segunda-feira, 22 de março de 2010

Avatar FiliPêra

[Capetalismo Addendum #2] Uma História de Amor

 

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O Capitalismo é um mal, e não se pode regular o mal. Temos de eliminá-lo, e substituí-lo por algo que seja bom para todos. E esse algo se chama Democracia.

Michael Moore

 

O Capitalismo é tão dicotômico e escravizador quanto as tentativas de se criar sociedades socialistas nesse mundo. Talvez o mais perverso exemplo disso na história recente, tenha sido os dias turbulentos que ficaram conhecidos como Grande Crise Econômica. Se no Brasil mal sentimos os efeitos da situação - devido ao fato dos bancos brasileiros não terem entrado no criminoso mercado de especulação imobiliária americana - a classe média americana pode explicar muito bem o que rolou naqueles dias. Um símbolo dos momentos perversos que aconteceram nesse período - e que ainda hoje influenciam o futuro de milhões de americanos - é Peter Zalewski. Ele é um abutre, e tem prazer nisso, ao não-oficialmente denominar sua corretora de imóveis de Abutre de Casas. O nome é adequado; Peter é um cara que coloca a mão em podridão na camada mais baixa. O que o diferencia de outros corretores é que ele tem informações de gente despejada de suas casas por falta de pagamento, compra essas casas por preços módicos, e as revende para outras corretores, que as revenderão com uma larga margem de lucro. Ou faz ainda pior: obtém informações de despejo com bancos, visitam os donos das casas que serão despejadas, oferece valores muitíssimo inferiores aos de mercado, e depois renegocia a dívida com as instituições financeiras, que preferem dar descontos a ele, por ser um negociador corporativo e trabalhar em sigilo. Do outro lado do front temos Robert Griffith. Ele filma a iminente invasão da sua casa pela polícia - que chega em cinco carros, um deles ocupado pelo próprio xerife da região - e nós entendemos, através de uma ordem inversa, como certas empresas ficaram bilionárias às custas da desgraça alheia.

Os dois são personagens do mais novo chute no estômago de Michael Moore: Capitalismo: Uma História de Amor, e mostram da forma mais crua como uma coisa chamada dinheiro pode transformar homens na pior espécie de sanguessuga. Moore tem uma trajetória única, e quer o mundo queira quer não, é o mais importante documentarista da história. E não é só isso: se hoje os documentários são vistos por milhões de pessoas, é graças ao Gordo desafeto de Bush e de todos os mandatários dos EUA. Capitalismo é uma ode a toda obra de Moore até aqui. Para os iniciantes na filmografia dele, o documentário pode soar um pouco raso demais, mas à partir do momento em que assistem toda a jornada do Gordinho até aqui, vão entender a grandeza apocalíptica que ele pintou nesse Uma História de Amor. Vemos cenas de Roger e Eu, que mostrou como a ganância de executivos da GM levaram Flint a se tornar uma sub-cidade, tem um pouco da paranóia urgente de Fahrenheit 11/9, e o medo por trás de toda a máscara que cobre a sociedade americana, mostrada em Tiros em Coloumbine. Até um dos capítulos mais contundentes de Uma Nação de Idiotas - livraço escrito por ele - dá as caras também. A intenção clara dele não foi mostrar que estava com pressa e sem assunto pra pesquisar, partindo para a velha reciclagem de idéias passadas, mas sim mandar um sonoro "Eu avisei, seus vermes que só pensam em lucro. E estava certo!"

E essa aparente soberba em mandar uma frase dessas para os caras que guiam a economia mundial, se mostra correta ao vermos imagens da GM indo para a fossa, ou os alicerces da Economia Americana - os seus três maiores bancos: JP Morgan, Citibank e Bank of America - armando uma negociata para conseguir centenas de bilhões de dólares e não irem pelo mesmo caminho.

