terça-feira, 19 de julho de 2011

Avatar Beatriz Paz

Sangue Quente – George Romero e Shakespeare de uma só vez

 

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Olá meus queridos(as) e lindos(as) leitores(as)! Peço desculpas pelo sumiço doido da minha parte, faculdade, emprego e otras cositas más me impossibilitaram de dar o ar da graça por essas bandas, mas cá estou eu aproveitando o tema do último Nozescast trago mais uma resenha fresquinha pra vocês!

De uns tempos pra cá as criaturas “sobrenaturais” vêm ganhando destaque, seja no mundo da literatura seja em séries. Tá, não é de hoje que temos filmes e livros com essa temática, há o clássicos Drácula, de Bram Stoker, e as infinitas e incríveis películas de Romero.

No entanto, o que eu quero dizer é que vampiros e outras criaturas da noite começaram a ganhar um destaque gradativo. Um exemplo disso são as novas edições de clássicos da literatura como Orgulho, preconceito e zumbis ou Razão, sensibilidade e monstros marinhos.

Todo esse boom do sobrenatural começou com a saga de vampiros brilhantes de Stephanie Meyer (me desculpem, mas eu me recuso a chamar esses livros de Best Sellers), depois disso vieram anjos caídos em sagas, como as de Fallen ou Sussurro. Se você reparar bem na sessão de “Mais vendidos” quando for numa livraria, só haverá obras relacionadas a esse tipo de criatura.

O cinema obviamente não ficou de fora, primeiro foram os filmes de Crepúsculo, depois tentaram colocar lobisomens no meio com o filme estrelado por Benício Del Toro e Hopkins. Não deu muito certo, ainda bem que temos Harry Potter na jogada com seus trasgos e testrálios pra dar qualidade na briga. Além do cinema as séries de TV também entraram na dança, Vampire Diaries, Split e Teen Wolf são mais resultados dessa explosão de caninos afiados e imortalidade.

Agora você se pergunta: “Poxa Bia, você não vai falar de The Walking Dead não?” Mas é claro meu querido! Depois dos lobisomens foram os zumbis que ganharam os holofotes do momento, Apocalipse Z, de Manuel Loureiro e o livro da resenha de hoje Sangue Quente, de Isaac Marion são alguns exemplos.

Em termos de cinema os zumbis já são veteranos respeitados tendo suas variantes, sejam elas cômicas como hilário e incrível Todo mundo quase morto, sejam adaptações de videogame como a saga de Resident Evil ou os clássicos filmes do mestre do terror zumbi George Romero. Quem já viu A noite dos mortos vivos ou Exército do extermínio que o diga.

Na TV, os zumbis ganharam espaço com a adaptação (nem um pouco fiel) dos quadrinhos de Robert Kirkman, The Walking Dead e a praga zumbi se espalhou com mais frequência ainda. Aproveitando a infecção geral é hora então de dissecar um dos exemplares citados acima.

 

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Sangue Quente

O fatídico dia chegou, alguns acreditam ser o juízo final, outros pensam que é o fim dos tempos e a maioria nem pensa mais. O tão retratado apocalipse zumbi pela indústria cinematográfica  finalmente teve início e a humanidade não passa de algumas centenas de pessoas reunidas em cidades estádios e lutando ao máximo para sobreviver à praga do novo milênio.

R não é uma dessas pessoas, R é um dos milhões de zumbis espalhados pelo mundo e advindos da praga que ninguém sabe como teve início. Sua rotina é igual a de qualquer outro zumbi só que, diferente das outras obras de mesmo tema, o protagonista do livro de Isaac Marion tem uma “vida” similar a dos vivos, ele sai para comer, se casa, adota filhos, os leva para a escola e até se apaixona, mas tudo descrito de um modo seco, oco e sem vitalidade.

