sexta-feira, 29 de julho de 2011

Avatar FiliPêra

O que o possível fracasso do 3DS diz sobre o atual mercado de videogames portáteis

 

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Nintendo é sinônimo de portáteis. Mesmo tendo ficado famosa com o Nintendinho e Super Nintendo (pra mim, ainda o melhor videogame da história), foi com os portáteis que a empresa se tornou famosa, e até o ano passado, foi a segunda maior empresa do Japão. Game Boy e Nintendo DS praticamente se tornaram sinônimos de videogames portáteis, e venderam centenas de milhões de aparelhos. Fora isso, bateram fortemente em adversários tecnicamente muito superiores, como o Game Gear (que tinha cores quando o Game Boy rodava tudo em verde), o Lynx ou o N-Gage, todos apontados como Game Boys Killer. Todos capitularam, e os portáteis da Nintendo nem tomaram conhecimento deles. O DS, por exemplo, vendeu mais de 145 milhões de aparelhos, se tornando o videogame mais vendido da história em muitos territórios.

Parece que as coisas mudaram. Quando foi apresentado na E3 do ano passado, o 3DS foi considerado o melhor do evento. Era uma sensação, as mecânicas do DS somada a emergente tecnologia 3D sem o uso de óculos especiais, que prometia ser o futuro - ou não, já que os produtores de Hollywood querem empurrar o sistema goela abaixo de meio mundo, mesmo com os incômodos. Era o sucesso dos sucessos.

Mas as coisas nem sempre saem como previsto!

Ainda é cedo pra dizer, mas até o momento os números de venda não são nada animadores. Até o fim de junho, o portátil vendeu 4.32 milhões de unidades, mas apenas 700 mil no último trimestre, mundialmente, o que mostra uma queda abissal do lançamento pra cá. Por esse motivo, a Nintendo foi franca, e decidiu reduzir abruptamente o preço do seu videogame antes dele completar os primeiros seis meses de vida - de US$ 250 para US$ 170. E os que já compraram o aparelho poderão baixar 20 jogos de Game Boy no eShop, a loja online do aparelho.

É preocupante e inédito para a companhia, ainda mais se levarmos em conta a tradição da empresa no ramo. Lembro de coisa similar somente com o Game Cube, que não foi páreo para o poderio do PlayStation 2 e nem mesmo para o Xbox original. No momento, o 3DS está apanhando até mesmo para o declarado morto PSP.

“Apesar de já ter acontecido no passado, quando um videogame teve o preço reduzido para aumentar as vendas, nunca aconteceu na história da Nintendo de um console passar a custar tão menos antes de completar seis meses de vida”, afirmou o presidente Satoru Iwata.

Ou seja: a coisa tá feia. E talvez não seja só pro 3DS. As vendas gerais de videogames caíram, tanto da Nintendo quanto da Sony (as vendas trimestrais da Microsoft estão numa linha similar).

Entre abril e junho, foram vendidas 1,8 milhão de unidades do PS3 (menos do que as 2,4 do mesmo trimestre do ano passado), 1,8 milhão do PSP (mais do que o 1,2 milhão do mesmo período) e o velho fiel, o PS2, vendeu 1,4 – só um pouco menos que os 1,6 de antes.

E na Nintendo? As vendas da família DS ao redor do mundo caíram de 3,1 milhões no período de abril a junho de 2010 para 1,4 nesse mesmo trimestre de 2011. O Wii sofreu uma queda equivalente, indo da 3 a 1,5 milhão. Esses números não seriam tão preocupantes se o 3DS estivesse vendendo bem, mas não é muito o caso: foram 710 mil unidades em três meses. No mundo todo. [Kotaku]

Pode ser apenas uma época ruim, já que o console está escasso de jogos realmente importantes, bem diferente da lista gigantesca lançada pela empresa, além do preço anterior que o colocava no patamar dos consoles de mesa. Do outro lado, o PSP está no fim do ciclo de vida, e por isso mesmo está a preço de banana. Resultado: o portátil tá quase morto no Ocidente, mas no Japão é um campeão de vendas. Contraditório? Talvez não.

