Por Diego Jordan
Meu primeiro e até pouco tempo único texto sobre musica meu aqui no NSN foi sobre Chico Science e Manguebeat, música brasileira genuinamente nordestina, nascida nos mangues de Pernambuco e de sonoridade potente. No texto que vocês lêem nesse exato momento eu deixo de lado um pouco a música brasileira, mesmo que seja esta a minha preferida. Esqueço as guitarras e os tambores de maracatu da Nação Zumbi e me desloco do Brasil, passo pelas águas oceânicas e aterrisso em um pequeno país, fronteiriço da gigante Rússia e conhecido pelas lendas dos famosos bárbaros e violentos Vikings, poderosos guerreiros que desciam das suas fabulosas naus com frentes de Dragões prontos para dominar, destruir e saquear. Equipados com seus machados gigantes e elmos ostentando grandes cornos para amedrontar seus inimigos, os Vikings davam um show de “barbárie” ao deixar seus inimigos no chão. No entanto, em meio a tantas lendas cuja brutalidade e a violência são o maior espetáculo, atenho-me a algo de grande oposição. O show agora é de musica e no lugar da violência ou de qualquer espécie de brutalidade, eu coloco a sutileza. Em oposição aos urros de legiões de guerreiros prontos para um combate eu voz falo de duas vozes compassadas e sutis, masculinas, mas que se empenham em cantar sem fazer esforço, sem gritos. Os machados abrem espaço para dois violões e assim eu termino a transição e apresento a vocês: Kings of Convenience.
No ano de 1999 dois rapazes, que a muito se conheciam, desde uma década de vida, faziam apresentações pelos festivais europeus de música. Acompanhados de dois violões eles começaram a ganhar o gosto do publico. Embora começassem a tornar-se verdadeiramente conhecidos naqueles anos; a parceria já vinha de tempos, ainda da época de escola onde juntamente com mais dois amigos, Erland Øye e Eirik Bǿe Glambæ, formaram Skog. Quem conhece norueguês, o que não é o meu caso, sabe que a palavra significa Floresta. Quando a primeira banda foi formada, Erland e Eirik tinham 16 anos. Por motivos que eu desconheço, e também nunca achei respostas, a banda chegou ao fim. Eu acredito que a pouca idade dos rapazes foi o empecilho, muito imaturos talvez. Mesmo assim eles ainda chegaram a gravar um EP, cuja arte da capa foi feita pela mãe de Erlend.
Anos após o fim da Skog, Erland e Boe juntam-se novamente e começam um trabalho em dupla, onde voz e violão compunha basicamente a sonoridade. Apresentaram-se em alguns festivais de verão europeus conseguindo nesses palcos a visibilidade necessária para que o convite de gravação do primeiro CD fosse feito. Em 2000 pelo selo Kindercore, o CD homônimo da banda foi lançado de uma maneira quase independente. Tanto que no ano seguinte, 2001, pela Astralwerks nos Estados Unidos, Source no Reino Unido e pela Virgin no Japão, o álbum Quiet is the New Loud saiu com algumas músicas do disco anterior e outras novas. Independente de trazer músicas do primeiro CD, Quiet is the New Loud foi um verdadeiro sucesso; e tanto assim o foi, que seu nome foi usado para denominar um pequeno movimento musical surgido nos Estados Unidos, onde os artistas prezavam pelas mesmas melodias doces e sutis. O movimento levava ainda como ícones e inspiração Simon and Garfunkel e Belle & Sebastian. De lá pra cá saíram mais dois álbuns, são eles: Versus, ainda em 2001, um disco de remixes que eu particularmente não gosto muito, Riot on an Empty Street, em 2004, com a magnífica participação da canadense Feist e, após cinco anos, eles apresentaram aquele que até agora é seu último trabalho, o ótimo Declaration Of Dependence.
Eu não sou muito adepto de classificar os artistas musicais quanto ao seu estilo, obviamente que não vou sair por aí falando de uma banda que toca Heavy Metal como se ela tocasse Lambada, não é nada disso. Falo daquelas denominações que se estendem por linhas para ver se conseguem enquadrar um artista dentro de uma “formuleta”. É como vemos alguns artistas, muitos dos quais, brasileiros, que quando anunciam o que tocam levam coisas como: Pop Rock, Bossa Nova, Samba, Indie, Pop, Folk, Soul, Merengue, Lambada... Contudo, sou obrigado a admitir que tais qualificações servem para orientar pessoas que nunca escutaram a sonoridade do citado artista quanto a sua “linha” artística. Sendo assim, quando você procurar o que é Kings of Convenience você provavelmente vai encontrar o seguinte: Indie pop, Indie Folk, indie, indie e indie... Na Wikipédia você vai ler até Bossa Nova! Dessas, eu ficaria com Indie Folk, talvez seja a que possa traduzir para aqueles que nunca escutaram a sonoridade dos caras.
