terça-feira, 12 de julho de 2011

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Mais um tijolo no muro

Por Kallyandra

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Os textos nada mais do que livre expressão, estou me afogando na lama assim como você que está lendo tanto quanto o resto da sociedade, estou presa à sistemas e a normalização que a sociedade me impõem, estes textos são apenas idéias e “o rosto embaixo dessa mascará não é o meu de fato, não sou nem meu rosto, nem os músculos embaixo dele ou os ossos embaixo deles”

V for Vendetta

 

Normal: nor.mal; adj m+f (lat normale) 1 Conforme à norma; regular. 2 Exemplar, modelar. [...] 5 Biol, Psicol, Social. Conforme a um tipo dado e, portanto, presente na generalidade dos casos. 6 Pedag ant Dizia-se da escola e do curso destinados a formar professores de ensino primário [LINK].

Somos todos iguais perante a lei, somos pequenas partes da sociedade, portanto, construímos de acordo com a nossa vontade, queremos direitos, possibilidades, oportunidades, educação, saúde de maneira igual para todos. A Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988 garante esse direito para todos os cidadãos brasileiros.

A igualdade que nos é garantida por lei, mas sobre a ótica histórica e política, eleições, escolhas, juridicamente, etc.; porém muita gente confunde igualdade em sermos iguais, normais, uniformizados. Quando crianças, sempre ouvimos a seguinte frase “somos todos iguais”, então olhávamos para o lado e víamos que o coleguinha não era igual, tinha um comportamento, cor, família, origem, história, absolutamente tudo diferente.

E crescemos acreditando nisso, que somos iguais, porém, eu sou igual a você leitor?

 

TÍTULO II: Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I: DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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Um dos princípios fundamentais da nossa Constituição é a igualdade entre os cidadãos e a liberdade de pensamento, tudo isso é lindo no papel. Mas que tipo de igualdade? Qual o significado da igualdade?

Igualdade pode ser no sentido de padronização social, ou seja, devemos nos comportar de maneira igual, obedecer às imposições feitas desde o nascimento. Meninos se vestem de azul, brincam de bola na lama, brigam, etc. e meninas de rosa, brincam de casinha, bonecas Barbies e devem ser seres delicados.

No Brasil é comum nas escolas, empresas, organizações em geral, adotarem uniformes com a intenção de identificação da instituição de estudo ou trabalho, de dizer que todos os funcionários são os mesmos e que não passamos de massa trabalhadora, que devemos ser imparciais durante o trabalho.

Mas a uniformização não é apenas durante o trabalho, vemos a massificação do ser humano ocorrer constantemente, somos treinados a pensar, agir, desejar a querer as mesmas coisas que todo mundo e vem ocorrendo por um longo período da nossa história. Não se faz guerras quando se tem os mesmos objetivos, não se odeia os que compartilham das mesmas opiniões que a gente, queremos o conforto da normalidade. Não gostamos de ser contraditos, não gostamos que digam que estamos errados e que não nos encaixamos na sociedade.

Vivemos em um mundo capitalista, onde absolutamente tudo é pensado para que lhe faça comprar e comprar cada vez mais, porque é o que eu não tenho que diz quem eu sou, é o que me desiguala do resto da sociedade, portanto para eu ser bonita tenho que ter o cabelo liso, vou ao salão gasto horas com alisamento para ficar exatamente como as outras, e, depois de um ano, descobrir que os cachos voltaram a moda. Os cantores são fabricados perante a televisão e divulgados pela internet, as empresas monopolizam com trio elétrico e abadas o carnaval, a livre expressão passa a serem frases levadas por passarinhos mecanizados.

