quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Avatar FiliPêra

Super Mario Galaxy

 

Mario-Galaxy-FP2025

Sabe aquele seu tiozão que insiste em te tratar como criança, parece parado no tempo, mas ainda assim é legal? Ele te dá os melhores presentes, solta as conversas mais malucas e usa as roupas mais esquisitas - daquelas que parecem ter saído de um brechó da esquina. E é sempre o cara que está adiante, que conta todas as experiências legais com bungee jumping, e parece o menos quadrado de todos os integrantes da sua família. O cara é meio paradoxal, mas com certeza você gosta muito dele. Não quer ficar ao lado desse maluco o tempo inteiro, mas quando está, quer aproveitar todos os minutos da experiência.

Super Mario é esse tiozão, e Super Mario Galaxy é seu mais novo encontro com ele. No básico, Mario não mudou absolutamente nada: temos um Mushroom Kingdom, as 120 estrelas para pegar de sempre - com as mesmas 60 obrigatórias para zerar - um confronto final com o Bowser. A galeria de vilões mudou pouco, com as tartarugas, fantasmas, magos e aqueles bichinhos marrons dentuços que jamais descobri o que são (se chamam Goombas, acabei de me lembrar).

Para os que odeiam o personagem (Mario é o Chaves dos videogames: TODOS gostam, mas alguns não admitem, com medo de parecerem infantis), esses são bons motivos para servirem de munição na eterna cruzada deles contra o mais importante personagem que os videogames possuem. Eles só não entendem que ler as besteiras que o afeminado do Toad fala, ou pegar um chapéu e ficar voando por aí com duas asinhas na cabeça, ou ainda ficar catando estrelas por aí com um sorriso no rosto, como se o mundo fosse tão simples assim… não os torna menos adultos, crianças ou “mongóis gigantes” (como o Bruner fala). Assim como assistir Debi & Lóide não os torna menos cinéfilos.

Mario não é um jogo exclusivamente para crianças. Elas podem até joga-lo, mas precisarão de dedos habilidosos para não voltarem para as suas mães e chorarem ante uma frustração atrás da outra. Na verdade, o game é como um convite a voltar a ser criança, conhecer novamente a essência dos videogames, dar um tempo em decepar cabeças, atirar em zumbis e mandar bases militares pelos ares. Tudo isso é legal, mas existem outras coisas igualmente divertidas. E sair por aí a toda em cima de um casco de tartaruga vazio derrubando inimigos como se não houvesse amanhã é uma dessas coisas.

Talvez o maior mérito de Super Mario Galaxy seja exatamente esse: o equilíbrio. A curva de aprendizado é praticamente zero. Não existem novos movimentos que surgem com o decorrer do jogo, e você vai aprender os diversos que o bigodudo faz, simplesmente se esforçando para pegar diversas estrelas no jogo. Também não existem itens novos para ele, e os power ups são somente para se usar nas fases, com efeito temporário, no estilo Super Mario 64 e Sunshine.

E é exatamente aí que está parte da mágica. Um jogador semi-noob, daqueles que jogaram somente Super Mario Bros, o primeirão, provavelmente conseguirá recolher as 60 estrelas mínimas, matar o Bowser e ficar naquele Não-Me-Toque clássico com a Peach, durante o zeramento xarope. Mas o jogador que já tem algumas dezenas de jogos zerados no seu currículo não vai para por aí, e partirá para o cabalístico número de 120 estrelas (ou 121, como é o caso aqui) na mochila. Um aviso: essa tarefa pode tira-lo do sério por várias vezes. Algumas estrelas são infernais, e vão exigir muitas repetições e pulos milimetrados, além de ouvir muito o WoooOWOWOoooW que Mario grita quando cai num buraco sem fundo, ou num vórtice espacial.

Talvez esteja aí o único ponto anti-perfeição de SMG: mesmos nos cantos mais insanos da suas fases espaciais, a dificuldade não aperta como era esperado - e já rolou com Super Mario 64, em que algumas estrelas das duas últimas fases, a do relógio e do tapete voador, me deixaram com o sangue fervendo (e com uma semana a menos de tempo na ampulheta), tamanho sadismo do designer dessas fases.

 

04

07

Mas não pense que ser um jogo para todos os públicos é o únicos dos méritos de SMG. Como sempre, ele inova bastante. Lembre-se de todos os Marios que você já jogou e terá aquela sensação de comer a sobremesa da sua vó novamente: você come todo o Natal, mas uma vez nunca é como a outra. Parece que ela sempre dá um jeito de aditivar alguma coisa secreta no meio da sobremesa. A receita é basicamente a mesma, mas algumas mudanças, nem sempre sutis, tornam a experiência de degustar sempre diferente da outra. 