A situação parece ótima para a Sony, que lançará o PS Vita no final de 2011. Mas pode ser que as coisas não sejam tão fáceis quanto podem parecer. O normal seria um analista imaginar que um fracasso do 3DS seria uma vitória automática da Sony, mas o momento parece indicar um agudo encolhimento do mercado de portáteis. Smartphones e tablets parecem representar os novos consoles portáteis, abertos a jogos cada vez mais poderosos e só dependentes de acordos com produtoras. Se hoje um smartphone parece cada vez mais essencial, um console portátil parece cada vez mais dispensável, e uma coisa naturalmente substitui a outra, ainda mais pela diminuição de importância do mercado japonês.

Em outras palavras: o PS Vita pode já nascer assassinado pelo iPad e Samsung Galaxy.

É claro que estamos falando da Nintendo e da Sony, duas gigantes que não jogam pra perder - mas o momento talvez indique o fim de um mercado importante para as duas empresas. Há poucas horas, conversando com o Bruner, mandei ele escrever: essa geração de portáteis provavelmente será a última!

Não creio que a Nintendo deixará que suas franquias sejam jogadas em outros aparelhos, nem tão pouco creio que o 3DS será um fracasso (tem Mario, Metal Gear Solid, Kid Icarus e outros grandes jogos para serem lançados ainda) - muito menos será um sucesso estrondoso como a empresa espera -, mas acredito que uma era está acabando nesse momento, com uma “americanização” cada vez mais definitiva do mercado e um dos símbolos dos games (os portáteis) vivendo seus últimos anos.

 

[Para uma análise mais centrada em aspectos técnicos do próprio console, leiam ESSE artigo que escrevi para o GamesBrasil]

3 Comentaram...

Agostinho Rodrigues Torres disse...

Talvez essa queda geral tenha a ver também com o momento econômico dos ultimos 12 meses, não sei dizer exatamente como. De certa maneira os portateis são muito mais luxuosos do que "úteis" até mesmo para a diversão, com uma situação econômica mundial ruim eles são os primeiros a cair e depois os consoles de mesa, que tambem não estão com vendas atualmente lá muito altas!
Claro que o 3DS sofre suas próprias dificuldades e uma entrevista feita com milhares de japoneses sobre o motivo de não quererem o 3DS tem em primeiro lugar da lista o fato de os japa estarem satisfeito com o antigo ds e em segundo (se não me engano) justamente a questão de terem comprado smartphones e estarem muito bem com eles para tudo.
Não acho que podemos decretar a morte dos portateis e sim uma mudança em sua estrutura comercial, que provavelmente vai passar a se voltar também para as questões das redes sociais, comunicação e esse bla bla bla todo que sempre vi como uma falha dos portateis!
Só podemos esperar pra ver o que vai rolar, de qualquer forma.

Semija Omurokay disse...

Faz mais de vinte e cinco anos eu escuto a mesma ladainha de que os videogames (portáteis ou de mesa) perderiam espaço para os PC's e celulares da vida. O mercado de consoles já esteve em retração antes. Sou um dos poucos brasileiros que não possuem celular (pra mim é tecnologia obsoleta e pouquíssima gente se deu conta disso), mas tenho um Wii, um XBOX 360, um PS2 e um PS3. No mẽs que vem o meu Nintendo 3DS estará bem aqui para me entreter.

Sim, creio que a Nintendo errou feio em sua estratégia de marketing em relação ao 3DS, mas daí a dizer que é o fim dos consoles portáteis é um baita exagero. Eu quero jogatina sofisticada, não essas tosqueiras de Farmville e jogos de iPad com jogabilidade truncada. E com certeza não sou o único nem a minoria da comunidade gamer a pensar assim.

RicAlex disse...

Diz que o publico está de saco cheio de torrar a grana num aparelho caro, pra pouco tempo depois a empresa desse mesmo aparelho, lançar outro com mais recursos.

E a Apple que não seja besta em anunciar um Ipad 3 agora...

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