terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Avatar FiliPêra

E começa a temporada dos boicotes: Alice e Heavy Rain estão no mesmo barco

 

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Por motivos diferentes, mas igualmente condenáveis (ou não… cada um com sua opinião), estão sendo cogitado boicotes a Alice no País das Maravilhas - possível-neo-clássico-gótico de Tim Burton - e ao mais que hypado e esperado novo representante dos games que queriam ser filmes, Heavy Rain.

Com Heavy Rain a coisa é simples: o jogo será banido nos Emirados Árabes Unidos, por exibição de “conteúdo violento e nudez”. A notícia foi confirmada pela Sony ontem, que soltou os clássicos blábláblás de executivos pra dizer que o conteúdo do jogo está dentro do aceitável, o que é inteiramente concordável, visto que em países árabes ocidentalizados, como a Arábia Saudita e o próprio Emirados Árabes, existe uma aceitação forte com cenas violentas de filmes hollywoodianos e seria perfeitamente normal enquadrar games nos mesmos parâmetros.

Parece uma notícia normal - e infelizmente é -, mas tem dois pontos discutíveis aí: autoridades colocando os games como uma mídia secundária, e aceitação maior da violência perante o sexo. Não sei exatamente o que rola na cabeça de um juiz desocupado, mas é fato que não vejo filmes, ou álbuns musicais sendo proibidos por aí, somente gamesm e ajuda o fato de poucas empresas grandes de games estarem representadas por aqui. Creio que tudo começou aqui nas nossas terras com a proibição de Carmageddon, no fim da década de 90. Em questão de semanas, surgiram inúmeras reportagens em Vejas e Istoés da vida mostrando o perigo aterrador e satânico que games como Diablo e Doom podiam representar na mente de crianças. E o melhor: com estudos científicos (!!!), sendo que nem nos dias de hoje existe algo próximo de um consenso sobre os efeitos desses produtos na mente humana. Só esqueceram de avisar a eles que o game é inspirado em Death Race 2000, filme de ação com Stallone, em que corredores… devem atropelar pedestres!!! Proibiram o filme? Não…

Isso rola pois games são de uma geração posterior à geração dos velhotes que editam jornais, ou dos caras que formulam leis. Eles não tiveram um SNES quando crianças, e isso deve encher as mentes deles de inveja. Mesmo nos dias de hoje, com os games representando uma mídia consolidada, e reconhecidamente mais lucrativa que a de cinema, ela ainda é secundária, é coisa de desocupado na cabeça de muita gente. E por isso é tratada com leviandade. Quer mais um exemplo? Uma reportagem babaca do Jornal Hoje, exibida em novembro passado, “descobrindo” Bully, jogo da Rockstar. O escritor da matéria ainda teve a cuzice de chamar os jogadores do game de covardes, e dizia com todas as letras que o game era incentivador do bullying que rola nas escolas.

É melhor nem comentar esse tipo de reportagem que se diz minimamente “jornalística”. Não vou dizer que joguei horas e horas do jogo e ainda não ameacei quebrar narizes de nenhum aluno indefeso, ou falar que quem faz bullying são pessoas e não jogos… não adianta, games são uma mídia de periferia na cabeça da geração passada, e vai ser assim por um bom tempo!

E tenha certeza de uma coisa: Heavy Rain só está sendo proibido pelo sexo que rola nele, segundo os produtores, de modo explícito. Todos estamos acostumados com a violência, mas nem todos com o sexo, e agradeçam às religiões castradoras que existem nesse mundo. Apesar de ver isso acontecer ao meu redor uma cacetada de vezes, é difícil me acostumar com gente que vê Stallone arrancando pernas, tripas e cabeças com uma .50 em Rambo IV, mas fica com nojo de ver Angelina Jolie fazendo uma cena lésbica linda em Gia, ou a lindinha Anne Hathaway transando no banco traseiro de um carro em Garotas Sem Rumo.

É uma bizarra inversão de papéis. Gente normal não pega facas e abre barrigas alheias, ou arranca pedaços humanos com uma metralhadora… gente normal (e feliz) TRANSA (faz amor, trepa, whatever)! E quanto mais a gente transa, mais a gente quer transar! Então, ver gente fazendo sexo loucamente numa tela deveria ser um pouco mais normal do que assistir Steven Seagal quebrando mãos alheias (relevem o exemplo com o Steven Seagal).

Mas Eu não espero que a geração que tá aí, dominando, entenda esse tipo de coisa. Muito menos reis com as bundas sentadas em petróleo…

 

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E Alice? Tá riscado tomar boicote por que? Bom, o motivo é muito mais comercial e menos cultural! Parece que a Disney encontrou uma saída para vender mais DVDs do filme, e essa saída não agradou os donos de salas de cinema. Os executivos da Disney calcularam que o período de férias escolares são péssimos pra venda de DVDs, e por isso acharam prudente diminuir a janela entre o lançamento do filme no cinema e sua versão em DVD. O normal - fruto de acordo de distribuidoras com redes de cinema - é lançar os DVDs 17 semanas depois do lançamento no cinema, mas a Disney anunciou que lançará Alice 12 semanas depois… e começou a Revolução das Redes de Salas de Cinema.

