quinta-feira, 1 de julho de 2010

Avatar Voz do Além

Espiões (russos) na América! Relembrando os velhos tempos

 

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Dia de 19 de agosto de 1991 - A linha dura do governo soviético - Partido Comunista, Exército e KGB - dão um golpe na tentativa de tirar Mikhail Gorbachev do poder e voltar as coisas aos eixos dos velhos tempos. Mas, as tropas de elite da polícia secreta - a chamada Spetsnaz - dão pra trás, e o golpe fracassa. A “revolução” posterior que em terras russas ocorre de modo diferente da usual, e as peças-chave do regime simplesmente assumem posições diferentes, ou mantém o antigo poder. Nada de fuzilamentos ou rebeliões genuinamente populares. O próprio Boris Yeltsin é um integrante do partido comunista, e três anos depois do fim da URSS, o Partido Comunista manteve poder em 2/3 das repúblicas russas, apenas assumindo um outro nome.

O KGB foi uma das vítimas do fim do regime. Bem, mais ou menos… enquanto na Romênia todos os líderes da polícia secreta, a Securitate, foram fuzilados junto com o último presidente comunista do país, Nicolae Ceaucescu; na Rússia, eles integraram os novos serviços secretos, ou foram virar mafiosos usando as técnicas de atividades ilegais que possuíam. O KGB não era um órgão novo, criado em 1954, como alguns especialistas ocidentais crêem, mas apenas uma variação de nome da Tcheka, o serviço secreto comunista criado pelo polonês Felix Dzerjinski, em 1917. As mudanças de nome - OGPU, NKVD, MGB e KGB - eram uma forma de despistar, tanto a população soviética, quanto os estrangeiros. Tal ainda acontece hoje…

Após a queda da União Soviética, o serviço secreto russo voltou a se chamar MGB (Ministério da Segurança) para ser dividido alguns anos depois. Nasceram três serviços secretos de divisões da antiga KGB. A idéia de Yeltsin era impedir que a poderosa polícia secreta ameaçasse seu governo, e daí ele inventou de criar três serviços: o FSB (Serviço Federal de Segurança), que cuidaria da segurança interna; o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), cujo o nome é auto-explicativo e a FAPSI (Agência Federal de Comunicações Governamentais e Informações), uma espécie de NSA russa, que espiona meios de comunicação, que logo depois seria renomeada para Serviço Especial de Comunicação e Informação.

O poder do serviço secreto russo ainda está lá, menos ativo do que na era comunista, mas ainda lá. Tanto que seus integrantes foram capazes de voltar ao poder, após colocarem Yeltsin de lado, e agora não parecem muito dispostos a deixa-lo. Putin, ao subir ao poder, tomou uma medida que colocou a atividade secreta mais ou menos como era antes, e criou o cargo de Chefe da Inteligência, que unificaria todas as atividades secretas do país e seria subordinado somente a ele.

 

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O que nos leva aos desdobramentos atuais dessas atividades, uma quase crise Moscou-Washington, com esses últimos correndo atrás de achar espiões trabalhando pro SVR. 11 pessoas acusadas de conspiração para agir como agentes de um governo estrangeiro e lavagem de dinheiro, o que pode levar a uma pena máxima de cinco anos de prisão, foram presas, incluindo Anna Chapman, 27 anos, a lindona das fotos desse post. Um outro suspeito, o canadense Robert Christopher Metsos, 54 anos foi preso no Chipre por autoridades locais, mas saiu sob fiança e aguarda extradição.

As prisões ocorreram depois de dois de investigação do FBI, que é responsável pela contra-inteligência (ou, prender espiões, se preferir) nos EUA. Segundo relatórios do mesmo órgão, os acusados faziam parte de uma rede russa que tinha o objetivo de “procurar e desenvolver laços com os círculos políticos dominantes dos EUA”, e trabalhavam em território americano há anos, sob os pseudônimos: Richard Murphy, Cynthia Murphy, Vicky Pelaez, Juan Lazaro, Michael Semenko, Michael Semenko Michael Zottoli, Patricia Mills, Donald Howard Heathfield e Tracey Lee Ann Foley, com nacionalidades americanas, canadenses e peruanas. Em outras palavras: eles eram agentes (o termo correto é Ilegal) russos, com dinheiro e permissão de Moscou para cooptar colaboradores estrangeiros (esses sim são chamados de Agentes) na obtenção de planos secretos e informações privilegiadas para abastecer a diplomacia russa.

