Um vídeo secreto vaza na internet, em fevereiro. Nele, um helicóptero americano massacra dezenas de civis em Bagdá. Como Eu soube disso? O vídeo é um dos mais famosos da história recente do site Wikileaks, o maior repositório de documentos secretos do planeta. Junto com o vídeo, surgiu também um relatório do Pentágono, classificando o Wikileaks como uma ameaça a segurança nacional. Teria sido mais uma rotineira vitória da direção do site sobre forças governamentais, no sentido de revelar crimes de guerra e os abusos que ocorrem nos corredores do poder, se não fosse o fato de que o caso terminou com a prisão de Bradley Manning, 22, analista de inteligência militar, acusado de ter sido o autor do vazamento do vídeo… e de centenas de milhares de documentos de órgãos governamentais importantes, como o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança; além de um outro vídeo secreto do Exército, mostrando bombardeios de inocentes na aldeia de Garani, no Afeganistão, onde morreram cerca de 100 civis, a vasta maioria de crianças.
Ele foi identificado por Adrian Lamo, um ex-hacker, ele mesmo solto de seus crimes de invadir os computadores do New York Times, Microsoft e Yahoo!, por acordos com a justiça americana, e atualmente está sendo acusado de perseguir uma ex-namorada. Quem primeiro noticiou o caso - com exclusividade - foi seu (possível) amigo, o também ex-hacker Ken Poulsen, editor do Threat Level, blog de segurança digital do site da revista Wired. Manning está preso há duas semanas no Centro do Exército de Investigação Criminal, no Kuwait, onde está sendo interrogado.
Segundo o próprio Poulsen, que noticiou o caso AQUI, aparentemente, várias autoridades do governo americano não têm muito conhecimento do caso, ou estão desconversando, como é o caso do Departamento de Estado e do porta-voz do Exército, que disseram desconhecer até mesmo o inquérito - e o próprio vazamento, mas afirmaram que passar informações secretas para pessoas que não têm esse nível de privilégios é crime.
Assim como a prisão de Manning, o relacionamento e a consequente dedo-duragem de Lamo são ainda mais obscuros, assim como as ligações dele com o Threat Level. Adrian foi personagem de uma matéria do blog no dia 20 de maio, escrita pelo próprio Poulsen, focando sua Síndrome de Asperger, sem citar qualquer relação ou conhecimento dele de vazamento de informações por parte de integrantes da inteligência militar. Essa primeira matéria parece uma espécie de artifício para colocar a figura de Lamo em evidência antes dessa revelação aparecer. Para piorar, Lamo ainda enviou os logs de conversação com Manning, via mensageiros instantâneos e emails, para a análise de Poulsen, o que tem a aparência de uma outra evidência de tudo ter sido uma jogada conjunta Poulsen-Lamo-Governo Americano para enquadrar Manning, e dar a operação ares um pouco mais respeitáveis. A maneira com que o Threat Level noticia o assunto - sempre classificando Manning como uma espécie de isolado social, e colocando Lamo como um caçador plantando uma armadilha - reforça isso ainda mais.
Após, aparentemente, conseguir uma série de confissões de Manning (incluindo uma em que envolvia a diplomacia americana), Lamo se reuniu com investigadores do Exército e do FBI, e realizou a denúncia. Seguindo essa pista, foi-se descobrindo um rastro de questionamentos anteriores de Manning, que já havia conversado com amigos e familiares sobre a natureza dos documentos secretos - sem expor o conteúdo deles - e sobre a possibilidade de vaza-los, principalmente após ver o impacto que causou a revelação das mensagens de celulares no 11/9, que aconteceu no mesmo Wikileaks.
A reportagem de Poulsen também trata de tentar livrar a cara de Adrian Lamo da jogada, ao dizer que ele contribuiu com o Wikileaks em tempos passados, e que ele agonizou enquanto tomava a decisão de delatar Manning para o Exército e o FBI, além de pensar em como isso poderia salvar vidas em perigo por causa de Manning. Poulsen também noticia que Lamo, depois da denúncia ficou preocupado com o bem-estar do denunciado; mas ao mesmo tempo é detalhista com os métodos que Manning supostamente usou para vazar as informações. Ele usava CD-RW com músicas como as Lady Gaga, apagava as músicas e enchia o CD com informações secretas. Ele próprio fez a seguinte declaração durante conversas com Lamo: "Servidores fracos, segurança física fraca, contrainteligência fraca, análise de sinais desatenta... [formaram] uma tempestade perfeita."
