REVOLUTIONHEAD
Por FiliPêra
Antes de mais nada eu vou logo me explicando: o tema da coluna dessa semana ia ser o filme Tropa de Elite e toda a sua repercussão...mas um outro assunto conseguiu sobrepo-lo. Na quarta-feira a coluna já estava escrita e talz, mas de madrugada, quando eu estava pronto para posta-la eu consegui por as mãos no novo álbum do Radiohead (melhor seria dizer o mouse e os ouvidos), e foi um: parem as máquinas e reformulem tudo!!! É bom que eu lanço a coluna sobre Tropa de Elite na quarta, quando o filme estiver em sua semana de estréia nacional.
Como eu havia noticiado no dia 6 de outubro o Radiohead lançaria seu novo CD de uma forma
completamente revolucionária (melhor talvez seria dizer evolucionária)> Primeiro que não estava lançando CD, porque as mídias não existiam; as músicas estavam armazenadas no servidor do site oficial do CD. Segundo,e mais impressionante: o preço era determinado pelo comprador. O valor que ele quisesse, mesmo que fosse 0,00 libras. A segunda opção era comprar o álbum físico, na verdade uma edição especialíssima, que continha o CD em si, em versão dupla; dois vinis, com as músicas dos CD's; e um livro em capa dura com as artes para o CD e as letras das das músicas. Quem optar pela segunda versão, recebe os arquivos digitais com as músicas na hora, e o álbum em janeiro de 2008, em qualquer parte do mundo (o frete está incluso no preço de quarenta libras.
Para a surpresa geral (principalmente pra quem não conhece a banda a fundo) a versão física do
álbum vendeu mais que a digital!!! Somando as duas versões, dizem alguns, 1,2 milhão de cópias
vendidas, apenas no dia de estréia!!!
Mas que banda é essa que dá um chute numa das maiores gravadoras do planeta e lança um álbum pelo preço que o cliente quer pagar?
Tudo começou com o guitarrista e vocalista Thomas Yorke. Após formar as primeiras bandas, sem sucesso, juntou-se, em 1987, a Jonny Greenwood (guitarra, teclados, xilofone), Ed O'Brien
(guitarra), Colin Greenwood (baixo) and Phil Selway (bateria), formando o On a Friday. Depois de se apresentarem algumas vezes acabam por dar um tempo. Retornam em 1991, com o nome Radiohead e conseguem um contrato com a EMI e lançam o EP "Creep", com enorme sucesso, inclusive nos EUA.
Em 1993 lançam Pablo Honey, que foi gravado em três semanas, o álbum de estréia, com Creep entre as faixas, o que acaba por alavancar as vendas, que chegam 700 mil cópias.
Dois anos depois lançam uma obra-prima: The Bends; que acaba por desvencilhar a banda do
movimento grunge, que estava no apíce na época. Dessa vez o grande hit foi Fake Plastic Trees,
que chegou a ser tema de comercial por aqui. Foi nessa época que a banda começou a dar mostras de toda a sua criatividade, inclusive com vídeo clipes dos mais originais; como o de Street Spirit.
Após o sucesso de The Bends a banda se isola do mundo, começa a preparar OK Computer e passa a gravar em um estúdio móvel no interior da Inglaterra, e logo depois transfere todo o equipamento de gravação para o interior de uma mansão inglesa. Vários ambientes da mansão, como a biblioteca, o salão principal; foram usados, e o grupo, livre de prazos pela gravadora, pode gravar a hora que bem entedesse; completamente livre de pressão. O resultado não poderia ser melhor: OK Computer alcança enorme sucesso comercial (vende mais de 4 milhões de cópias) e crítico (alguns veículos especializados o elegeram o melhor álbum de todos os tempos), além de entrar em TODAS as listas de melhores de 97.
Após OK Computer, o Radiohead se firma como a maior banda do planeta e os fãs passam a aguardar com ansiedade o próximo trabalho da banda.
E eis que em 2000 chega Kid A (batizado com esse nome em homenagem a primeira criança clonada, que na visão da banda já existe). E novamente o álbum foi elogiadíssimo e obteve enorme sucesso comercial. Mas alguns fãs (de ocasião) passaram a dizer que a banda havia perdido o contato com a Terra e as músicas do novo trabalho soavam esquisitas e chatas. O fato é que alguns meses antes do lançamento do álbum, Thom Yorke declarou que estava cansado de fazer rock e que se suicidaria comercialmente e passaria a fazer "música". Muito disso pode ser percebido em Kid A, com uma mistura bem dosada de rock (quase sem guitarras) e sons eletrônicos (que estavam presentes, ainda que em menor grau, em OK Computer). Pode-se perceber também pitadas de jazz e de folk na sonoridade do álbum.
