sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Avatar FiliPêra

[HyperEspaço #15] O maldito hype. Ou: porque odeio Avatarfags

 

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[Crédito da Imagem]

O hype da forma como o conhecemos hoje no mundo do cinema é um mal a ser ignorado. Sério! Só serve pra ficarmos empolgados com alguma coisa que não merece aquele tipo de empolgação (tá certo, em alguns casos não é tanto isso, mas em 93% das situações existentes é dessa forma que rola). Antes, o material de divulgação de um filme não passava de um trailer, uns pôsteres e umas entrevistas com atores e o diretor. Só! Era somente pra você não ir às cegas ver o bendito filme e perder sua grana num cinema que possivelmente vai estar vaiando o fim da película. Daí, o povo que escreve sobre entretenimento na internet (especialmente um esquisitão chamado Harry Knowles, fundador e editor do Ain't It Cool News), viu que poderia fazer um trabalho parecido ao das revistas de fofoca e resolveu publicar TUDO quanto é coisa relacionada ao filme - e o fato de internet funcionar em tempo real só aumentou isso.

Se um assistente de diretor de segunda unidade supostamente falasse: "Acho que essa sequência vai ser melhor que o primeiro filme dessa franquia", isso merece ser publicado, geralmente com a sinopse do filme para aumentar a notícia. Se conseguissem uma imagem de uma atriz testando o figurino dela, isso merecia ser publicado... e assim chegamos ao modo como as coisas estão hoje, com a maioria dos veículos que tem cinema como assunto para escrever, se limitando a divulgar fotos, sinopses, trailers e outras traquitanas... mas se aprofundar no assunto cinema NOT. E rola um efeito cascata geralmente: se um site publica uma coisa, a pressão pela velocidade, leva a um sem-número de sites a segui-lo, mesmo que tudo não passe de boato não-confirmado - mais ou menos como a avalanche de lixo que está sendo publicado com os rumores sobre um tal de Tablet da Apple.

Em tempos em que uma boataria sai como verdade absoluta, o que nos leva a uma certa overdose de informações inúteis sobre um monte de filmes inúteis, fica difícil saber o que realmente é verídico e válido sobre seus filmes favoritos. A vantagem é que se fica sabendo de literalmente TUDO que sai sobre o dito filme, mas o problema é que a grande maioria disso é informação que realmente não serve pra muita coisa, que fica boiando na cabeça até aparecer o próximo boato. Se fosse um site ou outro que seguisse por essa linha tudo bem, mas ver toneladas desse lixo pouco informativo caindo na internet em todos os sites que você usada para se manter informado - e que Eu uso para mante-los informados, com coisas realmente importantes - é meio frustrante. Frustrante porque é difícil filtrar 80 textos com simples novas imagens de um longa, ou uma declaração mixuruca de um produtor dizendo que vai se superar dessa vez.

É tão difícil ver que o conta-gotas dessas notícias supostamente vazadas não passa de uma estratégia de assessorias de imprensa usando métodos idiotas com o intuito de massificar informações inúteis? Creio que não, mas ficar vendo dia após o outro os mesmos estilos de notícia não é das coisas mais empolgantes.

É lógico que Eu vejo essas notícias, pois primariamente, preciso vê-las, mas gostaria de ver algo menos insípido e frio, coisas que horas depois ainda valerão alguma coisa. Poderia ser mais analítico, mais aprofundado, ao invés de simplesmente jogar a informação ao leitor. Sei que às vezes fazemos isso por aqui, mas preferimos criar algo um pouco mais detalhado, como alguns dos nossos previews. Tá certo que cada veículo noticia da forma que bem quer, mas jogar diariamente uma avalanche de informação - geralmente correndo pra passar na frente da concorrência - me leva a crer que as coisas não são de fato minimamente averiguadas e pouco estudadas.

Mas isso é somente um dos aspectos negativos do hype exacerbado que rola no cinema (e em outras muitas artes também, mas usarei apenas o cinema como exemplo). Existe um outro ainda pior, que é a criação de fãs de ocasião, que acham que pelo fato de terem visto as 139 imagens de um filme qualquer - que saíram em 78 dias diferentes - alguns trailers, lido entrevistas com os diretores (e são poucos os veículos que realmente lançam boas entrevistas) e mais um monte de material promocional, são supremos guardiões da integridade do bendito longa. Tais pessoas criaram uma idéia pré-concebida do que o filme é, às vezes lendo resenhas extremamente positivas dele em um monte de sites por aí, e crêem que a missão deles é lutar, xingar, com toda limitação que o vocabulário deles possui, contra os malditos seres que ousam levantar a voz para falar algo diferente da opinião deles à respeito do filme. Obviamente, como fãs de ocasião, eles não tem qualquer argumento pra defenderem a própria opinião, e usam coisas patéticas como…

 

Anônimo disse...
faser com s, é analfabeto é?
dark knight o que nerdão, tem que saber apreciar o que não é só ação.
ponto pro filme =]

 

Anônimo disse...
Eu discordo de vocês
Assisti Avatar e adorei o filme
Seus comentários são muito bestas, procuram qualquer coisa para falar negativamente dos filmes.
Se não gostaram do filme, que criem um roteiro melhor.
Mesmo assim se for dentro das críticas que vocês fazem seria uma bosta!
Nota para o filme: 10,0
Nota para vocês com seus comentários bestas: 0,0

...para dizer como o filme que eles curtiram é bom! Tais reações a uma resenha de filme em que a nota foi 8,5 (ESSA), e 7 (ESSA) só poderia partir de um anônimo tomado por um hype que já entrou na sala de cinema tendo a certeza que o filme era bom. Tal hype gera outras duas reações possíveis: ou o que rola com os fãs de ocasião, levando-os a superestimarem o real valor do longa em questão, ou o inverso, aquela sensação brochante de que se esperava mais. Tem uma terceira variante, em que o fato de todo o mundo estar falando bem pra caramba do bendito filme, leva o cara a criar uma espécie de bloqueio mental para gostar dele...