Em 1940 Adorno cunha o termo “Indústria Cultural”, pois ele percebe a comercialização da cultura, que predominantemente é produzida nos EUA, que dirige as produções culturais onde essas produções são normalmente de baixa qualidade, para a massa social. Contudo, esta classe não percebe a dominação da Indústria Cultural, já que o objetivo das grandes corporações é o entretenimento vazio das massas e do lucro que o consumo desses produtos traz para as empresas que produzem as mercadorias e não a individualidade. “Sob a alegação que o grande público quer apenas entretenimento e diversão, sem levar em consideração qualquer responsabilidade de ordem educacional, formativa ou cultural que seus recurso tecnológicos comportam e até facilitariam.” (Duarte, 2003, p. 08)

Já que a finalidade da Indústria Cultural é o consumo, ela tende a procurar padronizar, uniformizar e tornar comercializável o gosto, a música, as roupas, enfim, tudo; isto é, através dos meios de comunicação em massa, é possível divulgar um modo de vida que deve servir de parâmetros para todas as pessoas. A Indústria Cultural mostra os valores que as pessoas devem possuir, como se comportar em sociedade, onde e como comer, vestir, calçar, inclusive pensar, pois todos agindo da mesma forma, todos irão consumir os mesmos produtos.

A função da Indústria Cultural assim como a do Estado é de nos tornar iguais, sem a opção de escolha, mesmo quando tentamos reagir, pois estamos tão presos na caverna que o único modo de nos libertar é usando as mesmas armas que a Indústria Cultural coloca ao nosso dispor. A Indústria Cultural modifica a realidade mostrada repetidamente até que o valor imposto seja corriqueiro. A repetição nas horas de trabalho também é transferido para as horas de lazer.

‘As horas de trabalho de um dia já são para a maioria dos seres humanos, ocupadas no desempenho de tarefas puramente mecânicas, nas quais nenhum esforço mental, nenhuma individualidade, nenhuma iniciativa é requerida. E agora, em nossas ‘horas de lazer’, nos voltamos para distrações mecanicamente estereotipadas, e que demandam tão pouca inteligência e iniciativa quanto o nosso trabalho’[...]
A mesma lógica rege na sociedade industrial, o tempo de trabalho e as horas de lazer, [...], seriam irremediavelmente estereotipada, o que se aproxima da esfera da produção de mercadorias e massa (Huxley, A. apud Almeida, 2008, p.141)

A mecanicidade e uniformidade da rotina das industrias, empresas e escolas é transferida para nossas horas de lazer, todos somos levados a assistir os filmes e programas de televisão que querem que a massa assista, e não se iluda eu e você também somos massa, querem quebrar em pedacinhos nossa individualidade e nossa cultura e nos transformarem em uma massa homogenia ou pelo menos que queira ser homogenia.

 

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Porém, quando olhamos a realidade, parece que alguns são mais iguais que os outros. Não é isso que vemos na televisão, vemos manifestações de alunos, professores, marcha da maconha, etc., é a força policial batendo nos cidadão que estão apenas atrás do que nos é garantido na constituição brasileira.

Sendo que sempre a análise dos fatos não correspondem a sua totalidade, segundo Foucault (1979), o papel do Estado é a repressão e que é o que tem controle sobre nossos corpos. Mas, ainda percebo de forma muito mais profunda a dominação do Estado e não apenas sobre nosso corpo, mas pior controlam nossa percepção do mundo, fazem acreditarmos que o pior inimigo são os ladrões, traficantes de drogas, enfim marginais em geral, mas se esquecem que na verdade o Estado é o pior inimigo de todos.

Como podem querer criar pessoas se quando crianças são ensinadas a não reagirem? A viverem apenas a aparência de aprenderem, a uniformidade das roupas escolares, as cadeiras enfileiradas para evitar a conversa, o conteúdo entediante de uma fórmula que é simplesmente jogada e nunca sabemos como qualquer fórmula que seja teve sua origem, não somos ensinados a questionar, somos ensinados a aceitar as imposições e apenas aceitar como verdade plena o que a televisão nos mostra. O totalitarismo que a Indústria Cultural inflige pode ser de maneira sutil, que discretamente rege as ações individuais, pois como:

Fruto de uma razão instrumental a Indústria Cultural “impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente” [...]
A promessa da razão iluminista de instaurar por meio da razão o poder do homem sobre a ciência e a técnica, livrando-o do obscurantismo mágico ou do universo mítico, converte-se ela própria em mito quando oculta da racionalidade técnica conteúdos do progresso tecnológico como forma de dominação social. [...]
‘O que não se diz é que o terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade própria dominação. Ela é o caráter compulsivo da sociedade alienada de si mesma.’ (Horkheimer e Adorno apud Fabiano, 2008, p.141)

Será essa igualdade que querem nossos governantes, onde garante nosso direito de sermos iguais, de liberdade, mas não podemos questionar a ordem e padrão existente?

