sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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A Máfia no Cinema

Por Ivan, do Cinemarco Cineclube 

 

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A tarefa de falar sobre os filmes de gangster não é simples, começando pelo fato do tema ter virado gênero e esse se capilarizou em diversas vertentes, trazendo um começo mais sociológico da formação das famílias italianas em meio à sociedade americana pós-depressão de 1929, até uma abordagem mais personalizada em filmes atuais como em Estrada Para a Perdição (Road to Perdition, 2002), Inimigos Públicos (Public Enemies, 2009) e O Gângster (American Gangster, 2007).

Começamos pois, com O Poderoso Chefão (The Godfather), 1 e 2 (1972) e (1974). Inicialmente é bom ressaltar que o cinema americano até a década de 70 era bastante conservador quanto a moral de seus filmes, era algo imprescindível para a grande indústria, que os filmes seguissem premissas básicas como; um protagonista com atitude exemplar e um final que trouxesse esperança ao telespectador.

 

O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972) foi um marco na história do cinema por retratar a família Corleone de forma imparcial, imprimindo ao Patriarca Don Vito Corleone uma figura benevolente e sábia que entendia a alma de seus familiares e inimigos e repassava seus sentimentos com gestos brandos e implacáveis, os quais só puderam ser traduzidos pela maestria de Marlon Brando.

Cabe ressaltar que os dois primeiros filmes são o desdobramento do livro homônimo de Mario Puzzo (The Godfather), portanto vamos tratar dos dois de forma conjunta. Inicialmente Don Vito Corleone, se vê em um impasse quanto ao acordo sobre a venda de heroína, negócio lucrativo que as outras famílias italianas de Nova Iorque buscavam apoio para entrar, mas Corleone tinha estabelecido uma relação muito 'Boa' com os juízes locais e não queria colocar seu prestígio a perder com algo que era considerado imoral por todos.

Daí advém uma série de conflitos e mortes que culminam com uma guerra entre as famílias que se resfria quando Michael Corleone define o conflito de modo siciliano, no jantar com um tiro na cabeça dos principais responsáveis pelas desavenças. A segunda parte do filme resgata a infância do Patriarca na cidade de Corleone no sul da Itália e as relações cruéis que a máfia estabelecia com seus cidadãos miseráveis, após isto o filme trata da volta de Michael do 'exílio' e sua ascensão ao posto de chefe da família, ou seja, o novo Don Corleone. No entanto, o filho acaba não se tornando um exímio conciliador como o era seu pai e percebe que a busca pela legalidade era o melhor caminho para livrar a família de um futuro parecido com o seu passado.

Francis Ford Coppolla, diretor dos dois filmes não foi alçado aos céus por um grande vislumbre artístico/visual, como seria Stanley Kubrick, mas por transgredir a forma de contar uma história em um período, e o fazê-lo de uma forma facilmente interpretável por todos, ou seja, a máfia italiana era muito parecida na realidade com os seus filmes e os personagens eram reconhecidos diariamente pelos habitantes do noroeste americano.

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Era uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984), único filme do "gênero" de Sergio Leone, mostra esse contexto americano por outro lado, não das grandes famílias mafiosas, mas de um pequeno grupo de amigos judeus que viviam a margem dos já estabelecidos italianos e que aos poucos vão aumentando seus crimes e ganhando respeito, mas a relação entre os dois protagonistas vai se tornando cada vez mais complicada a medida que um deseja ganhar poder se submetendo aos Italianos e o outro busca uma solução independente, porém menos lucrativa.

O filme trata das relações de amizade que se conflitam com as ações criminosas, assim como O Poderoso Chefão aborda as relações familiares, porém ambos os filmes abordam o contexto social como o grande motor dos acontecimentos.

 

Iniciando as marcantes contribuições de Brian de Palma no gênero, do lado sul dos Estados Unidos foi relançado Scarface (1983), o filme que expõe a ascensão dos Cubanos em Miami, que fugindo das mazelas do Regime Comunista, encontravam um país rico, porém segregado que tratava com hostilidade os latinos. Contudo, para aqueles que nada tinham a perder, o crime era um caminho simples para recompor a dignidade. Tony Montana (Al Pacino) é a reprodução extrema dessa condição, ele age espontaneamente como um trator, até se tornar tão poderoso que a sua grande ameaça é o seu próprio ego.