Junto com essa visita ao próprio passado, é possível constatar um aprimoramento do estilo de Moore, mesmo que ele ainda não tenha repetido a perfeição que foi Tiros em Coloumbine. Mas não se engane, Moore ainda é o mesmo: um ativista muito antes de ser documentarista, pouco preocupado em dar defesa aos seus desafetos, e isso, para o bem ou para o mal, é a melhor característica refletida em seus trabalhos. Após Fahrenheit, seu pé no acelerador diminuiu um pouco, e esse balanceamento que ele alcançou é bom. Para traçar uma linha de pensamento que demonstre como o Capitalismo - em suma, os caras que o guiam, os lobos de Wall Street - começou a caçar a grana dos cidadãos americanos como uma hiena em busca de carniça, ele não ficou preso em teorias históricas - ele deixa claro em alguns momentos que nem mesmo entende certos aspectos de Economia Complexa, como os derivativos e os swaps - mas mostra os efeitos dessa devastação nas pessoas. Assim como Sicko, Uma História de Amor é humano, e cheio de personagens interessantes. Sem Bush no caminho, o alvo de Michael passa a ser o próprio Capitalismo, que é um vilão com muito mais tentáculos que um presidente idiota que será lembrado pelas merdas que fez. São através de pessoas, e não de gráficos engraçadinhos (os gráficos aqui, quando surgem, são como mísseis), que entendemos que a essência do sistema econômico dominante é Dar e Tomar... principalmente Tomar. Talvez por ter um enfoque prioritário nesse aspecto, surgiram tantos detratores desse documentário.

 

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Porém, por mais que existam críticos do Estilo-Moore-Nada-Parcial-de-Fazer-Documentários, é impossível pra esses caras passarem incólumes por certas histórias que ele cava. Uma dessas histórias rola em Wilkes-Barre, na Pensilvânia, uma cidadezinha com uma característica nada agradável: uma das mais altas taxas de jovens internados em reformatórios. Olhando superficialmente - principalmente através das lentes da mídia corporativa - parece ser apenas mais um lugar cheio de jovens rebeldes; mas uma análise mais profunda revela como o Capitalismo habitualmente coloca os dedos nas negociatas mais sujas. Os números de internações começaram a atingir patamares elevados quando a cidade resolveu contratar os serviços de uma empresa privada para construir e administrar o reformatório local: a PA Child Care. Os acordos corruptos começaram quando os dois juízes da cidade fecharam o reformatório público e deram 8 milhões para a PA construir um novo - e logo depois o governo local o alugou por 58 milhões (!). Se por esse ângulo a coisa parece feia, analisando o perfil dos jovens internados, a revolta moral começa. Por "crimes" como fumar maconha, jogar um bife em alguém, e brigar no shopping, jovens pegam 6, 8, ou até 11 meses de grade. Os julgamentos deles duravam coisa de cinco minutos, e eles só podiam sair do reformatório quando os funcionários terceirizados quisessem, o que às vezes só rolava uns 5 meses depois do fim da pena estabelecida. Certamente que a PA tinha interesse em manter jovens por muitos meses presos, e quanto mais jovens presos melhor, pois os benefícios financeiros da empresa aumentavam. Uma investigação da Promotoria descobriu que os dois juízes da cidade tinham um acordo comercial com os donos da PA, e por isso mesmo aumentaram suas condenações - eles tinham cotas de condenações, para ser mais específico - além de bloquearem investigações. Em troca, eles receberam 2,6 milhões de dólares, e condenaram injustamente 6.500 jovens. Isso é Capitalismo! Isso é privatizar os setores estratégicos do país! Isso é usar pessoas como objetos na tarefa de obtenção de lucro!

A jornada de Moore prossegue, focando as formas de empresas maximizarem os lucros, ao esculacharem seus empregados. Somos apresentados a classe de pilotos comerciais, e alguns dos seus representantes que ganham menos que gerentes do McDonald's. Algumas empresas americanas fazem seguros de vida caríssimos para seus empregados... e colocam elas mesmas como beneficiárias. A situação chega a ser constrangedora de tão estapafúrdia: literalmente, a empresa passa a desejar a morte de um funcionário para receber algumas centenas de milhares de dólares - ou até dezenas de milhões. E são grandes conglomerados que se atém a fazer esse tipo de coisa, como o Citibank, Bank of America, Wal-Mart, Nestlé, AT&T, Hershey, American Express, entre outras. LaDonna Smith foi uma decoradora de bolos do Wal-Mart por 18 meses, até morrer numa crise de asma severa. Sua morte não deixou a Wal-Mart especialmente triste, já que eles levaram US$ 81 mil na jogada. Pela investigação de Moore - e pelo depoimento de Paul Smith, marido de LaDonna, somente no Wal-Mart, cerca de 350 mil funcionários estavam segurados (após o lançamento do documentário, a empresa revogou sua política de seguros de vida para funcionários). Não eram os executivos-chave da empresa, mas atendentes, estoquistas e faxineiros. A morte de cada um deles representa um ganho de milhares de dólares para uma das maiores empresas do mundo - na verdade, a lógica até mostra haver um certo querer por parte da direção da empresa no sentido de perder funcionários. Casos assim prosseguem, como a morte de Dan Johnson, que deu ao Amegy Bank mais de 5 milhões de dólares, fruto de duas apólices de seguro de vida secretas que eles haviam feito para ele, e colocado a si mesmos como beneficiários. Ou a morte dos pilotos de aviões comerciais que recebiam o mesmo que atendentes da 7Eleven e precisavam de um segundo emprego, como uma piloto que virou garçonete de cafeteria.