E a série Mario tem mais essa mágica. Cada novo jogo é parecido o bastante com o anterior para você se ambientar em questão de minutos, mas tem mudanças tão absurdamente bem feitas que te deixam com um sorriso de orelha a orelha.  A mudança que mais salta aos olhos aqui, é justamente a razão de ser do Galaxy do título. O encanador mais famoso do mundo dos games não mais entra em quadros de um castelo gigantesco. Tão pouco precisa sair limpando um paraíso tropical com um acessório divertido. Ele simplesmente foi além e conquistou o espaço. Agora cada fase do jogo é uma galáxia, o que significa que a jornada em busca das estrelas será uma das experiências mais bonitas e inovadores que você já experimentou na sua vida gamer.

Simplesmente não há limites para onde Mario pode ir. As fronteiras da movimentação num ambiente 3D definitivamente foram quebradas e a lei mais limitadora da física - a gravidade - foi quebrada. Isso torna toda a mecânica de jogar SMG aparentemente complexa, mas, na realidade, fácil como beber um copo d’água da sua geladeira. No início é assustador como tudo funciona. Cada planeta tem gravidade própria, o que deixa as coisas em outro nível.

Se antes um pulo errado significava a morte certa em um abismo sem fim, hoje um pulo pode simplesmente leva-lo para outro planeta, com seu estilo visual próprio, e seus habitantes característicos. Mas as quedas mortais ainda existem, geralmente se tornando realidade graças a buracos negros que te tragam nas suas andanças pelo espaço. Na  maioria dos casos, quando o planeta é grande, ele exige tarefas para que possam ser liberados caminhos para outros planetas, principalmente recolher cinco itens, ou enfrentar aquele inimigo mais chato.

Cada galáxia é única, e dentro delas vemos representações de elementos clássicos dos outros Marios, como mundos de lava, castelos, mundos subaquáticos, e desérticos. Algumas galáxias são insanas e psicodélicas, com planetas cheios de mato em formato de interrogações, ou com pirâmides de vidro com inimigos estranhos dentro delas. Visualmente é um orgasmo. Não penso como um jogo do Mario pode ficar mais bonito. É como um Mario 64 com muito mais nitidez, com as arestas aparadas, e com toques lisérgicos. Aliás, não passo cinco minutos sem pensar em que tipo de cogumelos Shigeru Miyamoto e sua trupe ingerem na hora de pensar o estilo das fases do novo Mario que eles planejam.

Os outros aspectos gráficos são igualmente perfeitos. A movimentação de cada personagem é única, assim como as expressões deles ao tomarem uma bundada na cara, ou te acertarem. Até o momento, não presenciei uma só situação em que o frame rate caísse, independente de quantos inimigos tivessem na tela. Os controles não são nada de outro planeta, como era de se imaginar. Se jogou os outros Marios não haverá dificuldade aqui, já que as funções do WiiMote são usadas somente para acertar inimigos com um golpe giratório, e para pegar estrelas coloridas na tela (a função de atirar estrelinhas neles ficou em segundo plano para mim). O resto é como é de praxe na série, o que significa que com cinco minutos você já estará pronto para sair por aí se aventurando.

Outra coisa que foge aos padrões comuns da série é a trilha sonora. Na prática ela representou um adeus a tradicional orgia de “tantans”, para a entrega de uma trilha sonora de verdade, totalmente orquestrada, pela primeira vez na história da Nintendo. Só a música da primeira fase, assim como a abertura, são suficientes para levar qualquer fã da série aos arrepios, ou às lágrimas. Como é de praxe, cada estilo de fase ganha porções de trilha distintas, com orquestrações próprias. Tudo imaginado e colocado no papel por Koji Kondo - supervisionado por Mahito Yokota, músico-chefe da Nintendo.

 

08

03

A experiência de se jogar SMG é algo único, fora dos padrões. Basta dizer que não cansa, mesmo para os mais descompromissados. É como aquela namorada sua que sempre goza depois de você. Mesmo estando no calor do sexo, você está cansado, mas vendo que ela ainda não chegou ao orgasmo revira-olho-barulhento que você queria dar pra ela, você continua, tudo em nome do seu prazer e do dela. E esse momento de “sexo extra” é o diferencial de SMG. Se o jogo acabasse quando você achasse que era o limite, ou pior, antes, não ia ter a mínima graça. Mas ele vai além, e exige um pouco mais de você, dando aquela única sensação que te faz ter vontade pular e levantar os braços como se tivesse marcado um gol no último minuto, na final do campeonato.

