O Cavaleiro das Trevas

Sim, o nosso texto está atrasado. Mas foi por um bom motivo: levantar nossos queixos, após a sessão de cinema em que assistimos a um dos maiores filmes da década. Ao sair do sala estávamos quase que flutuando, e estupefatos, tamanha a qualidade do filme que assistimos. Inicialmente somente o FiliPêra escreveria sobre o filme, mas não teve como ser assim. Logo o BruNêra se manifestou querendo escrever alguma coisa também. E esse foi mais um dos motivos do atraso, estar com os dois textos na mão. Mas a espera foi recompensada, e cá pra nós, o filme merece tudo (e muito mais) de bom que foi dito sobre ele.

The Dark Knight (EUA, 2008)

Diretor: Christopher Nolan

Duração: 152 min

Por FiliPêra

O Cavaleiro das Trevas é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos. Ponto! Ironicamente, para alcançar tal feito Christopher Nolan, o diretor da empreitada, inverteu a fórmula de sucesso do gênero, e se aproximou ainda mais das raízes quadrinísticas (e sombrias) do personagem, presentes principalmente nas histórias de Frank Miller. Batman é um herói, mas não como conhecemos heróis. O herói de verdade passou a ser Harvey Dent, o ilustre promotor de Gotham, que iniciou uma cruzada contra o crime organizado da cidade. Ele passou a ser a face dos que odeiam a injustiça e Bruce Wayne deposita sua confiança nele para ser o seu substituto na caça aos criminos de Gotham. Batman, a identidade secreta de Wayne, por sua vez, inspirou pessoas a se vestirem como ele e sair combatendo o crime e foi, ainda que indiretamente, o responsável pelo surgimento do mais sinistro dos vilões: o Coringa.

O Coringa não é o cara que quer dominar o mundo, ganhar muito dinheiro, ou congelar Gotham; ele simplesmente faz maldade. Pode parecer simplista, mas NÃO é. Assim que o Coringa surge na tela você sabe que algo terrível vai acontecer. Ele é a perfeita encarnação do mal; não precisa de motivações, objetivos e muito menos de planos. Ele simplesmente faz por fazer, porque quer. É um agente do caos, como afirmado por ele mesmo. E gosta de truques, como quando faz um lápis desaparecer, em sua primeira aparição de verdade. Ele é também o que faltava a Batman Begins para ser o filme perfeito.

Muito já foi dito sobre a atuação de Heath Leadger, sob a pele do Coringa. Mas ele não atuou. À exemplo de outros atores, como Jamie Foxx em Ray e Robert DeNiro em Touro Indomável, o astro, recentemente falecido, sumiu em seu personagem, não deixando qualquer dúvida de que estamos vendo ali o Coringa de fato. O personagem é podre, amoral, violento e não segue nenhuma regra. Sua motivação, de acordo com ele próprio, é se divertir, e para isso necessita da existência do Homem-Morcego. Coringa, inclusive, não tem origem. Na verdade não necessita de uma; e durante o filme chega a contar três origens diferentes para si próprio, todas envolvendo facas e sorrisos.

E a violência desmedida leva o filme para um dos focos que as HQ's do morcego, especialmente Asilo Arkham, tem. Qual a diferença entre Batman e seus inimigos? A pergunta aparenta ter uma resposta óbvia, mas nada é tão simples quando mostrados sob a ótica correta. Coringa mostra ao Batman como eles são parecidos, ainda que de lados (nem tão) opostos da lei. Ele é o palhaço do crime, matando e roubando por simples prazer, e Batman é o extremismo do braço da lei; batendo e quebrando, tudo em nome do seu senso de justiça agudo. E em sua luta contra o crime, Batman cada vez mais, arrasta os que estão junto com ele para o mesmo buraco. Um deles é Lucius Fox, o diretor das Indústrias Wayne, que se vê quebrando leis de privacidade.

Mas nem só de perfeitas atuações e um roteiro impecável é construído o FILMAÇO que é O Cavaleiro das Trevas. Na técnica, Nolan e cia. também se superam. Primeiramente fazem um uso moderadíssimo de CGI, usado em escala industrial em filmes de hoje em dia. Segundo porque coloca verossimilhança em TUDO. Todos os brinquedos que pipocam na tela, todas as ações de seus personagens, todas as piadas feitas; tudo é devidamente explicado, e faz o maior sentido. E Nolan, advindo do cinema independente faz uso de coisas que hoje estão quase em desuso em Hollywood. A principal delas são as boas angulações de câmera. Quem quer que tenha visto a cena em que o Coringa foge da cadeia e coloca a cabeça para fora do carro para sentir o "ar da liberdade" entendeu do que Eu estou falando. Quem quer que tenha visto a cena da perseguição ao caminhão na rodovia entende que, com Nolan tudo tem que ser de fato feito (para essa cena eles só tinham uma oportunidade de filmar. Se errassem era sayonara...).

