Crédito: IrenaS
Por FiliPêra
Colaborou Leandro Sherman
Milagres acontecem! No caso de Hollywood os milagres são, ora motivados por dinheiro pura e simplesmente, ora por vontade de ver a arte ganhar vida. Com a franquia de Batman no cinema foi um pouco dos dois. Após ter virado motivo de piada com seu último filme no cinema, Batman e Robin, com cenas execráveis como a do "BatCartão de Crédito", a "batbunda" e o "gelo flexível", o Homem-Morcego renasce, para simplesmente se tornar, pela segunda vez, o filme mais esperado do ano.
O primeiro acerto dos executivos para reviver Batman, foi tirar Joel Schumacher (que é especialista em fazer filmes pequenos. Comprove assistindo Um Dia de Fúria e Por Um Fio) da direção. Seu período à frente da franquia do morcego foi uma das piores coisas que o cinema já viu. Vilões patéticos, personagens rasos, clima de humor baixo e piadas infames. A direção de arte dos filmes transformou Gotham em uma cidade retrô, cheia de estátuas e lugares estranhos, que passavam distante do cenário sombrio proposto pelos quadrinhos. Ao passar a batuta para Christopher Nolan, que ficara famoso com filmes independentes com suspense psicológico, a Warner teve seu segundo acerto. Chris advinha do cinema autoral e sua primeira exigência foi ter controle sobre seu projeto. Os chefões da Warner lembrando dos fracassos presenciados a alguns anos atrás aceitaram. Era o início do renascimento!
A primeira coisa que Nolan deixou claro era que esse recomeço seria uma história sobre Batman, e não contaria unicamente a origem de seus vilões, como foi o praxe nos filmes anteriores, em que o fiapo de história que Batman recebeu foi um flashback da morte de seus pais...perpretada pelo Coringa! A segunda coisa que Nolan fez foi contratar gente que sabe para ajuda-lo no filme, já que ele não é leitor de gibis. Surge então David Goyer, autor de quadrinhos e diretor de Blade: Trinity, como o roteirista e assistente de Nolan na produção. Os dois, diretor e roteirista, ficaram trancados em uma garagem por meses, até saírem com o roteiro que mudaria a história de Batman no cinema para sempre. Mas não só o roteiro foi entregue pela dupla; maquetes, uniformes, maquiagem e storyboards; eles saíram com quase tudo que queriam na cabeça e devidamente pensado e anotado.
Após esse exílio voluntário, um elenco estelar foi surgindo. Christian Bale foi o primeiro a embarcar, mesmo tendo acabado de sair de um regime que o deixou trinta quilos mais magro, necessário para o seu personagem em O Operário. Com uma dieta gordurosa ele conseguiu o corpo necessário para preencher o uniforme do morcego, que já estava pronto pelas mão de Lindy Hemming (que também vestiu Bond, em Cassino Royale). Após ele surgiram Gary Oldman, como o Ten. Gordon, o único tira honesto de Gotham City; Michael Caine, como o mordomo Alfred; Morgan Freeman, como Lucius Fox, um papel parecido com o Q, de 007; Ken Watanabe, que viveria Ra's Al Ghul e Cillian Murphy, que após fazer teste para o próprio Batman, acaba ganhando o papel do vilão Espantalho. Ao final, com tudo nos eixos, sai Batman Begins, que marcou uma nova fase na filmografia do Morcego e acaba por trazer US$ 400 milhões em bilheterias. O sucesso crítico também é evidente, ficando com média 70 no importante índice do Metacritic e 84% de críticas positivas no Rotten Tomatoes (O Cavaleiro das Trevas está com 97 no Metacritic e 100% no Rotten).