Os diplomatas dos dois países já se estranharam. O Ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, em visita ao Oriente Médio, já fez uma curta declaração, mas reiterou (ou tentou) o desejo que esse episódio não dificulte a reaproximação dos diplomática dois países, após relações tempestuosas sob a Era Bush. 

 

Não nos explicaram do que se trata. Espero que nos expliquem. A única coisa que posso dizer é que o momento para fazer isso foi escolhido com particular brilho.

 

Os Ilegais fazem parte da política russa de infiltração de russos altamente sob identidades falsas em países estrangeiros. Vários deles têm contato com a cultura americana - ou de outros países que irão morar - desde a adolescência, têm filhos em território estrangeiro, além de emprego estável. São treinados nas chamadas dachas - fazendas de figurões do governo - para logo depois receberem suas missões no prédio do SVR, em Yasenevo, Moscou. Logo depois eles pegam uma rota longa, passando por diversos países, sob várias identidades, para só então chegarem ao país de destino, onde, geralmente, terão contato com uma vasta rede de Ilegais já estabelecida. Uma rede de Ilegais não encontra ou toma conhecimento da outra, geralmente atuam em cinco ou seis - o que me fez refletir sobre o tamanho exagerado dessa suposta rede. A jogada é cooptar importantes financistas, políticos, militares, usando dinheiro, ideologia, sexo… seja lá qual for o ponto fraco da “vítima”.

Já existiram casos piores do que esses. Uma vez entrevistei o Relações Públicas da Abin (esqueci o nome dele agora, tenho que achar o documento que ele me mandou) em que ele dizia que tinha informações de que os russos tinham cerca de 4000 espiões trabalhando no estrangeiro, sendo 1000 (MIL) nos EUA.

Robert Hanssen foi protagonista do que foi classificado como “o maior desastre da história da inteligência secreta dos Estados Unidos". Durante cerca de 20 anos, Hanssen, um agente da contra-inteligência do FBI, passou informações sobre quem eram os agentes russos que trabalhavam pros EUA, o que levou a prisão de mais de dez deles, e execução de pelo menos dois. Por todas essas informações, Hanssen recebia milhões em dólares e diamantes. Foi preso em 2001, e no momento do flagrante que lhe resultaria numa condenação a prisão perpétua, disse: Por que demoraram tanto?

Outro caso famoso é Aldrich Ames, também da contra-espionagem - mas da CIA. Ele se voluntariou a passar informações para os soviéticos nos anos 80 por estar precisando de dinheiro, e continuou fazendo o serviço para os russos. Recebeu cerca de 4,5 milhões de dólares em cerca de 10 anos como agente duplo, e foi descoberto em 1994, sendo responsável pela execução de 10 agentes duplos russos - e condenado a prisão perpétua por isso.

Ou seja, a espionagem continua, mesmo com a KGB tendo “sumido”, e continuará assim, de forma obscura, enquanto os diplomatas berram na frente das cortinas…

 

[Via Foreign Policy e Guardian]

3 Comentaram...

Caer Itaobi disse...

O imbatível charme das espiãs russas...

O Vira-Lata disse...

Artigo interessante, nos dias de hoje temos a sensação de que tudo ainda se consegue diplomaticamente, mas quando vemos isso, notamos que a sujeira se bobear é ainda maior.

Leonardo disse...

Achei bem interessante este assunto sobre a KGB e a atual espiã presa. Mas o que me faz pensar é que com a atual situação economica do mundo e o EUA em uma crise financeira que pode piorar, me faz lembrar que uma guerra gera lucros. Revendo uma parte da história bélica dos EUA, lembro de como entraram na 2ª Guerra Mundial, como forçaram uma guerra contra o Japão e assim se tornnando um estado imperialista. Pode até ser uma teoria da conspiração, mas é algoa a se pensar.

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