Uma semana antes de ser preso, Manning contatou a tia com quem ele vive, Debra Van Alstyne, que estava preocupada com a falta de contatos dele, para dizer que estava bem e não discutiria sobre o que estava acontecendo. Mas deu a senha do Facebook dele e uma mensagem para ela postar:
"Alguns de vocês podem ter ouvido falar que eu fui preso por divulgação de informações confidenciais para pessoas não autorizadas. Veja CollateralMurder.com"
Na URL citado por Manning está o vídeo acima (que é a parte 2 com legendas em português, da versão resumida do vídeo integral, que também está no site), que mostra um helicóptero Apache massacrando civis de Bagdá, e a conversação dos pilotos, que inclui risos, palavrões e comentários maldosos à respeito dos mortos, principalmente na cena chocante da van sendo metralhada.
Poulsen, não satisfeito se põe a tentar se justificar no Twitter, em resposta ao tom amargo dos tweets do Wikileaks sobre o caso.
Foi a coisa certa a fazer da parte de Lamo? Denunciar alguém que denunciou mazelas do Exército americano - e que a Wired ressaltou que se gabou insistentemente do fato? Lamo disse que só fez isso porque Manning, aparentemente, ia causar um escândalo diplomático com seu próximo vazamento, que ele não divulgou qual é (e o Wikileaks afirmou que jamais recebeu os tais milhares de documentos que Lamo diz que Manning vazou). Casos similares (vazamento de informações confidenciais por parte da imprensa) são notáveis, e ocorrem com certa frequência. Mas se esse escândalo foi derivado da revelação de um crime por parte do exército americano, não é válida a denúncia, mesmo tendo Manning cometido um crime do ponto de vista militar e das leis de segurança nacional? Do meu ponto de vista, sim. Se Eu tivesse de posse de um vídeo que mostrava crimes de guerra, e soubesse que ele jamais seria levado a público, mandaria para o Wikileaks - e manteria minha boca fechada, naturalmente.
Um caso em que a imprensa fez papel de vilã nas negociatas políticas, foi quando o colunista Robert Novak, do Washington Post, revelou a identidade de Valerie Plame, espiã da CIA. O fato foi que o próprio governo americano revelou a identidade de Plame, e deu a notícia para Novak com exclusividade, no intuito de dar um certo embasamento pra prisão dela. Tudo porque o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, revelou que havia inverdades nas provas dos EUA no tocante as armas de destruição em massa que o Iraque supostamente possuía, o que acabou sendo a desculpa para invadir o país e cometer a sucessão de lambanças que todos conhecem. A investigação que foi aberta por causa desse vazamento, terminou com a prisão de um bode expiatório de alto escalão: Lewis Libby, então chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, por perjúrio e obstrução da justiça.
E, um caso em que o vazamento de informações beneficiou profundamente a sociedade, foi quando estourou a denúncia do caso Abu Ghraib, por Seymour Hersh, da revista New Yorker - que foi mais longe e mostrou planos do Pentágono de invadir o Irã antes de todos. A revelação causou furor da sociedade civil sobre abusos de militares, e mesmo que não tenha efetivamente mudado tanta coisa assim, abriu discussões, como a do fim de Guantánamo.
Talvez a grande questão aí seja o modo dúbio com que as coisas ocorreram, o que se coloca de forma ainda mais importante do que a própria notícia da prisão de Manning - o caso de Manning realmente não tem muita solução, ele está numa organização militar, e tudo ocorrerá as escuras agora, ainda mais estando ele lotado longe dos EUA. O fato da Wired ter publicado a história, com uma forte carga de pormenores e com exclusividade, demonstra uma certa colaboração por parte deles com o governo americano. Lamo e Poulsen são ex-criminosos, foram delatores para escaparem de penas, e de alguma forma já estiveram ligados ao Wikileaks - e até semana passada, não tinham problemas com pessoas vazando informações pra lá, desde que isso rendesse boas histórias ao site.
O pior, é que Manning jamais terá direito a um julgamento justo, julgamento esse que já deve estar ocorrendo no Kuwait, onde, na lógica do governo americano, a Constituição dos EUA não tem valor. Jamais saberemos do que ele é oficialmente acusado, se ele foi realmente o cara que vazou os vídeos e documentos, será tudo feito a portas fechadas. Ele terminará a história como um isolado socialmente que entrou no exército para coletar informações confidenciais e publica-las e foi traído pela própria boca grande suja - concordemos, ele deu mole. Enquanto isso, Adrian Lamo e Kevin Poulsen, sairão como os heróis que denunciaram esse suposto inimigo do estado, e o conteúdo do vídeo, com soldados completamente loucos e rindo enquanto metralham pessoas, ficará em segundo plano.
