Você sabe o que é aquele raro acontecimento de escolher um livro na livraria ou na biblioteca, ou de pegar algum romance emprestado com algum conhecido seu e descobrir, maravilhado, que está perante um dos melhores livros que já leu na vida? Eu sei. Algumas obras literárias conseguem me fazer mais do que simplesmente gostar de uma obra, mas querer guardá-la para sempre e reler sempre que puder. Alguns livros assim são: O Morro dos Ventos Uivantes, Matadouro 5 (se nunca o leu, você perdeu na vida), Apanhador no Campo de Centeio, e, mais recentemente, A Sombra do Vento. A sensação era ainda mais exacerbada quando pensava que aquele era um livro recente, lançado em 2001, uma época de vampiros brilhantes e escritores sem muita imaginação, como Dan Brown. Se tratava de um best seller que de fato poderia ser considerado um clássico literário no futuro!
Sombra do Vento trata, em sua concepção, dessa mesma descoberta. Uma história que parece simples no início e cresce em complexidade no decorrer das páginas. Numa Espanha dominada por Franco, Daniel acorda uma noite, sem conseguir se lembrar do rosto de sua falecida mãe. Para aliviar a dor dele, seu pai o leva para conhecer um lugar secreto numa Barcelona sombria e com ferimentos ainda abertos pela guerra: o Cemitério dos Livros Esquecidos; um lugar que ninguém sabe como foi criado ou como surgiu, que guarda livros que foram perseguidos ou se perderam no tempo, esquecidos por todos. Como era de costume no local, sempre que alguém visitava o Cemitério pela primeira vez, podia-se escolher um livro e jurar que iria garantir a sua duração até o resto da vida. Num espaço enorme, tão complexo e confuso quanto um grande labirinto, com milhares de livros, Daniel adota justamente A Sombra do Vento, ou como ele prefere dizer, o livro o adotou, já esperava por ele antes mesmo do seu nascimento.
A história de verdade começa a partir daí. Fascinado pelo livro, Daniel tenta descobrir mais sobre o autor Julián Carax, envolto em uma aura de mistério. Na sua busca, se depara com uma estranha figura, que fede a queimado, disposto a queimar todos os livros de Carax. Por isso ele quer A Sombra do Vento de Daniel a qualquer custo, nem que para isso seja preciso matar. Tudo isso é apenas uma introdução básica à história, depois ela se revela muito maior e intrincada, com ares sobrenaturais, onde tudo parece ser assustadoramente interligado e os personagens parecem ter estampados em suas faces a palavra tragédia. Eu queria falar mais da história, mas seria arriscar estragar as surpresas e choques que ela guarda ao leitor.
O Cemitério dos Livros Esquecidos
Mas, para a minha pessoa, a grande proeza de A Sombra do Vento não está no seu excelente enredo, mas na forma como ele é narrado pelo espanhol Carlos Ruiz Záfon. Os personagens, tão bem criados que dispensam grandes descrições, a maneira como inicia e fecha seus capítulos, como conduz a história e as emoções do leitores. Todo o livro é narrado de forma que beira à perfeição. Eu, que já pensei em ser escritor, não sabia se admirava ou invejava o Záfon. Como ele pode ter tudo sobre controle, sem se perder nos inúmeros detalhes, e construir passagens tão belas e significativas para a história, capazes de emocionar o mais duro dos leitores?! Mas motivo para isso não faltava. O cara tinha escola. São suas maiores influências dois dos maiores escritores de todos os tempos: Edgar Allan Poe e Victor Hugo. Dá pra perceber isso em boa parte do livro.Outro grande destaque são os personagens. Záfon não precisa gastar parágrafos descrevendo como eles são. Eles falam por suas atitudes e frases. É como se conhecêssemos uma pessoa de verdade: ninguém precisa falar sobre ele, porque você começa a saber mais sobre ele pouco a pouco. O protagonista Daniel parece ter sido criado para que o leitor se identificasse com ele. Outros, como o Fermín, o melhor personagem do livro, torna-se veículo das críticas do autor à Igreja, o Governo, ao casamento… ou seja, nada escapa à sua língua irônica. O personagem é hilário e tão imperfeito que contrasta com Daniel, sempre correto e comedido.
Mas, justamente nos personagens, está um dos defeitos do livro. Alguns são bons demais, outros maléficos e pérfidos. Não são como pessoas normais, que alternam ações boas com ruins. Em A Sombra do Vento, parece não existir pólos cinzentos. O autor cai no clichê de criar vilões terríveis, para que sintamos repugnância deles. Isso não chega a prejudicar a qualidade da obra , mas afeta o fator realidade.
