Ultimamente tive um surto anti-trabalho, principalmente por ter voltado a trabalhar depois de mais de um ano (lembra do caso da minha última demissão? Então, foi meu último emprego…). Sempre preferi qualquer coisa mais lúdica e com pouca responsabilidade do que a maldição da gastança de tempo, a escravidão capitalista remunerada - um dia escrevo melhor sobre isso, mas procurem os textos do Bob Black pra entenderem meu ponto de vista. Talvez esse sentimento seja uma reação inconsciente natural às coisas que ouvi de um japonês workhalic uma vez, que ficou extremamente surpreso e abismado quando disse que no Brasil existia uma coisa chamada final de semana - ele arregalou um olhão também quando viu uma poltrona boiando na baia de Vitória. Depois da conversa com ele - que rolou no porto de Vitória -, me pus a imaginar quanto tempo um japa tira de férias por ano. Acabei de descobrir a resposta, e é um pouco mais assustadora do que pensei…
Já é bem conhecida a disposição do povo japonês para o trabalho, tão forte quanto o seu apego às suas ricas culturas. A Expedia Japão fez uma consulta em 11 países para obter resultados mais precisos da relação japoneses/folgas. E eles chegaram ao número de 7,9 dias de folga ao ano, sendo que o país só permite 15 dias de férias remuneradas anuais. Os motivos para tamanho empenho são vários, e passam pelo sentimento que muitos trabalhadores japoneses têm de “evitar excesso de serviço para os colegas”. Outro motivo é o extremo apego que o país tem ao critério da senioridade, onde funcionários mais velhos - não necessariamente os mais competentes - têm preferências em promoções, o que gera uma hierarquia com idades compatíveis com as respectivas posições. E como os funcionários mais velhos geralmente não tiram férias, os mais novos seguem o exemplo, num gesto de quase pressão social.
Um empresário (creio que do RH) japonês deu uma declaração anonimamente sobre o assunto:
Uma pessoa que entrou na empresa há apenas 6 meses me perguntou: “No mês que vem eu quero viajar com uns amigos, então, eu posso tirar a semana de folga?”.
“Uma semana é impossível, você deve compreender!”, eu disse, em resposta à pergunta que veio do nada. Ele me olhou com uma cara triste e assustada. Eu deveria ter respondido em um tom mais leve. […] não havia nada programado naquele momento e não é que eu não queria que ele tirasse férias, apenas não é a prática na companhia. Para começar, o ambiente em nossa empresa é tal que ninguém usa as licenças remuneradas. Além disso, superiores e colegas à nossa volta estavam ouvindo a conversa. Seria impossível eu dizer sim. Não faça essa cara… Nós temos um sistema com licenças remuneradas que são inutilizáveis e que geram uma sensação de culpa acima de tudo. O melhor seria não ter sistema nenhum.
Outro funcionário, dessa vez comentando uma pesquisa da Reuters conduzida em 24 países que concluiu que somente um terço dos japoneses tiram férias, disse que é normal os habitantes da Terra do Sol Nascente pensarem no que os colegas de trabalho imaginarão deles ao pedirem férias:
A folga remunerada no meu ambiente de trabalho é algo que existe, mas não se pratica. O clima geral é tal que você realmente não pode aproveitar isso. Se alguém tentar sair no horário normal ao final do expediente , sem fazer hora-extra, as pessoas conversarão com você em tom acusatório, dizendo “O quê? Você não está realmente indo embora agora, está?”.
Um terceiro motivo é o vácuo legislativo do país quanto a licenças de saúde, o que leva muita gente a guardar as férias pra quando estiver doente. Ou seja, caso um funcionário falte por estar doente, um dia dos seus 15 de férias remuneradas será descontado. E eles saem doentes, principalmente por problemas psicossomáticos devido a stress e excesso de carga horária. Um blogueiro japonês discorreu um pouco sobre o modo de trabalho japonês, que se aproxima da escravidão, segundo ele. De acordo com seu relato, a pressão por horas extras às vezes impede que gerentes peguem o último transporte pra casa, e tenham que dormir no trabalho mesmo, além do fato de que o país possui um elevadíssimo índice de suicídios.
Bom, agora sei um país onde Eu definitivamente não trabalharia… não tenho sete vidas pra gastar enriquecendo os outros, muito menos num ritmo muito maior do que o brasileiro, que parece brincadeira de criança perante o japonês.
[Via Global Voices]
9 Comentaram...
Estou nesse momento no Japão e sim, a trabalho.. sendo que há poucos dias eu estava no Hawaii, que, em se tratando de trabalho, é a Bahia dos EUA, se é que me entendem..