Talvez tenha rolado essa última variante comigo na sessão de Avatar, embora não creia. Talvez o excesso de hype - e o fato de Eu não ter simpatizado nada com ele desde o início - acabou por me fazer ressaltar por demais os defeitos deles. Mas enfim, acabei optando por colocar três resenhas do filme no NSN, e creio que a clareza de opinião imperou, não ficando de modo algum unilateral, centralizado na minha opinião sobre o filme. Fora que o assisti de novo dias depois e não mudo uma linha do que disse.

O que me indignou foi um monte de comentários idiotas, de gente sem opinião, que preferiu partir pra ataques pessoais. E são exatamente essas pessoas que enquadro como Avatarfags. São cabeças-moles que preencheram suas cabeça com: é FATO que Avatar é o melhor filme da história, e PONTO! Quem discordar está exterminado. Se discorda de uma opinião, argumente, e não tente desqualificar quem está opinando, pois isso é coisa de político.

Não estou dizendo que quem gostou de Avatar (e MUITA gente gostou) é idiota, antes que digam isso. Idiotas são as pessoas que não sabem porque gostaram, e se acham no direito de partirem para ataques pessoais, simplesmente porque alguém já disse pra eles que estava diante do filme da vida deles.

 

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Coisa semelhante rolou com Matrix Revolutions. O segundo - Matrix Reloaded - já havia dividido opiniões, e aí surge aquele parto em forma de filme, com somente duas sequências de cenas que prestavam de verdade pra fechar a trilogia sci-fi mais hypada dos últimos tempos. Como haviam se passado seis meses com Matrix sendo inserido na cabeça de todos, em cada segundo da existência humana, muitos simplesmente saíram das sessões dizendo: É o melhor da trilogia, meio antihollywoodiano, mas o melhor!

Um dia desses quis saber o que acham do filme hoje quatro amigos que me falaram isso na época. Todos disseram que é o pior da trilogia. Não sei se estou inteiramente certo, mas creio que o hype tsunâmico e o fato de muitos desses fãs não quererem discordar da massa, acabou por gerar o falatório de melhor da trilogia. Se cada um guardasse sua opinião pra si, ou soubesse expressa-la de uma forma ao menos, civilizada, tudo bem, mas quando um cara quer se impor perante outra pessoa apenas por não ter argumentos que se sustentem a própria opinião, creio que a coisa está feia pro lado dele.

Entretanto, existem os hypes diferentes, aqueles gerados por boca-a-boca, não necessariamente tendo sido guiados pelo estúdio produtor. Foi mais ou menos assim com Watchmen. Lógico que ser a adaptação de uma das melhores obras da história ajuda, mas muito do que o estúdio soltava como novidade era espontaneamente reverberado por um monte de personas da internet. Uma coisa um pouco mais inteligente rolou com O Cavaleiros das Trevas e Lost. Os ARGs criados por essas duas obras envolveram os fãs de um forma quase que inédita, e com certeza tais campanhas cravaram seus nomes na história. Foi como criar uma redoma de informações ao redor dos que realmente entraram de cabeça na parada… e quem ficou de fora imediatamente teve vontade de fazer o mesmo. Se isso não é um hype bem feito, não sei mais o que é…

 

Voltando a Avatar e terminando o assunto: só consigo enxergar da maneira exposta acima, uma avalanche de seres frutos de hype idiotizante que querem porque querem me fazer acreditar que estou diante do supra-sumo do cinema da década. E creio que não estou, e não importa quantos bilhões ele faça em bilheterias. Se não assisti em 3D, é porque não vi praticamente nenhum filme em 3D/IMAX e whatever e gostei de centenas deles. Da mesma forma que poderia ter jogado The Legend of Zelda: Ocarina of Time em um conjunto de três monitores gigantes... e gostei dele, mesmo tendo jogado numa TV de 14' (hoje numa de 29'). Entende? Têm certos aspectos que vão muito além de especificações técnicas secundárias, e no caso de um filme digo que é uma boa história, envolvente na medida certa (um dia falo mais sobre isso).  

Avatar é inovador e visualmente maravilhoso? Sim, da mesma forma que Titanic o foi, APÓS aquele iceberg mandar tudo para o inferno. Se você gostou, ótimo, parabéns pra você; Eu achei mediano... só não venha tentando impor sua opinião sobre a minha pessoa. Daqui a 10 anos a gente conversa sobre isso de novo e chegamos a uma conclusão… só fique esperto com o hype.

Avatar Voz do Além

A noite do strip de Star Wars

 

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O clube Bordello, em Los Angeles, especialista naqueles shows de strip meio metidos a arte, resolveu agradar aos nerds numa noite. As integrantes do grupo Devil’s Playground, que se apresenta no clube regularmente, vestiram fantasias a là Star Wars, com Stormtroopers, e um Jabba, the Hutt também. Na verdade, todo o lugar foi modificado para ficar com a cara da trilogia que rola numa galáxia muito distante, e foi convertida na Cantina de Mos Eisley. 

E, antes que pense que as mulheres queriam caçar pára-quedistas - ou algo assim -, saibam que elas já fizeram apresentações baseadas em The Legend of Zelda, Metroid, Mario e Street Fighter. Bom, chega de falar, e fiquem com as imagens (e o vídeo):

 

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LA Weeky [Via Destructoid]

Avatar Voz do Além

A verdade sobre os números da pornografia

 

 

[Via O Buteco da Net]

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Avatar Voz do Além

Onde Vivem os Monstros

 

Se a qualidade de um filme está diretamente relacionada aos sentimentos que ele produz, Onde Vivem os Monstros é um dos melhores filmes já feitos. Ele é como uma dose endorfina misturada com serotonina em forma de filme; felicidade instantânea a 24 quadros por segundo. Em síntese - e correndo o risco de me parecer repetitivo: ele te deixa feliz na hora, mais ou menos como ver a Vivo Verde online no MSN. Ao menos foi o que rolou comigo ao assisti-lo no fim de uma  madrugada. Logicamente eu esperava coisa parecida somente pelo trailer com Wake Up, do Arcade Fire ao fundo, mas ver a confirmação diante de mim foi uma experiência única.