Nolan, e todos os envolvidos em O Cavaleiro das Trevas, também ganham pontos por fazerem um filme explosivo, carregado de emoções, com os personagens como peças mais importantes; tudo ao mesmo tempo. Na verdade os dois únicos pontos fracos do filme são: 1) Maggie Gyllenhaal, apesar de mais talentosa que a insossa Katie Holmes, sua antecessora no papel de Rachel Dawes, o amor de Bruce; é feia de dar dó; 2) o efeito Watchmen; ou seja não vai ser fácil assistir um filme esse ano sem lembrar que O Cavaleiro das Trevas é muitíssimo superior, com um roteiro irretocável. Hulk e Homem de Ferro, agradeçam por terem saído antes desse filme do Homem-Morcego, pois do contrário poderiam ter tido um destino (leia-se bilheteria) bem diferente.

E se tem um destaque no roteiro de O Cavaleiro das Trevas é o seu final. Arrepiante e incrivelmente anti-hollywoodiano - com seus irritantes finais felizes forçados. Mas esse final é diferente. Encerra o filme com perfeição, mas ao mesmo tempo deixa um gancho para o próximo capítulo. É no discurso do, agora, Comissário Gordon que percebemos a verdadeira natureza de Batman, um herói que está acima da lei, mas que teima em segui-la.

O ano pode acabar aqui!

Nota: 10

Por BruNêra

A única forma de definir O Cavaleiro Das Trevas é "PUTA QUE PARIU!!!"
Eu acompanhei toda a campanha de marketing, virais, trailers e tudo mais desde que foi anunciada a continuação de Batman Begins. Mas nada me preparou para o que eu vi sábado passado. Posso dizer sem sombra de duvida que essa é a melhor adaptação de um personagem de quadrinhos jamais feita (e olha que ja temos 300, Sin City, Homen Aranha e X-men. Espero que Watchmen mude isso).

No filme, Christopher Nolan não se rende a nenhum preconceito criado sobre Batman; tudo na tela foi tirado diretamente dos quadrinhos e magistralmente convertido em película, mas sem a atmosfera inverosímil e exacerbada, que os filmes do Morcego tinham antes de Begins. Todos os personagens têm profundidade e motivações cabíveis. E se, no primeiro filme os vilões foram secundários (Ra's Al Ghul e o Espantalho não sustentam um filme) para dar destaque ao surgimento e desenvolvimento do Batman; em O Cavaleiro das Trevas as estrelas são os vilões. "O" vilão, para ser mais específico. Não estou tirando o mérito dos outros personagens. Batman está fantástico; toda a sua noção de justiça e atitude sombria esta lá, e durante os 152 minutoss os aspectos mais marcantes da personalidade do herói são elevadas e estabelecidas, com base principalmente em sua relação com o Coringa.

No fim o título O Cavaleiro Das Trevas é merecido. O Duas Caras (personagem que nunca gostei) está surpreendentemente realista. Na minha opnião o diretor conseguiu tirar água da pedra com esse vilão. A transformação de Harvey Dent é lenta e bem conduzida, mas como disse acima, a estrela é o CORINGA. Esse sempre foi meu personagem preferido do Universo DC. Sempre que alguém de talento bota a mão em sua cronologia consegue extrair pérolas desse palhaço. Exemplos não faltam: O Cavaleiro das Trevas, Asilo Arkham, A Piada Mortal e por aí vai. E de todos os aspectos mantidos no filme, o que mais me agradou foi a loucura e violência do Coringa. Alguém consegue imaginar o Coringa de Jack Nicholson espancando até a morte o Robin com um pé de cabra? ou atirando e sodomizando (!?) a filha do Comissário Gordon? Pois Heath Ledger te convence que tranquilamente faria isso com um sorriso no rosto :). O cara está violento, pessoal; violento e louco! E diferente do que fizeram anteriormente com o personagem, sua motivação não é dinheiro, ele quer o caos, quer corromper o mundo e destruir o Batman, quer provar que todos são tão loucos quanto ele. Basta um pequeno empurrão. E para quem leu as revista nada o define melhor.
Eu poderia ficar linhas e mais linhas elogiando o filme, mas vou parar por aqui. Para entender de verdade o que esse filme representa para o universo nerd vocês têm que assistir...OBRIGATORIAMENTE!