Começou na Holanda, com as quatro redes principais de cinema - Minerva, Pathé, Wolf e Jogchems, que juntas dominam 85% do mercado - se unindo e calculando que terão um prejuízo monstruoso por causa dessas cinco semanas de adiantamento. Como a Disney não cedeu ao protesto eles decidiram colocar o pau na mesa, e entraram num acordo de excluir totalmente o filme da programação das salas.

Até aí tava tudo tranquilo, a Holanda é terra dos hipongas que fumam maconha, sem problemas para a maior empresa de entretenimento do mundo. Mas a bola de neve rolou e começou a crescer. As redes Odeon, Vue e Cineworld, que mandam em 95% dos cinemas 3D ingleses, entraram na dança, e aderiram ao boicote, já tendo retirado os cartazes dos filmes de suas salas. E nesse momento já tem gente falando até em redes americanas aderirem ao protesto… e aí, amiguinho, não tem Disney que não coloque o rabo entre as pernas!

Mas como o cinema vive dessas queda de braços por causa de grana, só nos resta sentar no sofá das nossas casas e torcer para tudo se resolver e dia 16 de abril esse bendito filme desembarcar aqui (5 de março nos EUA). Eles estão pouco se fudendo pra você ou pra mim, somos apenas um número nas bilheterias. Por isso não tenho problema em esperar um DVDScr no Pirate Bay, não é a mesma coisa, mas estou pouco me danando pra 3D mesmo, só quero ver o que Burton aprontou com esse clássico da literatura-psicodélica…

 

[Via Cinema.com.br e EDGE]

10 Comentaram...

Francisco Fagundes disse...

É a hipocrisia sentada no topo do mundo cagando nas nossas cabeças e sorrindo. Games, filmes, mangás, paintball ou artes marciais, nunca me fizeram levantar a mão pra um ser humano sequer. Esses corruptos desgraçados que são 99% dos seres humanos, continuam com seu egoísmo sem limite. Games pelo menos nos levam a pensar e tomar decisões. Somos o gado desgarrado da manada.

Gringo disse...

Ver os defeitos de si mesmo em uma tela incomoda muito mais do que ver as qualidades de seu oposto.

Eduardo Baroni disse...

O que mais me preocupa realmente é eles se escandalizarem mais com cenas de sexo e nudez do que com de violência. Nos filmes isso é claro. Filmes que mostram cabeças explodindo, assassinatos de todo o gênero, torturas, vandalismos e afins pode. Mostrar a xoxota, nem pensar.

Felipe disse...

DVDScr nada! Aproveita que vai sair mais rápido e já espera o DVDRip =D

ѶѦŁṂØŬȐƬ disse...

Essa humanidade....

Gabi disse...

Eu vou boicotar Alica!!! Mas por motivos pessoais!!! Não aguento mais (citando o texto) "Alice no País das Maravilhas - possível-neo-clássico-gótico de Tim Burton" super hypado e blábláblá...

Ninguém vê que o Burton sempre faz o mesmo filme! Genial das primeirs 3 vezes, mas depois cansa e cansa mais ainda todo esse mundo falando do filme da Alice.... Já joguei até praga no filme e vai ser terrível...

Unknown disse...

Não concordei com o final do artigo "estou pouco me danando pra 3D mesmo", mas respeito tua opinião.
Na minha opinião o 3D é como uma "ferramenta" para os artistas, quando um filme é concebido em 3D como é o caso do Alice. O artista quer que sua obra seja apreciada por completo, em 3 dimensões. Não acho que o 3D seja um mero adereço de tecnologia.
Ver um filme feito em 3D sem o 3D é como jogar Grand Slam Tennis para o Wii sem o motion plus, até pode ser divertido, mas não será completo.
Abraços.

rama disse...

sobre os games serem violentos e aquela mesma historia de sempre, muitos acabam pagando pellos erros de poucos nao temos culpa se dementes mentais saem por ai matando pessoas por nao saber diferenciar a realidade de um jogo a mesma condenaçao acontece com rpg elles sao uns medievais e nao aceitaum isso facil

Taiguara disse...

Muito bem dito. E, o que é pior, dá para notar que as nossas redes de TV aberta também consideram a violência mais normal que o sexo. É o que se deduz dos cortes feitos em certos filmes. Abraço!

Anônimo disse...

Adorei a matéria. A melhor do blog.
Moralismo e o "politicamente correto" acabam criando coisas esquisitas como a descrita na matéria.

"muitos acabam pagando pelos erros de poucos"

Ênfase nesse poucos. Desde o início da "guerra a violência dos games" da década de 1990 eu só me lembro de dois ou três casos de gamer assassino. Quantos gamers existem no mundo? Contando os casuais?

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