Com o sucesso de Begins uma segunda produção já estava agendada (na verdade todos os participantes de Begins assinaram contrato para três filmes, a excessão do próprio Christopher Nolan). E O Cavaleiro das Trevas começa a tomar forma. Logo a primeira imagem do Coringa - revelada ao mundo no dia 21 de maio do ano passado - mostra como a direção da produção mudou. Ao invés de um Coringa palhaço, que foi vivido por Jack Nicholson em Batman, o primeiro filme da franquia, um Coringa assustador, deformado surge. A imagem não poderia ter sido mais feliz, pois mostrou que a produção estava novamente com os olhos nas verdadeiras origens do herói, e não tendo como base as infames e humorísticas séries de TV de Batman e Robin.
Alguns meses depois tem início o ARG (que teve etapas em terras brazucas), que transformou o Cavaleiro das Trevas não só no filme mais esperado de 2008, mas um dos maiores hypes da cultura pop em tempos recentes. O resultado desse esforço foi dos maiores - cinemas de Los Angeles e Nova York já estão com sessões de meia-noite esgotadas, isso duas semanas antes da estréia; fato só igualado por Star Wars: Episódio I e III.
Mas a trágica e, tristemente irônica morte de Heath Leadger, que havia mergulhado na pele do vilão Coringa, muda um pouco os rumos das campanhas de marketing do filme, totalmente calcadas na figura do palhaço do crime. Surge então o Duas-Caras, vivido por Aaron Eckhart. Seu vilão passa então a ser o centro das atenções das campanhas, para a Warner não lucrar em cima da imagem do recentemente falecido ator. Mas já era tarde demais, o estrago já estava feito. O Coringa já é apontado como o melhor vilão de todos os tempos por alguns que já assistiram o filme. Motivos para isso não faltam (muitos deles podem ser vistos nas imagens e pôsteres e nos trailer do filme).
O fato é que O Cavaleiro das Trevas é um milagre hollywoodiano. Fruto do trabalho criativo de mentes que visam, primeiramente a feitura de uma bom filme, deixando para o segundo plano os ganhos financeiros. E olha que estamos falando de um filme-chave para a Warner, que precisa conter o crescente avanço dos filmes da Marvel Studios, que aliam respeito ao material original e liberdade criativa. Não é sempre que vemos milagres como esse em Hollywood, com produções comerciais, mas ao mesmo tempo com diretores de qualidade (e sem apadrinhamento) à frente do projeto mais importante do ano, de um dos maiores estúdios cinematográficos do planeta. Mas quando acontece, podemos apreciar na primeira fila o magnifíco espetáculo.
Para nos dar um parecer sobre a trajetória de Batman em película convidei, mais uma vez, o nosso colaborador cinematográfico Leandro Sherman. Ele assistiu de uma só vez todos os filmes do Morcegão. Os textos, um para cada filme, dessa, às vezes, amarga trajetória estão abaixo.
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Película das Trevas
Por Leandro Sherman
A jornada de Batman nos cinemas é cheia de altos e baixos. OK!, mais cheia de baixos do que altos. Do gótico de Tim Burton ao carnaval que Joel Schumacher empreendeu a franquia, é fato que Batman sofreu nas mãos dos cineastas, porém teve algumas coisas boas. Mas, como diz Thomas Wayne, nós caímos para podermos levantar.
Batman
Arranha-céus, uma neblina tensa em uma noite escura, presente em uma cidade suja. São essas as primeiras imagens de Batman, dirigido por Tim Burton. O resultado é um clássico imperfeito, mas um clássico.
Para os papéis de Bruce Wayne/Batman, Tim Burton chamou um ator com quem já tinha trabalhado anteriormente, Michael Keaton (que, aqui pra nós, não tem nada de Batman). Jack Nicholson, viveu um muito engraçado Coringa; e acaba por roubar a cena do filme, empreendendo uma atuação muito boa e chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de melhor ator musical/comédia. O filme de Burton é divertido, mas acaba por chamar a atenção por mudanças significativas na cronologia do Morcego (Coringa matando os pais de Wayne? De onde Burton tirou isso?), e imprime um clima muito leve ao filme.
