quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Avatar FiliPêra

The Book of Eli

 

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Filmes pós-apocalípticos são uma faca de dois gumes! As possibilidades de se fazer um filme interessante são tão gigantescas, que realmente se espera (ao menos Eu espero) que a produção aproveite essas possibilidades de forma inteligente. Mas, infelizmente a maioria dos que se põe a fazer filmes que rolam em um mundo destruído, não vão muito longe em explorar esses conceitos, e se prendem em velhas fórmulas idiotas, que acabam por demonstrar uma limitação grande da equipe por trás do longa.

Tudo que Eu sabia quando comecei a ver The Book of Eli era que ele era pós-apocalíptico, e que Denzel Washington (o tal Eli) carregava um livro por aí, esmurrando quem estiver no caminho. Pelas cenas de porrada no trailer, parecia que, ao menos ação iríamos ter. Como outro ponto a favor do filme, estava o fato dele ser um roadie movie, um dos meus (sub)gêneros favoritos - um dos melhores filmes da história, Apocalypse Now, é um river movie, por exemplo. Somadas essas três características - apocalipse, Denzel descendo a lenha em uns vilões meia boca com um facão, e o fator road - esperava um filmaço com F maiúsculo.

Quebrei a cara…

Não que o filme seja de todo ruim, mas é apenas mais um filme pós-apocalíptico bostinha, que nem se esforça pra ser muito mais. Basicamente é um conjunto de cenas de ação mal costuradas, e centradas no duelo repentino e pessimamente construído de Eli e Carnegie (Gary Oldman, como sempre, um vilão dos melhores). Como coadjuvante, Solara (Mila Kunis… lindinha), fazendo o sempre existente papel da menina-que-transforma-tudo-num-triângulo-amoroso.

O filme começa bem, com uma cena à meia-luz, com Eli caçando com arco e flecha. A apresentação da proposta mitologia pós-fim do mundo é feita de forma interessante, sem precisar recorrer a recursos didáticos e idiotas, como os telejornais de Eu Sou a Lenda, ou a narração em off vagabunda de Waterworld. Você simplesmente é jogado no meio da trama do guerreiro errante que carrega um livro que pode salvar a humanidade, e o resto vai surgindo com os diálogos. Aos poucos você descobre que o mundo tá na situação calamitosa que está por causa de explosões nucleares, que o sistema financeiro logicamente voltou pra base da troca, com espécies de bancos dando o valor de itens raros.

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Nesse mundo caótico está Eli, que recebeu uma visão de onde estaria um livro que traria a salvação da humanidade, além da missão de andar para o Oeste, onde acharia o lugar para deixa-lo em segurança. Pela sinopse parece ser uma porcaria, mas grandes filmes não precisam de sinopses que mudam o mundo para serem bons, ou você acha lutador que sofreu ataque cardíaco voltando a lutar é uma boa sinopse (O Lutador, um filmaço)?!

O problema é que The Book of Eli é realmente tão fracote quanto a sinopse mostra. Chega ser frustrante: temos um mundo gigante a ser explorado, milhares de coisas a serem feitas, e o filme se prende a mostrar uma historinha besta de perseguição, que não rende nada tão interessante, a não ser uma ceninha mezzo explosiva de ação numa casa. É como ir a Moscou e ficar confinado em um hotel de periferia.

As motivações, explicações, e a própria narrativa do filme são problemáticas. Se contar uma história de modo rarefeito, deixando para quem está assistindo a tarefa de interpretar e completar os buracos intencionais da trama, pode ser uma grande sacada, ter uma história que não vai a lugar nenhum não é. E a jornada de Eli é exatamente isso: sem propósito. As motivações dos personagens beiram o infantil, e num ambiente em que até para se conseguir água rola uma luta, é um problema.

Se você realmente tá decidido a ver esse filme, se foque individualmente em cada cena - só não repare em Eli citando a Bíblia, ele não é cool como Jules Winnfield - porque o conjunto não é grandes coisas. As cenas têm elementos de faroeste, com enquadramentos distantes, e takes mais longos, com menos cortes irritantes. A poeira e a sujeira típica dos filmes de mundo destruído também está lá (a poeira só não está nos óculos escuros dos personagens), mas dessa vez esses elementos visuais são brilhantemente ressaltados por uma fotografia sépia, que chega quase ao preto e branco em alguns momentos. Só destoa desse conjunto retrô, o uso tosco de uma câmera lenta que somente na primeira cena ajuda de verdade.

 

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Infelizmente o filme não passa de algumas cenas legais, e um plote mal aproveitado. O final, que rola depois de Eli proteger a sua Bíblia (Bíblia salvar o mundo depois do apocalipse? PQP roteirista, hein…), é uma broxada das piores, assim como o gancho risível para uma possível sequência. Talvez, se você levar em conta que o filme quis mostrar como a Bíblia pode ser dicotômica, pode achar a história menos ruim. Mas com certeza, ao final você ficará feliz por ter terminado, finalmente… mas CHORE, porque os Irmãos Hughes estão escalados pela Warner para dirigirem o remake de (respira fundo!!!) Akira, que também é pós-apocalíptico e se passará em (hiperventile agora!) New Manhattan.

