terça-feira, 2 de março de 2010

Avatar FiliPêra

Nick and Norah’s Infinite Playlist

 

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Existem certas vantagens que realmente aprecio em escrever num blog. A Liberdade proporcionada é a principal delas. E como sou o Editor-Chefe do NSN, realmente desfruto de liberdade total, o que é uma responsabilidade grande, mas uma dádiva ao mesmo tempo. Um dos meus estilos de texto favorito é a resenha. Ao resenhar algo que acabo de assistir/ler/ouvir, realmente posso colocar minha opinião acima de tudo, e ter a devida liberdade de escrever isso da maneira que achar melhor. Sou Eu, e somente Eu escrevendo o texto, e creio que está aí a beleza da resenha.

E ao fazer uma resenha no blog em que edito, posso realmente tomar liberdades que não tomaria se tivesse escrevendo num jornal, com sua limitação de espaço, e sua quadradice clássica. Se estivesse escrevendo esse texto para o jornal A Gazeta, por exemplo (o maior aqui do Espírito Santo), não teria a liberdade de colocar questões pessoais no texto como estou fazendo aqui. Teria que me esconder atrás de maneirismo propostos por editores, somente falar de Infinite Playlist duma perspectiva proposta pelo jornal e pronto.

Tal limitação de forma e estilo me castraria, me impediria de realmente dizer que o filme me alegrou de verdade, e me fez rir de uma forma diferente das minhas risadas de outras comédias por aí. E aí está uma das belezas da Cultura Pop: cada pessoa interpreta as obras dela de acordo com as próprias percepções. Mesmo sendo uma simples comédia romântica adolescente do novo milênio, é o tipo de filme que normalmente divide quem assiste. E gostar ou não desse tipo de filme depende somente de quão perto ou distante se está dos elementos espalhados pela trama.

 

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Infinite Playlist (Uma Noite de Amor e Música, aqui no Brasil) é uma atualização das clássicas comédias românticas adolescentes dos anos 80, com um fator que realmente a torna especial: ela tem aquele climão indie que tornou Juno a peça rara que é. Ao invés de nerds tendo namoros de aluguel com líderes de torcida, ou criando mulheres nota 1000; entram em cena iPods, o YouTube e mash ups musicais. É como o yin das comédias românticas adolescentes modernas, o oposto do yang representado pelos American Pie e Donos da Festa (ou, com mais qualidade, por um Superbad). Ao invés de hormônios só pensando em sexo, entra em cena um casalzinho fazendo de tudo para ficar junto numa noite louca cheia de contratempos.

Nick (Michael Cera, quase um símbolo de uma geração de nerds tímidos) é um cara que é pisado pela ex-namorada. Ele não tem aquele espírito vingativo de quem toma um chute depois de seis meses de relacionamento. Não! Ele grava mensagens gigantes na secretária eletrônica dela, manda mixagens de CDs que ele mesmo faz (faz inclusive toda a arte das capas deles) e fica sentado no chão, arfando, esperando que ela jogue algum osso pra ele.  Nick também é baixista de uma banda gay, e faz a figura de ser o único hétero dela. Já a ex-namorada dele, Tris, é o tipo de menina desprezível que ninguém com cérebro teria um relacionamento de mais de dois dias.

Parecia a típica história do cara sem auto-estima que se arrasta eternamente, se não fosse por Norah (Kat Dennings, a coisa mais linda que coloquei os olhos depois de Ellen Page), que pega os CDs de Nick que Tris joga fora, e mantém um amor platônico por ele, mesmo nunca tendo visto o rosto do cara. Em minutos você sabe pra onde vai toda a história, conhece toda a fórmula montanha-russa que será utilizado no filme, as típicas idas e vindas desse tipo de longa-metragem e o final do mesmo… mas os personagens realistas e a trama facilmente identificável são motivos mais que suficientes para te fazer ficar cheio de uma boa dose de vontade de ver essa comédia até o fim.

Como coadjuvantes nesse futuro-triângulo-amoroso-por-uma-noite, entram a própria banda de Nick, e Caroline, uma amiga bêbada de Norah, que serve como elemento de ligação entre ela e Tris. O estopim para que todo esse caldeirão de personagens fáceis de se encontrar por aí se lance na noite que o filme narra, se dá quando uma tal de Where’s Fluffy, uma das bandas descoladas da juventude de Nova York (além de ser a favorita de todos os personagens do filme), anuncia que fará um show secreto numa das boates da cidade.