Óbvio que somente mostrar explorações de corporações multibilionárias é fácil demais, então Moore dedica parte do seu novo filme a encontrar empresas que acharam uma forma de ter uma visão balanceada entre a obtenção de lucros, e um bom tratamento de funcionários. A principal empresa que serve como modelo de solução apontada em Uma História de Amor é a Isthmus Engineering, de Wisconsin. Todos seus funcionários de linhas de produção de máquinas de automação industrial mandam na empresa, e possuem salários igualitários. Suas decisões são tomadas em assembléias, onde todos podem dar sua opinião e votar. Esse esquema diminui a possibilidade da demissões, e aumento de salários indevidos. E, contraditoriamente, levou a empresa a altos índices lucrativos. Microcosmo socialista? Sei lá, chame como quiser, mas o estilo de administração parece dar certo. Tem também a empresa panificadora da Califórnia em que TODOS os empregados têm ganhos de US$ 65 mil - ou três vezes mais o que ganha um piloto da American Airlines, que geralmente tem uma sobrecarga de trabalho insana.

 

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Nas teorias do documentário, é possível relatar, com uma linha do tempo razoavelmente simples, as causas do aumento da concentração de renda dos EUA. Para isso, somos jogados nos EUA pós-II Guerra, onde a classe média despontava, graças à impossibilidade de haver concorrentes, devido aos esforços de guerra mundiais. As bases lançadas nessa época por Roosevelt - que possuía idéias trabalhistas parecidas com as de Getúlio pré-Estado Novo - foram jogadas por terra décadas depois, com a eleição de Ronald Reagan, uma espécie de arauto dos tempos predatórios atuais da economia americana. O que Moore - e os especialistas e políticos que ele ouve - quer demonstrar, é que ninguém foi pego de surpresa pela falácia da Crise Econômica, a não ser as únicas vítimas dela: a população e os pequenos empresários.

Moore é conspiratórios e certeiro ao ponto de conseguir ligar o disparo da Crise com o enriquecimento ilícito de dezenas de executivos bancários e de seguradoras, que num esforço político sem precedentes, conseguiram encher os bolsos com 700 bilhões dos contribuintes - que podiam ser gastos praticamente sem regras. Os crimes cometidos foram em tão alto escalão, que ele encontra indícios que a alta cúpula do Governo Bush estava envolvida, ao calar milhares de especialistas em fraudes financeiras do FBI, que alertavam que crimes do colarinho branco cometidos por executivos de instituições financeiras, iriam acabar por demolir as bases da economia americana. Mas os políticos do Executivo Americano  - praticamente todos eles executivos de petroleiras, bancos e empresas armamentistas - não estavam preocupados em impedir uma onda destrutiva que os deixaria mais ricos. Muito pelo contrário. E desembocamos numa Crise Econômica sem precedentes na história moderna. Ou um dos crimes mais bem preparados da história capitalista. Usada da forma apropriada para disseminar a Cultura do Medo numa população que havia acabado de enfrentar o desespero angustiante do 11 de setembro.

Os únicos não atingidos pela tal Crise, foram justamente os que a disseminaram. Quando escrevi várias vezes aqui aqui no NSN ser essa uma Crise de Mentira, o tipo de falácia inventada para se conseguir base legal para cometer crimes, fui rebatido por diversos dos nossos leitores-comentaristas que disseram que sim, a Crise existia, famílias americanas estavam perdendo suas casas, dormindo em trailers. Mas aí está a mentira da Crise: as pessoas endividadas e escravizadas pelas instituições financeiras perdiam tudo, enquanto executivos levavam 700 bilhões para fazer mais asneiras - sem qualquer revisão judicial, devo repetir. O topo da pirâmide ficava mais minguado e rico, enquanto a base de tudo parecia se despedaçar como um castelo de areia açoitado por uma onda violenta. Cadê a lógica disso? Você tem um bando de caras que por décadas fez especulação imobiliária, com investimentos altamente duvidosos e sem qualquer regra... e são justamente eles que são salvos com o dinheiro das pessoas curradas por eles por anos a fio. Mais uma vez: isso é Capitalismo! É tirar de quem não tem, e usar esse pouco para encher os bolsos de quem não tem nem espaços mais nos bolsos.