Um ano depois chega Amnesiac, que vai ainda mais fundo na viagem de Kid A, com elementos
eletrônicos mais presentes. Na verdade todas as faixas desse novo trabalho foram músicas
rejeitadas pela banda para Kid A, o que levou a apelida-lo de de Kid B.
Ao final da turnê de divulgação desses álbuns o grupo começa a tocar as canções que fariam parte do novo disco da banda: Hail to the Thief. E meses antes de seu lançamento, algumas faixas caem na rede, o que causa indignação por parte da banda e da gravadora EMI.
Mas em 2003 Hail to the Thief é lançado, e o contato dos fãs com o material pré-lançamento não poderia ser mais positivo. O disco atinge o primeiro lugar nas paradas inglesas e americanas e
alcança uma boa recepção por parte da crítica.
Até que quatro ano depois chegamos ao aniversário de 10 anos de OK Computer e podemos vislumbrar mais uma revolução por parte do Radiohead, dessa vez não tanto musical (apesar da inegável qualidade musical de In Rainbows). A grande questão aqui é que foi posta em xeque a relação artista/fãs (as gravadoras vão ser aos poucos postas de foras, se não se atualizarem). Ao não estipular preço, a banda simplesmente disse: pronto, agora vocês podem dizer realmente quanto vale nosso trabalho para vocês, as gravadoras não receberão nada do valor que vocês pagarem!!!
A julgar pelos resultados positivos, essa proposta tem tudo para dar certo.
Depois de tal fato a EMI, antiga gravadora da banda, pediu para lançar a versão física do álbum.
Eles acabaram concordando.
São os papéis finalmente se invertendo!
A arte se sobrepondo ao dinheiro!
O próximo passo está a espera.
Pablo Honey
Aqui está a gênese de uma das maiores bandas da história. Apesar de ser um belo trabalho, nada apontava para os rumos que eles seguiriam posteriormente, mudando a face do rock e da música. O álbum bebe da fonte do grunge, com guitarras enérgicas e vocais por vezes nervosos; mas por vezes suplicantes. Foi um sucesso, principalmente o hit Creep que estourou mundo a fora e alavancou as vendas do disco.
Mas faltavam elementos para tornar o Radiohead uma banda duradoura, que não se apoiasse somente na força de um hit. Eles entederam o recado, pode acreditar!
Top 3 do Álbum: Creep, Stop Whispering e You
Nota: 8,5
The Bends
Após o sucesso de Pablo Honey, o Radiohead decidiu dar um passo além. Pegou toda a fórmula que havia consagrado a banda e elevou ao quadrado, com ainda mais energia, aliada a letras
confessionais e bem produzidas. Foi aqui que o Radiohead começa a dar pistas da revolução que
empreenderia; Street Spirit une muito bem o estilo da banda com o misturas eletrônicas. Uma
obra-prima indiscutível que influenciaria gente do porte do Muse!
Top 3 do Álbum: Fake Plastic Trees, Bones e Street Spirit
Nota: 9,0
OK Computer
A revolução em forma de música! Após dois álbuns com forte pegadas de rock o Radiohead decide inovar e lançar um álbum com forte inflências de músicas eletrônicas. O tema principal desse álbum conceitual é o ser humano sendo dragado pela tecnologia e se isolando do mundo que o rodeia (ironicamente a primeira música trata de um homem sendo salvo por um airbag, um aparato tecnológico, durante um acidente de carro e passa a ter a missão de salvar o universo).
Dentro do álbum o Radiohead questiona tudo, desde a nossa posição na sociedade (Paranoid
Android), até o que é ser normal (Karma Police). Ao final vemos a saga do "salvador do universo" chegar ao fim. Ou não...
Em Ok Computer, o ouvinte é convidado a fazer uma viagem tendo o Radiohead como condutor através de paisagens por vezes tranqüilas, por vezes esquizofrênicas, sufocantes e dolorosas. As nuances, a tristeza e a euforia, a era do transtorno bipolar afetivo, o claro-escuro, se encontram. A harmonia permeando todas essas relações.
