Por FiliPêra
Finalmente tive um dos meus desejos cinematográficos (do ano passado, é verdade) atendido. E a sensação foi das melhores. Mas é claro que com a ganância das distribuidoras só conseguiríamos assistir um de cada vez (e pagando dois ingressos para isso). É aí que entra a tão combatida internet, e o sistema de Torrents, alvo de inúmeros processos, sabotagens e tentativas de fechamento (uma hora Eu escrevo um texto explicando o que Eu penso quanto a downloads e "pirataria").
Mas deixando as formas como Eu consegui o filme de lado, vamos a ele. Ontem, durante a tradicional reunião dos Autores do NSN, que ocorre todo o fim de semana cheguei com o filme num DVD, já devidamente legendado. A sessão, que geralmente tem duas pessoas, foi aumentando e chegou a quatro pessoas. O HumberTêra disse que não veria, porque estava trabalhando e tal, mas foi só ele perceber que era um filme de Quentin Tarantino para as coisas mudarem de figura.
E o segmento dele, À Prova de Morte (Death Proof, no original) já começa com a marca Tarantino: uma câmera à bordo de um carro, com um pé (fetiche do diretor) no centro e os créditos iniciais passando. Como trilha sonora, um dos seus clássicos dos anos 70. E então começam os brilhantes diálogos do diretor. As meninas dentro do carro são amigas de farra e estão indo pra mais uma das suas comemorações. Mas o que elas não sabiam é que estavam sendo seguidas pelo Dublê Mike (mais um nome a là Tarantino). Após um brutal assasinato, o Dublê passa a procurar uma nova trupe de mulheres para atacar, mas não sabia que estava lidando com femme fatales. A situação se inverte dramaticamente para o lado dele!!!
Na verdade o filme é uma homenagem aos antigos filmes de serial killers (que tem versões atualizadas meio chinfrins, como é o caso de "O Massacre da Serra Elétrica"), misturados com filmes de perseguição de carros, como "Vanishing Point" e "60 Segundos" ("Não a porcaria estrelada por Angelina Jolie", como cita uma das personagens). "Ele é um serial killer, mas ao invés de usar um facão ou uma serra, ele usa um carro" é o que conclui o xerife local (o mesmo de "Kill Bill"). E não pense que matar com um carro é menos brutal que usar uma faca, Tarantino dá a cena do assassinato uma crueldade única (e ainda por cima usa os elementos trash homenageados por ele e Robert Rodriguez nesse filme), mostrando como cada uma das integrantes do carro morre!!!
E os marmanjos também têm vez nesse filme, o diretor mostra os corpos femininos como nunca, enquadrando os avantajados atributos de suas atrizes (a cena da "dança no colo" vai fazer alguns delirarem!). Os atores entregam boas atuações, dando aos malucos (e super bem feitos) diálogos, a veracidade necessária e passam um ar de normalidade em toda a produção. Kurt Russel, que embarcou na produção após o sumiço de Mickey Rourke, é o ressucitado da vez, mas é um personagem pouco falante. O fnal, que evoca uma cena do clássico cult "Faster Pussycat! Kill! Kill!" é violenta na medida, lembrando uma sequência que só apareceu em desenho animado em "Kill Bill".
O diretor também não poupou referências aqui. Além das citadas relações com os filmes de carro e serial killers, várias referências a sua filmografia também aparecem. O xerife de Kill Bill que aparece é uma delas. A música "Twisted Nerve" (o assobio de Daryl Hannah em Kill Bill) surge como toque de celular de uma das personagens. Mas não atente demais para isso, ou você corre o risco de assistir "Death Proof" dezenas de vezes!
Com o fim da "À Prova de Morte" o HumberTÊra solta a peróla: "Ué, mas cadê a mulher com a metraladora na perna?" Após várias risadas começa "Planeta Terror", o segmento de Robert Rodriguez na brincadeira. Mas não antes do engraçado e escrachado Machete.
E se Tarantino em meios às dezenas de referências e homenagens ao cinema B, das décadas 60 e 70 não perdeu seu estilo de filmar, Robert Rodriguez...também não! O exagero e humor característicos do diretor texano aparecem vibrantes nessa homenagem aos filmes de zumbi, que hoje geram inúmeros longas para o cinema (uns péssimos, outros legais).
Rodriguez também não economiza e escala uma galeria de bons atores: Bruce Willis, Rose McGowan, Josh Brolin e até Naveen Andrews, o Sayid de Lost. O elenco parece estar bem á vontade com os papéis (Josh Brolin entrega um personagem brilhante e muito cômico, um dos melhores papéis de sua carreira).
A história é baba: gás venenoso vaza e transforma todos os habitantes de uma cidade em zumbis. Mas são as histórias dos persoangens que tornam tudo mais legal. Tem o churrasqueiro em busca do mollho perfeito (a cena da descoberta é hilária) e o casal de médicos em crise também é muito bem construída. As cenas de ação não devem em nada a "Era Uma Vez no México", principalmente quando Cherry Darling (a mulher da metralhadora) assume a dianteira.
Como elemento trash aparece a cena em que um rolo da película está faltando (justamente na cena mais quente do filme) e a participação do próprio Tarantino (ele também faz uma ponta em "À Prova de Morte"), como um soldado tarado.
Mas como pelo visto nem em DVD a obra dupla vai chegar como merecida (aguarde uma "edição especial" daqui a uns 5 anos) o jeito é apelar para a internet (aguarde, no Anarquia Nerd)!!!
Grindhouse (EUA, 2007)
Diretor: Robert Rodriguez e Quentin Tarantino
Duração: 191 min
Nota: 9,0
Leia Também...
comente primeiro!