E Mario é tradicionalmente assim, apesar de Galaxy elevar tudo à décima potência. Vicia de verdade mesmo. De Eu deixar de fazer as minhas coisas urgentes “somente para pegar mais uma estrelinha”. E esse esquema de ter uma tarefa relativamente pequena para se obter cada estrela é o que torna a experiência mais viciante que tabaco. É difícil largar o controle, mesmo que, em vários momentos, a única coisa que se quer é parar e olhar os belos cenários.

É uma tradicional volta aos jogos que dependem unicamente de habilidades manuais avançadas, olhos atentos e reflexos rápidos para ir adiante. A diversão é desenfreada, e não há momentos em que ficará parado, pensando em um enigma. Isso não o torna melhor ou pior que os jogos “complexos”, somente diferente. Daqueles que sabem fazer bem o que se propõe a fazer.

Os power ups também seguem a tradição da série. Temos cogumelos vermelhos, que aumentam o sangue, além de recupera-lo; os verdes, que lhe dão uma vida; a clássica, e que causou saudades, flor de fogo; cogumelo de gelo para patinar sobre o gelo; cogumelo fantasma, que lhe transforma num careteiro fantasma de chapéu vermelho; cogumelo mola, que dá o poder de pular igual um maluco, mas difícil de controlar igual touro de rodeio, e o mega-criticado cogumelo de mel, que transforma numa abelha, dando liberdade para voar por aí. É compreensível a substituição do chapéu de asa por algo assim, já que os planetas agora são menores, e os esquemas para voar de um pra outro só vêm mediante o cumprimento de pequenas missões.

 

01

Mario, especialmente Super Mario Galaxy, o melhor jogo da série, sem sombra de dúvidas, é uma obra de arte do mais alto calibre. Daquelas com qualidades tão fortes e pulsantes que te fazem esquecer os mínimos pontos negativos (na verdade seria no singular, já que só encontrei um ponto negativo). A cada passo que se dá no jogo fica difícil não pensar que videogames nasceram para ver jogos assim, com ciclos de produção grandes, e cuidado extremado com cada detalhe do jogo; e não uma multidão de adaptação de games de filmes, ou séries meia boca. SMG é para explorar cada cantinho das galáxias somente para constatar que a perfeição existe, mesmo que seus inimigos não são tão sinistros quanto se poderia esperar!

 

Super Mario Galaxy, Wii, 2007

Produtora Nintendo

Nota: 10

9 Comentaram...

Doctor disse...

Demorei anos pra descobrir, mas seguinte: Os goombas são cogumelos!

Felipe Dawn disse...

Mario é TRUE. Chavez é do SBT. NOT.


(Comentario de verdade: Otimo texto, quem sabe algum dia eu consiga um videogame decente pra poder jogar Mario...)

Felipe disse...

Um review um tanto atrasado. :P

FiliPêra disse...

@Felipe...
Tá até cedo. Pela primeira vez consigo ter um videogame antes dele se tornar da geração passada!

Double-V disse...

LOL! Mt dahora esse jogo pelo q vc falou! Geralmente não gosto mt de Mario, mas esse jogo eu vou ter q jogar!

Não sai pra outra plataforma, não? Eu não tenho Wii(Tenho Dreamquest, PS2 e 3, mas não Wii)... :(

Anônimo disse...

Não gosto de Chaves, o resto concordo, já estou até baixando o jogo.

Anônimo disse...

Esse jogo é muito bom. Finalizei ele pegando todas as 242 estrelas. Porque 242? Porque com o Mario você primeiro pega 120. Depois você libera o Luigi e pega mais 120. Assim você libera uma fase secreta para os dois com uma estrela. Totalizando 242 estrelas.

renatinha disse...

por favor alguem me fala como matar o bowser do mario galaxy wii ,to no meio de um Colapso.Valeu adorei o texto mas comooo mata o bowser

Anônimo disse...

veeeeei! eu só entrei nesse site por esse motivo:
QUERO MATAR O BOWSEEEEEEEEEEEEERR!!!!
me ajudem!!!!
(otimo texto e comparações)

Postar um comentário

Mostre que é nerd e faça um comentário inteligente!

-Spams e links não relacionados ao assunto do post serão deletados;
-Caso queira deixar a URL do seu blog comente no modo OpenID (coloque a URL correta);
-Ataques pessoais de qualquer espécie não serão tolerados.
-Comentários não são para pedir parceria. Nos mande um email, caso essa seja sua intenção. Comentários pedindo parcerias serão deletados.
-Não são permitidos comentários anônimos.


Layout UsuárioCompulsivo