terça-feira, 26 de julho de 2011

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The Man from Earth

Por Marco Aurélio, Cinemarco Cineclube 

 

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A julgar pela capa, The Man from Earth parece um típico sci-fi, mas não é. É um deliciosíssimo trabalho construído sobre uma ideia originalíssima, da qual subtraem-se diversas análises. É um filme para pensar, mas nem por isso difícil de entender. Este longa é dotado de uma ideia muito simples, da qual muitas pessoas também já devem tê-la imaginado, mas a construção dos diálogos e as conexões das ideias propostas nessa envolvente história são sua maior virtude.

The Man from Earth encaixa-se naquele modelo de filme que se passa num ambiente só, que acabam por exigir do diretor e roteirista muito mais agilidade do que o normal, já que a possibilidade do filme se tornar monótono são elevadíssimas. Nesses filmes, em geral, o espectador não tem muita coisa para se identificar, senão somente a ideia desenvolvida, que, obrigatoriamente, tem que se mostrar inovadora. Pois bem, uma vez que esse risco é habilmente driblado, já se tem meio caminho andado para agradar o público, basta sua narrativa manter um ritmo linear evolutivo no contexto do problema e história de seus personagens. E este longa consegue tudo isso. Esses filmes possuem essa peculiaridade de alternar com o público uma carga maior de adrenalina e tensão da trama, onde a possibilidade de envolvimento é bem maior. A exemplo, tem o recente Enterrado Vivo, e os mais antigos Jogos Mortais, O CuboPonto de Mutação, Janela Secreta e Festim Diabólico; muito ou pouco, a trama destes filmes fundamentam-se num local específico que geralmente serve apenas como pano de fundo para a história.

Em The Man from Earth a história é ousada: John Oldman é um professor universitário, e está de malas prontas para mudar-se da cidade e largar seu atual emprego. Para sua despedida, convida seus colegas professores para um encontro em sua residência. Naquela noite qualquer, tudo não passaria de apenas um dia fadado à sua singela confraternização se John não decidisse revelar um detalhe de sua vida para os demais: que possui 14.000 anos de idade. Uma vez feita essa revelação, o filme adota uma linha investigativa e desmembra-se com uma característica clara de entrevista.

Este tom de entrevista que o longa adota intercala duas necessidades básicas: responder às imediatas dúvidas dos demais colegas de John e as mesmas incertezas presentes nos espectadores. Com a justificativa de que queria se mostrar transparente com os demais colegas antes de sua viagem de despedida, esse é o motivo que impulsiona-o a revelar sua verdadeira identidade. John troca de cidade e amigos a cada dez anos, para que seus colegas não percebam a sua incapacidade de envelhecimento da pele.

Assim, as inúmeras explicações de Oldman (percebeu o trocadilho?) revelam como ele viveu na pré-história, como desenvolveu-se nos grupos primatas, como acompanhou a evolução da humanidade, sua relação com os maiores pensadores e filósofos, as invenções humanas e sua relação com familiares e a perda de todos aqueles que possuía admiração. Após estas repostas emergenciais, se observa uma tendência de impor a dúvida ao espectador sobre todas as afirmações feitas por ele, onde começa-se a perceber os pontos de maior genialidade da trama. Seguindo uma iniciação explicativa científica sobre os fatos, os diálogos se alteram e evoluem para um patamar religioso, que é obrigatório, diante da realidade revelada sobre John. Ele caracteriza, assim, sua relação com Buda, com as diversas religiões e o Cristianismo.

Outro ponto interessantíssimo do filme é a ambientação escolhida para o desenvolvimento narrativo de toda a história. Entre seus colegas professores, estão pessoas de nível profissional altíssimo, em diversas áreas: um arqueólogo, um biólogo, um psicólogo e uma religiosa devota ao Cristianismo. Essas pessoas representam um pouco da diversidade de estudos e pensamentos humanos que direcionam-se a tentar explicar e entender um ponto em comum: a história e origem humana. Nesse sentido, o trabalho do desconhecido diretor Richard Schenkman consegue não ser tendencioso, algo que poderia comprometer em muito seu trabalho. A apresentação de suas ideias de cunho científico e religioso tentam unicamente observar e apontar para uma análise investigativa sobre a história humana, apresentando através dos demais personagens, a total incapacidade de uma conclusão real sobre esta condição. As características apontam para uma total ignorância e arrogância do homem em querer garantir que sua história se passou realmente como está documentada.

A característica mais importante dessa história é construir e desconstruir suas afirmações, mostrando a capacidade que temos de pensar conforme o meio e a sociedade ao nosso redor, formulando nossas opiniões pautadas nessas análises já existentes e as defendendo como imutáveis. O que o filme consegue fazer nesse sentido é surpreendente. John transforma o pensamento de veteranos estudiosos, torna-os condicionados ao SEU pensamento, e tem a ousadia de destruir toda a história contada em apenas poucos minutos, fator que acaba revelando a fragilidade de pensamento dos seres humanos.

 

Será que é o Bruce Dickinson que tá atuando?

 

The Man from Earth não parece querer mais que isso. Propõe-nos uma história que, a primeira vista, parece absurda, mas convence-nos com a grandeza de sua audácia e belíssimo roteiro. Apesar do perigo de transformar tudo numa baboseira sem tamanho, convence verdadeiramente em suas intenções de mostrar-nos um ponto-de-vista diferente sobre a incerteza que os humanos possuem sobre suas origens. É profundo mesmo em seus pequenos 87 minutos de duração.

Este longa americano á uma excelente dica de filme independente, pautado na liberdade narrativa com um propósito incomum. Não tem uma produção foda (teve apenas duzentos mil dólares de investimento), nem atores de ponta, e foi disponibilizado para download gratuito na internet pelo seu próprio diretor. Uma pena que sua divulgação não tenha ocorrido na mesma proporção de seu merecimento, algo comum por aqui, e que nem possibilitou uma tradução de título no Brasil.

 

The Man from Earth (EUA, 2007)

Diretor: Richard Schenkman

Duração: 87 min

Definindo-o em uma palavra: Inovador

Nota: 10

4 Comentaram...

Gregório disse...

Eu ia perguntar exatamente o acima, mas sem as legendas...
Mas falando sobre a trama, ela realmente é muito interessante, mas eu já vi algo parecido em um livro da Anne Rice, não lembro qual, em que um vampiro (eu disse parecido, não igual) conta toda a vida dele, desde a Grécia Clássica. Mas é claro que não tinha toda essa profundidade que esse filme parece ter.

runnerba disse...

Esse aí conheço há anos. Baixei e consegui legenda. Excelente!!

Rodrigo J disse...

Já vi esse filme a um tempo também e fiquei encantado com a narrativa. :D
Lembro que um dia estava na casa de um amigo e disse: "Vamos assistir The Man from Earth, é foda" só para depois ficar comentando sobre o filme já que não conhecia ninguém que o tinha visto. ='(

Torrent e legenda
http://www.4shared.com/file/CGqhJmpg/The_Man_from_Earth.html

Fábio Oliveira disse...

Já assisti há algum tempo. Mostra que pra fazer um bom filme só é preciso de uma boa idéia e de gente inspirada (nada contra as super produções hollywoodyanas).

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