Não há o calor humano em suas palavras, não há riqueza de detalhes ou comparações e metáforas, é tudo objetivo, simples e indiferente, o que faz completo sentido afinal estamos falando de um zumbi e não de um ser vivo. Temos um exemplo disso logo no começo do livro:

 

“Depois de algumas horas disso, noto uma mulher na esteira contrária à minha. Ela não balança nem grunhe como a maioria de nós. Apenas sua cabeça se deita de um lado para o outro. Gostei disso nela, o fato de não grunhir ou balançar. (...)Ela não é ninguém,. Mas será que eu não estava querendo demais também? Estico meu braço e pego na mão dela.

Esta mulher e eu nos apaixonamos. Ou o que quer que tenha sobrado disso atualmente”.

R vive num aeroporto abandonado e destruído pelo apocalipse, e assim como os vivos, ele tem seus governantes, zumbis tão antigos e decompostos que somente lhes restou o esqueleto velho e desgastado, são conhecidos como “Ossudos”, o equivalente aos nossos sábios anciãos. Ninguém contesta uma ordem do conselho de Ossudos e a calmaria impera.

Uma das várias características que diferente o protagonista dos demais mortos vivos é a capacidade precária de fala, uma ou duas palavras de cada vez, fora isso a mímica é utilizada. Os zumbis de Marion são quase como crianças, não sabem ler, mal conseguem falar direito e fazem amizades muito fácil, no caso de R ele tem um melhor amigo chamado M.

Mas não vá pensando que fica tudo por ai. Apesar de todas essas características, R ainda é um morto vivo, ele não sente dor, não sente frio e sim, ele come cérebros. A massa cinzenta é retratada no livro como se fosse uma espécie de droga, ao comer um o zumbi passa a ver a vida de quem ele atacou diante dos seus olhos. É quase uma alucinação ou uma “viagem”, e é numa dessas “viagens” que R começa a vivenciar coisas estranhas.

Uma saída rotineira pra caçar vivos acaba tendo um desfecho diferente quando R, M e outros mortos atacam um grupo de adolescentes que buscava por suprimentos. Durante a investida ele ataca um jovem chamado Perry, guarda seu cérebro no bolso após provar uma mordida, conhece Julie e estranhamente não sente vontade de matá-la. No livro a “fome zumbi” é mais um sexto sentido do que uma resposta cerebral, eles sentem os vivos por perto e assim que devoram os cérebros voltam ao estado inerte e adormecido de sempre, como um viciado depois de consumir sua droga.

R leva Julie para o aeroporto com a justificativa de mantê-la segura, no entanto, a garota é filha do comandante de um dos Estádios Cidades e responsável militar pela caça e eliminação de zumbis, o General Grigio. Conforme a relação dos dois se desenvolve, uma série de mudanças vai acontecendo com R, mas falar mais a respeito disso seria spoiler, então vamos deixar por aqui. Eu, particularmente, não gostei dessa menina, mas isso é opinião pessoal.

Algumas coisas estão lhe parecendo familiares nessa história? Os nomes dos protagonistas talvez? O contraste entre mundos e estados físicos? A rivalidade entre dois mundos banhados de ódio um pelo outro?

Se você não reparou em nada eu ajudo. Sangue Quente é quase uma releitura do clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta. Ou você achou que o homem da história chamar R e a menina Julie uma mera coincidência? R(omeu) e Julie(ta)? O melhor amigo de R se chamar M e o ajudar a correr atrás da garota não te lembra de nenhum personagem da tragédia Shakesperiana? M(ercúcio) talvez? O fato de um ser um zumbi e a outra humana filha de um tirano uma coisa jamais pensada? Ou que os mortos vivos e humanos querendo um destruir o outro só mais uma coisa sem relevância?

A princípio, eu fiquei com um pé atrás antes de colocar as mãos nesse livro, eu sei que pode soar preconceituoso, mas ao ver na capa que havia um comentário de Stephanie Meyer eu já armei minhas defesas contra uma obra literária ruim. Antes que venham com as pedras e o que mais estiver ao alcance pra jogar em mim eu aviso, eu li Crepúsculo e com o perdão da palavra, achei uma bosta. Mas Sangue Quente não se enquadra nessa categoria.