No final dos anos 80, após o lançamento do já aclamado Scarface, Brian de Palma entregaria ao gênero outra grande obra contextualizada no crime. Os Intocáveis (The Untouchables, 1987) tratava do poder da máfia sob uma ótica realista, e jogava à mesa as possibilidades que a máfia chefiada por Al Capone, personagem antigo que, nas mãos de Robert De Niro ganharia ares de perfeição, poderia trazer à imagem de “Estado incorruptível”. Atuando de forma estupenda, De Niro tirara do bom moço Eliot Ness (Kevin Costner) qualquer chance de protagonizar uma atuação mais enriquecedora que a dele.

O filme retrata a época da Lei Seca, nos anos 30 nos Estados Unidos, e tem como mote narrativo a corrupção de Al Capone no Estado, duelando com as forças benévolas de Eliot Ness, que formara sua equipe de agentes para enfrentar o crescimento da gangue e suas possíveis mazelas ao Estado. De cenas marcantes no cinema e mais uma excelente trilha sonora assinada por Ennio Morricone, Os Intocáveis seria reconhecido como um dos grandes filmes do gênero criminoso.

 

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Já nos anos 90, Al Pacino voltaria a estrelar outra obra de cunho grandioso. Desta vez, o pequeno grande ator dividiria as marcantes atuações com Sean Penn. O Pagamento Final (Carlito’s Way, 1993), trata de um advogado (Penn) que tira da prisão Carlito (Al Pacino). Também assinado por de Palma, a última grande obra do diretor trataria de como as influências maléficas sofridas por Carlito o recolocariam no caminho do crime.

Preso por tráfico de heroína, Carlito pretende colocar no eixo sua nova vida de ex-presidiário e ir com sua mulher viver honestamente nas Bahamas, mas sofre na mão de seu próprio amigo e advogado David (Penn) as influências que ele não conseguiria contornar. Filme de direção excepcional, com um romance inteligente envolto à narrativa, e cenas magistralmente bem encenadas, principalmente aquela em que Carlito vai acompanhar seu sobrinho em um novo “esquema”.

 

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Para ficar nos grandes é hora de adentrar a 'Era Martin Scorsese', ele produz dois grandes filmes na década de 90, Os Bons Companheiros (The Goodfellas, 1990) e Cassino (Casino, 1995), ambos com personagens quase idênticos. Os filmes são mais rápidos do que seus genitores, a ação é mais intensa e a história segue uma narrativa que não deixa tanto espaço para as nuances, contudo a maestria de Scorsese não faz com que o filme fique sem chão, o espectador é absorvido completamente pela narrativa.

Os Bons Companheiros (The Goodfellas, 1990) trata de um Irlandês que cresce no meio da máfia italiana, porém seus amigos constantemente trazem problemas para os chefes italianos que não estão dispostos a resolvê-los, recaindo a responsabilidade para os três amigos.


Cassino (Casino, 1995), remete ao terceiro filme de O Poderoso Chefão (The Godfather: Part III, 1990), quando as famílias italianas do noroeste americano começam a expandir sua influência por uma região mais 'tolerante' a condutas ilegais, ou seja, Nevada - Las Vegas, no meio do deserto começava a surgir um polo de jogo e prostituição.

Contudo as famílias italianas são novamente um pano de fundo longínquo para os amigos erguerem seus impérios na terra promissora e sofrerem as consequências da ganância desmedida e atitudes intempestivas. Nesses filmes o contexto deixa de ser um protagonista para se tornar um coadjuvante de papéis extremamente fortes como Joe Pesci (Nicky Santoro) e Michele Pfeifer (Ginger).

 

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Pulando para a década de 2000 vale a pena citar dois grandes filmes. Em Estrada Para a Perdição (Road to Perdition, 2002) o talentosíssimo Sam Mendes faz um filme que tem como centro a relação de Pai e Filho, numa escalada de violência quando o pai entra em conflito com a máfia irlandesa. Este é um filme visualmente impecável e de uma sensibilidade ímpar em meio de a uma fuga de Michael Sullivan (Tom Hanks) para salvar o filho dos seus antigos patrões.

Na minha opinião, o último grande filme é Os Infiltrados (The Departed, 2006), novamente Scorsese trata com maestria a relação entre a máfia e seus subordinados, os atores se superam causando uma aflição constante quando um policial está infiltrado na máfia e a máfia na polícia, é uma caça mútua que deixa qualquer espectador sem fôlego e sem lado, porque não há ninguém moralmente limpo na trama, nem a lei, nem o crime podem são apresentados como o time certo para se torcer.

 

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Admitimos aqui que a nossa pequena genealogia dos filmes de gangster pode excluir alguns grandes títulos, sobretudo filmes anteriores a década de 70 e filmes ‘estrangeiros’, ou não americanos, contudo acreditamos que pode ser um bom guia para adentrar o gênero sem medo de perder tempo com filmes ruins.