Daí para frente o filme parte para uma série de encontros e desencontros e tramas paralelas, com o único intuito de nos mostrar que Nick e Norah são o casalzinho que metade dos adolescentes de toda uma geração queria ser. Nick é inseguro, tímido, inteligente, e tem um vasto conhecimento de música. Já Norah é a menina dos sonhos de 9 em 10 meninos com alguma Paixão no coração: ela é inteligente, possui um ótimo gosto musical, juntamente com aquela beleza que passa longe da artificialidade de micareteiras bêbadas… e tem dentinhos levemente separados, que formam um dos sorrisos mais lindos que já vi num filme. E por ter esse conjuntos de características não-tão-populares entre uma juventude estranha que povoa o mundo nos dias de hoje, Norah está sozinha, e pior, se sente sozinha. Já Tris é o inverso, é daquelas que controlam guris que aceitam a “honra” de namorar com ela, mas só conversa bobagens. Os amigos de banda de Nick também têm seus momentos, principalmente quando armam pros dois ficarem juntos.

Mas se tem uma linha condutora em Infinite Playlist, ela é (obviamente) a música. Desde a abertura do filme (inspirada em Juno, mas longe de ser tão brilhante), com o nome das bandas que compõe a trilha sonora moderninha e divertida do filme - composta somente por bandas de Nova York -, até uma das cenas de  sexo mais cool que você verá em muito tempo, rolando num estúdio musical e sendo erótica, mesmo sem mostrar nada… A música também serve como pano de fundo, e leme para todas as reviravoltas da noite dos dois. E como não poderia deixar ser, o filme é excelente nesse aspecto, mais ou menos como o foi (5oo) Days of Summer.

O casal principal passa longe da estirpe vingativa e escrota dos casais normais de comédia romântica, e isso é outra característica que lembra as comédias oitentistas, com aquela pureza rara que os marmanjos de hoje dizem não ter, mas que a expõe com cinco minutos de Namorada de Aluguel. Eles são indecisos - Nick em especial, que ainda se arrastou para Tris, mesmo depois do lance com Norah estar mais ou menos engatilhado -, têm lá suas dúvidas e não precisam ser idiotas histéricos como uma Cameron Diaz da vida para nos divertir. Eles erram, voltam para seus ex… e descobrem o que esperam: eles têm que ficar juntos. Não se surpreenda se ficar com um singelo sorriso no rosto ao ver os dois se encontrando, após passarem por aquele momento de vacilo que rola em todas as comédias românticas. Também não se surpreenda se começar a refletir sobre uma certa frase de uma certa música dos Beatles proferida por um dos amigos gays de Nick.

 

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No fim das contas, uma boa noite como a de Nick e Nora é estar do lado da pessoa que você gosta, seja abraçando, transando, beijando, ou simplesmente andando de mãos dadas por aí no show da banda favorita dos dois. É o romantismo sendo tema central das comédias românticas novamente, passando por cima da apelação fácil do sexo por duas horas de filme. Lógico que o filme tem defeitos, como a falta de ritmo de alguns momentos, e a repetição de sacadas do roteiro. Mas tenha certeza que as qualidades dele passam por cima disso como um casal correndo pra se abraçar. Chame Nick and Norah’s Infinite Playlist de emo, de indie, do que você quiser, mas com certeza esse filme é muitíssimo melhor que as comédias com falta de cérebro dos anos 90, e isso mostra evolução.

*******

Viu, isso é escrever pra um blog. Se fosse pra um jornal pomposo, cheio daquele público que só sabe ler política e economia, o texto (ou nota de pé de página) sairia mais ou menos assim:

 

É impressionante como esses novos diretores gostam de se repetir. A profusão estranha de comédias românticas emulando umas as outras - e no fim das contas emulando suas similares nos anos 80 - é de causar vergonha e me levar a pensar o porquê de um caminhão desgovernado não atropelar um desses diretores caretas e metidos a pós-modernos para que o acidente sirva de lição para essa classe de seres sem criatividade.

Katt Dennings é uma aspirante a Ellen Page que atua tão mal que tive vontade de colocar uns clássicos dos anos 50 para apagar ela da minha memória. Michael Cera se sai um pouco melhor, mas é mais indeciso que um sapador num campo minado, e isso é um problema, pois trunca tudo. Musicalmente o filme é recheado de canastrice, com todas aquelas bandas que ainda nem saíram das fraudas, e prefiro nem compara-las com gente de verdade, como os Stones.