No decorrer do livro, não só R como a narrativa muda, não posso revelar no que, mas se você prestar atenção ela se modifica, coisa que eu achei muito interessante afinal conforme nós mudamos, nossas perspectivas e ações seguem o fluxo dessa mudança.

Uma coisa que eu achei muito interessante no cotidiano zumbi foi que ao morrer, você ganha uma espécie de liberdade mórbida e uma força tremenda. Você não precisa mais se preocupar com contas a pagar, prazos, orçamentos, o que vestir pra ir trabalhar ou como se portar diante de alguém. Ao ser convertido através da mordida, você só se preocupa em comer gente, zanzar por ai e eventualmente gesticular ou grunhir.

No entanto os zumbis também “morrem” e não me refiro só ao famoso e único método de se livrar de um morto-vivo: um tiro na cabeça. Eles se decompõem e acabam virando “Ossudos”, ficam reclusos e muito mais macabros do que antes. R tem uma característica física que o difere dos demais, o seu corpo esta incrivelmente conservado:

 

“Nenhum de nós é atraente, mas a morte foi mais gentil comigo do que com muitos outros. Ainda estou nos primeiros estágios do apodrecimento. Apenas a pele cinza, o cheiro ruim e os círculos negros embaixo dos meus olhos”.

Sangue Quente é o tipo de livro que você come de uma só vez, sua narrativa é fluida e se você não fica esperto ao lê-lo no metro, pode acabar perdendo a sua estação como quase aconteceu comigo. A construção dos personagens é simples, mas você acaba sendo cativado pelo carisma ingênuo, bem intencionado de R e o seu típico dar de ombros.

Uma coisa que eu esqueci de comentar: os zumbis de Marion fazem sexo, M é uma espécie de garanhão do aeroporto e assiste pornografia, mas o ato sexual não é nem um pouco empolgante ou similar ao humano, eles simplesmente ficam nus e esfregam os corpos gelados e em decomposição um contra o outro, mantendo os olhos arregalados e uma expressão de não saber o que esta acontecendo. Não há preliminares, não há penetração, não há graça e não há nada.

É como eu comentei acima, a vida de um zumbi e a vida de um humano são bem parecidas no livro, as crianças mortas vivas vão a uma espécie de escola para aprenderem a matar humanos usando pessoas capturadas, as crianças vivas aprendem a engatilhar armas, recarregar, atirar e a sobreviver dentro das escolas situadas nas Cidades Estádios, é quase um treinamento militar para quem deveria aprender a ler e escrever. Mas, tempos de desespero pedem por medidas desesperadas.

Dentro do desenrolar da história, R convive com a alma e memória de Perry numa luta espiritual rumo a liberdade e aceitação de morte, o tempo todo Marion trata da questão da incerteza da vida, seja descrevendo a vida dos humanos sobreviventes ou seja numa das reflexões de R enquanto “desligado”. No livro, os zumbis ficam acordados por dias até que desmaiam numa espécie de sono para recuperar as energias e não, eles não sonham, pelo menos não todos.

Agora, se você é o tipo de pessoa que não gosta de ler e sim quer assistir (atitude desaprovada pela autora da resenha, diga-se de passagam), não se preocupe. A obra de Marion será adaptada aos cinemas, com estréia prevista para 2012. Até agora só foram divulgados os protagonistas da história: Nicholas Hoult (X-Men: First Class, Um Grande Garoto e Skins) interpretará o peculiar R e Teresa Palmer (Aprendiz de Feiticeiro) será Julie.

 

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Outra coisa muito legal, o próprio autor fez um trailer do seu livro. Pros que não sabem, Isaac não foi pra faculdade, não ganhou nenhum prêmio, não é casado, não tem filhos, teve seus textos achados na internet por Cori Stern e Sangue Quente é o seu primeiro livro. Segue abaixo o trailer mas só ta valendo pra quem sabe inglês.

 

Se você gosta de uma história de amor apocalíptica com cérebros e partes de corpo voando por aí, com o desespero da sobrevivência humana e aquele fio de esperança de que no fim tudo dá certo e todo mundo acaba bem, corra para a livraria e agarre Sangue Quente e você vai perceber que R é muito mais humano do que muitos vivos que perambulam por ai.