E essas Hienas usam todos os espaços que têm para ganhar mais...

Todas as seguradoras - como a AIG - e as investidoras especulativas de Wall Street - como a Goldman Sachs - se safaram das merdas e crimes que fizeram por mais de uma década, e o melhor: com mais dinheiro. Cadê a Crise aí? A Crise é só para a base, já que o topo está no controle de tudo, e tem acesso ao caixa sem limites da grana de impostos. E esse é o petardo que Moore lança sem dó, e que críticos dele, como os caras da Fox News, tratam de chamar como "o tratado de um picareta".

 

Felizmente, quando se chega no auge da escrotidão, a tendência é que a coisa se encaminha para a direção oposta. O povo - digo os 99% da população que só tem 10% da riqueza - ainda tem um pequeno poder: o sempre esquecido voto. Ele ainda é uma das duas únicas coisas igualitárias em um país democrático no papel, juntamente com o tempo. O voto de um montador de carros tem o mesmo valor do voto do presidente do Citibank; da mesma forma que meu voto tem o mesmo valor do voto do presidente do Bradesco. E foi através do voto, que Obama chegou ao poder. É fácil descer a lenha no governo dele, e por motivos óbvios e justos, como a extensão da Guerra no Afeganistão e Iraque, e um segundo pacote de ajuda a empresas quebradas. Mas o Efeito Obama é maior que isso. O elegante Change, estampado orgulhosamente abaixo da famosa arte em cores psicodélicas com a cara dele, teve um efeito psicologicamente - e positivamente - devastador na mentalidade de dezenas de milhões americanos.

Em Detroit, cidade-símbolo da destruição corporativa sobre a população, o xerife baixou uma lei que proibia venda de casas em execução hipotecária, o que significa que o interesse de bancos sobre a inadimplência dos habitantes locais havia chegado ao fim - e gente como nosso conhecido abutre Peter Zalewski ficaria sem carniça para se alimentar. Políticos também incentivaram a Desobediência Civil, o que deve ser algo totalmente inédito em um país efetivamente controlado por executivos há pelo menos umas três décadas. Foi o caso da Deputada Marcy Kaptur, que mostrou que legalmente os bancos não podiam fazer execuções hipotecárias sem uma ordem judicial, o que elas nunca tinham. Os efeitos dessas palavras de ordem foram sentidos em alguns cantos do país, mas, como sempre, somente divulgados pela chamada imprensa alternativa, como a revista The Nation.

Na empresa Doors and Windows Republic, de Chicago, todo o corpo de funcionários foi demitidos sem aviso prévio, tudo em nome dos momentos de crise. Junto com a demissão, veio a negação de direitos básicos, como: férias, indenizações e o fim dos planos de saúde. Ao invés de choramingarem e partirem para realizarem trabalhos inglórios - geralmente reservados aos imigrantes ilegais - eles decidiram ocupar a fábrica, e só saírem de lá após reaverem seus direitos. Inesperadamente eles ganharam até mesmo apoio dos âncoras da CNN, se tornando uma espécie de símbolo de tempos diferentes, e do desequilíbrio que tava rolando com o uso da grana da ajuda dos próprios contribuintes. Seis dias de ocupação depois, o Bank of America - a instituição que estava liquidando a dívida da empresa - e os próprios executivos da empresa, concordaram em atender TODAS as exigências dos funcionários.

Em outro canto do país, a família Trody, de Miami, seguiu o exemplo, juntamente com toda a comunidade local, e decidiu que era hora de deixar de morar na traseira de um caminhão e voltar a morar na casa que fora deles por 22 ano. A casa foi roubada por engravatados, depois d ter uma hipoteca executada por um banco, após um refinanciamento. A comunidade tira os avisos de venda da casa, e a devolvem para os Trody. Logo depois o Homem das Hipotecas surge, e trata de chamar a polícia para reaver a propriedade. Logicamente que contra o povo não é lá muito fácil lutar, principalmente numa situação de mesquinharia e desigualdade como a época da Crise. Por resultado, os Trody tiveram a execução cancelada, e reconquistaram o direito de morarem na casa deles novamente... e isso logicamente foi subdivulgado, pois poderia representar uma rebelião anti-bancária nada interessante para os mandatários.