Enfim, passe longe desse sub-produto de uma geração vergonhosa de cineastas, que de tão ruins insistem em copiar até mesmo Juno, ele mesmo um clone mal-feito de filmes com temas mais sérios, e que só mereceu atenção pela generosidade dos integrantes da Academia de Cinema e o Oscar deles. Passe longe, a não ser que tenha adolescentes emos em casa!

Nota: * (de 5 estrelas)

Depois desse momento Rubens Ewald Filho, realmente chego a conclusão que gosto de não ter que resenhar filmes como Infinite Playlist para jornais. O público que gosta de sangue, ou que só se preocupa com política não entenderia…

 

Nick and Norah's Infinite Playlist (EUA, 2008)

Diretor: Peter Sollett

Duração: 90 min

Nota: 8

12 Comentaram...

Rafa disse...

Cara, esse foi um dos melhores filmes que assisti no ano passado. Quando descobri que era baseado em um livro, a primeira coisa que fiz foi comprar o dito. E valeu a pena. A história do filme é adpatada mas não é algo que se diga "o livro é melhor". A idéia é a mesma e só mudam algumas situações e personagens. No livro a Tris não é tão chatinha hahahahaha.

Outro detalhe: eles não transam. Ele só "aperta o play" dela ahhahahahahahaha.

A trilha sonora é EXCELENTE.

Ótima resenha!

Abraço!

daniel disse...

politica é muito importante, filipera... a resenha foi muito legal, teria sido melhor sem as divagações, ou se elas estivessem em um post a parte... abraços

FiliPêra disse...

@Daniel...

Claro que é importante. A crítica foi para os jornais, que dizem que falam tudo com imparcialidade, mas todos sabemos que não é bem assim! Eu mesmo leio bastante política e economia.

Mas o conteúdo cultural deles (em sua maioria, têm jornais que são exceções, lógico) é uma grande porcaria.

Abraços

Teste disse...

Não vi o filme(quero ver agora), mas, quanto ao post, acho que divagar faz parte do que somos, afinal, quando se conta um filme a um amigo indicando-lhe que assista, não conheço um que seja extremamente "crítico",eu pelo menos gosto de lembrar as cenas do filme, as partes boas, as ruins, pontos fortes e fracos, não me importa se a fórmula é antiga, contanto que funcione não há nada que me impeça de assistir a um bom filme.

Neko disse...

Cara, eu simplesmente abomino esse tipo de crítica estilo "jornal imparcial", cara se você esta fazendo uma resenha do filme, você tem q dar a sua opinião.

É por isso que eu adoro o NSN.

Liberdade de expressão, com um quê de nerdisse ^^

Yamato disse...

Filipe, o NSN vai comemorar o enterro do IE6? Rsrsrsr...

Fernando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Profundo u.u

Stuart Murdoch disse...

O filme é, na verdade, mal escrito.

por exemplo, como você mesmo disse, "Tris, é o tipo de menina desprezível que ninguém com cérebro teria um relacionamento de mais de dois dias"

porem no roteiro eles namoraram durante 6 meses, e tamanha dor de cotovelo nao faz sentido por uma pessoa que é tao diferente assim de você. (se justificaria nos personagens de 500 days of Summer)

Alem de varios outros buracos no roteiro, e o ridiculo pudor que faz o casal TRANSAR SEM TIRAR A ROUPA, nao estou pedindo para ver peitos, existem mil formas de Não mostrar nada. No filme Norah apenas se levanta e abotoa a calça.

Por fim, Tom Hanks e Meg Ryan no YOU GOT MAIL fazem um filme bem melhor (e indie sem forçar a barra) do que este daí

daria nota 5 de 10

Debora disse...

Eu vi o filme na tv a cabo não tem mto tempo... É romance bobinho, teen, mas confesso que quando terminou, eu abracei meu namorado (q estava dormindo) e fiquei de fofura... ;)

Michael Cera tá virando o Seth Rogen das adolescentes. Tá na moda amar nerd. E a indústria tá sabendo explorar bem isso.

Agora, convenhamos, ele nesse filme tá atuando igual à Juno, Superbad... tudo a mesma coisa...

Diago disse...

Você indicou aqui o'500 days...', eu ví.
Muito bom. Aquele lance com o narrador, é muito "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Parece que esse filme fez escola.

Igor disse...

Filme fraquíssimo. Sem comparação com 500 days of Summer, mesmo musicalmente.

Há filmes melosos menos chatos e menos forçados... pensei que seria um bom filme, mas não o é.
Nota? 4.

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