É impressionante como as pessoas aqui vivem numa correria, sempre ocupadas, sempre mexendo em seus telefones.. coisa de louco.
Eu JAMAIS moraria aqui.
É triste que, pelo estrabismo cultural, não somente eles não percebam que renunciam ao melhor da vida, como nós, que vivemos melhor, ficamos exaltando esse modo estrábico de se arruinar os melhores anos de sua vida, dando-os a alguma empresa, que um dia, quando adoecer, se aposentar, ou não for mais útil, simplesmente lhe irá substituir como uma roldana ou catraca. O trabalho danifica o homem. Pobres orientais.
É um povo que deve ser admirado pelo seu esforço. Infelizmente o capitalismo está sugando tudo que pode dos trabalhadores nipônicos.
Acho que esse é um mal que assola o mundo inteiro. Temos N exemplos de pessoas aqui mesmo que trabalham 12, 13, 14 horas/dia pra ganhar 1/3 do que um trabalhador japonês ganha. O trabalho se tornou um fim em si. Poucas pessoas percebem o círculo vicioso no qual caíram (trabalhar-ganhar mais $$$-gastar mais $$$-ficar sem $$$-trabalhar). É isso que as deixa doentes, insatisfeitas, depressivas... Enquanto as pessoas não entenderem que não são os seus respectivos trabalhos (VAI TYLER!!!), a situação vai se manter intacta.
Eu tenho descendência nipônica e hora ou outra recebo a pergunta: "Você não vai para o Japão?". Aqui na região noroeste do PR é comum descendentes irem ao Japão trabalhar e ganhar dinheiro, é preciso reconhecer que apesar de se trabalhar muito, a remuneração é melhor, embora as condições sejam por vezes piores do que aqui no Brasil. Por outro lado as oportunidades de vivencia que se pode ter lá são infinitamentes maiores do que por aqui. Tenho muitos parentes lá, muitos dos quais vão e voltam e vão, minha irmã não volta mais pra cá. Eu gostaria de deixar dito que apesar de se trabalhar muito lá ela consegue ir esquiar, nadar, visitar lugares historicos, já foi à Disney um par de vezes, sendo que ela é trabalhadora braçal! assim como o marido, se pararmos pra pensar, sendo trabalhador braçal aqui no Brasil quantas vezes foi possivel ir ao Beto Carreiro? Ou à praia? ou que seja ir visitar um grande centro (no meu caso que moro no interior). Meu primo comprou um carro lá, do jeito que ele queria: grande, potente e gastador, com 2-3 anos de trabalho, qto tempo deveria se trabalhar aqui pra se conseguir algo equivalente?
EU entendo que o consumismo é repugnante e que nada se pode justificar com ele, MAS o fato de 'poder TER' faz a diferença na vida de mentes comuns. Lá se trabalha muito, mas se 'pode ter'; aqui não se trabalha tanto, e mesmo que se trabalhasse seria dificil 'poder ter' alguma coisa.
Agora, será que qualidade de vida tem a ver com trabalhar menos e ganhar o mesmo, como propõem alguns candidatos/partidos? OU seria trabalhar mais e remunerar melhor pela hora trabalhada e Reduzir a dentadura dos Impostos para aumentar o valor do dinheiro ganho?
Fico a pensar sobre isso...
as pessoas gastam a saúde para ganhar dinheiro
e gastam dinheiro para recuperar a saúde
Hoje, a oferta é bem menor que a procura no Nihon. Portanto, essa condição...obriga o japonês a aceitar tais condições, como em qualquer outro país desenvolvido. O Brasil, ainda está patinando neste quesito, aqui pode-se escolher a empresa que quiser, dependendo da universidade que cursou. Lá, a coisa é mais homogênea em termos de capacidade. A concorrência é bem mais acirrada. No tocante a longevidade numa mesma empresa, isso é natural, pois o alto cargo requer conhecimento profundo desde o chão de fábrica até a presidência.E isso leva um tempo enorme de anos. Gerência, revela um alto conhecimento da empresa, não necessariamente uma visão do futuro da empresa. Creio que hoje as coisas estão mudando, até nos cargos mais simples. Estão adotando o estilo americano de administrar.
por isso que virei monge... --"
Eu tb moro aki no Japao ha quase 4 anos mas nao trabalho como os japoneses nao,alias eu nunca gostei de seguir uma rotina capitalista e socialista.Eu simplesmente nao consigo viver dessa maneira.Nao passo necessidades e nas epocas variadas q trabalho nao sou escrava de ninguem.Acho q tudo depende do ponto de vista de cada um,ha akeles q se moldam ao sistema e ha akeles q nao.Simples assim em qualquer lugar do mundo.
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