dos próprios funcionários pra lançar algo digno de nota pra pegar carona (e ganhahr milhões de obamas) no sucesso dos estúdios desenvolvedores. Não que eu seja fãzão da BioWare ou de qualquer outro estúdio em especial, mas tirando o enredo fuleiro de Neverwinter Nights 1, não lembro de um jogo fraco que ela tenha criado. E EA tem um histórico de relacionamento cruel com seus clientes além de forçar o lançamento precoce de jogos dos estúdios com quem fecha contrato de distribuição...
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