Em outras palavras: Manning provavelmente jamais será acusado de alguma séria - a menos que consigam provar que ele enviou os tais documentos do Departamento de Estado para o Wikileaks - já que divulgar vídeos de crimes de guerra não parece ser o tipo de atividade criminosa, mas terminará preso por um bom tempo. E, graças a forma como Lamo e Poulsen procederam na denúncia, o debate será deslocado para a questão da ética jornalística, que também é importante, mas muito inferior a uma investigação sobre barbáries militares.
PS: A Xeni Jardin, que denunciou o caso no Boing Boing, é colaboradora da Wired.
[Via Boing Boing]
7 Comentaram...
http://www.wikileaks.org/ esta fora do ar ;D interessante
Infelizmente os árabes corroídos pelas disputas internas e anos de sanções desumanas e somado a tudo isso aos desmandos de déspotas e ditadores não podem lutar bravamente contra os americanos e judeus.
Mas é bom recordar que até o Império Romano por mais poderoso que fosse teve sua queda, os EUA em breve começarão a perder sua influência e poder por querer forçar o american way of life para todo o mundo e por apoiar incondicionalmente os judeus em sua agenda de extermínio dos palestinos.
Ainda veremos o império do Tio Sam desabar.
A história vista pelo lado de Lamo está disponível no DailyTech. http://www.dailytech.com/ExHacker+Adrian+Lamo+Sets+the+Record+Straight+on+Why+He+Turned+in+US+Military+Specialist/article18660.htm
Essa matéria linka para outra. Basicamente Manning procurou orientação em Lamo, mas quando o caso dos 250000 arquivos diplomáticos aconteceu, Lamo achou que Manning estava fora de controle e algo desse nível seria uma ameaça real à segurança nacional. Continua sendo uma história e tanto, mas acho bem mais acreditável que uma conspiração com Lamo e o governo.
e digo mais se os judeus fossem realmentes esses malvados de desenho animado como uns idiotas infantis acham bastariam eles expulsarem todos os palestinos da faixa de gaza e pronto, nem era preciso o tal "extermínio " não é? quem deve ser feliz a mulher palestina que pode estudar e se vestir como quer não? ou o gay que pode assumir sem ter medo de ser enterrado ate o pescoço e morto a pedradas certo?
ou voces saum muito babacas ou ainda naum c tocaraum q os anos 70 acabaram!
guerra é essa porra ai mesmo; pessoas morrem pessoas matam, e poukas delas saem vivas dessa desgraça, axam que esse foi o unico assasinato de inocentes? axam que esse foi o maior? puta q pariu eu já vi coisas ruins pakralho nessa vida quando tive a merda da maldita oportinidade de participar da "missão de paz" do Haiti, nao é o simples fato d usar um capacete azul e dizer q esta vindo em paz que vai livrar as caras dos animais que cruzarem seu caminho com um fuzil municiado e carregado, se a porra do treinamento q vc recebeu a vida inteira foi de matar e esperar que a morte o alcance um pouco mais tarde.
agora imagine essa porra no iraque e no afeganistao onde a porra dos EUA treina os soldados baseados no puro ódio e lavagem cerebral e ainda por cima possui o melhor da taecnologia de guerra, e os doi paises invadidos fazem o mesmo... não existem inocentes, todo mundo esta na guerra, seja armado ou nao!
a vida nao é bem como os filminhos cor de rosa de patricinhas apaixonadas e as musiquinhas sertanejas contam camaradas, como meu comandante costumava dizer antes de levar uma rajada de kalashnikov 47, "uma bala vale mais que mil palavras!"...... velhos e péssimos tempos, é claro que se tratando de Haiti eu naum vi nada, mas ja vi o bastante pra querer parar.
Faço das palavras do Arthur Barros as minhas, só para se ter uma idéia a própria construção de Brasília foi um massacre, como assim? os interessados que pesquisem os massacres nos acampamentos dos trabalhadores, os modos que os mesmos eram tratados, as mulheres abusadas e o que a "tropa de segurança" fazia com alguém que reclamasse da comida.
A Rede Globo adora os americanos e o Serra nem se fala
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