terça-feira, 27 de abril de 2010

Avatar Murilo

Cyberpunk: imaginando o futuro para elucidar o presente

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Nos 70 e 80, quando se começou a discutir qual o destino da civilização perante às novas tecnologias que revolucionavam a forma de se viver em sociedade, uma nova tendência literária e cinematográfica surgiu, a qual ganhou a denominação de cyberpunk. Com influência da ficção científica, das drogas, do sexo e do rock, seus autores misturaram os mais díspares gêneros, romperam com vigor as barreiras entre filosofia, literatura e cultura de mídia com uma escrita ágil e lotada de alegorias e metáforas. Analisando as tendências do presente, fortemente influenciada pela tecnologia e pela mídia, os cyberpunks julgavam que o futuro seria aterrador, onde tudo é possível e é cada vez mais difícil sobreviver.

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Blade Runner
Em vez de escrever sobre as forças rebeldes de um império em uma galáxia muito distante (antes que alguém fala alguma coisa, sou fã de Star Wars), os autores do estilo cyberpunk escrevem sobre o nosso próprio mundo, num futuro em que Microsofts da vida controlarão cada aspecto da nossa vida por interesses próprios, sistemas são capazes de programar a personalidade dos indivíduos e a clonagem humana já é uma realidade. Frutos do consumismo norte-americano, da televisão como babá dos filhos e unificadora da família e do avanço acelerado da ciência, os cyberpunks tentam analisar a intensidade dessas transformações e como elas afetarão o mundo. E criam sua ficção a partir disso.

Escrito por jovens autores, primeiramente em fanzines, alguns dos que se destacaram são Bruce Sterling (autor do fanzine mais importante do movimento, o Cheap Truth), Greg Bear e Rudy Rucker, mas talvez o maior escritor do gênero seja William Gibson. Estreando com o pé direito em seu Neuromancer, romance que ganhou todas as principais premiações da ficção científica e foi considerada texto fundamental do cyberpunk e um dos melhores romances das últimas décadas. Com influências de Blade Runner, histórias de detetive e ficção científica tradicional, fantasia, noir de Raymond Chandler, bem conectado ao ideal cyberpunk de unir vários gêneros dentro de uma mesma narrativa. No romance, as fronteiras perderam a importância e culturas, línguas e raças se tornaram uma só.

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Num mundo onde informação é sinônimo de poder, os ladrões de dados informatizados são comuns e bem pagos no mercado negro. E essa é a profissão do protagonista Case, que é definido pelo autor como um "cowboy do ciberespaço". Ele é contratado para roubar a IA Neuromancer, para que ela possa se fundir à inteligência artificial Wintermute. Para isso, se une a um grupo. Cada integrante tem uma habilidade especial útil ao trabalho, como Molly, que porta facas abaixo das unhas.

Não se explica direito se os personagens estão no mundo real ou no virtual. Como é comum em muitos livros e na consagrada trilogia Matrix, os personagens entram nos sistemas de computador por uma ligação direta com o cérebro. Um tema presente em muitos filmes, como 2001: Uma Odisséia no Espaço (onde o computador HAL toma controle da nave), também dá as caras em Neuromancer. O pavor de que a tecnologia, a qual usamos para controlar a natureza, nos domine e triunfe sobre a humanidade é uma constante no livro, que também retrata a batalha do protagonista alienado Case pela autonomia num mundo dominado pela tecnologia.

Outra questão é qual é a definição de humanidade num mundo em que construtos de computador tem personalidade e os humanos tem diversos implantes. Humanidade e tecnologia se confundem, dando a idéia de que em breve seria impossível dissociar ambos.

William Gibson seguiu em frente com o futuro criado em Neuromancer nos seus romances seguintes. Ele e caras como Lewis Shiner e Sterling tornaram-se fenômenos pop, profetas dos novos tempos que viriam.

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Mas como tudo que alcança seu auge, o cyberpunk entrou em declínio. Lendo os livros, a impressão que fica é que tudo já foi feito antes e que não passa de mais do mesmo. O cyberpunk já não atende aos problemas da sociedade atual. As próprias pessoas parecem não se importar com as mudanças, estas ocorrem em tal velocidade que por vezes sequer nos damos conta. A começar pela internet, que permitiu que qualquer cara talentoso pudesse criar uma página visitada por milhares de pessoas e que uma pessoas pudesse prejudicar uma grande empresa com um simples vídeo do YouTube.

Porém, o movimento cyberpunk ainda se faz presente em games, livros e artigos e na internet, que está repleta de debates em blogs e em fóruns de discussão. Sem falar de Matrix, que claramente se inspirou no movimento. Do contrário eu não perderia meu tempo gastando meus dedos escrevendo este post (de graça) para o NSN. A existência de hackers e dos vírus de computador comprovam a visão de William Gibson já em 1984. Só resta a nós aguardar o futuro para ver o que ele, Greg Bear, Bruce Sterling e companhia também acertaram em seus livros.

[Fontes consultadas: Com Ciência]

4 Comentaram...

Chico Fagundes disse...

Muito legal o post, tiro meu chapéu para o autor. Neuromancer é um grande clássico da literatura Cyberpunk que inspirou outros clássicos como Matrix e o Gurps. A gama de informações e o detalhismo do livro é tão grande, que se vc passar mais de um dia sem ler o danado, vc tem que voltar pra o começo porque fica perdido.

Paulo Roberto [Em Paralello] disse...

Para ser bem sincero não conheço muito tal movimento apesar de apreciar alguns filmes acima citados como Matrix e Blade Runner.

Parabéns pelo post Murilo, que você continue escrevendo (de graça) para o NSN.

Abraço amigo.

PAULO HENRIQUE DE DEUS disse...

Esse post foi muito interesante. Mas todo só sabe criticar a Microsofts, mas se esquece do Googel. Ele é quasse uma mistura de Hal 9000 com Matrix.

Tatsu disse...

Discordo do ponto que o cyberpunk entrou em declínio, ou que não reflete os dias de hoje. Na verdade o boom q Matrix(este baseado em neuromancer, animes e demais coisas q os irmãos wachowski gostam) criou, e até a volta de clássicos como o tron mostra que o cyberpunk está aí. A principail característica do cenário cyberpunk, é a realidade virtual, paralela, o outro mundo, a matriz, e esta é o tema mais atual, mais recorrente e provavelmente eterno quando se fala em internet.

Filmes e livros que 'flertam' com o cyberpunk continuam a todo vapor, exemplo de filmes recentes: # 2009 - Substitutos (surrogates) e 2009 - Gamer(não sei como ficou em português).

IMHO cyberpunk é cada vez mais a nossa realidade, particularmente não vejo a hora de usar novas interfaces (vide implantes, e 'upgrades' do universo cyberpunk) integrando corpo e máquina. ;)


Tatsu in Ono-Sendai


See ya

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