A parte técnica, principalmente a direção de arte, do filme é legal, como indicam os cenários da própria cidade de Gotham, a bat-caverna, e o Batmóvel (hiper-clássico). Para a época era nota 10, um grande filme de super-herói (um dos poucos), mas olhando hoje, com o devido distanciamento, vemos que não passa de um bom filme de aventura, com alguns erros.
O principal defeito talvez seja o fato de, no fim das contas, não ser um filme de Batman, nem do Coringa, mas de seu diretor. O clima gótico, o humor-negro, e a perfeita direção de arte são as estrelas do filme... juntamente com Tim Burton. O filme é a cara dele, o que não chega a ser ruim, aliás é bem legal, mas acabou por tirar toda a personalidade do Homem-Morcego.
Fato Importante: Nesse filme Tim Burton contrata seu parceiro de longa data, o compositor Danny Elfman (Homem-Aranha, Hulk, A Noiva Cadáver). Ele compôs o tema clássico e definitivo do herói, que chegou a ser usado no desenho animado de grande sucesso do personagem na década de 90, idealizado por Bruce Timm.
Batman (EUA, 1989)
Diretor: Tim Burton
Duração: 126 min
Nota: 8,0
Batman: O Retorno
Michael Keaton retorna nessa sequência sem muitas surpresas, que novamente contou a direção de Tim Burton. O filme mostra a luta de Batman contra o crime, no momento em que surge a ameaça, vinda dos esgotos, chamada Pinguim (Danny DeVito, com uma ótima maquiagem; outra marca das produções de Burton), que se junta a um magnata de Gotham (Christopher Walken) para se transformar no próximo prefeito da cidade (plano meio idiota, admitamos). Do escritório do empresário surge o outro vilão (na verdade vilã) do filme; a Mulher-Gato (Michelle Pfeifer, a única realmente bem no filme), que arrasta uma asa pro Batman durante todo o filme.
O filme peca por ficar devendo um enredo de verdade, e em cenas de ação (são muito poucas). Mas acerta ao divertir, apesar da míopia de Burton e dos roteiristas de darem mais importância aos vilões do que ao próprio herói (e aqui pra nós: Keaton é meio coroa para o papel, não?).
Fato Importante: Michelle Pfeifer foi a melhor intéprete da Mulher-Gato de carne e osso. E a cena da "lambida" ficou na memória de todos, durante todos os anos 90.
Batman Returns (EUA, 1992)
Diretor: Tim Burton
Duração: 126 min
Nota: 7,0
Batman Eternamente
Tiraram Keaton do papel do Morcegão e trouxeram Val Kimer, um cara mais novo. Transformaram o uniforme dele em um de couro mais brilhante. E o par romântico de Batman é Nicole Kidman. Será que por esses bons motivos esse filme ficou melhor que os outros dois? De maneira alguma. Além dos fatos relatados acima, a direção passa, de Burton, para Joel Schumacher (Número 23).
Que merda ficou esse filme, com um visual futurístico e colorido (que palha!). Isso sem falar nos vilões (meu Deus)... Vamos começar pela concepção errada do Charada (Jim Carrey). Ao invés de ser misterioso, enigmático e sombrio, o personagem acaba por se transformar no Carrey de suas outras interpretações. Vemos ecos de O Maskára, Débi e Lóide e Ace Ventura. Assim não dá.
Mas o pior é mesmo o Duas-Caras, interpretado por Tommy Lee Jones. Ele tenta imitar descaradamente o Coringa de Jack Nicholson, o que não tem nada a ver. Ele é rídiculo, uma merda. Fora a cara deformada do vilão, que só se sabe que está deformada por causa da cor roxa, que serviu para cobrir o simples enrugamento que fizeram na cara dele.
Veredito? Um filme muito idiota.
Fato Importante: Toda a porcaria em que se transformou a franquia de Batman no cinema começa aqui. Vilões idiotas e coloridos, Robin, cenários "futuristas". Tudo ao contrário do que deveria ser feito!