Mas, em que consiste realmente a sonoridade deles? Coloque dois instrumentos de cordas, um nas mãos de Erlend e o outro nas mãos de Eirick, normalmente dois violões, mas pode ser uma guitarra, um baixo ou até mesmo um banjo. Acompanhada dessas cordas você tem duas vozes, leves e tranqüilas, sem se preocupar em fazer alarde, sem se preocupar com nada nesse mundo, mas sem preguiça e se arrastar, firmes e conscientes do que estão fazendo. Imagine isso e entre esses sons coloque uma vez ou outra um sonzinho de violino, quase como um andarilho que passa com a sua sutileza e elegância, quando ele não passar quem sabe as notas sábias e ajustadas e às vezes chorosas de um senhor piano. E quando nenhum dos dois vier, coloque uma charmosa flauta, dando o ar de sua graça como uma bela mulher que lhe incentiva e lhe faz querer mais, ou que reduz seu coração a uma saudade com luzes apagadas. Para mim, Kings of Convenience é isso.
Para não me estender muito, vou falar de uma música ou outra de cada CD, que muito me agradam. Começando pelo Quiet is the New Loud, temos uma que é das minhas preferidas, embora não seja da maioria dos fãs de Kings, eu a acho charmosa. Uma música que às vezes me parece um tanto brincalhona, embora de uma letra que não é das mais alegres. É ela: Singing Softly To Me. No segundo álbum, Riot On An Empty Street, temos aquela que suponho ser a mais conhecida dos caras: Cayman Islands. Com notas de violão um pouco mais rápidas e que parecem ser feitas com um entusiasmo que não tem fim, a música leva ainda as duas vozes em uma simetria aguda e suave. Ainda neste CD, temos a participação de Feist em Know How e The Build-Up. Não imagino outra voz para essas canções que não a da canadense; a música parece ter sido feita sob medida para o trio quando a moça entra cantando. Você se impressiona, principalmente em Know How, que é uma entrada imprevisível e que torna-se perfeita.
E, por último, temos Declaration Of Dependence, um disco que demorou cinco anos pra ser lançado, tanto tempo assim porque Erlend e Eirik se dedicaram a projetos paralelos como os trabalhos de DJ de Erlend, que lançou três discos solo. Mas se engana quem imagina que os trabalhos paralelos foram apenas na área da musica, Eirik dedicou-se a política, trabalhando principalmente com políticas direcionadas aos jovens na sua cidade natal, Bergen. Mas voltando para o CD, como dito, o álbum demorou cinco anos para aparecer, mas não decepcionou. Um disco tão belo quanto os anteriores; nele eu gosto muito da quarta faixa, Boat Behind, que possui um violino com ar clássico, e que os rapazes parecem cantar com grande jovialidade. É importante dizer que eu falei de algumas músicas aqui, mas isso foi para não me deter muito falando de cada uma das músicas, até porque as pessoas que forem escutar a banda daqui pra frente irão descobrir as suas próprias músicas. Eu não lembro, nesse momento, de alguma música deles que eu não goste. As letras, acho que deu pra entender, são em grande maioria românticas, direcionadas as mulheres muitas vezes, seja falando de amores que não deram certo por uma ventura que seja, ou hinos de amor.
Artistas semelhantes ao Kings of Convenience, eu posso indicar alguns que escuto, como Simon and Garfunkel, Belle & Sebastian, Turin Brakes e Angus and Julia Stone. Quem quiser indicar mais, sinta-se a vontade.
Assim acabo, falando deles que podem ser tidos por alguns como meio Lounge. Eu não nego, umas das melhores maneiras de escutar Kings of Convenience é desligar todas as luzes e ficar ali no seu cantinho, seja namorando, buscando dormir ou tomando um bom vinho em um dia de chuva.
2 Comentaram...
Eu adoro Kings of Convenience, que na miha classificação particular eu chamo de "música tranquilinha". Vale muito a pena ouvir. E Cayman Island é a minha favorita.
wow, devo dizer q foi uma das melhores criticas que li sobre Kings, apresentado por uma grande amiga minha, kings se tornou umas das minhas bandas favoritas, por assim dizer EVER!
Fiquei surpresa pela comparação a Angus e Julia Stone, outra banda que não negarei, é outra das minhas "favoritas ever", por se tratar de uma banda que por assim dizer 1 em 30 pessoas ja ouviram falar sobre.
Ficaria muito feliz de ver alguma critica do genero, sobre Angus e Julia Stone, by the way ^^
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