Spike Jonze é o cara por trás dessa história de fantasia. Ele é do tipo diretor-cabeça, com filmes que mais primam pelo apuro visual minimalista e pelos roteiros bem acabados. Seus dois filmes mais conhecidos, Adaptação e Quero Ser John Malkovich, vão por essa linha e se tornaram pequenas pérolas cult. Mas parecia que o destino do sucesso hollywoodiano de Jonze estava por demais atrelado aos roteiros loucos e geniais de Charlie Kaufman, e aqui ele prova que essa é uma inverdade.

Onde Vivem os Monstros (Where the Wild Things Are, no original) exigiu uma dedicação insana de Jonze, consumindo cinco anos da vida dele, tempo esse em que ele passou submerso em transformar em filme cada aspecto do clássico da literatura infantil concebido por Maurice Sendak. Não cheguei a ler o livro (e o Submarino não ajuda, aproveitando o hype e não o colocando em promoção), mas, pelo que me parece, é daquelas obras que toda a criança já leu, levando-a consigo mesmo após estar barbado e reservando seu tempo pra cuidar dos próprios filhos.

É daquelas histórias simples, mas que passam muito mais mensagens pra crianças do que coisas xaropes e recheadas de oba oba, como produções da Disney (mas que fique claro: deixe boa parte das produções da Pixar fora dessa). Pra melhorar, alguns educadores logo trataram de detratar o filme, alegando ser ele por demais negativista, o que poderia prejudicar a percepção de mundo das crianças. Só não entendi o porquê (na verdade entendi: não dê ouvidos a educadores. Ou ao menos conheça os filhos deles antes), já que cada minuto do filme não difere em nada de um dia de brincadeira de uma criança qualquer… OK, talvez somente pelo fato que estamos num mundo habitado por monstros, e não por catarrentos encrenqueiros.

 

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Max é um garoto que possui uma hiperatividade criativa incompreendida, ele é um guri que demanda muita atenção, coisa que nem sempre consegue no mundo adulto. Ele vive com a mãe e a irmã - a primeira tendo alguns encontros amorosos, e a segunda cheias de amigos adolescentes descabeçados. No fim, ele parece deslocado, embora suas familiares o amem. Seu refúgio é sua imaginação, mundos que ele cria. É uma criança normal, não aqueles arquétipos irritantes de crianças-adultas que as novelas da Globo adoram mostrar.

Após uma sucessão de acontecidos envolvendo pequenos erros afetivos de sua mãe e irmã, ele se revolta, sai do controle, sobe na mesa, grita, morde a mãe, e foge de casa. No destino da sua corrida, e devidamente fantasiado de lobo - como você vê na capa-, ele cruza o mar em direção a um lugar quente no meio da tempestade que enfrenta, alcançando um reino cheio de monstros bizarros.

Lá ele se encrenca, e usa a sua imaginação para escapar de ser devorado, se tornando o rei do lugar graças a sua lábia. Sua primeira frase já coroado é histórica, e uma das melhores que já vi num filme. É um berro, que rompe aquele silêncio carregado da ânsia de todos os que estão no lugar: QUE A SELVAGERIA COMECE!!! É o que basta para tirar o bando de monstros deprês da tristeza, os mergulhando na zona lisérgica que é ser criança, onde só se pensa em se divertir e gastar energias acumuladas. Mas, logicamente, ao mesmo tempo que une a todos, os levando a excessos inconsequentes, Max acaba por expor certas facetas dos monstros que eles haviam tentado soterrar.

E com isso surge uma coisa bizarra no filme. Max é o único personagem humano ali naquele mundo - e tem uma atuação brilhante, diga-se de passagem - mas você logo vai estar simpatizando com os monstros, o que é um feito e tanto. Os monstros não são digitais, o que aumenta o fator estou gostando deles da jogada. Eles têm mais presença que os smurfs super desenvolvidos de Avatar - mesmo se tratando de um mundo imaginário criado na cuca de um guri - e isso é fruto de um trabalho intenso de dubladores e gente que vestiu roupas diabolicamente quentes, aliados a efeitos especiais bem utilizados, principalmente nas expressões dos monstrengos. Talvez o que coloque eles num patamar tão elevado de qualidade, seja a facilidade de interação dos monstros com Max, não sendo necessário criar uma overdose visual gerada por computador - mesmo que de excelente qualidade.

O fato de eu gostar das maluquices que esses bonecos fazem, me fez olhar para os lados só para ter certeza que estava sozinho no meu momento Volta à Infância. Onde Vivem os Monstros é justamente isso. Ele é um exemplar de Arte que você coloca num canto secreto juntamente com Chaves, Mario, Os Goonies, Os Impossíveis e todas essas obras atemporais que te devolvem por algum tempo o desejo de ser criança novamente… e isso rola mesmo que você tenha odiado ser criança. Os momentos provocados por Onde Vivem são similares: te fazem esquecer um pouco a correria estressante da vida adulta e te joga naqueles momentos deliciosamente escapistas.

 

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O filme é também carregado de significados. Cada monstro é um aspecto diferente da personalidade de Max. Mas, todos, sem exceção, caminham na busca por aceitação. Os momentos no mundo mágico criado por Max nos fazem entender novamente como é estar na cabeça de um muleque. É simples, não tem os problemas da vida adulta, e é bom, basicamente nos fazendo voltar ao pouco que sobra da nossa essência ao sermos soterrados por uma montanha de trabalho, contas pra pagar e informação inútil - e sim, não sou fã de crianças.

Jonze também não faz por menos e faz um trabalho magnífico. Desde as logos dos estúdios riscadas pelas mãos de crianças logo no início do filme, passando pela abertura frenética mostrando Max correndo atrás de um cão, tudo nos relembra que Jonze é criativo no tratamento visual. Os enquadramentos sempre privilegiam a visão de Max, às vezes diminuto frente aos monstros, às vezes frágil frente aos abusos dos amigos de sua irmã, ou ainda imponente, coroado como rei no meio de uma festa de seres peludos gordos.

Mas, se tem uma coisa que o filme representa, é naturalmente uma explosão de sentimentos. E naturalmente essa abordagem transforma a jornada do reinado de Max numa sucessão de altos e baixos. Se no início tudo é festa, logo depois, mais precisamente durante a construção da Fortaleza Automática, a integração dos monstros começa a desandar. E quanto mais Max deseja uni-los, mais eles parecem separados. E isso é de uma naturalidade extrema, mais ou menos como ver Miss Sunshine rebolando freneticamente no meio de um monte de crianças praticamente falsas.