Batman Forever (EUA, 1995)
Diretor: Joel Schumacher
Duração: 122 min
Nota: 3,0
Batman e Robin
Os executivos da Warner ficaram mesmo malucos após Eternamente. Dois anos mais tarde eles fizeram um dos piores filmes da história do cinema, por motivos que você vai ver abaixo:
1 - Arnold "Schwarza" com pantufas de ursinho.
2 - Uma Thurman fazendo uma Hera Venenosa com tremenda cara de travesti (sorte dela ser amiga de Quentin Tarantino).
3 - Todos já falaram sobre isso, mas é sempre bom reiterar: bat-cartão de crédito, uniformes com mamilos e roupas prateadas.
Ed Wood sentiu inveja no além-túmulo. Alguém o superou. Joel Schumacher, que lixo de filme.
Fato Importante: Destruam todas as cópias desse filme!!!
Batman & Robin (EUA, 1997)
Diretor: Joel Schumacher
Duração: 125 min
Nota: 0
Batman Begins
Realmente Batman mostra que é um grande herói. Depois de péssimos filmes ele reaparece com um filme humano, realista, intenso e chocante.
O filme de Christopher Nolan (O Grande Truque) mostra como a lenda do Homem-Morcego; desde o assassinato de seus pais por Joe Chill (aprendeu Burton?), até o seu treinamento dado por Henri Ducard e a Liga das Sombras. Logo Bruce Wayne (interpretado por Christian Bale, muito bom como Batman) começa sua história, combatendo o crime que assola Gotham. Vilões clássicos dos quadrinhos surgem, como o Espantalho (Cillian Murphy, excelente) e Carmine Falcone (Tom Wilkinson, também ótimo).
Mas as boas atuações não páram por aí. Liam Neeson está ameaçador como uma espada de dois gumes; Morgan Freeman é Lucius Fox, o Q de Batman e Michael Caine é o mordomo Alfred. Os dois estão fantásticos, assim como Gary Oldman, o Tenenete Gordon.
Só tenho duas coisas a reclamar: Gotham ficou parecida demais com Nova York (o fato da equipe técnica de Begins ter fotografado toda a Nova York para servir de modelo para Gotham deve ter ajudado), e a música tema desse filme não tem o mesmo impacto da música original, de Danny Elfman, mesmo sendo compostas por dois renomados compositores; Hans Zimmer (Rei Leão e Gladiador) e James Newton Howard (King Kong e O Sexto Sentido).
Mas tudo bem, o que importa é que Batman é um herói fantástico e sombrio, e esse filme mostra muito bem isso. O Homem-Morcego é tão sombrio e negro que chega a ser comparado a uma sombra; a sombra das trevas.
Fato Importante: Finalmente um filme como o personagem merecia!
Batman Begins (EUA, 2005)
Diretor: Christopher Nolan
Duração: 140 min
Nota: 9,5
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Asas de Papel
Por FiliPêra
O Batman, felizmente, não é um personagem que nasceu no cinema, muito menos nas cômicas séries de TV. Sua origem se deu nas páginas da histórica revista Detective Comics, da editora National Comics (hoje DC). A concepção de Batman foi fruto do estrondoso sucesso do Superman, o primeiro super-herói dos gibis. A mente que criou o herói, ironicamente sem poderes, ao contrário do Azulão; foi a do artista Bob Kane, que recebeu a missão do editor da National Comics, Vincent Sullivan. Os primeiros roteiros foram de Bill Finger, que também deu algumas dicas para o visual de Batman, como a substituição de uma máscara pelo tradicional capuz. Bill Finger ainda seria o responsável pelo clima pesado e com ênfase em investigações, que tornou Batman tão famoso. Não satisfeito, Finger criaria ainda a Mulher-Gato, o Duas Caras, o Pinguim, e o Charada; além dos nomes Bruce Wayne, Gotham City e Robin. Ou seja não dá para creditar a criação de Batman apenas a Bob Kane.