 

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O esquema fraudulento que os bancos encontraram para roubarem casas de gente que já possuía moradias devidamente pagas é bem simples, e mais aparenta uma ratoeira chamativa com queijo derretido. Essas ratoeiras foram chamadas de Refinanciamento da Casa Própria por Alan Greenspan, o mais conhecido presidente de Banco Central dos EUA na história. É tudo muito fácil de sacar: se você tem uma casa que vale US$ 300 mil, um banco poderia lhe emprestar 300 mil dólares, e sua casa ficaria de garantia, podendo ser tomada caso você não pague o empréstimo. Tudo muito lindo, se não fosse por um detalhe: anos antes, o chefe do Setor Econômico de Poupanças e Empréstimos do Tesouro Americano, John Gilleran, juntamente com lobistas bancários, secretamente havia mudado as regras dos financiamentos, e uma cláusula permitia aos bancos, baseados em variáveis econômicas que sempre os favoreciam, aumentarem as taxas de juros das parcelas do financiamento. Com essa pequena mudança, os bancos tiveram os cabrestos liberados, e se puseram a tomar casas de todo - aumentando insanamente as taxas de juros, numa luta para deixarem todos dormindo em porta-malas, a exemplo de sequestrados pela Máfia.

Parecia o Paraíso dos Devoradores na Terra, mas um problema cresceu assustadoramente como uma bola de neve: as taxas ficaram tão altas que todos os acorrentados viram que os empréstimos estavam mais caros que as casas que eles deixaram de garantia, e preferiram não pagar merda nenhuma e irem dormir em outro canto. Os "calotes" tomaram proporções tão apocalípticas que o dinheiro dos empréstimos - que estava chegando num volume tão grande, que já haviam se tornado uma espécie de base segura para obtenção de grana pelos bancos, ultrapassando as poupanças - simplesmente escoou pelo ralo, e a especulação louca realizada pelos bancos finalmente cobrou seu preço: o dinheiro dos banco sumiu, o castelo de cartas começou a ruir, e o Capitalismo mostrou que possui bases mais arenosas do que aparenta. Os bancos passaram a ter casas aos montes - todas executadas em hipotecas - mas não tinha ninguém para comprar. Como bairros inteiros foram esvaziados, o preço inicial das casas despencou, e a Crise se instaurou de vez. O resultado disso nós conhecemos!

É por toda essa trajetória de aniquilação financeira que acredito piamente num modelo Anarquista Pessoal. Tais empresas e exemplos demonstrados por Moore trabalham com um modelo de gestão mais igualitária e menos voltada para o lucro. Mesmo inseridas numa sociedade - e num mundo - dominado por covardias perpetradas por tubarões e hienas famintas, é possível a criação de microssociedades baseadas em princípios mais igualitários, como a caótica Skatopia, ou as dezenas de comunidades hippies, ou clãs de motoqueiros que existem por aí. Talvez o segredo seja se manter num nível de existência de tamanho intermediário, para não precisar se preocupar com um incômodo dos Caras que Governam Tudo. Logicamente que ainda se está sob influência de leis criadas com propósitos nefastos, mas num ritmo de vida muito mais voltado para aspectos diferentes do obter.

Caras que vivem desse modo meio selvagem, geralmente são taxados de loucos, assim como os que discursam contra o 11/9, o Aquecimento Global, ou a Crise Econômica, pois toda uma base populacional que vive de pão e circo dá ouvidos a uma mídia vendida e corporativa, e todo o ser que tem uma opinião diferente dela será devorado - são mais ou menos como os potenciais Agentes Smith que estão dentro dos escravos da Matrix. Você não precisa concordar comigo, ou com Michael Moore, mas ao menos se pergunte porque as coisas parecem tão injustas, tão desiguais. Certamente algo está errado, você deve concluir no fim das contas. Discorde, Desobedeça. Não se submeta incondicionalmente a pastores, presidentes ou cientistas, pois nenhum deles têm a Verdade. Amigos, quando lixo em forma de imprensa como a Veja - ou o The Wall Street Journal, porta-voz oficial dos saqueadores, e propriedade pessoal de Rupert Murdoch - diz que os EUA nos salvaram do fim do mundo financeiro, cuspa em cima, pois somente os bolsos dos executivos super-ricos foram salvos. E faça isso agora, pois amanhã pode ser tarde demais!

