Roteirista: Mark Millar
Artista: Bryan Hitch
Quando a Marvel decidiu lançar a linha Ultimate, cuja proposta consistia em tecer histórias fora
da cronologia normal da editora, com times de desenvolvimento desfrutando total liberdade criativa, mal sabia quão acertada era essa decisão. Mesmo que somente uma das revistas tenha valido a pena (coisa semelhante aconteceu com a DC, que lançou a linha Grandes Astros e somente a revista do Super-Homem tá valendo a pena), ela compensou todo o esforço da editora. E essa revista se chama Os Supremos.
Pense em tudo o que você sabe sobre Os Vingadores,incluindo que eles não passam de uma tentativa pífia de reproduzir uma Liga da Justiça na Casa das Idéias. Não gostou do que pensou? Pois jogue tudo isso fora. Ao contrário da cronologia normal da trupe, eles aqui se transformaram em agentes à serviço do governo Bush com o único intuito de varrer da terra qualquer ameça a segurança mundial e de quebra receber um salário milionário (salvo o Thor, que aqui é um ativista anti-Bush). Nada de heróismos fáceis aqui, toda aquela áurea de "santidade" que cobria os ditos Vingadores, com toda aquela pompa de "salvadores da pátria" que eles tinham (digo tinham, mas eles continuam tendo, porque só aqui na linha Ultimate que eles abandonaram isso) escorreu pelo ralo.
Tudo começa com o agora General Nick Fury recebendo a missão de formar uma super-força (quando se fala super-força entende-se formada de super-heróis) pra servir a pátria (quando se fala pátria entende-se o governo Bush) e livra-la de grandes ameaças, que as forças armadas convencionais não podem. Logo um orçamento bilionário é despejado na SHIELD pra poder conseguir formar a tal super-equipe. E logo na primeira história, com o Capitão América (aqui realmente parecendo um herói) lutando na Segunda Guerra Mundial vemos que definitivamente não estamos diante de uma HQ comum. E tudo vai seguindo mais ou menos nesse ritmo, com situações espetaculares (como a destruição de Manhatan pelas mãos do poderosissímo Hulk) e com soluções ainda mais espetaculares (como a Vespa mostrando os seios pra acalmar o próprio Hulk). E vale ressaltar que os diálogos são primorosos, nunca apontando o óbvio e sem insultar a inteligência do leitor.
Aqui nós vemos roupagens hardcore de quase todos os medalhões da Marvel. Quem imaginaria um dia ver o chatíssimo Capitão América dando um chute na cara de Bruce Banner, mesmo depois de dele ter deixado de ser Hulk?, ou ver Tony Stark com um tumor no cérebro, com poucos dias de vida?, ou ainda ver a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro em versões que parecem saídas de Matrix (a cena deles invadindo o prédio dos Skrulls é uma referência explícita)?
E é nesse ritmo alucinante que seguem as aventuras dos Supremos. Com referências ao mundo real (ver Nick Fury escalando o elenco pra um futuro filme dos Supremos foi genial) mas com um pé no fantástico.
Mas tudo isso não seria nada não fosse a arte perfeita de Bryan Hitch. Sério. Nada de defeitos aqui. Tudo é muito bem feito, e olha que o roteiro de Mark Millar exigiu dele, com cenas de
guerra, destruição e com muitos elementos no quadro. Mas ele conseguiu se superar, seu Hulk, por exemplo, parece que vai sair da revista em alguns momentos, tamanha é a ferocidade dele.
E no final dessa experiência você, com certeza vai ter percebido que além de ter lido uma
excelente HQ de super-heróis (uma das melhores dos últimos tempos), vai ter assimilado várias
nuanças diferentes das que você está acostumado a ver nesse gênero de quadrinhos. Um exemplo? O roteiro critica sem dó a política externa de George Bush, algo inédito na minha visão.
Mas Os Supremos mais do que tudo mostra que existe uma saída pros Quadrinhos mainstream, que vivem uma maré de estagnação há algum tempo.
Faça um favor a si mesmo e leia Os Supremos o quanto antes!!!
Nota: 10
FiliPêra
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