A estréia foi na Detective Comics de maio de 1939, um ano depois da estréia de Superman, na resvista Action Comics. As coisas seguiram mais ou menos bem até meados os anos 50, quando foi criado o Comic Code. Os gibis passaram a ser apontados como incentivadores da delinquência infantil, aliado ao momento "frio" em que o país etava vivendo, começou a "caça as bruxas" dentro dos gibis. Esse fato levou a uma profunda infantilização das histórias do Morcego. Os temas, antes calcados no mundo do crime, passaram a contar com temas bobocas como: dragões gigantes, viagens pelo espaço e pelo tempo, e coisas mais para histórias de ficção científica. Foi nessa fase que surgiu a famosa série de TV, que ajudou bastante na popularização do herói.
A situação se reverteria em 68, com o quase cancelamento do título. Para mudar de vez a arte das histórias de Batman, foi convocado Neal Adams, que era acompanhado por Denny O'Neill, o novo roteirista. Essa dupla deixou de lado a inocência das HQ's passadas e recolocaram Batman nas sombras, combatendo o crime como o detetive que é. Para se ter uma idéia da importancia de Adams para o Batman, até hoje ele é considerado o melhor desenhista das HQ's do Morcego.
Outra revolução, não só nas histórias de Batman, mas em todo o mercado de quadrinhos, viria com a publicação de O Cavaleiro das Trevas. Um futuro alternativo com um presidente americano (Reagan, para ser mais exato) tirando de circulação todos os heróis - menos Superman, que virou uma marionete - e mergulhando o país em corrupção e na estupidez. Coube também a essa história de Frank Miller nos apresentar a um Batman velho, saindo da aposentadoria, após anos de combate ao crime. Até hoje, com certeza essa é a história mais influente que o personagem já ganhou. Somente em tempos recentes, Grant Morrison, e seus arcos amalucados, conseguiram devolver a Batman o lugar que merece, não só em vendas, mas nos corações dos leitores.
Abaixo seguem resenhadas as quatro HQ's mais importantes do Batman. Se um fã quiser mostrar o quanto sabe do Morcego, no mínimo ele tem que ter lido as quatro obras abaixo. São elas também as que mais influenciaram o novo filme do Morcego, que estréia nessa sexta-feira (18 de julho).
Morcego Cult
Dentre todos os personagens mainstream das duas principais editoras de Quadrinhos americanas, a DC e a Marvel, o Batman é o que tem a maior capacidade de produzir clássicos. Mesmo que o Homem-Aranha, o Superman e os X-Men sejam os mais conhecidos e os mais amados, a verdade é essa. Praticamente todos os grandes autores da indústria escreveram para o personagem e foram muito felizes com isso. Grant Morrison, Jeph Loeb, Alan Moore e Geoff Johns, são apenas alguns deles. Dentre todos o que será mais lembrado, com certeza é Frank Miller (que aparecerá duas vezes por aqui), com sua reformulação do Homem-Morcego, para muitos a melhor história em quadrinhos de todos os tempos. Estarão abaixo as HQ's mais marcantes e que mais influenciaram na reformulação cinematográfica do Batman; seja pelas altas doses de realismo, seja por tocar em pontos até então inéditos e obscuros do personagem.
Como não poderia deixar de ser, os autores são três dos maiores: Alan Moore, Frank Miller e Grant Morrison!!!
A Piada Mortal
Escrita por Alan Moore, um dos maiores gênios das HQ's (na minha opinião o maior) na revolucionária (para as HQ's) década de 80, essa edição teve como principal mérito a inserção de uma origem para o Coringa. É aí que percebemos os principais motivos que o levaram a criação da máscara chamda Coringa. Sendo um comediante de quinta e não ganhando quase nada com isso, ele parte para realizar um roubo, na tentativa de sustentar a mulher grávida. E aos poucos, ou de vez, vemos o seu mergulho rumo a loucura. Mais como uma forma de fugir da realidade e da vida do que qualquer outra coisa.