 

Capitalism: A Love Story (2009)

Diretor: Michael Moore

Duração: 127 min

Nota: 8,5

27 Comentaram...

Saki disse...

Michael Moore é meu ídolo. Ele consegue mobilizar as pessoas num época em que temos tão pouca motivação para nos mobilizar e consegue responder aos anseios de um alternativa viável para o capitalismo, que não seja um comunismo ou socialismo da vida.

Pablo Martins disse...

Nem tem o que falar. A verdade, mesmo que encoberta, ainda está visível a quem quer ver, a quem não se acomoda na frente da TV/JORNAL esperando tudo ¨mastigado¨. Nossa sociedade precisa de um RESET, mesmo que seja de forma brutal...

Douglas Barbosa disse...

Gostaria de excrever bem, assim como voc, ótimo texto. Pesquisou muito ein.

Glenda disse...

É complicado viver num mundo assim, que se tu mostra a coisa de verdade, sempre tem um pra dizer: "ééé, mas tu não ve o outro lado, que o fulano ja fez isso e aquilo de bom".. o escambal pra esses caras.
Na parte la que tu fala da empresa que todo mundo decide as coisas, das assembléias e tal, devia ser assim em qualquer empresa, patrões não entendem que seus funcionários rendem mais quando se sentem bem no trabalho, quando são valorizados. Quanto à parte da crise, várias vezes me passou pela cabeça que ela poderia ser apenas especulação... O que me revoltou mais, foi ver milhões e milhões sendo colocados nas montadoras. Incrível pensar que dinheiro pra acabar com a fome, a pobreza ou simplesmente pra dar dignidade ao ser humano, como uma casa, água tratada, entre outras coisinhas, pra isso, nunca se tem dinheiro. E eu fiquei muito indignada. Finalizando.. hehe quero ver esse filme, muito provavelmente será bom.

Glenda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Panthro Samah disse...

Esse filme é fantástico, precisa ser visto por todo mundo. Embroa ele tenha momentos constrangedores (o Michael Moore tretando com os seguranças sempre é constrangedor), ele mete o dedo na ferida. O Capitalismo é um sistema econômico falho. Ele não se sustenta. Como todo mundo sabe, ter dinheiro significa ter mais chances de multiplicá-lo. Capital inicial, ter dinheiro para fazer dinheiro. A concentração de renda é inevitável num sistema como esses. Existe outros sistema melhor? Atualmente, não. O que não significa que não se deva buscá-lo.

Propor a democracia (ou o anarquismo) como substituto pro capitalismo não tem cabimento, porque a democracia, anarquia e mesmo a oligarquia especulativa são apenas modelos de governo, de arranjo político. O capitalismo é um modelo econômico, de como se arranjam os bens de consumo e produção na sociedade, é outra coisa. Uma ditadura pode ser capitalista (Brasil, Chile) ou socialista (União Soviética, Cuba), uma democracia pode ser comunista (povos ameríndios) ou escravista (Roma e Grécia Clássicas). Uma coisa é o quanto poder tem a figura abstrata do Estado e como ele se organiza. Outra é como o poder econômico está distribuido e como ele é regulamentado.

Trocar o capitalismo pela democracia é uma ideia sem cabimento. O que eu acredito que ele quis dizer é que não queria trocar a democracia pela oligarquia, que é exatamente o que está acontecendo nos EUA. Os interesses de poucos ricos estão guiando o Estado americano em detrimento da maioria. Mas né? Não iria imaginar que um americano lesse Marx e soubesse a diferença entre modos de produção e arranjos sociais.

Panthro Samah disse...

Afinal, eles acham que saúde pública é comunismo! COMUNISMO!! Não socialismo, comunismo!! Vão ser burros assim no raio que os parta!

rodrigo natario disse...

Os Estados Unidos da América precisam de mais do que uma simples reforma na economia ou saúde, eles precisam ser é reformulados completamente.

Angelus Pacifer disse...

Os EUA precisam ser "formatados". Apagar tudo e recomeçar do zero.

Bruno Mattos disse...

É triste como idéias retrógradas como essas continuam a contaminar a sociedade. O capitalismo é a solução para nossos problemas e não a causa. A falta de políticas e ações realmente capitalistas são o que nos impede de evoluir.

Anônimo disse...