Alguns detratores meio doentios logo nos trouxeram brilhantes idéias quanto a interpretações do filme. Eles alegam que tudo não passa de uma metáfora para uma política expansionista americana, com Max representando os jovens EUA ganhando o mundo na lábia, enquanto os monstros são outros povos, sendo dominados. Entretanto, os que procuram teorias políticas em tudo quanto é canto, deve ter esquecido do final, daquele momento redentor que coroam tudo, e que invasões ao Iraque não possuem.

A trilha sonora… Ah, a trilha! Devo dizer que esse é o décimo primeiro filme que baixo a trilha sonora, e é uma das mais estranhamente lindas de todas. Primeiramente, ela não segue o modelo básico de trilha sonora, com uma seleção de canções instrumentais ou um apanhando de músicas da moda de bandas iniciantes. O modo encontrado por Jonze pra traduzir musicalmente a pureza dos momentos do filme foi criar a banda Karen O and The Kids. Apesar de ter uma veia trash mais-que-conhecida como vocalista do Yeah Yeah Yeahs, Karen e as crianças disparam músicas que deveriam substituir aquelas chatices que crianças escutam nas escolas primárias. Ouvir o álbum após ver o filme faz exatamente o que toda a trilha deveria fazer: reprojeta o filme na sua mente, com cada música representando um momento marcante. O resultado é lindo, e talvez sua única falha tenha sido não incluir a belíssimo Wake Up, que tornou o trailer a maravilha que é.

 

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Antes do fim, o filme ainda guarda uma certa surpresa. Não, a gente não verá o reino despedaçado por algum vilão insano, até porque o que vale aqui é vermos os resultados da loucura rebelde de uma criança, mas não se surpreenda se chorar nos minutos finais. A corrida após o arrependimento de um dos monstros, bem como os uivos finais após a despedida de Max do reino, foram uma das sequências que mais me fizeram chorar num filme (assistir sozinho ajudou), juntamente com o grito de Liberdade! de Willian Wallace, e o Por Frodo! proferido por Aragorn.

Talvez você não goste do conceito exposto no filme, ou ainda da simplicidade do roteiro onde aparentemente nada acontece. Mas, entender como Max controla seus sentimentos e os usa a seu favor é uma das coisas mais interessantes do cinema fantástico dos últimos anos. Tanto que o filme não chega a ser carregado daquelas sombras dos mundos de Neil Gaiman. Na verdade, ele fica no meio termo, nem sendo assustador como um Coraline, ou abobado como um filme Disney. Mas, o resultado é talvez a maior, a mais pura, e a mais verdadeira experiência cinematográfica acerca de mundos e emoções infantis que você vai ver, ainda mais no mainstream hollywoodiano.

Só não vai gostar quem for um adulto muito amargurado…

 

Where the Wild Things Are (EUA, 2009)

Diretor: Spike Jonze

Duração: 101 min

Nota: 8

Avatar Voz do Além

Imagens da tragédia no Haiti

 

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Enquanto o mundo (leia-se: a minha timeline do Twitter) só sabia de comentar a porcaria do BBB, um terremoto que tinha abalado o Haiti horas antes (19h53, horário de Brasília) dava sinais de ser uma catástrofe sem precedentes. Em seu epicentro, a 15 quilômetros da capital haitiana, Porto Príncipe, foram registrados 7 graus na Escala Richter, e logo depois foram emitidos alertas sobre tsunamis para outras ilhas da região caribenha.

Após o primeiro tremor, vieram vários outros de magnitude 5, e os prejuízos começaram a ser contabilizados. Embora ainda seja muito cedo para fazer estimativas de perdas de vidas e materiais, o primeiro ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, já falou em cerca de 100 mil mortos, e milhões de desabrigados. Estruturas de tudo quanto é tipo foram danificadas, desde o palácio presidencial (foto acima), à inúmeras favelas da região. 

Para os brasileiros, a triste notícia foi a morte de Zilda Arns, coordenadora internacional da Pastoral da Criança, que estava numa igreja no momento do abalo, segundo informações preliminares (outra versão disse que ela estava caminhando com um tradutor e integrantes do Exército Brasileiro). O comandante do Exército brasileiro no país, Enzo Peri, também confirmou a morte de 11 militares brasileiros, embora tenha deixado claro que tais números podem mudar. Outros quatro funcionários da ONU teriam morrido na região também, segundo o próprio secretário-geral da organização, Ban Ki-moon.

Abaixo está um apanhando que fiz da cobertura do Big Picture, o blog fotográfico mais importante do mundo, das primeiras 24 horas da tragédia (sem legenda mesmo… as imagens falam por si só). Clique para vê-las maiores, em outra janela.

 

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[Via Big Picture]

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Avatar Voz do Além

Como os Na’Vi transam

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James Cameron clamou aos quatro ventos o roteiro de Avatar continha uma cena de sexo não filmada para não apertar na hora da censura - os censores preferem ver cabeças rolando do que um casal se pegando. E tal cena será incluída nas versões DVD/Blu-Ray do filme, para a alegria dos apreciadores de um bom sexo extraterrestre.

Mas ontem, o roteiro de Avatar foi liberado para participar de competições internacionais, e lá estava ela, pimpona, a tal cena de sexo Na’Vi. E aí, tá curioso pra saber como os smurfs atômicos transam? Leia a cena abaixo:

 

Ele aproxima seu rosto do dela. Ela esfrega seu queixo no dele. Ele a beija na boca. Eles se exploram.

Então ela se afasta, os olhos brilhando.

NEYTIRI
Beijar é muito bom. Mas temos algo melhor.

Ela o guia para baixo, até que ambos estão ajoelhados, olhos nos olhos sobre a grama que emite um brilho leve.

Neytiri pega a ponta de sua trança e a levanta. Jake faz o mesmo, em trêmula antecipação. Os tentáculos nas pontas se movem com vida própria, desejando a junção.

CENA MACRO -- Os tentáculos se enroscam com ondulações gentis.