Entretanto Moore vai muito além de simplesmente dar uma origem ao grande vilão do Homem-Morcego, ele constrói outras linhas narrativas, sendo a que enfoca o comissário Gordon e sua filha a mais interessante. É incrível como o autor inglês consegue contar em quarenta e oito páginas uma histórias que muitos roteiristas não conseguem com arcos de mais de cem páginas. A arte, de Brian Bolland, também é muito boa, lembrando sob alguns aspectos a arte de Watchmen, principalmente quando enfoca a chuva no chão em alguns momentos (isso deve ser coisa de Moore).
Ao longo da história vemos algumas perguntas sobre o vilão serem respondidas: quão louco é realmente o palhaço do crime? (parte dela está respondida em Asilo Arkham, apesar dessa revista tratar muito mais sobre Batman do que sobre outro qualquer), até que ponto um trauma influência na loucura? (o comissário Gordon responde essa).
E é justamente Gordon é o que sai mais traumatizado da história, sofrendo atrocidades fisícas e psicológicas jamais vistas em toda a cronologia do Batman. Sua filha, a Batgirl Barbara Gordon, também sofre horrores chegando a ficar paraplégica ao fim...
Ao final até o leitor pode sair afetado dessa verdadeira jornada rumo à loucura.
Ponto pra Moore!!!
Autor: Alan Moore
Artista: Brian Bolland
Nota: 8,5
Asilo Arkham
Usando abordagens já usadas por outros autores, mas mesmo assim conseguindo ser original, Grant Morrison traça (mais) uma obra-prima da cronologia do Batman; usando para isso o tema loucura. Nada mais apropriado que colocar como centro da trama o Asilo Arkham, o obscuro lugar para onde são mandados absolutamente todos os inimigos do Batman quando derrotados por ele. E como não poderia deixar de ser todos seus habitantes odeiam Batman...e fazem uma rebelião, exigindo a presença do mascarado para poderem libertar os reféns. Paralelo a essa já complicada trama, é contada a história de Amadeus Arkham, o fundador do asilo.
Grant Morrison usa tal trama para ir fundo na psique de Batman e mostrar que ele não é tão diferente de Coringa, por exemplo, são suas motivações que são opostas. O careca escocês também coloca elementos seus às tramas, como a Teoria do Caos (presente na genial explicação do tratamento do Duas-Caras) e a Magia (presente no passado de Amadeus Arkham). Outra passagem famosa da revista e o apertão na bunda do Batman, perpretado pelo Coringa.
Ao final, a revista se mostra (para quem acessar todos as camadas da leitura) um pequeno quebra-cabeça, além de ser uma importante passagem na cronologia do Homem-Morcego.
A arte é um capítulo à parte. Basta dizer que é uma das únicas revistas com o traço de Dave McKean e pronto! Se você não conhece Eu acho que é só dizer que foi o capista de Sandman para se ter uma idéia razoável do que esperar. Ela serve muito bem para complementar a sufocante trama!
Só uma palavra: LEIA!!!
Autor: Grant Morrison
Artista: Dave McKean
Nota: 9,5
Batman: Ano Um
Qual a origem e o que motivou Bruce Wayne a se tornar um cruzado contra o crime? Para início de conversa não pense que foi o Coringa, como retratado por Tim Burton no primeiro filme de Batman.
A maior parte da resposta pode-se encontrar no próprio Batman Begins, escrito por Christopher Nolan e David Goyer. E parte das respostas dadas por eles foram extraídas dessa excelente minissérie escrita pelo (à época) magistral Frank Miller.