Gostei muito do artigo/matéria /reportagem (me digam a diferença) exceto pela escorregada no último parágrafo quando acusa a Veja de ser um lixo. Ela sendo ou não é opinião do escritor , porém acredito que deveria ter algo que desse fundamento a essa afirmação.Senão fica algo do tipo “É porque eu acho que è “. Uma sugestão para uma artigo/matéria /reportagem ?

Anônimo disse...

Ótimo post...falou muito bem, as pessoas não veem que tudo isso, capetalismo/aquecimentismo/terrorismo ambiental, faz parte da conhecida nova,mas não tão nova assim, ordem mundial. Enquanto nós assistimos o jornal nacional,'vide imprenssa', e engolimos a seco toda suas mentiras os donos do mundo chicoteiam o nosso lombo, roubam o nosso suado dinheiro e riem da nossa cara pois nós estamos exatamente como eles querem: adestrados e encoleirados...

Juan Franco disse...

Bruno, a base do capitalismo é o lucro. Num sistema movido pelo lucro, não há como haver igualdade ou ética. O sistema é corrupto por si só.

Como você consegue achar que o Capitalismo seja a solução dos nossos problemas?

Bruno Mattos disse...

O capitalismo visa o individualismo sim. Mas o que não entendo é: por que cuidar de si mesmo é algo ruim? Todos temos força de trabalho ninguém precisa ficar recebendo bolsa família e afins. Sei que nem todos tem acesso à educação, mas a resposta é essa e não auxílios. O capitalismo é um sistema meritocrático que visa a eficiência. Se políticas e ações fossem mais capitalistas seriamos uma sociedade mais eficiente. E eficiência é sim a solução dos nossos problemas. Corrupção não é uma atitude capitalista pois desbalança o equilíbrio do mercado e isso não é vantajoso para a sociedade. A culpa é do desvio de verbas, das políticas que ajudam um grupo em detrimento de outros, etc, e não do capitalismo.

W. Oliveira disse...

Antes de pensarmos em trocar o capitalismo pela democracia. Precisamos lembrar que o capitalismo é um sistema econômico. Enquanto a democracia, um sistema político. Inclusive, o capitalismo depende da democracia enquanto sistema político para se perpetuar, pois, noutro sistema, como o comunismo ou a tirania, por exemplo, seria mais complicado. Então pensar em combater o capitalismo é o mesmo que pensar em desenvolver um novo sistema econômico. Os comunistas sugerem o socialismo. E vocês?

Juan Franco disse...

Eu sugiro uma economia baseada em recursos. Tá aí a formatação que precisamos. Veja a respeito do Projeto Vênus

Anônimo disse...

"Sistema meritocrático que visa a eficiência" é como se chama injetar bilhões de dólares dos contribuintes nos bolsos dos banqueiros e especuladores que provocaram a crise? Então tá...

Bruno Mattos disse...

Que argumentozinho falacioso! Primeiro, os dólares não são dos contribuintes. Vieram de impostos claro, mas, são dos bancos centrais e estão sendo usados para equilibrar a economia, ou seja cumprindo sua função. Segundo, o dinheiro não está indo para o bolso de ninguém, nem de banqueiros e muito menos de "especuladores". O dinheiro entra no mercado para reaquecê-lo e é um tipo de empréstimo. A crise aconteceu por falta de uma maior regulamentação das ações e era isso que eu dizia quando falei em torná-las mais capitalistas. Com regras mais definidas o mercado pode seguir de uma maneira justa e isso aumenta o excedente geral.

Anônimo disse...

Bruno, tem certeza que você ao menos leu o texto? O dinheiro não está indo para o bolso de ninguém, mesmo não tendo nenhuma fiscaliuzação que garanta isso? Ah, claro, os banqueiros e empresários são todos extremamente éticos e generosos, né?

Ah, não querendo dar uma de socialista (sistema no qual eu realmente não acredito) e é muita inocência alguém acreditar que o capitalismo é perfeito e á prova de críticas, ou que ainda existam "meritocracia" ou "livre concorrência" ainda mais em um país tão protecionista, extremamente corporativista e dominado por lobistas...

Anônimo disse...

Assim é o raciocínio dos americanos: gastar o dinheiro dos contribuintes com saúde pública não pode, é "comunismo". Mas queimar centenas de bilhões de dólares inventando uma guerra do Iraque, favorecendo os fabricantes de armas, ou torrar outras centenas de bilhões para socorrer banqueiros e empresários quebrados pela própria incompetência (a tal "meritocracia", né?), aí pode...

FiliPêra disse...

@Bruno Mattos...