Se realmente fossemos iguais não haveria necessidade da luta dos grupos minoritários pelos seus direitos tais como o movimento negro, LGBT, greves generalizadas dos professores, a violência em cada canto do Brasil aumentando (ou será apenas porque a violência vende?).

Somos livres realmente?

A sociedade como um todo rotula e julga as pessoas pelos gostos, jeito de vestir, agir, com quem anda e utilizamos nossos padrões, preceitos, dogmas e o que temos como verdade é a base deste julgamento e esquecemos que nos também somos submetidos a normalização social.

Mulheres que dão prioridade a carreira e aos estudos são dadas como “mal-comidas”, homens têm que ter quantidade e não qualidade, seja em números de mulheres, quantos nos músculos que têm. Essas são as relações dos jovens, o conceito de liberdade e igualdade que nos são repassados é fútil, apenas mais uma prisão, porque assim não questionamos, vivemos em uma prisão e não percebemos.

Depois de um século de colonização política e geográfica, as potências industriais teriam ‘começado a colonizar a grande reserva que é a alma humana’. Os novos domínios seriam a inteligência, à vontade, o sentimento e a imaginação de milhares de seres humanos que veem cinema, ouvem rádio, veem e ouvem televisão. A técnica feita indústria permitiu a consolidação de seus grandes complexos produtores e fornecedores de imagens, de palavras e de ritmo, que funcionam como um sistema entre mercantil e cultural. Desse hibridismo advém uma realidade social nova que caracteriza como nenhuma outra o mundo contemporâneo: a cultura de massa. (Morin apud Bosi, 2007, p.62)

O que é ser igual afinal de conta?

E quem não é normal é o que?

 

Referências

Abbagnano, Nicola; Dicionário de Filosofia: Edição Revista e Ampliada; São Paulo: Martins Fontes, 2007 – 5ª Edição

Almeida, Jorge;. Theodor Adorno Leitor Aldous Huxley: Tempo Livre in Durão, Fábio Akcelrud; Zuin, Antônio; Vaz, Alexandre Fernandez (org.); A Indústria Cultural Hoje, Editora Boitempo, 2008.

Baudrillard, Jean; A Sombra das Maiorias Silenciosas, Editora Brasiliense, Brasília-DF, 1985

Bosi, Ecléia; Cultura de Massa e Cultura Popular: Leituras Operárias: 11ª Ed.; Petrópolis –SP; Editora Vozes, 2007

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm

Duarte, Rodrigo; Teoria Critica da Indústria Cultural, Ed. UFMG, 2003

Fabiano, Luiz Hermenegildo; Literatice e Sedução Autoritária in Durão, Fábio Akcelrud; Zuin, Antônio; Vaz, Alexandre Fernandez (org.); A Indústria Cultural Hoje, Editora Boitempo, 2008.

Foucault, Michel; Microfisica do Poder; Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979 (29º reimpressão 2011)

Imagens retiradas do curta-metragem Another Brink in the Wall do Pink e Floyd

9 Comentaram...

Paulo Roberto [Em Paralello] disse...

Seu texto me trouxe a memória uma frase dita inúmeras vezes por meu professor de Direito Constitucional, que por sinal era um juiz federal: "isso q estou ensinando para voces e apenas a teoria, na pratica a coisa e bem diferente". Acho q Nao preciso dizer mais nada! Excelete texto!

Elton disse...