A idéia de estabelecer uma origem para Batman não pode ser vista como uma tarefa vazia, pois ela é primordial para se entender a visão de Bruce Wayne sobre a criminalidade em geral. Mas Miller foi além e traçou uma importante jornada margeada pelo auto-conhecimento que o personagem vai adquirindo à medida que vai treinando e se preparando para vestir o manto negro. Ao mesmo tempo é contada também a chegada do Tenente Gordon a Gotham City, já com altos indíces de corrupção e crime organizado. Da mesma forma como mostrada na reimaginação cinematográfica do personagem, ele aos poucos vai se estabelecendo como combatente ao crime e usando o medo que os bandidos possuem para se firmar como uma arma de combate ao crime. Os fãs logo identificarão também, personagens clássicos, como Selina Kyle (uma então prostituta) e o promotor Harvey Dent.
A arte, simplita e sóbria ao mesmo tempo, de David Mazzuchelli, serve muito bem para retratar tal jornada, apesar de em alguns momentos parecer falha.
O conjunto forma mais uma grande obra do personagem.
Autor: Frank Miller
Artista: David Mazzuchelli
Nota: 8,5
O Cavaleiro das Trevas
Ao contrário da obra Ano Um, que contava a origem e as motivações do Homem-Morcego, aqui Frank Miller traça uma grande apoteose, retratando um Batman cinquentão, mas ainda em pleno combate ao crime. Mas não pense que é só isso. O autor mistura tudo que de relevante que está acontecendo no mundo à época (política é um desses fatos) para mostrar uma cidade podre, com o crime tomando conta, mas que nada mais é do que um espelho de um país em frangalhos, com um presidente que beira a idiotice, mas acima de tudo fascista (Moore fez parecido com V de Vingança, mas atacou a contraparte inglesa de Reagan: Margareth Tatcher). Tais elementos formaram um universo único para Batman, com corrupção saltando aos olhos e todos os tipos de gangue atacando a população. Apesar de ser meio louco (como visto nas revistas resenhadas acima) Batman continua íntegro. Apesar de seus métodos serem largamente condenados pelas autoridades de Gotham City, ele não desiste.
Batman sai de sua aposentadoria ao perceber que Gotham (um reflexo do mundo) está pior do que quando ele começou. Ele está velho, enferrujado, mas sua vontade de combater o crime só aumentou. Mas as coisas não serão fáceis. Primeiro que o próprio governo proibiu os mascarados, segundo que Gotham City está com níveis de criminalidade estratosféricos e terceiro que a sociedade já não apóia Batman.
Parece pouco, mas Miller pegou essa trama e transformou no maior marco que Batman já teve. Nas palavras de Stephen King, o mais famosos escritor de terror: "O Cavaleiro das Trevas é...a melhor história em quadrinhos de todos os tempos". E ela não perdeu nada de seu frescor, apesar dos vinte anos passados. Frank ainda definiu aqui, o que seria Batman nos anos seguintes (sua releitura dura até hoje): sujo, violento, anárquico. Mas não é só isso. Ele ainda por cima, mata o Coringa, troca o Robin (Jason Todd está morto) e faz Batman dar uma surra inesquecível em Superman, controlado pelo governo e enviado a Gotham para acabar com as ações do Homem-Morcego.
Porém Frank não apenas inovou em conceitos e tramas. A própria narrativa corajosa, com dezenas de quadrinhos por página e recursos como o da "televisão", foram coisa que viraram moda em anos subsequentes. Miller conseguiu criar uma obra que, como Watchmen, ficam para sempre na memória e podem ser lidas diversas vezes que não perde a graça. É daquelas histórias que todos os fãs de quadrinhos deveriam ter na estante com orgulho, pois não é sempre que a nona arte é levada a níveis tão absurdamente altos. É uma pena que parece que após Sin City, esse brilhante autor nunca mais mostrou a sua genialidade.
Autor: Frank Miller
Desenhos: Frank Miller; Cores: Lynn Varley
Nota: 10
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Aguarde para o dia 20 nossa crítica de O Cavaleiro das Trevas.
1 comentário
Batman Ano Um é um dos melhores HQ que eu já li na minha vida. para mim é nota 10, pena que não vi continuação. Frank Miller é o cara!
Gabriel
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