Acredite, é melhor tirar a poeira de seus DVDs de Mad Max (ou fazer como Eu, e baixar The Road, e torcer pra ele ser bom).

 

The Book of Eli (EUA, 2010)

Diretor: Irmãos Hughes

Duração: 117 min

Nota: 5

11 Comentaram...

ChavesPapel disse...

Eu detestei esse filme!
Até comente sobre ele também! http://migre.me/kTBx

The Road eu já baixei, vou assistir essa semana!

Aleatório disse...

Bom dia,

Pelo título dava para supor que haveria uma relação com a Bíblia. Eu gostei da sinopse, me lembrou a história da Torre Negra de SK, com o mundo pós-apocalíptico e cara vagando para o Oeste. Mas pela resenha acabei de broxar com o filme.

Att.

João Lucas Scharf, o Aleatório

Pedro Mendes disse...

Merda, com todo respeito, pensei que era bem o estilo de Fallout, tinha botado mó fé, vou assistir pra ver.

Thiago Fernando disse...

Akira em Manhattan nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaoooooo alguem jogue uma bomba nesse estudio.

André Coelho disse...

Pelo menos tem a Mila Kunis...

SEU TUZINHO disse...

Não adianta. Mad Max ainda é o road movie definitivo!

Anônimo disse...

Não Vi ainda. vou assistir hoje,
Suas criticas são pesadas, temos que dar credito, pois o assunto tratado entre linhas sobre a questão da religião foi uma ideia boa, é que isto não pode, alias não deve ser tão explicito, pessoas são facilmente sugestionaveis, pricipalmente pela TV.
Espero gostar,
Com todo respeito por tua opinião ,.
Um grande abraço

Unknown disse...

Po no 1º Mad Max e em Blade Runer, dois icones de filmes apocalipticos de holywood, em nenhum momento da trama é dada a explicação de porque o mundo esta como está, ali o mais importante não é o que aconteceu mas o que esta por vir, sei lá ai vai de cada um analisar a atual situação e pensar se um dia chegaremos num mundo como aquele.
ainda não vi mas tem cara de cult, assim como os dois primeiros que citei não fizeram muito sucesso quando lançados, principalmente blade runer, e hoje são dois classicos fodasticos.

Gerusa disse...

Assisti ao filme essa semana, e considero que todos devemos ir sem muitas pretenções ao cinema, a não ser a de passar um tempo que não é tão disperdiçado assim.
Achei a fotografia do filme bem legal, apesar de ser algo que já se tornou clichê (deserto e tons sepia), ajudou a formar o clima que se pretendia passar. Aliada a paisagem são realmente pontos fortes.
Concordo quando diz que a história tem muitos buracos, e o proprio Eli, dando uma segunda olhada, não passa de um cara que ouve uma voz. Mas num mundo daqueles...
Já o Gary Oldman consegue se manter bem no papel de vilão. Sem ser muito caricato, nas poucas cenas em que ele não está perseguindo Eli, o ator consegue passar uma postura de vilão na medida certa para Carnegie. Coisa que eu não esperaria menos vindo de Oldman.
Bom, no fim das contas valeu por algumas cenas de ação, um pouco de Gary Oldam, e pelo preço promocional da entrada.

blogueiro disse...

Atenção: Possíveis Spoilers
Eu assisti ao filme “The Book of Eli” após ler essa crítica e discordo diametralmente do que foi destacado pelo texto.

Considero o referido filme uma boa produção, certamente não é a melhor desse ano, mas está muito longe de ser a pior.

O que eu gostei desse filme é o subtexto que ele contém. É um subtexto cristão? É sim, mas e daí? Eu assisti ao filme, entendi a mensagem e nem por isso deixei de ser ateu.
E mais ainda, a mensagem não é só sobre a importância da fé, mas também sobre resgatar e preservar a cultura e a arte da humanidade.

Reparem que não é por acaso que no final do filme, ao lado da Bíblia, está o Alcorão e a Torah. Não é por acaso que Eli encontrou no final um Malcom Mcdowell cabeludão que protegia livros e obras de arte.

E por falar em final, será que Eli era cego? Se ele era cego, ele todo tempo foi guiado pela fé?
Perguntas essas que não são respondidas mastigadinhas e só enriquecem a história.

É lógico que quem olhar esse filme comparando com mad Max e com sei lá mais o quê. Ou ficar apenas procurando cenas de ação, explosões e analisar somente a “fotografia estilizada” e as caras e bocas dos atores, não vai captar o que o subtexto quis dizer.

É a mesma coisa que o infeliz querer assistir Blade Runner pensando que vai assistir a um filmezinho de ação e ignorar a dualidade “humanos-máquinas” proposta pelo texto.

Eu não estou propondo que a parte técnica de um filme deva ser ignorada, eu apenas afirmo que produções como "The Book of Eli" não são apenas filmezinhos com fotografia bacana e alguns corpos esquartejados aqui e ali. "The Book of Eli" é arte e, por mais rasa que seja, é uma arte que tem uma mensagem.

Glauco disse...

Só uma sugestão: http://www.imdb.com/title/tt0072730/
"A boy and his dog", baseado num conto de Harlan Ellison, conto sendo melhor que o filme, obviamente.
Uma das fontes que mad max, Livro de Eli, jogos como Fallout e sequencias beberam.

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