Textos apresentados no NSN são pesados e interessantes. Suas entradas na página tem sido muito boas até agora. Toda a parte do questionamento, Carl Sagan coloca muito bem essa capacidade como sendo o fator determinante do que nos torna "humanos".
Poderia dizer mais, mas não formulei nada melhor por agora. Boa sorte com seus trabalhos e traga mais fontes sempre que puder.

Anônimo disse...

Só eu achei esse texto meio mal escrito?

Luiz disse...

Bastante objetivo e acessível. Resumido, aparenta um texto simplista, mas foi só a forma como foi apresentado. Talvez por isso não agrade a todos.

spider reclamão disse...

Mais um bom texto que nos leva a novos questionamentos. Continue nos trazendo mais, parabéns.

rfdrtrt disse...

A escrita do texto é, sim, um tanto quanto confusa, mas é fato que, a cada texto, quem o escreve, bem melhor expõe o que pensa.

Mas é também fato que o texto é feito a partir da vaidade da escritora, do querer expôr o que pensa e ser elogiada, ter com quem compartilhar idéias, além do temor pela falta de liberdade em mostrar o que pensa simplesmente: "Ela me pediu esse espaço por saber que na Academia não existe liberdade total para expressar todas as suas idéias."
Mas, sabe qual o problema?
É que os textos dela são admiráveis. As pessoas o lêem, discutem, questionam. Questionam entre quem o lê, entre quem julga tão inteligente quanto.
E aí? :\
Aonde tá o grande passo além-discussão?
Boa parte dos graaandes pensadores em geral, os jornalistas, por exemplo, se mostram revolucionários, ou revolucionários enrustidos, mas não se envolvem realmente. Pq?
Nosso mundo tá tão estagnado a ponto de só ficarmos sentados, discutindo.
E isso nos faz piores que as massas, as quais vcs tanto criticam.
Pq sabemos, ou pensamos saber, o que tá acontecendo, mas o máximo que conseguimos fazer é criticar.
E daí?
O q essas críticas vão ajudar no mundo?
Motivar mais babacas a criticarem?
E os babacas que não sabem das suas críticas?
Eles estão em maior quantidade, e te afirmam como grande estúpido.

O ponto é: qual o ponto disso tudo?
Pq discutindo, e exaltando internautas, dizendo: juntem-se a nós, podemos mudar o mundo, daí vamos ser felizes para sempre, e capitalismo é coisa do capeta.

Isso meio que me lembra as pseudo-revoluções coloniais, baseadas em mesas de discussões com intelectuais, tendo seus pilares no histórico francês e americano.
Tão meigo.

Eu já me perdi completamente, mas.
Em resumo é: Só eu que já me cansei de gente inteligente, leitora, e informada discutindo?

Camarada disse...

Leia um pequeno livro que se chama, Por que a Guerra

http://pt.scribd.com/doc/7182942/Einstein-e-Freud-Por-Que-a-Guerra-Cartas

Ana Recalde disse...

Desculpa, mas eu tb não gostei muito do texto.
Acho que há uma confusão grande quanto ao ser normal e ser "igual" diante da lei.

Estamos em um momento de lutas pela igualdade de direitos dos homossexuais por exemplo. E ninguém acha nem quer, principalmente os que lutam por esses direitos, que sejamos todos iguais. Ou mesmo "normais", dentro da norma.

Muitas vezes eu mesma me questionei temas levantados no texto, mas enfim, a exposição não me agradou.

Lucas Peixoto disse...

Realmente, o texto não é um dos melhores, mas mesmo assim é bem melhor que muito posts de inúmeros blogs pela net. E, acima de tudo, a escritora transmitiu a sua ideia com sucesso.

rfdrtrt
Discordo de tudo o que você falou.
Quando mais pessoas terem consciência da atual situação de nosso modo de vida, mais chances temos de fazer com que algo se modifique. Lembre-se, praticamente todas as grandes revoluções da história partiram das ideias de um único homem. Mais cedo ou mais isso vai acontecer de novo.
E os Anônimos estão por aí, quem sabe alguma coisa não vá acontecer também.

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