 

Título: Sangue quente (Warm bodies)

Páginas: 252

Nota: 10

11 Comentaram...

Unknown disse...

Bem vinda novamente Beatriz!!

Ótima resenha! Curti essa nova visão sobre os Zumbis, me interessei pelo livro e vou compra-lo em breve!

Nilto, o Junio disse...

"O cinema obviamente não ficou de fora, primeiro foram os filmes de Crepúsculo, depois tentaram colocar lobisomens no meio com o filme estrelado por Benício Del Toro e Hopkins." Infeliz de sua parte

Max disse...

Romeu, Julieta e Mercucio... Bela sacada do autor.

kaworu disse...

da forma como vc fala me faz querer ler... mais zumbis com sentimento me parec tao bizarro qnto vampiros q brilham

Thiago Luiz disse...

"ainda bem que temos Harry Potter na jogada com seus trasgos e testrálios pra dar qualidade na briga"
Infeliz, foi essa parte.

Anônimo disse...

caraca, só faltava essa mesmo... é o cumulo do ridiculo. Ao menos no Orgulho & Zumbis, Anna Karenina & Robos, etc. tem um senso de escracho.

"As crianças mortas vivas vão a uma espécie de escola para aprenderem a matar humanos usando pessoas capturadas"

relamente, vampiros que brilham ao sol não parece tal mal agora

barbsm disse...

Li duas vezes o texto da Beatriz para tentar entender o que ela viu nesse livro que me passou tão batido e, sinceramente, não consegui. Dar nota 10 para um livro que eu considero um dos piores que já li (senão o pior)?
O autor passa por cima de qualquer conhecimento prévio que tenhamos de zumbis, cospe em qualquer definição, destrói a "cultura zumbi" enraizada no nosso imaginário. Pra mim, é bem óbvio que o fato da Meyer ter gostado do livro é simplesmente porque, assim como ela ignorou qualquer convenção ou "noção histórica" de vampiros, o autor faz o mesmo com zumbis. Quer recriar? Beleza, mas pelo menos faça isso de uma forma que nos faça acreditar nesse teu novo conceito! Os zumbis do livro não são críveis, tudo parece uma piada de mau gosto! Um zumbi que <<<>>> casa, adota filhos, aprende a dirigir, canta músicas e DIVIDE A PORRA DE UMA CERVEJA COM A PROTAGONISTA (aliás, que protagonista mais tosca essa)!<<<>>>

Sinto muito quem gostou dessa "história de amor apocalíptica", mas, como diria um amigo meu, "a única coisa q um zumbi pode beijar é o cano duma 12 carregada".
Abraço.

Anônimo disse...

Eu gostei muito do livro,foi mais,muito mais do que eu esperava dele,não e so mais um livro adolescente,eu não sei explicar direito mas eu sinto o autor mergulhar fundo a procura de um sentido e isso me deixa bem feliz pois os livros disponiveis hoje não passam da superficie e isso me faz mal SANGUE QUENTE nao so fala de transfomações mas tambem as faz algumas pessoas podem consideralo fraco ate horrivel mas em vista com o que se tem no mercado , eu acho que posso dizer isso do livro ele possui um pouco de personalidade, reparem que estou dizendo um pouco,a reflexao que esta sempre tao presente e algo que esta faltando mesmo sendo sempre necessaria e este livro a tras e espero que com este exemplo venham outros.ESPERO QUE ALGUEM LEIA E ENTENDA O QUE EU QUIS DIZER.

Anônimo disse...

A maior merda de resenha que meus olhos ja viram...sem nenhuma lógia e pura emoção, ai ai...triste, triste mesmo.

Anônimo disse...

Mas pelas primeiras fotos,ja
da pra ver que o filme vai ser
crepusculo puro,alem de que nao
da pra ser totalmente fiel ao livro
e conseguir a classificacao pg-13(12 anos
por aqui)essencial pra um sucesso de bilheteria!

Anônimo disse...

acho eles perfeitos pra esse papel. estou ansiosa para ver o filme. *-*

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