Jake oscila com o contato direto de seu sistema nervoso com o dela. A intimidade definitiva.

Eles se aproximam com um beijo e deitam na cama de grama - ondas de luz ao redor deles.

Partículas luminosas se elevam - sem vento - e a noite cria vida com energia pulsante até que a cena DISSOLVE para --

MAIS TARDE. Ela está deitada no peito dele. Cansada. Ele acaricia o rosto dela carinhosamente.

Na cena seguinte surge o calote! Neytiri conta a Jake que como eles haviam feito sexo estavam ligados pra sempre… Estamos?, Jake pergunta. Sim. É o costume do nosso povo. Ah, esqueci de te contar?. Já era soldado…

 

[Via Omelete]

Avatar FiliPêra

Megan Fox garota-propaganda da Armani

Bom, sem palavras, fiquem com as fotos, e tenham certeza que teremos um bom 2010.

 

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[Via Testosterona]

Avatar Colaborador Nerd

Big Eyes, Small Mouth

Por Gabriel Radd

   Besm3

[Esse texto é dedicado a todos os pokémons (incluindo Os Pokémons do Forró e o Pokecão das Dorga do Arco-íris) que são "atiçados para brigarem entre si como em rinhas de galos"]

Se pilhar, matar e conjurar magias em um mundo imaginário não fosse um hobby quase que exclusivamente masculino (Atenção à palavra quase. Mulheres que jogam RPG não são apenas lendas, por mais incrível que esse fato possa parecer… E se esta frase já não fosse usada comercialmente por outra empresa) o slogan do Sistema D20 poderia ser "Seja o que você quiser". Digo isso pois o número de opções disponíveis aos jogadores é quase infinito. Você pode ser um bardo na "mistura mitológica" de Greyhawk. Ou um valoroso cavaleiro de Rohan na Terra-média. Ou um sorrateiro elfo-da-noite em Azeroth. Ou ainda, um mestre jedi do Universo Expandido. Ou você pode ser um treinador de pokemóns.

Para quem é louco o bastante para escolher a última opção, existe o "BESM D20: Anime Role-Player's Handbook". O BESM, baseado no Sistema D20, fornece as bases para os jogadores que desejam interpretar personagens de animes. Isso quer dizer que o "livro do jogador de anime" não é útil apenas para jogadores que queiram interpretar treinadores de pokemóns. Ele apresenta também classes como "sentai member", "giant robot", "samurai" e "tech genius". Na verdade, o livro não contém regras específicas para treinadores de pokemóns, mas sim regras para "pet monster trainer", que é um termo muito mais genérico. Portanto, não espere encontrar neste livro as estatísticas detalhadas de todos os pokemóns, pois você não irá encontrá-las. Ah, e, por favor, depois não diga que eu não avisei. ;-)

O livro do jogador de anime apresenta ainda um sistema de "desconstrução de classes", com regras bastante equilibradas (pelo menos na minha opinião) para se criar personagens com classes e pontos de personagem (algo parecido com uma mistura dos sistemas de criação de personagens de Dungeons & Dragons e GURPS).

O restante do livro contém regras de combate e todo aquele lero-lero que todo livro de RPG possui. Enfim, "BESM D20: Anime Role-Player's Handbook" é um bom livro, se você gosta de RPG e anime. Se eu possuísse a expectativa de vida de um elfo, convidaria o Murilo Andrade para uma campanha de BESM.

 

PS: Confesso: o primeiro post que escrevi para o NSN não estava à altura do blog. Prometo me esforçar mais a partir de agora.

PS (2): Não, eu não vou fazer piadinhas sobre a relação entre post-scriptum e PlayStation.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Avatar FiliPêra

[Resenha] Lobo Solitário

 

Lone_Wolf_and_Cub_2_by_jharris

 

Quando o corvo da noite sai a cantar,
É sinal que alguém vai morrer.

Ouçam os passos,
É o Lobo Solitário chegando

O Anjo da Morte que reina nos campos e cemitérios
É o Lobo que vem chegando ao lado de seu filho

Ouçam os passos,
É o Lobo Solitário chegando

Quando os bichos param de cricrilar
É sinal que alguém vai morrer

Ouviram o cão latindo?
Sim, é o Lobo Solitário chegando

Ouçam o carrinho de bebê que trilha a estrada do inferno
É o Lobo que vem chegando ao lado do seu filho

Ouçam os passos
É o Lobo Solitário que está chegando

Lobo Solitário, Edição 10

 

Eu termino de ler Lobo Solitário e ajeito os seus 28 volumes numa estante especial dedicada somente a ele, num armário de ferro com aparência de cofre que uso para guardar meus livros e HQ’s. No momento em que termino de arrumar as revistas, posso perceber uma certa inveja vinda dos outros títulos ali presentes. Como não sou um colecionador tão violento assim, só tenho coisas que realmente considero fantásticas na minha coleção, e por esse motivo a inveja das outras revistas não é maior.

Da minha coleção de Sandman - aquela edição ultra-luxuosa da Conrad, uma das melhores versões de Sandman da história mundial - exala um respeito quase solene. Morpheus e seus irmãos Perpétuos sabem que o Lobo, que de tão especial e único, poderia trazer sérias crises aos reinos deles. Algumas revistas de Joe Sacco prestam suas homenagens à chegada de uma das maiores obras da Cultura Pop mundial, enquanto em um canto escuro do armário, A Saga do Clone, o patinho feio do lugar, chora de vergonha de existir e ser tão inferior.

As obras de Alan Moore, mesmo sendo igualmente superlativas - mas um pouco mais arrogantes - olham torto para aqueles fisicamente míseros mangás, todos feitos em papel pisa brite e com um formato diminuto, mas se dão conta que o que importa - o conteúdo -, é de uma perfeição poucas vezes igualada. Mas tem uma pá de revistas de uma estante da minha coleção que se curva com todo o respeito possível e derrama algumas lágrimas: são as HQs de Frank Miller - por ali estão todas as revistas Sin City, Cavaleiros das Trevas, Ronin e 300 de Esparta -, talvez o ocidental mais influenciado pela violência cinematográfica, pela narrativa perfeita, e pelo tom de ópera tocante, mas ao mesmo tempo sanguinária presente em Lobo Solitário. As obras de Miller se curvam respeitosamente, e não poderia ser diferente, talvez saudando o fato de Eu finalmente ter tomado vergonha na cara e lido a mais importante obra dos quadrinhos japoneses.

