Por FiliPêra
No seu filme mais recente, o diretor Todd Solondz (Felicidade, resenhado AQUI) discute outra questão-tabu nos EUA. Qual é? O aborto! Mas não pense que o diretor se contentou em contar uma longa história melodramática para expor seu ponto de vista. Na verdade ele radicaliza (como já é comum em sua filmografia) e cria uma narrativa em que a personagem principal, Aviva, é interpretada por sete atrizes completamente diferentes, em que cada uma representa momentos distintos da personagem.
Tudo começa com o funeral de Dawn (que Eu fui saber posteriormente que era a personagem principal de "Bem-Vindo a Casa das Bonecas", um dos primeiros filmes do diretor), a prima de Aviva. Daí para frente o grande fio condutor do filme é o desejo de Aviva de engravidar, o qual os que estão assistindo logo sabem não ser possível, graças a um aborto que ela fez, por causa da insistência da mãe, que a convenceu usando a catártica frase : "Ele ainda não é uma pessoa. É só uma espécie de tumor." Suficiente para causar revolta até no mais casca-grossa dos espectadores! Após de dar conta do que fez Aviva parte em uma jornada na tentativa de engravidar de novo e de encontrar o amor.
Todo o tom imposto ao filme pelo seu diretor remonta as fábulas e contos americanos do sec. XIX. Um dos primeiros personagens a dar as caras é Hucleberry (uma clara alusão ao livro "As Aventuras de Hucleberry Finn", de Charles Dickens); apesar do tom geral da obra lembrar bastante "Alice no País dos Maravilhas Horrores". E isso se reflete inclusive na técnica do filme, com longos e belos planos de paisagens pitorescas, e da própria personagem em seu incessante jornadear. Alguns momentos chegam a lembrar "Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias", de Tim Burton.
E essa jornada tem tudo a ver com o título do filme (palíndromo quer dizer uma palavra ou frase que pode ser dita de trás para frente e de frente para trás), e com o próprio nome da personagem, Aviva. Ela termina onde começou, nos subúrbios de Nova Jersey, e a primeira e a última palavra pronunciada é "mãe".
E como não poderia deixar de ser, todos os elementos presente na filmografia de Solondz estão aqui. E não pense que somente o aborto é colocado na berlinda; vemos fundamentalismo religioso, racismo, exploração sexual, entre outros. E claro, vemos personagens fragilizados, que acham que as coisas jamais acontecerão com eles. Vide a mãe de Aviva!
Todd Solondz
E também, como os outros filmes de Todd, é ame ou odeie! Nada de meio termo. Mas mesmo quem odeia, não tem como não admitir que o diretor, assim como Michael Moore, sabe puxar as cordas certas para mostrar seu ponto de vista, mesmo que o resultado não agrade a todos.
Palindromes (EUA)
Diretor: Todd Solondz
Duração: 100 min
Nota: 8,0
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