O problema, a meu ver, é que você enxerga o Capitalismo como ele é na teoria, bonito. É igual um socialista falar do socialismo baseado nas idéias de Marx. A aplicação real dos dois modelos é extremamente falha, e produziu somente exemplos minimamente aceitáveis, que "deram certo". Vamos ao caso da maior potência do mundo, o Guia do Capitalismo: os EUA são o que Moore e vários outros exporam em documentários. Se já foi mais ou menos igualitário, foi na época da pouca concorrência mundial, num período pré-globalização. Hoje temos um mar de gente endividada, que só agora tá conquistando direitos básicos, como saúde gratuita (caraca, eles não têm saúde gratuita, cara). E como pensar em eficiência quando seus salários são de 20.000 ao ano, mesmo sendo um piloto especializado? Cadê a meritocracia aí? Isso só pra ficar nos exemplos do filme.

Logicamente que pensar em si próprio é a melhor coisa que existe, e Eu recomendo. Mas nós devemos pensar em nós mesmos, o Estado deve pensar num bem coletivo, já que ele é sustentado por toda a população. E viver num país onde 90% da população só tem 10% da riqueza (nem sei mais se a comparação é essa, mas sei que ronda por aí) é meio triste, e não parece nada justo. É esse tipo de exemplos capitalistas que vemos por aí.

Quanto ao plano de ajuda econômica! Sua resposta cobre apenas a questão do uso do dinheiro, e isso é falho. Primeiro que o dinheiro de impostos não são do Banco Central (nos EUA, o FED). O Banco Central serve unicamente para traçar metas econômicas, como taxa de juros, e emite dólares no mercado de câmbio, além de regulamentar a emissão de papel-moeda para evitar a inflação do dinheiro. O dinheiro de impostos só pode ser usado mediante aprovação do legislativo e do presidente, justamente porque o dinheiro só deve ser usado para o bem coletivo.

O problema desse pacote de ajuda de 700 bilhões foi seu uso sem controle, e para ajudar empresas que estavam colocando pessoas para dormirem na rua. Depois que o dinheiro saiu dos cofres públicos - graças a uma ação do Executivo sobre o Legislativo, explicada em dois documentários - ele não necessita voltar, ele não é um empréstimo, ele não é nem fiscalizado. A crise ocorreu por ganância dos bancos e instituições financeiras, que especularam e emprestaram dinheiro sem restrições; e o governo, vendo o problema, deixou acontecer, exatamente pela existência de um mundo de executivos dessas empresas nos postos-chave. Pra mim parece óbvio: uma crise provocada, para colocar a mão em grana de impostos (veja se tal coisa ocorre no Brasil dessa forma).

Mas cada um acredita no que quer...

Bruno Mattos disse...

Nunca disse que nada era perfeito. Disse que precisa sim ser melhorado, mas que a solução não é desmantelar o sistema e sim refiná-lo. A ajuda econômica foi inevitável! Se não fizessem isso o número de falências ia ser muitíssimo alto. Se não tivesse sido feito estaríamos todos em uma situação muito pior! Ninguém pensa nisso? Respeito a opinião de todos, mas só queria dar uma outra visão sobre as coisas. É muito fácil falar mal do sistema em que vivemos, mas poucos reconhecem seu lado positivo.

Anônimo disse...

Que lado positivo?

Thiago Cortês disse...

Trocar de sistema econômico não é como trocar de roupa.

A esquerda aposta na engenharia social, ou seja, em operar mudanças na sociedade partindo apenas de cálculos racionais, sem levar em conta as interações sociais.

É bom lembrar que ninguém "planejou" o capitalismo, houve um desenvolvimento natural e o sistema só foi teorizado posteriormente.

Socialismo/comunismo foram literalmente inventados, não têm qualquer desenvolvimento natural, precisam ser implantados pela força.

Anônimo disse...

Ninguém aqui tem a ilusão de trocar de sistema econômico, apenas não temos a inocência de acreditar que esse sistema seja justo e baseado em mérito, eficiência e ética, com tantos fatos que observamos e que provam o contrário; corrupção empresarial, corporativismo, protecionismo, ostentação e desperdício, destruição do meio ambiente, endividamento abusivo da população e criminalização da pobreza...

Anônimo disse...

muito bom o filme.. acho muito pertinente e necessaria a discussao sobre o modelo economico de qual partiipamos afinal é justo uma maioria pobre?

Anônimo disse...

ótimo filme! muito bom opara entender um pouco da historia e do que passa nos eua.

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