Até mesmo os livros que estão por ali, com autores que se acham superiores a qualquer outro que escreveu em qualquer outra mídia, tremem, pois sabem que seus romances, por mais aclamados e milionários que sejam, nunca vão chegar perto do que Kazuo Koike e Goseki Kojima alcançaram em sua obra-prima. Talvez um Mario Puzo em seu Poderoso Chefão, ou Ken Follet em seu épico Os Pilares da Terra, saibam que podem ser colocados na mesma frase que os dois mestres japoneses, mas mesmo assim tremem. Tremem pois não entendem como um mangá - essas coisas ilustradas vindas do Japão, com leitura ao contrário e arte que nem colorida geralmente é, que chegam ao Ocidente como subgêneros dos chamados gibis -, podem alcançar tamanho nível de culto e qualidade. Culto e qualidade maior que 97% de todos os livros publicados, inclusive parte dos deles. Entre os literatos presentes na Estante, somente Tolkien sorri de verdade, sem medo, pois consegue reconhecer um mundo fantasticamente produzido ali, e de uma simplicidade extrema, sem precisar recorrer a elementos fantásticos como ele.

Felizmente não possuo outros mangás na minha estante. Se possuísse, e eles tivessem um mínimo de honra e senso de realidade, se atirariam num triturador de papel  - ou abririam um rombo na barriga para expor suas tripas de celulose ao vento - com vergonha de receber a denominação de “Mangá” após a publicação de Lobo Solitário.

 

A bem da verdade é ninguém verá a perfeição muitas vezes em sua vida, ainda mais na Cultura Pop, onde o dinheiro fala alto demais. A perfeição é algo pessoal, com toda a certeza, e geralmente vai na correnteza oposta ao gosto popular. É aclamado por uma multidão?! Só pode ser ruim, é o que geralmente se pensa. Eu tenho minhas pérolas perfeitas. São filmes como Donnie Darko, Clube da Luta, Magnolia, Taxi Driver… HQs como Os Invisíveis, O Monstro do Pântano, e bandas como The Mars Volta e Ladytron. Você até apresenta aos seus amigos, mas geralmente fica feliz quando eles não gostam, o que dá aquele sentimento de posse, de exclusividade. Você até debate com ele como um orgulhoso conhecedor do que tá falando, mas ele é apenas um pagão que não sabe do que fala, e nem ao menos entende seus argumentos. Ao final você solta a frase dita pelo lado fanboy-exclusivista de todo o nerd: Pelo jeito, isso não é pra você…

Mas Lobo Solitário corta essa teoria com mais precisão que um golpe do suiou-ryu - o estilo gaivota d’água, usado pelo personagem principal da saga. Tanto que só existem dois grupos de pessoas na Terra: os que acham Lobo Solitário perfeito, e os que ainda não o leram. Motivos para essa unanimidade aparentemente perigosa não faltam. Desde a narrativa elegante e sofisticada, até a arte simples, mas ao mesmo tempo detalhista, tudo expira a palavra perfeição nas páginas da revista. O conjunto é uma mostra de que mesmo tendo começado a ser lançada em setembro de 1970, a obra ainda é superior a quase qualquer coisa lançada hoje em dia.

 

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Itto Ogami - o sobrenome é uma referência a okami, lobo em japonês - é um ex-executor do governo do Xogum japonês. Após um plano do ardiloso chefe do clã dos Yagyu, rival dos Ogami, Itto cai em desgraça perante o Xogum (autoridade máxima do governo japonês) e tem sua mulher assassinada. Suas decisões seguintes mudam a sua vida para sempre. A primeira diz respeito ao seu destino; ao invés de escolher o seppuku (o nome mais pomposo de harakiri, o suicídio honrado por estripamento, que era direito de todos os samurais que fracassavam), ele decide trilhar o caminho da Meifumadô, a figura do inferno na religião budista. Com isso, ele se torna um demônio errante, um matador que arranca cabeças por um preço fixo, sem rédeas ou preceitos. Sua segunda decisão foi dar a seu filho Daigoro a chance de escolher morrer, ou pisar na Meifumadô juntamente com ele. Seu filho escolhe o caminho da espada, e os dois começam a trilhar a jornada vingativa narrada na revista, contra os vilões mais sinistros possíveis: os Yagyu.

Derivada dessa trama aparentemente simples, com um gancho mais-que-conhecido, a vingança, surge uma das obras mais complexas, violentas, climáticas e belas possíveis. O início é contraditório, um ronin - samurai sem senhor -  empurrando um carrinho de bebê, onde inocentemente dorme seu filho, logo após uma página com a discussão sobre a morte de um chefe de um feudo japonês. Somos, logo no primeiro capítulo - perfeitamente chamado de Filho de Aluguel, Espada de Aluguel -, jogados no meio da trama. Nas primeiras páginas não sabemos quem é o ronin, o motivo dele estar trilhando errante por aí , ou mesmo o incomum motivo para carregar seu filho juntamente com ele.

O lance é que os autores escolheram um modo brilhante de narrar a história toda, tudo muito diferente dos métodos vigentes na época - e ainda hoje. Eles vão misturando passado e presente de forma estupenda, fazendo a narrativa ganhar força aos poucos, como numa sucessão de crescendos de uma ópera. Cada capítulo é uma pequena pérola, às vezes uma história isolada em que os personagens principais surgem apenas no final, às vezes contendo o peso de contar fatos realmente densos, como o primeiro confronto entre Ogami e um herdeiro Yagyu.

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Aparentemente tudo parece jogado com pouca organização, servindo apenas como um fio condutor para os sucessivos massacres de Ogami. Mas, aos poucos, um plano elaborado vai surgindo.Vamos entrando na trama e literalmente não se consegue mais parar de ler os volumes de Lobo Solitário. A escolha por pequenos capítulos reunidos em edições de mais ou menos 300 páginas - geralmente com um tema em comum - é muito acertada, e torna a leitura viciante e reflexiva, fazendo você obrigatoriamente parar para degustar o as páginas que ficaram para trás, conectando o que acabou de ler com o que sabe do resto da trama, mesmo que um outro lado da sua pessoa queira rapidamente ler o próximo capítulo.

