Por FiliPêra
Paul Thomas Anderson conseguiu, com apenas dois filmes, se tornar um dos diretores mais importantes dos anos 90, e, junto com Quentin Tarantino, foi o que impulsionou o movimento dos cineastas independentes e autorais, que finalmente tiveram o devido reconhecimento da "grande" Hollywod. Tais filmes foram; "Boogie Nights", que contava a trajetória do cinema pornô, através da vida de ator; e a obra-prima "Magnolia", que trazia uma perfeita narrativa que abordava a vida de nove pessoas, que em muito lembrava as características narrativas do maior ídolo do diretor: Robert Altman. Se sucedeu a "Magnolia", "Embriagado de Amor", com Adan Sandler, que dessa vez dividiu opiniões (curiosamente "Jackie Brown", o terceiro filme de Quentin Tarantino, causou efeito semelhante na crítica) e não foi bem nas bilheterias. Após tal fato o diretor se isolou e retornou com uma nova, e ambiciosa, obra-prima: Sangue Negro.
Mas não pense que o diretor apelou para fórmulas fáceis para tecer esse filmaço. Não! À exemplo de "Magnolia" ele tece um interessante cenário com base nas relações humanas, e vai ainda mais longe, explorando com maestria questões como: paternidade, ganância e, o mais polêmico, fundamentalismo e manipulação religiosa.
Mas se "Sangue Negro" tem uma estrela, ela se chama Daniel Day-Lewis, que arranca uma interpretação mais que brilhante, como Daniel Plainview, o persogem principal do filme, que é severo e rude, e persegue como ninguém seus objetivos. E as coisas mudam para ele quando ele descobre petróleo, acidentalmente em sua mina de prata, e se torna um dos pioneiros do setor. Daí para frente ele passa a procurar novos campos para tornar possível sua expansão, como prospector; profissional que procura poços petrolíferos e extrai deles mineral.
A trama, inspirada livremente no livro "Oil!" dá uma grande reviravolta quando ele se nega a deixar o reverendo Eli Sunday a abençoar um poço de petróleo recém-adquirido (pior ele próprio o faz). O reverendo é uma daquelas figuras carismáticas que conduzem pessoas facilmente, e é, à sua maneira, um mestre na arte de enganar (assim como o próprio Plainview); e em última instância é um homem ambicioso. Daí para frente começa um embate entre os dois, um controlando as finanças da região, o outro a mente de seus habitantes.
Apesar da grandeza do filme estar concentrada em atuações magnifícas, a parte técnica também é privilegiada. O filme já abre com vários minutos de imagens, sem diálogo (me lembrou o brilhante "Era Uma Vez no Oeste"), que serviu perfeitamente para sinteizar a passagem do tempo, além das durezas do trabalho no deserto. A trilha sonora, composta por Johnny Greenwood, guitarrista do Radiohead, é privilegiada, complementando (e nunca tentando sobrepor) as imagens, e agindo de forma imperceptível, contribuindo para um clima de tensão cada vez maior.
Apesar da sua diversidade temática e de possuir várias camadas interpretativas, Sangue Negro é um filme de relações familiares, trazendo inclusive, ecos de "O Poderoso Chefão 2" e "Cidadão Kane", que mostram personagens poderosos, mas internamente em frangalhos, graças a erros cometidos (quem perceber como Plainview trata seu filho após um acidente sofrido por ele, sabe do que estou falando).
Paul Thomas Anderson e Daniel Day-Lewis (dois artistas pouco prolíficos, mas com qualidade muito acima da média), mostram que cinema ainda é arte, e não apenas uma indústria milionária que serve para enriquecer ganaciosos produtores hollywoodianos.
Assista e comprove!
There Will be Blood (EUA)
Diretor: Paul Thomas Anderson
Duração: 158 min
Nota: 8,5
Nota do Editor: Se fosse pra escolher um ganhador do Oscar, seria Sangue Negro e não o mediano "Onde os Fracos Não Tem Vez", que não receberia, por mim, uma nota maior que 7).
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