A cada linha que lia de A Sombra do Vento, percebia que se tratava de uma grande homenagem aos livros e a seus leitores. Ele transmite toda a beleza de um bom livro, a força que as palavras de transformar vidas e como eles são os professores e melhores amigos do homem. Também como cada leitor deixa sua marca no neles, preenchendo-os com sua imaginação. Até por isso e pela complexidade da trama, sou completamente contra uma adaptação cinematográfica do romance, e o próprio Záfon diz que só cederá os direitos se tiver garantias de que o filme será o mais fiel possível.
Assim como Daniel preserva o seu A Sombra do Vento da história, guardarei o meu, ao lado dos meus outros livros favoritos, no local mais privilegiado da minha enorme estante repleta de livros. Na minha ainda pequena biblioteca particular.
Autor: Carlos Ruiz Záfon
Páginas: 399
Nota: 10
7 Comentaram...
ESSE LIVRO É MUITO BOM!
LI POR INDICAÇÃO DA MINHA EX NAMORADA Q TEM UM GOSTO HORRÍVEL PARA LEITURA :p
MAS É MUITO BOM MSM...
EH DIVERTIDO.. DÁ PARA DAR RISADAS.. E SE SURPREENDER.. E O FERMIN.. SEM COMENTÁRIOS!!!
MUITO BOM MSM..
PS.: EU ODIEI O APANHADOR
Nossa concordo com você em tudo nesse post. O livro é magnífico. Apesar de jovem leitor, pouquíssimas vezes li uma trama tão intrincada e enigmática como essa. Sem sombra de dívida ele está entre os meus 3 livros favoritos. Apesar de ter estado entre os mais vendidos, eu nunca havia ouvido falar do autor, muito menos do livro. Mas depois das primeiras páginas, eu me conectei com o livro de uma forma que eu nunca havia feito antes, ou melhor, não fazia há muito tempo. Dou graças a Deus por ter tido a chance de ter lido esse livro, e espero que ele se torne um clássico nop futuro.
Cara, eu tava querendo ler um livro qualquer só pra passar o tempo e fui em uma livraria qualquer depois do trabalho. Olhei alguns livros, folheei outros, mas, por algum motivo escolhi esse - que, apesar de ser bastante vendido no mundo, eu num tinha ouvido falar - Aí que tá a grande surpresa: O livro é muito mais que magnífico. Eu concordo com cada palavra que você escreveu, e diria muito mais se fosse pra elogiar essa obra-prima. Os personagens são, ao mesmo tempo, tão complexos, mas com sentimentos tão fáceis de se entender e identificar-se.
Se dependesse de mim, ele ficaria trancado na minha casa e não o emprestaria pra ninguém, mas, por se tratar de tão magnífica obra, é meu dever dar o prazer de sua leitura à outras pessoas. Ele tá com minha irmã que mora no Rio, e espero que ela seja tocada por esse livro assim como eu fui.
Parabéns pelo Blog. Já tá nos meus favoritos.
Li A Sombra do Vento, e estou lendo O Jogo do Anjo, emprestados de uma amiga minha.
Zafón escreve de um jeito que te prende tão facilmente, você entra na história sem perceber e sofre as angustias e curte as paixões dos personagens. É fascinante!
Depois vou comprar A sombra do vento e o Jogo do anjo para guardar para sempre, e poder reler quando quiser.
Parabéns pelo blog!!
Decidi ler este livro após ler sobre o mesmo nesse blog. Acabei a leitura há alguns minutos extremamente satisfeito e ao mesmo tempo triste pelo fim dessa ótima experiência. Muito obrigado pela dica, realmente um livro nota 10 para o qual eu não teria dado atenção em outras circunstâncias.
Agora vou começar Matadouro 5...
Minha vida mudou após ler A Sombra do Vento. Não consigo ler outros livros da mesma forma que li este. O narrativa, os cenários... Me fizeram voltar a um passado não vivido por mim, mas com muita vontade de que fosse. Esse livro sempre estará guardado comigo e passarei adiante para meu filho no momento certo. Parabéns pelo blog!!!
Já li muita coisa ao longo desta minha vida louca e A Sombra do Vento foi um marco. Com certeza um daqueles pra guardar em lugar de honra. Já em O Jogo do Anjo acho que o escritor perdeu a mão...
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