Os autores estão no controle total da obra, e arte e roteiro formam um casamento narrativo perfeito. Cada cena detalhista é como um quadro. Durante as batalhas, os personagens pulam da revista, dando poucas asas à sua imaginação, pois está tudo pensado ali. A manipulação  das suas emoções também é brutal. Em alguns momentos suas mãos tremem ante a tensão pulsante, em outros, você dá suspiros aliviados. Têm horas que seus olhos correm pelas páginas completamente sem controle, aparentemente sob efeitos de potentes drogas, surgem momentos de indecisão continua ou não continua, e a adrenalina corre pelas veias como lava incandescente. Tudo resultado do conjunto desenhos-detalhistas-roteiro-feroz.

A alternância de estilos é evidente e agrada a uma gama diversa de públicos. Os que gostam unicamente de ação, vão encontrar momentos sanguinários com backgrounds dramáticos elaborados, enquanto os que se amarram em tramas intricadas, vão ver na jornada infernal e demoníaca de Itto, uma das histórias mais complexas e cheias de facetas que já viu. Os que ainda gostam de tramas mais delicadas, contemplativas, poderão se focar na tocante relação pai e filho que é narrada magistralmente nas mais de 7 mil páginas da série.

Os personagens são muito bem construídos. Sério, até demais! Lá pela edição 7, o leitor já vai estar se achando conhecedor da dupla Itto & Daigoro em sua totalidade. Mas, tudo não passa de artifício dos autores. A narração até a edição 9 é praticamente a mesma em todos os volumes: um punhado de histórias aparentemente soltas e desconexas narrando aspectos diferentes do Japão da época da Era Edo (a trama se passa mais ou menos entre os anos de 1660 e 1670), além de narrar os serviços cumpridos por Itto, sempre pelo preço de 500 ryôs. Tudo isso somada a uma história mais importante, que conta um fato do passado do Lobo Solitário. Mas, exatamente na edição 10, a história dá uma virada dramática absurda. Ela narra uma investida monstruosa dos Yagyu pra cima de Itto, contando inclusive com a presença de um do maior vilão da trama: Retsudô Yagyu.

Eu não lembro exatamente onde estava quando terminei esse volume, mas lembro que olhei pra cima e gritei um Ahhhhhhhhhhh… violento enquanto retesava as mãos, para logo depois olhar para os lados querendo saber se alguém havia me taxado de maluco. Sim, o impacto é tamanho, e à partir dali você sabe que sua vida nerd nunca mais será a mesma.

 

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Tudo isso, somado a inúmeros detalhes quase escondidos, contribuem para uma grandeza inigualável de toda a jornada vingativa e o crescimento dos personagens listados ali. No início você vê Itto como um cara injustiçado, o típico heroizinho que quer ter sua honra de volta. Em pouco tempo você o visualiza como um demônio sem sentimentos, uma mão justiceira que só entra em ação caso seja generosamente pago. Nenhuma das visões está correta, embora ele tenha elementos das duas. Todas as facetas de todos os personagens só serão mostrados quando o último quadro é visualizado, o último balão lido, pois o roteiro guarda surpresas a todo o momento. Mesmo estando no caminho da Meifumadô, não mais seguindo regras ou preceitos, Itto ainda pode ser considerado um samurai. Na verdade um dos últimos samurais genuínos, visto os tempos especialmente corruptos em que está passando o Japão. Sua honra e lealdade, além da preocupação com vidas inocentes, é uma das maiores provas de que mesmo caminhando no inferno, mais próximo da figura de demônio do que a de um samurai.

Mas o destaque vai para Daigoro. Se um dia você ver um personagem-criança melhor que ele em algum filme/HQ/qualquer-lugar por aí, me avise. O guri me fez ir contra meus princípios e me deu vontade de ter um filho, fato inédito na minha vida. Seu crescimento ao longo da história é o símbolo de que os anos estão passando, além de ter sido o motivo para o encerramento da história pelo seu escritor. Com o tempo ele acabaria por perder a sua pureza infantil, e isso mataria metade da grandiosidade da história, além de torna-lo inútil. Ao menos assim pensou Kazuo Koike…

Daigoro também é o responsável pelo momento em que mais chorei lendo um livro/HQ na minha vida: a hora em que ele, chorando copiosamente, lambe as feridas do pai, querendo desesperadamente salva-lo, já nos momentos finais da jornada dos dois. A cena é um símbolo de todo o papel que o filho desempenhou em toda a história, passando de mero espectador de todas as mortes que o pai causou (às vezes virando até escudo) para um coadjuvante, uma legítima cria de lobo. Também é emocionante o conto Aqui estou para proteger, presente na edição 27, em que Daigoro mostra que está disposto a dar a vida para cumprir os pedidos do pai. Ele se põe na frente de uma carroça a toda a velocidade para proteger as espadas de Retsudô e Itto, fincadas no chão, como símbolo da trégua do combate entre eles. A atitude dele acaba por inspirar o povo de Edo, que estava fugindo de uma tragédia…

E taí uma das características mais marcantes e únicas desse mangá: os autores não se prendem somente em apresentar fatos em ordem cronológica (mesmo que às vezes essa ordem seja invertida), eles ampliam tudo, e criam backgrounds profundos para personagens aparentemente insignificantes. O arco final da trama, com seus nove volumes mais ou menos, é uma sucessão de tramas paralelas e acréscimos de personagens interessantes, que mostram que Edo, antigo nome de Tóquio, é tão vasta quanto o resto do país. 

E falando em final… a série de arcos que encerra Lobo Solitário é uma das coisas mais bem arquitetadas que já li. Ao invés de um fim abrupto gerado por cansaço de autores (razão do fim de vários mangás de sucesso), ou falta de vendas (que geralmente atinge obras mais adultas e complexas), Kasuo Koike preferiu termina-lo para manter a essência da obra intacta, o que ele conseguiu com louvor.