Mas uma coisa pode ser dita sobre OK Computer: tudo está no seu deviso lugar ali (esse seria o
título da música de abertura de Kid A). Um álbum definitivamente para a história!!!
Top 3 do Álbum (difícil pacas): Karma Police, Paranoid Android e No Surprises
Nota: 10
Kid A
Após o megassucesso e aclamação comercial do Radiohead, os fãs esperavam um passo à frente...e viram um, apesar de só ser definitivamente identificado anos depois. O álbum marca um rompimento comercial da banda, com músicas por vezes inclassificáveis (Kid A), por vezes belas (How To Disappear Completely). Marcou também a identificação da banda com os mais diversos estilos de música, apesar de no final ter conseguido soar extremamente consistente e bem feito. Destaque para o momento mais nervoso do álbum: Idioteque.
Top 3 do Álbum: Everything In Its Right Place, How To Disappear Completely e Idioteque.
Nota: 9,0
Amnesiac
O trabalho mais dark, intímo e estranho do Radiohead, apesar de ainda ser bom. Todo é composto por músicas rejeitadas de Kid A. Todo o a´lbum é intimista, com canções que parecem
definitivamente feitas unicamente para a satisfação de quem as canta. Mas o álbum encanta em seus momentos mais inspirados, e são muitos. Ouça, apesar das críticas a ele.
Top 3 do Álbum: Pyramid Song, Knives Out e Life in a Glasshouse
Nota: 8,5
Hail to the Thief
Após o famoso exílio espacial, regado a experimentalismos extremos e influências de jazz e folk
em seus dois álbuns anteriores, o Radiohead volta um pouco com a energia que permeou The Bends, dessa vez mesclada com o minimalismo eletrônico e as viagens de Kid A. Ouça porque o Radiohead está de volta.
Top 3 do Álbum: 2+2=5, Myxomatosis e There There
Nota: 9,5
In Rainbows
E chegamos até ele! A campanha de lançamento pode até ter tentado, mas não conseguiu ofuscar a qualidade musical do álbum do Radiohead. O grupo basicamente continua em sua jornada
experimentalista dos álbuns anteriores. Mas esse In Rainbows está mais para Hail to the Thief do que para Amnesiac, apesar de músicas como Reckoner apontarem para o íntimo, do mesmo jeito que Amnesiac fazia.
Mas aqui temos um pouco mais de guitarras como na excelente Bodysnatchers, que é o mais perto de um single pop que o álbum tem, mas também temos belas baladas como Nude.
In Rainbows, assim como toda a discografia do Radiohead, exige várias audições para ser
completamente assimilado, mas também é daqueles álbuns que você sabe que está desvinculado de qualquer movimento ou moda, que é duradouro, que não vai sair do seu MP3 Player tão cedo (e nem da sua cabeça). Enfim In Rainbows é puro Radiohead em sua melhor forma, e sempre a frente da indústria e até de seus seguidores, como o Coldplay e o Keane, que conseguem assimmilar apenas o verniz sonoro da banda, e nunca sua essência.
Todas as músicas aqui carregam significado e têm uma razão de existir e não simplesmente servem para encher o álbum. Elas, assim como OK Computer, carregam sons diferentes e sintéticos, mas que servem para dar o clima desejado por Thom Yorke e cia.
Chega de falar e escutem esse que é mais um belo pedaço de música composto pelo Radiohead.
Top 3 do Álbum: Bodysnatchers, Reckoner e Nude
Nota: 9,5
Curiosidades: O nome Radiohead veio de uma música dos Talking Heads, uma das influências da
banda.
O Radiohead foi eleito recentemente como uma das cinco melhores bandas com perfórmances ao vivo.
Hail to the Thief (saúdem o ladrão) é um recado para George W. Bush.
A música Fitter Happier, em que Thom Yorke imita a voz de um andróide, foi construída
inteiramente com anúncios publicitários ingleses.
Sim a discografia é praticamente irretocável!
Até a próxima com: FACA NA CAVEIRA!!!
É NOZES!!!
2 Comentaram...
Conhecia pouco do trabalho do radiohead apesar de saber que era uma banda mto boa, mas numca tinha lido a historia da banda e nem sabia das revoluçoes e mais profundamente sobre o estilo da banda.
Valeu ai pelo post vou procurar ouvir mais de radiohead.
Muito boa a banda.
E o melhor de tudo é que eles também são Nerds.
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