8 Comentaram...

PAULO HENRIQUE DE DEUS disse...

Excelente texto, bem interessante e sua analise sobre a mafia no cinema, mas achei um pouco curto o texto, e bem que vc podia falar sobre "Scarface, a Vergonha de uma Nação" o primeiro filme do gênero.

Cinemarco Críticas disse...

Paulo Henrique,

Scarface foi abordado no texto, elencado diante da sua importância e incontestável grandeza, dominado pelas mãos habilidosas de De Palma.

A intenção do texto foi sintetizar os filmes de maior importância, os quais elencamos 9. Quem sabe façamos uma crítica detalhada exclusiva da obra...

Um abraço!
http://www.cinemarcocriticas.blogspot.com/

Sandir Costa disse...

poderia incluir "Kill The Irishman"... muito bom!

Anônimo disse...

Adoro filmes de máfia, muito bom o artigo!
Só uma observação, Cassino foi estrelado por Sharon Stone, não Michelle Pfeiffer.

Walter White disse...

esse texto está cheio de erros. ao redator, favor rever todos os filmes citados no artigo. em especial a clássica trilogia The Godfather, que aqui foi estuprada com inúmeras inverdades.

Cinemarco Críticas disse...

Walter White,

Peço que indique pontualmente onde estão os erros do texto, apontando a verdade sobre tais citações.

Abraço.

Anônimo disse...

Sobre os equívocos no texto na parte em que se fala do Godfather, acho que sei o que o Walter quis dizer, vou apontar algumas observações:

- "os dois primeiros filmes são o desdobramento do livro homônimo de Mario Puzzo (The Godfather)"

Na verdade, o primeiro filme e as partes do Vito Corleone no segundo filme é que são baseadas no livro. A parte do segundo filme onde conta a história do Michael Corleone foi feita para o filme, não tem no livro.


- "Daí advém uma série de conflitos e mortes que culminam com uma guerra entre as famílias que se resfria quando Michael Corleone define o conflito de modo siciliano"

Na verdade, a guerra começa mesmo quando Michael mata Sollozzo no restaurante, não se resfria. Por isso que Michael é enviado para Sicilia.

- "A segunda parte do filme resgata a infância do Patriarca na cidade de Corleone no sul da Itália e as relações cruéis que a máfia estabelecia com seus cidadãos miseráveis, após isto o filme trata da volta de Michael do 'exílio' e sua ascensão ao posto de chefe da família, ou seja, o novo Don Corleone."

Aqui está confuso. Quando você diz 'segunda parte', se refere ao segundo filme?
Seguinte:
Michael retorna do exilio e se torna Don ainda no primeiro filme. As cenas do jovem Vito na Sicilia e sua ida para América são do segundo filme.


- "Cassino (Casino, 1995), remete ao terceiro filme de O Poderoso Chefão (The Godfather: Part III, 1990), quando as famílias italianas do noroeste americano começam a expandir sua influência por uma região mais 'tolerante' a condutas ilegais, ou seja, Nevada - Las Vegas, no meio do deserto começava a surgir um polo de jogo e prostituição."

Na verdade a ida da família Corleone para Las Vegas acontece no primeiro filme, tanto que no segundo filme eles já estão em Nevada. O terceiro filme não tem nada a ver com isso.

André Salgueiro disse...

É realmente difícil sintetizar um assunto tão rico em detalhes.

No entanto, acho que o Ivan contribuiu para que o leitor interessado nesta temática se atente para os diversas nunces já exploradas pelo cinema norte-americano - sem contar nos outros países.

A palavra "Máfia" quando usada em títulos de textos, como o publicado aqui, abre a questão para uma infinidade de trabalhos cinematográficos relacionados à máfia.

Exige mesmo muita pesquisa quando a proposta é escrever sobre a junção "máfia e cinema".

Escrever sobre a "cosa nostra" no cinema, por exemplo, já não exige tantas dificuldades,pois trata-se somente da máfia siciliana nos E.U.A.Dieciona-se mais o assunto.

Neste caso, "O Pagamento Final" e Scarface (o 2º), não entrariam. Sobre "máfia", até "Tropa de Elite" pode ser mencionado.

Agora, quanto as correções do amigo acima, os dois primeiros filmes da saga não deixam de ser mesmo um "desdobramento" (vide dicionário) do livro "O Chefão".

No caso de "Cassino", a personagem principal é representada por Sharon Stone.

No mais, muito boa a postagem.









A máfia italiana supostamente surge na Sicília

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