 

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O mangá também mostra diferenças gritantes entre a Cultura Japonesa (com elementos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo), e a Ocidental. Também é uma ode ao modo de ser dos samurais, e de como eles são superiores física e espiritualmente às outras classes da rígida estrutura social japonesa. E daí surgem situações incomuns, como o momento em que Retsudô dá abrigo para Itto, ou que um ajuda o outro em um momento de tragédia em Edo, coisas essas incompreensíveis sob inúmeras outras culturas, em que os combates mais parecem brigas de mendigos cascorentos. Em alguns momentos o fim aparenta o encerramento de Kill Bill (na real, sabemos que é o contrário, mas tudo bem…), em que você não sabe se torce pra Beatrix, ou pro próprio Bill. Retsudô não chega a ser tão carismático quanto Bill, mas nos momentos finais da trama deixa de ser o tigre desprezível que é, e assume um manto um pouco mais honroso. No mínimo você vai torcer para que ele tenha uma morte honrosa de samurai…

O fechamento de todas as pontas soltas, a inclusão de personagens e tramas novas (um dos personagens que entram no final, é uma das coisas mais repugnantes que você já viu, e mostra que alguns, ao invés de se desenvolverem com os conflitos, regridem, ao mesmo tempo que mostra a superioridade dos samurais), e as sucessivas reviravoltas, além dos detalhes da administração do governo japonês, são um exemplo do nível superior que quadrinhos podem alcançar.

Ao final, os dois inimigos mortais - Itto Ogami e Retsudô Yagyu -, despidos de todos os artifícios que poderiam possuir, e sozinhos (Itto, ao menos, ainda tem Daigoro), se enfrentam, num duelo épico, simples e único, ondo ganham os espectadores mais importantes, impassíveis, sabendo que o resultado da luta é mais importante para o Japão que a vontade do Xogum.

Os quadro finais são como um poema. Os dois se estudando, após gastarem todas as energias possíveis nos embates anteriores, esperando um vacilo do adversário, é épico demais. Todo o resto de Edo mal consegue dormir ou respirar, sabendo das consequências que podem se originar do embate entre dois monstros não-humanos, animais representados por um lobo e um velho tigre. A sucessão de clímax culmina com duas das páginas mais perturbadoras e enigmáticas que você vai passar o olho na vida, gerando múltiplas interpretações, cada uma de acordo com o nível de absorção da obra do leitor.

Mas o fato é que, após chegar a tão emocional e potente fim, você não será mais o mesmo. A sensação é que eles são parte do seu mundo, você torce pelo Lobo e seu Filhote, são seres honrados obrigados a adentrar no inferno para vingar furiosamente os que lhes prejudicaram. A melancolia da batalha final te afeta como um golpe horizontal matador, mas você resiste, é um mero espectador… vê uma pequena, mas intensa luz no fim do túnel; vê sentimentos onde antes havia só sangue, vê respeito onde só havia ódio, vê lágrimas onde antes só havia veneno…

As duas palavras finais, lentas, pausadas, formam uma das frases mais pesadas do reino da Nona Arte. Talvez você não tenha total certeza do que elas significam, mas se agarra a sua interpretação quanto um samurai se agarra a sua honra. Porém, no fundo, no fundo, só há uma certeza: se existe um Olimpo Sagrado das obras em quadrinhos, Lobo Solitário está lá, reflexivo, olhando para baixo, sem arrogância, não entendendo o porquê de muitas HQs buscarem a perfeição por caminhos tão idiotas, alcançando resultados pífios…

PS: Aguarde para breve a resenha dos filmes da série!

 

Lobo Solitário

Roteiro: Kazuo Koike

Arte: Goseki Kojima

28 volumes de aproximadamente 300 páginas cada

Nota: 11

Avatar FiliPêra

O Fim da Novela: vai rolar um reboot de Homem-Aranha - e cabeças rolaram

 

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As coisas não andavam bem, como escrevemos AQUI, o final não parecia que ia ser feliz para a novela sobre a continuidade da franquia do Homem-Aranha nos cinemas… e realmente não foi, ao menos dissecando o cadáver antes mesmo dele esfriar. Se olharmos os fatos que foram divulgados por alguns blogs, e as atitudes do próprio Sam Raimi, o diretor da franquia, com relação às escolhas desse quarto episódio do Aracnídeo, parece que agora as coisas vão pra uma direção em que o estúdio está à frente de tudo, e quando isso rolou, o resultado foi a bomba epicamente ruim que foi Homem-Aranha 3.

A Sony, juntamente com os Estúdios da Casa das Idéias, divulgou que TODOS que estiveram envolvidos nos três filme da série - bem como na produção do quarto, incluindo Tobey Maguire, Kirsten Dunst, Sam Raimi e TODO o resto - estão demitidos. Isso mesmo, todo o mundo partiu pro olho da rua sem mais nem menos, e foi com eles toda a pré-produção de Homem-Aranha 4!

A idéia é fazer um reboot (um minuto com um constrangedor silêncio) com Peter em uma versão estudantil, e não apenas com um primeiro filme rolando na escola. Sim, creio que  veremos uma repetição daqueles milhares de milhões de seriados escolares americanos, tudo baseado num tal de um roteiro de James Vanderbilt - que foi contratado para escreve o quinto e o sexta capítulo. A data de lançamento foi jogada para 2012 (insira suas piadas associadas ao fim do mundo nesse parênteses), e isso quer dizer que você deve esquecer todo aquele papo de vilões. 

Sim, é isso! HA 3 pode ter sido o fundo do poço, ou é possível que veremos coisa pior pela frente. Só poderei falar mais quando a Sony começar a anunciar elenco, e equipe técnica. Mais novidades nas próximas semanas, de acordo com a Sony, que por enquanto soltou o release abaixo:

 

Peter Parker vai voltar à escola quando o próximo Spider-Man chegar aos cinemas no verão de 2012. A Columbia Pictures e a Marvel Studios anunciaram hoje que estão prodzindo com um filme baseado em um roteiro de James Vanderbilt, que tem um adolescente lutando com os problemas humanos contemporâneos e incríveis, e super-crises humanas.

Declaro aberta a temporada de reboots…

 

[Via Slash Film]


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